Discussão

Videogames e violência: muito barulho por nada

O Brasil e o mundo foram atordoados no último dia 7 de abril com o assassinato de 12 crianças em uma escola da Zona Oeste do Rio de Janei... (por Igor Chacon em 17/04/2011, via Nintendo Blast)

Resident-Evil-4-1[5]O Brasil e o mundo foram atordoados no último dia 7 de abril com o assassinato de 12 crianças em uma escola da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Como é de costume dos jornalistas brasileiros diante de tais fatos, a busca por culpados foi prontamente iniciada e logo (como é de mais costume ainda) os games entraram em cena como vilões. Mas então, como os games podem influenciar negativamente no comportamento de uma pessoa? O Nintendo Blast foi atrás do que a psicologia e outras ciências do comportamento falam sobre tal assunto e trouxe para você os mais recentes achados.

Em primeiro lugar, gostaria de destacar que além de redator do Nintendo Blast, sou estudante do último ano de psicologia e desde o segundo ano de minha faculdade sou envolvido com pesquisa, passando mais de um ano estudando crianças e atendendo seus pais além de ser, assim como 99,99% de vocês, gamer assíduo.

toygunDito isso, nós podemos começar analisando algumas falácias e besteiras que o povo conta a respeito dos videogames e sua influência no comportamento agressivo de jovens e adolescentes.

Estudos sobre crianças gamers que ficam violentas (Bullshit!)

A maior parte dos estudos que chegaram a essa conclusão tem metodologias duvidosas em relação a:

  1. babygunAmostra – Esses estudos colocam uma população de crianças que jogam videogame para fazer os testes sem considerar alguns aspectos como o de que crianças do sexo masculino são, em geral e naturalmente, mais fisicamente agressivas que as do sexo feminino;
  2. Variáveis Parasitas – Nesses estudos, em geral, não há um controle de outras coisas que podem aumentar a agressividade das crianças, como por exemplo, o medo que é gerado por jogos violentos em algumas delas (medo pode gerar muito mais agressividade do que a simples exposição a violência);
  3. Relação causa e efeito – Esse é um erro muito mais daqueles que leem os estudos do que dos que os fazem. Em nenhum deles é colocada uma relação de tal tipo, games violentos podem estar ligados à agressividade, mas não são sua causa.

Há alguns estudos que apontam essas “falhas” metodológicas. Além disso, de fato, um outro estudo (um dos maiores e melhores do tipo) realizado durante 20 anos com mais de 700 sujeitos no estado de New York, USA, constatou que não havia uma relação significativa entre violência ou delinquência praticada por jovens e a quantidade de tempo que passavam jogando videogame. Curiosamente, existia uma relação maior entre tempo vendo programas variados de TV e delinquência do que quando comparado ao hábito de jogar videogame ou o fato de morar em um ambiente de risco social.

Exposição a violência causa dessensibilização a ela (Bullshit!)

Alguns jornalistas devem ser bipolares. Em um momento, mostram um morador de “comunidade carente”, que convive diariamente com a violência, revoltado porque houve mais uma vítima do narcotráfico, em outro, falam que exposição em demasia a experiências violentas causa dessensibilização.

chinatown1Os estudos que falam dessa suposta dessensibilização costumam medir reações fisiológicas das pessoas que jogam em comparação às que não jogam games, quando frente à violência. Em primeiro lugar não podemos dizer o que uma pessoa sente apenas medindo suas reações fisiológicas (calma pode ser confundida com dessensibilização) e em segundo, não se pode fazer o contrário: correlacionar diretamente tais respostas à um real estado de dessens

ibilização, como afirmam os cientistas Tannenbaum e Zillmann.

Crianças que jogam games violentos viram (1) potenciais assassinos, (2) especialistas em armas e (3) problemáticas (triple hit Bullshit!)

O programa de televisão norte americano Penn & Teller: Bullshit realizou um episódio apenas sobre a (não) influência de jogos eletrônicos violentos em crianças (confira o episódio no youtube clicando aqui, e aqui também e a última parte aqui. Admito que chorei no final).

penn & tellerA dupla coloca 3 fatos bastante interessantes sobre os argumentos geralmente utilizados por inimigos dos games:

  1. Games estão ligados a atentados à escolas ou aos jovens – um dos maiores atentados a uma escola nos Estados Unidos (14 mortos e 31 feridos) foi cometido em 1966, 8 anos antes do lançamento do primeiro jogo de tiro em primeira pessoa (o Maze War).
  2. Videogames tornam crianças especialistas em armas – o maior atentado (45 mortos e 58 feridos) a uma escola nem mesmo usou armas de fogo, ele usou explosivos. Os estudos (os sérios, que não continham as deficiências metodológicas mencionados no início desse artigo) mostram que Videogames podem, sim, melhorar a coordenação motora e habilidades de percepção tanto espacial quanto a visomotora, mas ter boas habilidades nisso não torna ninguém um especialista em armas.
  3. Games violentos geram crianças problemáticas que se voltam contra a sociedade – Se alguém se volta contra a sociedade com dois revolvers, um speedloader e muita munição, sim, esse sujeito com certeza tem problemas, independente de ser uma criança, jovem, adulto ou idoso. Privar todos dos benefícios dos Games devido ao despreparo do Estado em dar atenção preventiva à crianças? Bullshit! Além disso, os estudos mostram que não há nenhuma evidência de que pessoas que entrem em escolas atirando tenham alguma relação com videogames. É sério, tem um estudo sobre isso!

Game over para os game haters

kids-playing-video-gamesGostaria aqui de destacar um dado muito interessante: Nos Estados Unidos, se fizermos um gráfico mostrando o número de unidades de consoles de videogame vendidos e cruzarmos com os dados de casos de violência infantojuvenil, veremos que enquanto a primeira cresce cada vez mais, a outra decai de maneira significativa!

Outro aspecto a se levar em conta é a velha história de quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha. Crianças ficam violentas por causa dos games ou os games violentos são mais jogados por crianças com histórico violento?

Existem estudos que demonstram que crianças já com um histórico de agressividade tendem a gostar de jogos violentos. Isso pode ser uma pista para pais e psicólogos sobre o comportamento das crianças. Recomendo o livro Grand Theft Childhood: The Surprising Truth About Violent Video Games and What Parents Can Do sobre os efeitos dos games.

kids-playing-video-games (1)Além desse aspecto de possível sinalizador, será que ainda preciso citar todos os benefícios que os games podem trazer a saúde das pessoas? Tanto na recuperação de lesões motoras e cerebrais quanto na capacitação de médicos?

No mais, gamers, façam um favor a nós mesmos e a nossa saúde mental: informem-se! Não saiam por ai dizendo “game é bom porque é bom” leiam e saibam argumentar contra game haters, saibam os benefícios que os games podem trazer e pesquisem o porquê de projetos de leis como os já aprovados nos USA se baseiam em dados errados ou contraditórios.


Igor Chacon nasceu na cidade do Natal em 17 de junho de 1989 é formado em psicologia, graduando em engenharia elétrica e em TI pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte e estudante de engenharia elétrica, é cristão e se inspira em Lewis, Tolkien, King, Quintana, Carpinejar, Vinícius, Rossi, Vianco, Antunes, entre outros.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


  1. Peraí! Eu ainda não entendi se esta notícia está a favor ou contra os games violentos...

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  2. cara, so vi um jornalista falar sobre a influencia dos games nesse caso e so. n foi a midia toda. alem do mais, se influenciou ou nao, foda-se. ta feito.

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  3. Excelente matéria! Gerard Jones em seu livro "Brincando de Matar monstros: Por que as crianças precisam de fantasia, videogames e violência de faz-de-de conta" expõe a importância das crianças jogarem jogos violentos e como elas devem enxergar essa violência na realidade. Recomendo a leitura deste livro para aqueles que ainda acreditam que games violentos "geram" assassinos psicopatas.

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  4. [Hambúrguer 17/04/11 18:32
    Se ferraram, pais idiotas!]

    Se isso fosse o youtube, esse kara ia te um monte d thumbs up...

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  5. Apoiado e positivado, vou mostrar pra minha mãe!
    E sobre a cordenação motora, é verdade, eu garanto e jogar videogames sem olhar pro controle os tornará mais habeis em qualquer trabalho manual!

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  6. Como já dizia nossa querida Salt: You're good! This is briliant Bullshit.

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  7. Viedogame PODE influenciar, assim como um livro como a própria bíblia pode influenciar (e influenciou e influencia inclusive guerras), um filme também pode, uma novala das 9, um desenho, um pai violento,... tudo é uma questão de interpretação, além de educação e disturbios psicologicos. Essas pessoas são doentes.

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  8. E ninguém falou que o cara era um fanático religioso, afinal é mais fácil botar a culpa nos games do que na religião...

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  9. Normalmente venho aqui tirar um sarro dos nintendistas, mas hj me surpreendi com uma excelente materia, mas muito boa mesmo, se os jogos da nintendo tivessem esse nivel provavelmente eu teria um nintendo em casa.

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  10. Excelente matéria!

    Acontece que a sociedade não quer falar ou combater o verdadeiro problema, para o qual pais e escola muitas vezes fecham os olhos: bullying.

    "O psiquiatra americano Timothy Brewerton, que tratou de alguns dos estudantes sobreviventes do massacre de Columbine, que deixou 13 mortos em 1999 nos Estados Unidos, apresentou ontem no Rio estudo realizado pelo serviço secreto do país cujo resultado apontou que, nos 66 ataques em escolas que ocorreram no mundo de 1966 a 2011, 87% dos atiradores sofriam bullying e foram movidos pelo desejo de vingança." Fonte: http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia/2011/04/16/bullying-motivou-87-de-ataques-em-escolas-diz-estudo.jhtm

    Tá na hora de ensinar para as pessoas, para que ensinem aos seus filhos, o significado da palavra respeito.

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  11. Uma pergunta: um programa de tv pode afetar positivamente uma pessoa? Sim, pode. Entao por que ele tambem nao poderia afetar negativamente? Santo simplismo, Batman! Se um videogame pode afetar positivamente o comportamento, por que nao pode afetar negativamente tambem? Ah, mas os videogames so tem um lado positivo, nao tem NADA de negativo. Ah...conta outra ne...

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  12. Claro que jogos violentos podem TAMBÉM influenciar algumas pessoas a tomar atitudes violentas... o ponto é que em todos os lugares, só o que se lê é que os jogos são os ÚNICOS responsáveis por esse tipo de acontecimento. Por mais que alguém goste de jogos de tiro, é preciso saber que matar um monte de gente numa guerra virtual e um monte de gente na vida real são coisas completamente diferentes - e se a pessoa não sabe disso, a culpa certamente não é do videogame.

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  13. Não adianta, quando o cara é um psicopata ele pode ser influenciado até por uma embalagem de leite, alegando que a ouviu dizer para matar crianças que bebam leite C...

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  14. Parabéns Igor! Excelente matéria!
    E eu nem fiquei perdido no meio das frases, como sempre xD

    [@Hambúrger
    Peraí! Eu ainda não entendi se esta notícia está a favor ou contra os games violentos...]

    Nenhum dos dois. A matéria foi feita de maneira imparcial. Para que os leitores formem suas próprias conclusões. Como deveria ser.

    @Marina
    Não foi a primeira vez que fazem correlação entre jogos e violência. E mesmo que você diga "ah! foi um caso isolado, não toda a mídia" não muda o fato que UM repórter pode influenciar o pensamento de MILHARES de pessoas.

    @Anonimo3
    Preste atenção no contexto. Ninguém falou que os vídeo games não façam mal. E a própria matéria fala de maneira geral que a "exposição à violência insensibiliza a ela", isso inclui a TV e filmes violentos também.

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  15. Sou psicologo. Gostei do artig, mas bem que vc poderia escrever de uma forma menos chata para quem não é acostumado com a psicologia!

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  16. Eh meu e ainda na ultima ediçao da revista q n ouso mencionar o nome saiu umas paginas especiais soh flando sobre bullying

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  17. Prá você ver o que é opinião, né?
    um cara aí em cima disse que o autor poderia ter escrito de forma "menos chata", eu já acho que um post tão bem pesquisado e trabalhado mereceria uma linguagem mais séria e formal.
    Parabens ao Igor Chacon pela reportagem!
    Você é irmão/primo/parente de Maria Clara Chacon, que faz medicina na UFRN?
    só mais uma coisa: o certo é descenCibilização mesmo? eu jurava que era pra ser descenSibilização. Afinal, vem de senSível, senSibilizar, senSibilização... ou não? Bem, não sei!
    hehehe
    até mais!

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  18. "De fato, se o mal existe nesse mundo, ele reside no coração do homem"
    Edward D. Morrisson

    Excelente Matéria Igor, caiu feito uma luva hein?

    Minha opinião é que qualquer coisa no mundo pode influenciar alguém para o bem e para o mal. Portanto, creio que o problema não se encontra e nunca se encontrará no objeto influenciativo( nos games, nos filmes etc.). E sim, é a própria pessoa que se deixa influenciar, por sua livre e espontânea vontade, para fazer o MAL, seja por doença ou vontade própria, então a culpa não se encontra no objeto, e sim no ser humano.

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  19. to com vontade de cagar depois de ler esse artigo...

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  20. Porra minha mãe quer jogar todos os meus jogos vilentos fora só por causa de uma matéria na record jornalistas filhas da puta me fuderam

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  21. PS:EU não costumo chingar mas com isso eu tive mesmo

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  22. Achei estranha a parte sobre a dessensibilização. Quem vai dizer que a primeira vez que viu uma cena violenta num filme, jogo ou na vida real *não* foi mais assustadora que nas vezes seguintes?

    Acho que o argumento ficaria melhor se reconhecesse alguns casos de dessensibilização mas mostrasse se são ou não significativos. Ou então comparasse com filmes, que parecem não receber tantos ataques como causadores de crimes violentos.

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