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Análise: Ace Combat: Assault Horizon Legacy (3DS)

Depois de mais de 15 anos de sucesso, a longa série de combate aéreo Ace Combat finalmente chega em definitivo aos consoles da Nintendo co... (por Lucas Palma Mistrello em 23/01/2013, via Nintendo Blast)

Depois de mais de 15 anos de sucesso, a longa série de combate aéreo Ace Combat finalmente chega em definitivo aos consoles da Nintendo com este jogo, um (não tanto assim) remake de Ace Combat 2, lançado na concorrência em 1995. Um grande título para o 3DS que nos permite também comentarmos um pouco sobre a diferença entre jogos para consoles de mesa e consoles portáteis, que na atual geração ficou, aparentemente, apenas resumido à capacidade de hardware, mas não é bem assim. Entenda o porquê nesta análise do Nintendo Blast!

Legado mal transmitido 

Desde muito tempo, a serie Ace Combat é sinônimo de jogos de combate aéreo, uma das mais longevas séries dos games, que sempre nos trouxe bons e divertidos títulos passados nos cockpits dos poderosos aviões de caça. Para nós, estimados seguidores da Nintendo, infelizmente, ficamos de fora desta grande série. A única tentativa havia sido o peculiar Ace Combat Advance, lançado para o Game Boy Advance em 2005. Não pretendo me deter, neste momento, sobre este jogo, mas foi um título ímpar. Contando com um ambiente aberto mas com vista de cima, controlando também a altitude do avião, resultou em algo extremamente difícil de se jogar. E foi também o único da série a não ser laçado no Japão.

Mas os tempos são outros. Lançado no primeiro ano de vida do 3DS, Asssault Horizon Legacy é o retorno triunfal e definitivo da série à Nintendo.

Dizer "quase remake" no início do texto é algo dúbio. De início é perceptível o menor cuidado com o enredo. Em Assault Horizon Legacy você é um piloto mercenário contratado pela USEA, um país-continente que passa por uma Guerra Civil contra os rebeldes que almejam tomar o poder. E é apenas isso. Em cada briefing antes da missão, um oficial superior genérico explica o que você deve fazer e em qual ponto da campanha militar estamos e novamente, nada mais que isso.

Sei que existe aquelas pessoas que acham que o enredo é uma característica secundária e dispensável dos jogos. Bom, para elas o que eu tenho a dizer não pode ser escrito neste horário e nem publicado em um blog tão importante quanto o Nintendo Blast. O enredo é um dos principais aspectos, é o que te faz sentir empatia pelos personagens e o desejo de jogar. E enredo não é apenas o roteiro, a historinha, veja Star Fox 64, em um exemplo óbvio. Caso não fosse o cuidado com a personalidade e as falas do personagens durante todo o jogo, será que lembraríamos tão bem dele quanto lembramos até hoje?


Infelizmente neste Ace Combat tudo isso é muito pouco explorado. Do jeito que foi contado, eu me senti por alguns momentos do lado errado da guerra, como se combatesse uma revolução popular em andamento. Ao pesquisar sobre Ace Combat 2 (o jogo que originou este, caso você não esteja atento à análise), descobri que houve um golpe de estado militar em USEA, e era isto que o jogador deveria atacar. Pô, seria muito mais legal ter sabido disso ao jogar no 3DS. Faltou neste jogo aquele toque de enobrecimento e heroísmo dos atos do jogador/protagonista.

O foco nas explicações militares, por sua vez, na parte da campanha também deixam um pouco a desejar. Existe toda a lógica coerente das operações e da perspectiva da guerra civil, ligando as missões umas as outras, mas falta um pouco de apoio visual para entender como que o conflito está se desenrolando. Uma simples coloração do mapa entre azul para o território que está sendo controlado pelo governo e vermelho para os golpistas já ajudaria.

Dogfights peculiares

O cerne de todo o jogo de combate aéreo são as dogfights, os duelos entre os pilotos. A maioria dos jogos (e como Ace Combat fez na maioria dos antecessores) possui uma "câmera do alvo" (target camera), que acompanha o adversário durante as manobras enquanto você tenta se posicionar de maneira a ser possível abatê-lo. É um padrão, e um padrão muito eficiente. Quando a Inteligência Artificial dos inimigos é boa, os combates são extremamente tensos e difíceis, durando um bom tempo, como o caso de Blazing Angels (Wii/PS3/X360)

Momento de Dogfight. A câmera se aproxima bem do seu caça, e a sensação de velocidade é demais! Qualquer movimento o caça a frente sai do campo de visão.
Assault Horizon Legacy rompe completamente com essa tradição! É um sistema novo que me surpreendeu, e claro, tem seus pontos altos e baixos. Durante a batalha, conforme um avião entre em seu espaço aéreo, ele será o alvo (você pode mudar de um para outro com o X) e conforme você fique próximo a ele durante algum tempo uma "barra de especial" aparece e é preenchida. Quando ela atingir determinado nível, você aperta Y e utiliza um poder especial. Rápidas cutscenes serão mostradas com seu caça fazendo acrobacias que desafiam as leis da física e você estará imediatamente atrás do avião inimigo.

O F-16 Fighting Falcon é o primeiro caça controlável do jogo
E aí a dogfight acontece, dependendo do nível de dificuldade e da habilidade do piloto inimigo (pilotos de esquadrões de elite são melhores) ele ficará se movimentando na sua frente e você deve tentar acompanhá-lo tempo suficiente para travar a mira dos mísseis ou tentar utilizar a metralhadora do caça. Mesmo que consiga disparar os mísseis, ainda há a possibilidade do inimigo desviar, e isso é algo que você também faz. Quando estiver com um míssil travado em seu avião, uma direção aparecerá por instantes em sua tela, e você deve (apertando o Y) manobrar o avião no sentido indicado para desviar.

Como pôde ser percebido, é um sistema diferente. É algo muito novo, bastante simples para quem não é fã de longa data do gênero, e não deixa de ser divertido. No entanto, ao mesmo tempo, é um pouco decepcionante para quem esperava longos e desafiadores duelos aéreos. Alguns pilotos são bem difíceis de se travar a mira, e ficam dançando na sua frente, e em alguns momentos você, ao mesmo tempo, precisa tentar atingi-los e desviar de ataques nas suas costas. Creio que esta seja a situação seja o auge do desafio no jogo.

O Jogo no 3DS

O efeito 3D deste jogo em particular é um dos melhores que vi no 3DS, e sua função foi muito bem entendida pelos desenvolvedores. Ao invés de se esforçar para fazerem as coisas pularem da tela, ou efeitos pontuais mais bonitinhos, o esforço aqui é para te dar profundidade ao que acontece no portátil. A visão do cockpit é especialmente interessante, a impressão é de que a tela superior do console é uma caixinha onde está montada dentro uma miniatura de uma cabine de caça.


As explosões são um espetáculo à parte. Comparando ao jogo original do Playstation e até mesmo com as explosões de Star Fox 64 3D, são belíssimas, bem definidas, com poucas linhas retas e destroços excessivamente quadradinhos. Servem para mostrar o potencial do 3DS que não pode ser diminuído devido aos serrilhados constantes.

Uma pena que o enredo pouco trabalhado exija também pouco dos visuais do jogo. As rápidas cutscenes com os aviões rasgando os céus são lindas de visual e áudio, e poderiam ser mais e melhores utilizadas durante toda a campanha caso o roteiro fosse minimamente desenvolvido. E também no decorrer das missões, pelo que é contado, ocorre uma guerra civil devastadora no continente, mas as cidades e as localidades estão praticamente intactas, e mesmo a presença inimiga é bem reduzida (para fazer as missões serem mais curtas), assim como seu lado. Durante algumas fases é possível levar um parceiro, praticamente inútil, ou é necessário acompanhar outras unidades aliadas, que são poucas e pequenas.

Diminuindo assim o impacto que a guerra poderia causar. Em Blazing Angels, por exemplo, embora o visual do jogo deixe a desejar em muitos aspectos, neste em especial, sempre foi bem competente. A cidades sempre emanando fumaça de incêndios ou prédios destruídos.
  • Trilha sonora DOIDA!!
Não tenho nem palavras para, mas preciso fazer, comentar sua trilha sonora, é um negócio doido! Doido mesmo! Em um momento você está escutando uma linda música lírica orquestrada ao fundo, em outro, pula para uma música eletrônica, e ainda pode parar em fases levadas ao ritmo de Heavy Metal! É tudo doido!

Jogo para portátil

Um ponto muito frustante para quem coloca as mãos neste jogo é o quão curto ele e suas missões são. A campanha principal tem 23 missões, que são bifurcadas em alguns momentos, isto é, você não joga todas as 23 na mesma jogatina, apenas 18. E mesmo assim, no nível normal, na primeira vez que joguei - sou péssimo jogador, e adoro explorar todo o campo e destruir todos os inimigos - terminei tudo em pouco mais de três horas, com algumas missões falhadas no caminho. As fases são muito curtas, muito mesmo, a maioria não dura mais muito mais com cinco minutos.

Alguns dos caças disponíveis, F 15, F4, F18 e F16.

Em compensação, existe um número enorme de destraváveis. São mais de 20 aviões disponíveis (todos retratados de forma muito fiel), inclusive bônus com caças da II Guerra Mundial para os interessados no período, sendo possível alterar também a pintura, os atributos e mísseis de cada um. Todos os destraváveis são atrelados a pontos que são ganhos destruindo inimigos em todos os modos de jogo. Existe ainda um outro modo mais arcade onde existem missões de sobrevivência, ou podendo jogar as fases da campanha individualmente.

Logo depois que terminei, fiquei extremamente bravo com a curta duração da campanha e das missões. Só havia destravado e equipado decentemente dois jatos. E ainda queria jogar muito mais. Todavia, pensando mais para fazer esta análise, lembrei que estava jogando um portátil. Os últimos dois jogos do 3DS que brinquei foram The Legend of Zelda: Ocarina of Time 3D e Metal Gear Solid: Snake Eater 3D, e todos, jogados devidamente no sofá e na cama em minha residência.

É possível jogar algum destes dois jogos em breves momentos, no intervalo do trabalho/escola/universidade ou nos ônibus/metrô/trens? Acho particularmente impossível. Snake Eater 3D com suas longas cutscenes você ficará assistindo quase todo o tempo antes de voltar a trabalhar ou tocar o sinal para a próxima aula, e Ocarina of Time 3D, só até entender o esquema dos corredores distorcidos do Forest Temple já é preciso descer na próxima estação. (sem contar no tempo em que você fica atento para não ver se tem algum malandro mirando em seu amado console).

Claro que mesmo em casa o portátil tem suas funcionalidades. Com o 3DS posso ficar jogando enquanto minha namorada assiste, no mesmo ambiente, Brothers & Sisters, Grey's Anatomy, Friends, novela das seis e outras coisas de mulher (embora, confesso Lado a Lado é bacaninha). Mas ainda assim, um portátil não é um console de mesa com hardware menos potente, é um conceito diferente. O que no meu humilde diagnóstico é a raiz dos problemas do PS Vita.

Maverick dá sua aprovação ao jogo
Com missões enxutas e uma variedade de destratáveis, o caso de Ace Combat: Assault Horizon Legacy é de casar muito bem com o 3DS. Sofrer as mudanças de jogabilidade e enredo para uma linguagem diferente de jogo, que é a do portátil. E todos os jogos citados aqui são ports ou remakes de jogos de consoles de mesa, tal como este.

Claro, não concordo com todas as transformações, e não acho que todas foram positivas (a campanha poderia ser bem maior!), mas foi um esforço considerável que não são todos os jogos que recebem ao serem transferidos aos consoles de bolso. Mesmo com os inúmeros contras que levantei por toda a análise, a nota final merece ser alta por esse cuidado; a Namco Bandai e a Project Aces estão de parabéns.

Prós:

  • Gráficos e efeitos 3D maravilhosos;
  • Belas explosões;
  • Trilha sonora ímpar
  • Jogabilidade própria para jogar em consoles portáteis
  • Sistema de dogfights único
  • Destraváveis e variedade de aviões disponíveis

Contras:

  • Campanha muito curta
  • Falta de mutiplayer
  • Pouco trabalho com o enredo, o que prejudica também o visual (não a beleza do gráficos) e a arte do jogo
  • Dogfights repetitivas e burocráticas (mais que o normal) quando enfrentamos inimigos menos habilidosos.
  • Uso nulo da touch screen

Ace Combat: Assault Horizon Legacy - Nintendo 3DS - Notal Final: 8,0
Revisão: Alex Sandro


Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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