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Análise: Matando a saudade de jogos difíceis com Cave Story (3DS)

Quando ouço falar sobre remakes, eu espero que o jogo tenha não apenas novas mecânicas, mas também um novo visual. Como aquele Resident E... (por Unknown em 25/08/2013, via Nintendo Blast)


Quando ouço falar sobre remakes, eu espero que o jogo tenha não apenas novas mecânicas, mas também um novo visual. Como aquele Resident Evil do GameCube, Pokémon FireRed & LeafGreen no Game Boy Advance, e esse Cave Story para 3DS. Apesar do novo visual, o jogo traz a mesma jogabilidade dos jogos em plataforma 2D que nós, jogadores de "idade mais avançada" crescemos jogando. Vamos nos aventurar com Mr. Traveler e salvar os Mimigas nesse clássico moderno, presente de Daisuke Amaya.


Eles são seus mimigos


A história começa com você, jogador, controlando um robô sem memória. O que convenhamos é uma ótima solução para qualquer enredo: no ponto em que o protagonista não lembra de nada, é possível introduzir o jogador na história enquanto o personagem relembra (ou não!) o que está acontecendo no mundo em que vive. É uma solução vista em diversas mídias, inclusive livros. Logo você descobre estar em uma caverna com alguns seres parecidos com coelhos ou cães que se chamam Mimigas. Essas criaturas são aparentemente pacificas, e podem até se tornar seus "mimiguinhos" (desculpem, eu tinha que fazer essa piada), mas logo você percebe que devido uma condição especial eles deixam de ser tão mimiguinhos assim. E isso se dá em razão de um vilão, o qual você deve derrotar enquanto busca por respostas sobre quem você é. E acreditem, essa é uma das descobertas mais interessantes do jogo.

Nessa aventura, você estará bem armado, no melhor sentido possível. O sistema de armas desse jogo não é inédito, mas não deixa de ser inovador. Diferente de shooters dos anos 90, como Metal Slug, você não pega uma simples arma e sai por aí atirando com ela. Elas podem receber upgrades e se tornam armas muito diferentes de sua proposta inicial, ou simplesmente aumentam o dano e alcance. Isso varia de arma para arma. Não há como dizer qual é a melhor, isso varia de acordo como cada um gosta de jogar. Desse modo, até uma arma no primeiro nível pode ser melhor do que sua última forma, se assim o jogador preferir. O jogo não força você a evoluí-la para alternativas indesejáveis para progredir pelas fases.

Daisuke Amaya (ou Pixel, como é conhecido) ousou desenvolver "um jogo de NES" na época que o PlayStation 2 dominava o mercado com sua qualidade gráfica inquestionavelmente superior a do NES. E não é apenas a arma regida a pixels que foi o charme de Cave Story, mas também sua jogabilidade que lembra muito grandes clássicos de ação dos jogos em plataforma 2D. E foi essa jogabilidade 2D que Amaya tentou traduzir para o cenário 3D, refazendo basicamente todo o visual do jogo e posso dizer que um pouco, mesmo que um pouquinho, daquela ideia se perdeu. O jogo continua com aquele charme, aquela dificuldade das versões 2D, mas não é exatamente a mesma coisa, não passa o mesmo sentimento. Por exemplo, o tom escuro que o jogo teve de adotar (o que é sensato, já que a história se passa em uma caverna) dificulta visualizar alguns pontos importantes no cenário, ainda mais com o 3D ligado. Esse é um detalhe bobo que não percebemos como as cores da versão 2D prestava suporte nesse aspecto do level design.

Nova época, novo jogo

Se Jonathan Blow foi considerado o pai dos jogos indies em 2008 com Braid, Amaya pode ser considerado o avô com Cave Story, em 2004. Apesar dos relançamentos do jogo  para diversas plataformas em 2010 e 2011, foi no 3DS que o jogo realmente renasceu. A trilha sonora conta com a participação de Danny Baranowsky, que esteve envolvido em grandes destaques dentre os jogos indies, como The Binding of Isaac, Super Meat Boy e Canabalt. A trilha sonora respeita (e muito) o jogo original, diferente de reformulações de jogos que esquecem sua essência por completo. E uma trilha sonora revista era necessário para combinar com o novo visual. E essa harmonia funcionou.

Pessoalmente, eu não considero The Legend of Zelda: Ocarina of Time do 3DS um remake. Talvez um port. Basicamente, o jogo é o mesmo. Corrigir bugs não faz dele um remake. E quando falam isso, eu geralmente cito como exemplo Pokémon FireRed & LeafGreen que visualmente são muito diferentes de Pokémon Red & Blue. O que não é o caso de Ocarina of Time. E Cave Story 3D não "apenas adicionou um efeito 3D" como tantos jogos tem feito recentemente. Ele foi realmente refeito e esse novo visual traz seus méritos e maldições. É um jogo diferente, é um jogo novo.

Um reflexo do passado

O jogo traz consigo algumas novidades, mas não o suficiente para empolgar tanto. Há alguns easter eggs , um novo personagem secreto, uma nova arma secreta, um novo modo. Esqueci algo? Bem, se esqueci, é por talvez não ser tão relevante. Ou ter me chamado menos atenção do que os pontos citados. Honestamente, as novidades não acrescentam tanto na soma final. Não me entendam mal, não estou falando que o jogo é ruim. Eu realmente gostei de Cave Story 3D, mas nesse ponto, sobre novidades, não se pode esperar tanto.

Amaya trouxe toda dificuldade e ação dos jogos 2D da época do NES, mas tive a leve impressão de que Cave Story 3D está um pouco mais fácil que seus antecessores e talvez até tenha algumas vidas a mais pelo jogo. Para meu gosto, foi satisfatório, ele ainda é mais difícil que muitos dos jogos atuais, mas não tanto como a obra original. E esse é um jogo para aqueles que gostaram da obra original. Ele não substitui o clássico, mas é bom conhecer, e poder então jogar antigo novamente. Nesse ponto, devo citar que Cave Story 3D é (como já falei) um jogo para aqueles que já jogaram as versões anteriores (qualquer uma delas). Acredito que uma pessoa que não conhece os outros, chegar a jogar esse remake, pode não desfrutar totalmente da experiência que ele pode oferecer, onde boa parte está naquele apelo visual que as outras versões tem. Mesmo esse apelo não estando presente aqui (apesar de você pode jogar com seu personagem em 2D), é pela jogabilidade que é possível lembrar seu antecessor.

Essa aventura de "Mr. Traveler" é uma versão melhorada dos ports lançados nos últimos anos para Steam, WiiWare e DSiWare. Com seu visual totalmente refeito, o jogo conseguiu manter o charme daqueles games com poucos recursos da época do NES. Apesar disso, eles esbanjavam criatividade e carisma — algo que Cave Story tem de sobra. Como um clássico moderno, Daisuke Amaya reproduz com maestria a dificuldade daqueles saudosos clássicos e também o mistério em encontrar itens bem escondidos. Honestamente, eu apenas tenho a agradecer a esse cara.

Prós

  •  O jogo tem uma história, e é uma história bacana. Isso não era tão comum em jogos de plataforma do NES;
  •  A nova trilha sonora encaixou perfeitamente e colaborou para ambientação do jogo;
  •  Ele era um jogo de PC, e o controle foi bem adaptado pro 3DS.

Contras

  • Novidades, apesar de existirem, não chegam a chamar tanta atenção;
  • O novo visual, apesar de interessante, perde muito em cores e dificulta algumas parte do jogo;
  • Eu morri nos espinhos do começo, e foi muito chato.
Cave Story 3D - Nintendo 3DS - Nota: 7.5

Revisão: Alberto Canen
Capa: Wellington Aciole

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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