Iwata Asks

Quem é o verdadeiro "herói" responsável por The Wonderful 101 (Wii U) - Parte 1

Na entrevista de hoje, Satoru Iwata irá ter uma conversa exclusiva com o diretor do game The Wonderful 101 (Wii U) . Conheceremos um po... (por Bruno Seixas em 19/08/2013, via Nintendo Blast)


Na entrevista de hoje, Satoru Iwata irá ter uma conversa exclusiva com o diretor do game The Wonderful 101 (Wii U). Conheceremos um pouco da sua história e do seu passado como gamer. Em meio a valentões, discussões sobre consoles, computadores antigos e até mesmo os tempos de colégio do Iwata, é bem capaz que algumas pessoas se identifiquem com vários momentos dessa viagem ao passado.

O milionário do NES

Iwata:  O Iwata Asks de hoje vai iniciar a cobertura do jogo The Wonderful 101, desenvolvido pela PlatinumGames Inc. para o Wii U, que será dividida duas partes. Primeiro, eu pedi para Hideki Kamiya, o diretor do game, sentar-se para uma conversa individual. Obrigado por vir.

Kamiya:  Obrigado por me receber.

Iwata:  Essa é a camiseta do The Wonderful 101?

Kamiya:  Isso mesmo. (risos) Eu vesti ela aqui.


Iwata:  Eu gostei! (risos) Antes de te perguntar sobre o The Wonderful 101, eu gostaria de saber como alguém como você, que faz jogos tão empolgantes, começou.

Kamiya:  Seria uma honra.

Iwata:  Primeiro, gostaria de perguntar como foi seu primeiro contato com os videogames.

Kamiya:  Eu não me lembro exatamente, mas desde pequeno, eu era atraído por aqueles sons de bips digitais. Eu me lembro deles serem muito familiares para mim.

Iwata:  Você jogava videogame principalmente na sua casa? Ou em algum outro lugar?

Kamiya:  No começo, eu acho que jogava nas lojas de departamento e lugares do tipo. Mas quando eu estava no começo do ensino fundamental, começaram a aparecer coisas que você jogava conectando na televisão, como o Tv Vader, Epoch Cassette Vision, Tomy Tutor e Intellivision.

Iwata:  Pois é. Nessa época, várias companhias estavam anunciando seus consoles domésticos.

Kamiya:  Eu queria muito um console para jogar em casa, mas meus pais eram muito rígidos e não me deixavam comprar um.

Iwata:  Todo mundo já passou por isso. Muitas pessoas iam até a casa de alguém para poder jogar.

Kamiya:  E o garoto mais velho da minha vizinhança tinha um Epoch Cassete Vision. Eu queria mesmo jogar, então, fui até a casa dele. Porém, ele era um valentão, e era mau comigo todas as vezes.

Iwata:  Mas você queria jogar de qualquer jeito?

Kamiya:  Queria. Quando me deparei em ter que escolher ficar em casa sem sofrer bullying ou jogar o Epoch Cassete Vision, claramente, o videogame foi escolhido. Todas as vezes, eu ia para casa com um soco, mas voltava de novo no dia seguinte.


Iwata:  O videogame tinha um forte apelo para você. O que havia nos games que te atraía tanto?

Kamiya:  É um mistério. Como eu disse antes, eu gosto dos sons eletrônicos, então, ao invés de escutar música normal, eu me sentia mais confortável ouvindo a música do videogame. Claro que eu também gostava de jogar, mas meus ouvidos gostavam mesmo é da música.

Iwata:  Acho que você nasceu com esse tipo de gosto.

Kamiya:  Pensando agora, eu acho que sim.

Iwata:  Qual foi o primeiro console que você teve?

Kamiya:   Quando eu estava no começo do ensino médio, eu comprei um NES com um dinheiro que ganhei no Ano Novo.

Iwata:  Depois de muito tempo desejando um e passando pelo o que você passou, finalmente conseguiu jogar um videogame na sua própria casa.

Kamiya:  Exatamente. Mas eu não consegui comprá-lo logo depois de receber a permissão. Porque isso aconteceu bem no meio da explosão de vendas do NES, então ninguém mais estava vendendo.


Iwata:  Nesse período, mesmo que quisesse comprar um NES, você não conseguia.

Kamiya:  E quase nenhum dos meus amigos tinha um ainda. Porém, uma loja de departamentos no meu bairro iria vender parar as dez primeiras pessoas que chegassem à loja quando ela abrisse depois do Ano Novo. Então, eu acordei às quatro da manhã e fui para a loja. Quando eu cheguei lá, já havia dez pessoas na fila!

Iwata:  Deve ter sido um choque. (risos)

Kamiya:  Eu sou de Matsumoto em Nagano, e mesmo lá haviam dez pessoas mais determinadas do que eu.

Iwata:  (risos) Então, você deve ter pensado, “Cara, essas pessoas gostam mais de games do que eu!"

Kamiya:  Exato. Eu me arrastei de volta para casa. Eram as férias de Ano Novo, meu primo apareceu na minha casa para jogar e disse que um conhecido me venderia o NES com 15 jogos pelo preço especial de 30.000 yens (aproximadamente 300 dólares).

Iwata:  Que sorte!

Kamiya:  Não é? Então do dia para a noite eu virei um milionário do NES! Eu tinha muita sorte de ter 15 cartuchos naquela época.

Iwata:  Digo o mesmo! Nenhum garoto no colegial tinha tantos jogos nessa época.

Kamiya:  Eu sei. O primeiro jogo que eu comprei em uma loja com meu próprio dinheiro foi Nuts & Milk. Mas eu comprei antes de ter comprado o console, então, ficava olhando o cartucho e lendo o manual de instruções.


Iwata:  Jura? (risos) Que experiência para um garoto dessa idade que de repente tinha 15 cartuchos!

Kamiya:  Exato!  Todo mundo vinha até mim para trocar jogos emprestados. A partir daí, eu fiquei muito envolvido com o NES. Acho que todo mundo da minha geração foi assim quando criança.

Iwata:  Antes, você não podia jogar ao menos que fosse até um fliperama, mas agora, você poderia jogar o quanto quisesse em casa. Deve ter sido como um sonho que se tornou realidade!

Kamiya:  E foi. Além disso, os jogos de NES eram exatamente como os dos fliperamas. Era um objeto incrivelmente desejado. Quando lembro disso agora, eu acho que nunca fiquei tão feliz e empolgado em comprar um console quanto fiquei nessa época.

Iwata:  Diversos fatores lhe levaram a tanta alegria, como o quanto você desejava e teve que esperar por esse momento.

Kamiya:  É isso mesmo. Eu nunca havia me sentido tão feliz por comprar algo, e nem me senti de novo. Para você ver que momento incrível que foi!

Uma batalha de fãs

Iwata:  Aconteceu algo para que você mudasse de jogar videogames para querer criá-los?

Kamiya:  Como muitos outros, no começo eu só estava curtindo jogar e nem sabia que, na verdade, pessoas estavam os desenvolvendo.

Iwata:  Uhum.

Kamiya:  Houve uma matéria na Family Computer Magazine entre o Shigeru Miyamoto e o criador do Xevious, Masanobu Endo. Eu li aquilo e foi a primeira vez que ouvi falar de designers de games.

Iwata:  Eu acho que isso foi na época em que a profissão de designer de games estava sendo estabelecida. No começo dos videogames, eles eram produzidos por engenheiros. Foi aí que você pensou que gostaria de fazer games no futuro?

Kamiya:  Foi. Por causa disso, lá pelo ensino médio, eu escrevia trabalhos dizendo que queria ser um designer de games quando crescesse. Porém, eu acho que nem tinha pensado em como eu faria isso. (risos)

Iwata:  Você sabia que queria fazer videogames, mas antes de existir a internet, não havia como um aluno do colegial procurar como fazer isso. Não havia nenhum exemplo anterior.

Kamiya:  Sabe, eu não acho que eu trabalhei especificamente para me tornar um designer de games. No ensino médio, por exemplo, eu comprei um NEC PC-8801 para estudar programação. Porém, tudo o que eu fiz foi jogar videogame todo dia.

Iwata:  Uhum.


Kamiya:  Eu estudei um pouco de BASIC, mas eu não era bom em ficar digitando constantemente alguma coisa, então eu achei que isso estava além da minha capacidade e desisti na hora. Ao invés de trabalhar para alcançar meu objetivo, eu... tudo bem se eu não for muito inspirador?

Iwata:  Por favor, continue. (risos) De qualquer maneira, você jogava bastante videogame.

Kamiya:  Exatamente isso! Eu nunca me esquecia deles! Videogames eram o centro da minha vida. Eu estava envolvido com eles durante todo o ensino médio e só falava disso com meus amigos.

Iwata:  Esses amigos fizeram parte do que você é hoje.

Kamiya:  Fizeram mesmo, sem dúvidas.

Iwata:  Quando eu estava no colegial, ainda não havia PCs, então eu criava jogos para calculadoras programáveis. Um dos meus colegas de classe era meu cliente.

Kamiya:  Uhum.

Iwata:  Eu acho que parecia como quando os integrantes de uma comédia se encontram. Quando eu fazia algo, ele aparecia. Foi assim que eu encontrei meu primeiro cliente e despertei a alegria de criar algo. Eu costumo pensar que eu nunca teria feito videogames se não fosse por essa experiência. Então, foi importante para você ter alguém para conversar sobre o assunto, mesmo que eles estivessem em um campo diferente.


Kamiya:  Exato. No ensino médio, nós éramos em três. Um cara chamado Nagasawa era fã da Sega e tinha um Master System.

Iwata:  Ok. (risos)

Kamiya:  Eu também tinha um, mas eu já era fã do NES. Então, nós debatíamos sobre videogames todo dia. Era uma batalha de verdadeiros fãs, tipo, “O NES é melhor nesse sentido” e “Não, o Master System é melhor.”

Iwata:  Uma batalha de verdadeiros fãs! (risos)

Kamiya:  Isso mesmo. E isso se estendeu para os computadores. Eu tinha um NEC PC-8801, mas ele tinha um MSX.

Iwata:  Olha só! (risos)

Kamiya:  Ambos queriam pensar que aquilo que tinham era o melhor, portanto quando a batalha começava, ninguém desistia. Mas depois eu ia até a casa dele e passávamos um bom tempo jogando juntos.

Iwata:  Dessa maneira, sua percepção sobre games ampliou.

Kamiya:  E tinha o Takagi... Ah, esse é o nome do outro amigo.

Iwata:  Ok. (risos)

Kamiya:  Ele sempre trabalhou meio período, então para um garoto no colégio, ele tinha dinheiro e comprava vários sistemas.

Iwata:  Ele gastava como um adulto, mesmo ainda estando na escola.

Kamiya:  Exatamente. Ele e seu dinheiro o colocavam num nível totalmente diferente do nosso. Ele meio que ficava rindo por dentro quando eu e o Nagasawa discutíamos sobre o NES e o Master System.

Iwata:  (risos) Que grupo interessante vocês eram!

Kamiya:  No começo, o Takagi tinha um Sharp X1, então havia uma batalha tripla sobre os PCs. Mas aí, ele pegou um X68000.


Iwata:  Ele comprou um Sharp X68000 mesmo estando na escola?!

Kamiya:  Sim. Nós dois ficamos abismados.

Iwata:  Eu imagino que sim! (risos) Nessa época, quando se tratava de jogar videogame em PCs, essa máquina facilmente se sobressaia aos outros modelos.

Kamiya:  Eu mesmo comprei um software para ele, fui até a casa dele e pedi para jogar. Eu estava voltado aos jogos de fliperama, mas o Takagi, mesmo tendo comprado um Sharp X68000, preferia comprar jogos que eram feitos para console.

Iwata:  Mesmo com vários jogos de fliperama disponíveis para o Sharp X68000.

Kamiya:  Exato. Ele vinha junto com o jogo Gradius, então eu disse: “Por que você não joga jogos de fliperama?” E foi assim que eu passei o ensino médio.

Iwata:  Você certamente estava imerso em videogames durante essa época.

Kamiya:  Estava. Para ser honesto, eu estudei tão pouco que reprovei no exame para entrar no ensino médio. Eu fui para uma escola preparatória, que foi também o ano que mais joguei videogame. O colégio que eu estudava era no subúrbio, porém a escola preparatória era bem em frente à estação. Então, ir para a escola preparatória diariamente significava parar no fliperama todo dia.

Iwata:  Ahá! (risos)

Kamiya:  Fosse em casa ou fora, eu tinha a oportunidade de jogar videogame todos os dias. Havia uma relação profunda com os games como parte integral da minha vida.

Ficou curioso para saber como ele conseguiu entrar na indústria de games? Confira na segunda parte da entrevista!

Fonte: Iwata Asks - Nintendo
Revisão: Samuel Coelho
Capa: Hugo Henriques Pereira


Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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