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Análise: Aventurei-me sem me perder pelos labirintos de Etrian Odyssey IV: Legends of the Titan (3DS)

Etrian Odyssey IV: Legends of the Titan é, além de um RPG, um dungeon crawler . Esse gênero teve origem nos anos 70, e foi usado para desc... (por Unknown em 19/12/2013, via Nintendo Blast)

Etrian Odyssey IV: Legends of the Titan é, além de um RPG, um dungeon crawler. Esse gênero teve origem nos anos 70, e foi usado para descrever jogos nos quais você explora dungeons que podem mudar aleatoriamente, tornando a aventura mais desafiante. Devido ao desafio que esse gênero apresenta, é natural que jogadores mais experientes abracem o jogo até dominá-lo por completo. Apesar de não ser um gênero tão popular e até afastar alguns jogadores mais casuais, Etrian Odyssey, o primeiro da série, lançado para Nintendo DS em 2007, conseguiu mudar essa situação com seu visual agradável, história divertida, e personagens carismáticos. Hoje é nossa vez de nos aventurarmos pelos labirintos do quarto título da franquia, e o primeiro no Nintendo 3DS.


Quebrando padrões

Quem conheceu os dungeon crawlers de meados dos anos 80 ou  começo da década de 90, deve se sentir intimidado, especialmente a geração atual que já está acostumada com jogos tão coloridos e "fáceis". Essa realidade é oposta para os japoneses ou jogadores que tenham cerca de 20 anos ou mais. Neste grupo, os japoneses se incluem por questões mais culturais com Etrian Odyssey, já que este traz tudo o que agradaria um "otaku" padrão da terra do sol nascente. Para os jogadores com mais de 20 anos, deve-se ao fato deles já terem vivido experiências mais duras na época dos 16 bits, não sendo a dificuldade de Etrian Odyssey suficiente para assustá-los.

Eu, pessoalmente, fiquei muito feliz quando Etrian Odyssey IV chegou ao ocidente no começo desse ano, ainda mais sendo o primeiro jogo da série para o 3DS, já que estávamos carentes dessa franquia desde 2010 (e no DS!). Aqui temos dois pontos positivos: o primeiro é que os jogos não são lançados anualmente (apesar do curto período entre os dois primeiros), então você pode esperar alguma qualidade na produção deles, novidades, além de dar tempo de sentir aquela saudade que precisamos para curtir uma franquia de jogos ou filmes. Saudade que não senti, por exemplo, em Assassin's Creed IV por ter sido lançado tão pouco tempo depois de Assassin's Creed III. O segundo ponto é que não há muita diferença entre o lançamento ocidental e o lançamento oriental. Se você é um fã de tantos jogos orientais, assim como eu, deve sofrer com a trava de região do 3DS e com a lentidão para localização de alguns títulos (Bravely Default, estamos de olho em você) o que não é um problema em Etrian Odyssey (ou não é um problema para a Atlus?).

Uma grande falha dos dungeon crawlers em geral é a ausência de uma história coerente já que seu grande charme são os labirintos inexplorados. Então, jogadores mais antigos do gênero estão acostumados em correr por labirintos sem a preocupação com a história (se é que ela existe). Em Etrian Odyssey temos uma história. Simples, mas coerente. E não é atrapalhada pela parte de exploração, já que deixa essas duas áreas bem separadas.

Aventuras nas raízes da Yggdrasil

O povo de Tharsis está acostumado com a presença da árvore do mundo, Yggdrasil, em seu cotidiano. A enorme árvore pode ser vista em quase todo lugar e suas raízes se estendem por terras distantes. Como um aventureiro novo por essas raízes, você pode montar seu próprio grupo e buscar por tesouros e fama. Esse é, basicamente, o enredo de Etrian Odyssey IV. Ele começa a ter mais raízes quando personagens começam a ser desenvolvidos individualmente ou em conversas com NPCs.

A ideia de ser um aventureiro buscando por tesouro e fama, apesar de simples, não é uma preocupação que outros dungeons crawlers tiveram. Na verdade, a narrativa era deixada de lado e foco sempre foi na jogabilidade. Etrian Odyssey consegue trabalhar muito bem com ambos e ainda ensinar que não precisa de uma história épica ou enrolada em vários plot twists para um bom jogo. A jogabilidade desse gênero pede muita paciência, pois tentativa e erro estão sempre ali, de mãos dadas, a cada aventura. Não apenas na solução de puzzles, mas por simplesmente caminhar pelos labirintos. Nesse ponto, a narrativa entrou muito bem: não é algo cansativo que deixará sua cabeça explodindo já que pode estar cansado das dungeons, e não é algo bobo demais que não justifique a razão de você estar envolvido nessas aventuras. Com relação à história história, apesar de existir, não é tão forte na jogabilidade, lembrando-me o tipo de história que você encontra em MMOs: elas precisam existir, mas também precisam te deixar livre o suficiente pra desenrolar sua própria história.

Você é o chefe

Montar uma guilda, escolher o nome, recrutar novos membros, são coisas simples que mais uma vez conotam-me lembranças aos MMOs. Mas estas mesmas semelhanças terminam por aqui. Dungeon crawlers mais recentes são conhecidos erroneamente como "RPG em primeira pessoa" já que a visão em primeira pessoa tornou-se tão frequente nos jogos do gênero ao ponto de ser uma característica forte dos títulos mais recentes. Diferente dos outros três títulos da franquia, Etrian Odyssey IV é mais convidativo em seu visual e level design. De modo que o jogo não fica mais fácil, mas ficou mais intuitivo e simples graças ao NPCs dando dicas, além de side quests que podem te ensinar novos aspectos da jogabilidade. Entretanto, como já dito, não significa que o jogo ficou mais fácil. E quanto mais você eleva o nível de seu personagens (mesmo que tenha de retornar a labirintos já explorados para isso), mais coisas descobre por ter acesso às novas classes e habilidades, aprendendo também a combinar habilidades das classes e subclasses de seus personagens. Isso torna o jogo deveras dinâmico.

Além da visão em primeira pessoa, o jogo abraça o sistema de combate por turnos. Há quem não goste e corra para os dungeon clawlers com hack and slash, mas eu gosto bastante dessa mecânica. Ainda mais quando encontramos os FOEs, Field-On Enemies, que são chefes do jogo capazes de te derrotar com um único ataque caso não esteja preparado ou em nível muito inferior. Felizmente, é possível identificá-los antes do combate e é bom evitá-los o máximo possível enquanto não estiver familiarizado com o jogo. Mas calma, isso não significa um game over, mas ter de voltar para Tharsis e começar a explorar o labirinto novamente. E se você não está acostumado a morrer em jogos, Etrian Odyssey será uma boa oportunidade para acostumar-se com isso.

Como você consegue, Atlus?

Etrian Odyssey IV: Legends of the Titan, é superior aos títulos anteriores. Sua trilha sonora realmente ajuda a entrar no clima e a história não é irrelevante, mas também não é acentuada o suficiente para atrapalhar no seu peculiar estilo de jogo. A jogabilidade do gênero é difícil para os menos experientes com jogos, mas tem se tornado fluída e acessível a cada jogo da franquia, fazendo mais e mais fãs, até mesmo jogadores casuais. O jogo consegue passar o senso de urgência através da tensão: você precisa conseguir o máximo possível de itens e ser cauteloso para não morrer a qualquer momento. Tanto que encontrar um FOE pode não ser muito agradável, dependendo de sua situação. Em outros jogos, encontrar um boss sempre é sinônimo de mais dinheiro e mais experience points, mas aqui não. O mapeamento manual dos labirintos torna o jogo mais desafiante e faz com que horas de jogatina passem sem você perceber.

Creio que parte desse sucesso em atingir um público maior se deve ao visual tão próximo das animações orientais e aos personagens emblemáticos. Ainda assim, uma função que ajuda muito nessa receptividade é a dificuldade ajustável: você pode mudar a dificuldade do jogo durante a experiência, podendo tentar algo mais leve caso acredite estar morrendo demais. Honestamente, não vi tanta diferença, apenas uma quantidade mais generosa de experience points. Mas para um jogador menos experiente, apenas a ideia de "estar mais fácil" já pode soar mais confortável e convidativo a tentar novamente. Há mudanças fora de combate, como o custo para realizar algumas atividades com NPCs, mas em combate o jogo não fica bobo, pois você ainda precisa focar no jogo se não quiser morrer. Não é algo que poderá vencer apenas escolhendo opção de atacar sem pensar.
Etrian Odyssey IV: Legends of the Titan é, de longe, o dungeon crawler mais popular da atualidade. É o tipo de jogo que você investe horas e mais horas sem perceber. Ele permite que você sinta o gosto de uma aventura que não pode ser saboreada em muitos dos títulos atualmente no mercado. Chefes realmente desafiadores, labirintos desconhecidos e realmente inexplorados, além daquela dificuldade que, apesar de te matar, te estende a mão para uma segunda tentativa. Bem, podemos dizer que não é um jogo difícil, mas sim, desafiante.

Prós


  • Visual agradável e convidativo mesmo para jogadores não familiarizados;
  • Trilha sonora equilibrada com o clima tenso que o jogo passa;
  • Variedade de classes e habilidades permite aprender sobre o jogo mesmo depois de 30h;

Contras


  • Ausência de um multiplayer online em pleno ano de 2013;
  • Pode ser difícil desde o começo, e jogadores desavisados podem falhar frequentemente;
  • Depois de mais de 80h de jogo, fica difícil ter algo novo pra fazer, mesmo com o charme da jogabilidade;

Etrian Odyssey IV: Legends of the Titan - Nintendo 3DS - Nota: 8.0

Revisão: Jaime Ninice
Capa: Vitor Nascimento

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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