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Análise: Etrian Odyssey 2 Untold (3DS) é um JRPG imersivo e viciante

O remake do segundo título da série tem algumas novidades e ajustes que o torna um dos melhores da franquia.


Calabouços de formato labiríntico, monstros poderosos em todos os cantos e muitos segredos para encontrar são as principais características da série Etrian Odyssey, que é conhecida principalmente pelo alto desafio. Etrian Odyssey 2 Untold: The Fafnir Knight é o novo título da franquia para 3DS e reimagina o segundo episódio de DS com várias novidades, como história elaborada e ajustes na jogabilidade. Mas com tantos títulos parecidos entre si, será que vale a pena montar novamente uma guilda e explorar calabouços?

Reimaginando o passado

Etrian Odyssey é uma série de RPGs que resgata o gênero dungeon crawling. A visão é em primeira pessoa e o objetivo é explorar uma série de calabouços de formato labiríntico. Para se diferenciar de outros jogos desse estilo, Etrian Odyssey conta com um robusto sistema de cartografia: a tela de toque do portátil exibe um espaço para desenhar um mapa do local, com direito a ícones e anotações. Os combates são por turnos e a dificuldade é alta. Por fim, a história da série sempre foi simples e básica e tem sempre como cenário a mítica árvore de Yggdrasil.

The Fafnir Knight é um remake de Etrian Odyssey II: Heroes of Lagaard (DS) e é o segundo título da série Untold. Essa sub-série tem como principal característica uma história mais elaborada, contando com personagens fixos, cenas não interativas e até dublagem. A trama de Fafnir Knight gira em torno de Arianna: a jovem princesa precisa realizar um ritual importante nas ruínas de Ginnungagap. Ela conta com a ajuda de outros aventureiros e sua aventura é repleta de reviravoltas e complicações, o que força o grupo a explorar também o labirinto da árvore Yggdrasil.
A princesa Arianna e seus amigos
Aqueles que quiserem uma experiência mais próxima da série principal podem escolher o modo Classic. Essa modalidade não tem história elaborada e nem personagens fixos, sendo assim é possível montar um grupo como bem quiser para explorar os labirintos. O jogo conta com vários slots para guardar o progresso da aventura, o que permite jogar o modo Story e Classic paralelamente.

Perdendo-se em labirintos deslumbrantes

Imersão é a palavra que melhor define The Fafnir Knight. Isso acontece por conta do desenho inteligente dos calabouços: todos eles exigem atenção, seja para desenhar os mapas ou superar os perigos — é difícil não querer explorar todos os cantos em busca de segredos e tesouros. Uma novidade extremamente bem-vinda são as melhorias no preenchimento automático do mapa. Esse recurso já estava disponível em episódios anteriores da série, mas dessa vez ele está ainda mais completo e desenha até as paredes — locais de interação ainda precisam ser colocados manualmente.

A melhor característica da exploração é a variedade de situações. O labirinto de Yggdrasil é dividido em andares e cada um deles é bem único. Normalmente eles estão infestados de Field On Enemies (ou FOEs), monstros poderosos que ficam visíveis no mapa. Em um primeiro momento, enfrentá-los não é uma opção, pois isso significa morte quase certa. Sendo assim, é necessário evitá-los a todo custo. É aí que as coisas ficam interessantes: é importante estudar detalhes de como eles se movimentam e bolar maneiras de se esgueirar entre eles. Em um andar você vai atrair grandes dinossauros para armadilhas, já em outro, morcegos gigantes podem ser derrotados ao serem atingidos por grandes blocos de gelo, em uma terceira situação, você deve esperar um lobo olhar para o outro lado para passar sem ser percebido. Cada andar é uma aventura única e distinta, pontuada por constante tensão.

Um questão recorrente na série era a necessidade de revisitar os mesmos andares inúmeras vezes, pois não era possível ir diretamente para algum dos pavimentos. Untold mudou isso com o recurso Floor Jump: ao desenhar boa parte de um andar, é ativada uma opção que permite ir para as escadas dali com um simples toque no mapa. Também é possível se mover mais rápido nos labirintos e alterar a velocidade dos combates. Com essas opções, navegar pelos calabouços fica muito mais fácil.

Combate intenso e flexível

O labirinto de Yggdrasil está repleto de monstros e as batalhas acontecem em combates por turnos. Em um primeiro momento, ela parece muito simples: basta selecionar um ataque ou técnica e pronto. Acontece que os confrontos de Fafnir Knight são bem difíceis e até mesmo inimigos normais podem dar muito trabalho — ou até mesmo acabar com seus heróis rapidamente. Conhecer bem as fraquezas dos inimigos e abusar de infligir status negativos são as melhores maneiras de se dar bem nos combates, principalmente nas batalhas contra chefes. Três diferentes níveis de dificuldade estão disponíveis e podem ser trocados a qualquer momento — o fácil é perfeito para iniciantes, enquanto o difícil é bem desafiante até mesmo para os veteranos da série.

Estratégia é essencial. O jogo conta com 13 classes distintas e cada qual é bem única. A grande jogada do sistema de batalha é identificar a sinergia entre as classes e com isso montar estratégias devastadoras. Um exemplo básico é fazer combos: algum personagem usa um ataque elemental e logo em seguida um Sovereign ativa um golpe elemental adicional — dependendo de como for montada, essa estratégia permite fazer vários ataques poderosos em sequência. Outra possibilidade é usar habilidades em conjunto, como um Survivalist infligindo status negativos em um inimigo e um Warmagus se aproveitando disso para dar ainda mais dano. Inúmeras opções de estratégia podem ser montadas e é muito recompensador conseguir desferir sequências de ataques poderosas.
O protagonista pode usar ataques poderosos ao se transformar.
The Fafnir Knight conta com muita flexibilidade no que diz respeito ao desenvolvimento das características dos personagens. Ao subir de nível, o herói recebe um ponto de habilidade que pode ser investido em técnicas — cada classe conta com várias opções. O legal é que a grande gama de opções permite montar personagens distintos de uma mesma classe. Acabou não gostando do resultado final? Sem problema: é possível realocar todos os pontos de habilidade ao custo de alguns níveis. Também é possível mudar a classe de algum herói quando você bem entender. Itens chamados Grimoire Stones permitem equipar técnicas extras, inclusive habilidades exclusivas de outras classes, o que permite amenizar deficiências. Infelizmente usar esse sistema é meio frustrante, pois as pedras são recebidas aleatoriamente — é difícil conseguir algo que você precisa ou que seja útil.

Tomando um café e interagindo

Veteranos da série Etrian Odyssey tiveram aversão ao modo história do primeiro Untold por conta de suas limitações e progressão. Pensando nisso, a Atlus fez algumas alterações nessa modalidade em The Fafnir Knight. A principal delas é que é possível trocar a classe de qualquer personagem, salvo o protagonista — perfeito para quem quer experimentar outras combinações ao mesmo tempo em que acompanha a história. A trama desse modo é interessante, mas não espere algo muito elaborado, por mais que os personagens apresentem personalidade bem única e seja divertido vê-los interagindo entre si.

Falando em interação, ela é bem explorada no Café, um dos novos recursos de The Fafnir Knigth. A partir de um certo momento da história, o grupo recebe como missão revitalizar e ajudar a desenvolver um pequeno café. Nele, é possível desenvolver receitas, melhorar a cidade e criar campanhas de marketing. A parte das receitas é bem legal: para cozinhar os pratos, é necessário escolher os ingredientes corretos a partir de descrições não muito precisas. Ao ter sucesso nessa tarefa, os personagens degustam o prato enquanto interagem entre si — as cenas são bem divertidas. Esses pratos também proveem algum efeito para o grupo, como maior resistência a status negativos ou atributos melhorados.

Outro uso para os pratos é vendê-los em campanhas de marketing. Assim como no momento de fazer as receitas, é necessário identificar o que os clientes querem — as descrições, às vezes, são meio enigmáticas. Acertar no marketing resulta em uma grande soma de dinheiro, que pode ser investido para desenvolver a cidade, o que traz mais possibilidades de venda. Esses recursos não são muito interessantes e felizmente podem ser completamente ignorados.
The Fafnir Knight é o primeiro jogo da série principal a contar com DLC. O conteúdo disponível por download consiste principalmente em missões e chefes extras. Algumas delas são bem úteis, como missões que dão receitas para receber mais experiência ou dinheiro. Já outras são puro desafio: a maioria dos pacotes tem chefes extremamente poderosos. É possível adquirir também a classe Highlander (do primeiro Untold) e até mesmo ilustrações alternativas para as classes do modo Classic. Esses DLCs complementam o jogo, mas agradarão mais aos fãs da série.

Acessível, mas similar

Etrian Odyssey 2 Untold é um ótimo JRPG, ao mesmo tempo em que é também um dungeon crawler bem acessível. A ambientação de tudo é ótima, desde os gráficos dos labirintos até a direção de arte com uma pegada meio anime — o jogo conta até com uma abertura animada com uma canção em japonês. A música também é destaque: de autoria de Yuzo Koshiro (conhecido principalmente por Streets of Rage), a trilha é repleta de melodias memoráveis — destaque especial para os enérgicos temas de batalha. Os mais saudosistas podem escolher as composições originais de DS no menu de opções. Os ajustes na jogabilidade e as opções de mobilidade deixaram o jogo mais ágil e acessível, perfeito para novos jogadores.

Mas tendo jogado outros títulos da série antes, fiquei me perguntando se vale a pena um veterano investir horas de jogo em The Fafnir Knigth. O motivo disso é que ele é extremamente parecido com os capítulos anteriores da franquia: o combate, a exploração, a estruturação de missões e até mesmo a interface gráfica parecem ter sido tirados diretamente dos jogos anteriores. Outro problema é que a aventura pode se tornar repetitiva para alguns depois de algum tempo, já que o ciclo de jogo é basicamente o mesmo por toda a aventura. Contudo, a vontade de explorar os labirintos e enfrentar monstros poderosos foram suficientes para me fazer continuar jogando.

Uma aventura memorável e viciante

Etrian Odyssey 2 Untold: The Fafnir Knight é, facilmente, um dos melhores jogos da série. O jogo traz várias melhorias introduzidas nos títulos anteriores e conta com uma aventura variada, desafiante, repleta de opções de customização e muitas possibilidades de estratégia. Os principais problemas são a extrema similariedade com os jogos passados e momentos que podem se tornar repetitivos. The Fafnir Knight é um título que amantes de RPG e aqueles que gostam de um bom desafio não podem deixar de conferir.

Prós

  • Boa variedade de situações nos andares;
  • Grande quantidade de classes e habilidades permitem montar várias estratégias;
  • Excelente trilha sonora;
  • Quantidade extensa de conteúdo;
  • Ajustes na jogabilidade deixam a experiência mais ágil e agradável.

Contras

  • Muito parecido com os anteriores;
  • Pode ficar repetitivo em alguns momentos.
Etrian Odyssey 2 Untold: The Fafnir Knight — 3DS — Nota: 9.0
Revisão: Alberto Canen

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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