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Análise: Punch Club (Switch): a repetitiva vida de um lutador

Gerenciar a carreira de um lutador de MMA no Switch é um exercício casual de repetição que pode ser tão prazeroso quanto entediante.


Punch Club nasceu das mentes dos designers russos do estúdio Lazy Bear Games, e durante seu processo de criação chamava-se VHS Story (Video Hero Super Story). Como o antigo nome entrega, a ideia era criar um jogo que juntasse as influências que foram marcantes para os desenvolvedores na era do VHS – mais precisamente nas décadas de 80 e 90. E foi exatamente o que eles fizeram, usando referências à cultura pop da época que vão desde seguir os conselhos de um treinador rabugento chamado Mick (Rocky) e participar de lutas aleatórias atrás de um bar sujo (Clube da Luta), até comprar mantimentos na loja de conveniências do Apu (Simpsons) e entregar pizzas nos esgotos para jacarés mutantes ninjas que usam máscaras coloridas (preciso explicar?).

Acho que já vi esse filme

Foi neste cenário divertido e cheio de homenagens que surgiu em 2015 para PC o jogo que misturava os estilos preferidos do pessoal do estúdio russo: estratégia e luta. Renomeado como Punch Club, o game chegou no Steam apresentando uma jogabilidade estilo tycoon, carregando influências de jogos famosos do passado como Princess Maker, Game Dev Story e até do mega hit The Sims. Na época de seu lançamento original, demos uma nota 6,0 para o game, e dissemos que “apesar da ótima atmosfera criada, da caracterização dos personagens e referências divertidas, Punch Club acaba por ficar excessivamente repetitivo e cansativo com o passar do tempo”.

Do “VHS” para o digital

Em 2018, pouca coisa mudou, na verdade. Em sua nova casa, o game conta com todas as atualizações já lançadas para o título, incluindo balanceamento de algumas características, correções de bugs, legendas em português brasileiro, outros modos de dificuldade (“Suuuperfácil” e “Hardcore”), além da expansão Dark Fist, que adiciona uma nova história paralela. Porém, as mudanças não são radicais no console da Nintendo, não há suporte para HD Humble ou possibilidade de jogar com um único Joy-Con na horizontal. Ainda assim, o grande diferencial desta versão é o que está intrínseco ao Nintendo Switch: portabilidade.

Se você já experimentou o simulador da Lazy Bear Games no seu 3DS ou Smartphone, sabe do que estou falando. Punch Club exige pouco do jogador – você escolhe a próxima ação do herói e assiste seu desempenho quase passivamente –, e por isso é  muito mais agradável de jogar em sessões breves, a qualquer momento e em qualquer lugar.

Aliado a isso, o visual em pixel art lembra os melhores gráficos que a era do Super Nintendo já entregou (deu até saudade de Turtles in Time), mas também remete a alguns dos mais marcantes adventures para PC da década de 90. Sem dúvidas, estas foram outras referências para o pessoal que criou Punch Club. Infelizmente a parte sonora não faz jus aos belos gráficos pixelados, os sons são mínimos e as músicas são poucas e repetitivas, tornando-se irritantes em questão de minutos. Sinceramente, vale mais a pena jogar enquanto ouve uma música de outro dispositivo ou até mesmo escutando o podcast da Nintendo Blast.

O vingador do passado

Ao apertar em iniciar, somos apresentados à trama principal do game: durante sua infância, o herói vê seu pai – também lutador – ser assassinado por um homem de preto num beco em uma noite chuvosa (Batman? Alguém?). O jovem órfão, então, é adotado por Frank, um policial amigo de seu falecido pai. Já adulto, decide treinar seu corpo e mente para investigar o assassinato e buscar a tão desejada vingança. O problema é que a história é rasa e se limita a breves cutscenes e pequenos balões de diálogos repletos de clichês e frases de efeito, que pouco acrescentam para um aprofundamento na trama. O enredo é amarrado de forma descuidada pelas dezenas de referências a outras obras, fazendo da história de Punch Club uma verdadeira “colcha de retalhos”.

O jogo oferece alguns caminhos e decisões ao longo da jogatina, mas no geral a história principal apresenta poucas novidades, seguindo uma linha bem tradicional. Durante as duas vezes que percorri toda a trajetória, percebi apenas uma escolha realmente importante, que define o desfecho da trama. Por outro lado, o mapa do game conta com diversos lugares para visitar, com side quests que oferecem um pouco mais de variedade e, se você não estiver esperando um Shakespeare vindo dos balões de diálogos, pode se divertir um bocado com as historinhas apresentadas.

As regras do clube

A interface do jogo lembra um point & click, você direciona onde quer que o personagem vá e seleciona os objetos do cenário com os quais quer que ele interaja. O herói faz o resto do trabalho sozinho, como no velho The Sims. O objetivo final é simples: fortalecer seus atributos principais o suficiente para vencer a próxima luta e repetir o processo para o confronto seguinte. As lutas em si são praticamente passivas, restando ao jogador escolher as habilidades pré-definidas e torcer por um resultado positivo.

São três atributos principais (força, agilidade e resistência), quatro secundários (saúde, fome, felicidade e energia) e mais duas variantes importantes (dinheiro e pontos de habilidade). Para avançar na história o herói precisa vencer lutas. Para  vencê-las precisa melhorar seus atributos principais treinando, o que gasta gradativamente os secundários. Estes, por fim,  podem ser recuperados comendo, descansando ou usando outros itens. E quase tudo isso custa dinheiro, que você ganha gastando energia ao trabalhar em uma obra ou entregando pizzas. Ufa!

Percebeu o ciclo vicioso? Este é o mecanismo que faz o jogo girar, repetindo suas mecânicas para ir avançando na história, liberando novas side quests e lugares no mapa para o herói explorar. O desafio está em equilibrar suas atividades para tirar o maior proveito possível do sistema de passagem de tempo do jogo. E você está sempre alguns minutos de distância da próxima recompensa, tornando Punch Club viciante em seu início, mas arrastado e repetitivo com o passar do tempo – principalmente por conta do sistema de desgaste, que a todo final de dia desconta pontos dos atributos principais do protagonista.

Para deixar as coisas um pouco mais interessantes, o game oferece uma árvore de habilidades especiais com golpes e perícias passivas para usar durantes as lutas. A cada batalha vencida, o protagonista ganha alguns pontos para gastar, e há um pouco de estratégia na hora de escolher os caminhos. Comprar as opções certas pode gerar combos que drenam a energia do adversário rapidamente, deixando a sua vida um pouco mais fácil nas finais dos campeonatos. Mas se você errar e escolher um caminho inútil, o jogo não perdoa: a cada nova habilidade comprada, todas as outras ficam um pouco mais caras e distantes. 

Portanto, pense com carinho para qual caminho deseja seguir e quais habilidades quer comprar para não se arrepender lá na frente, quando as lutas ficam realmente difíceis e a evolução extremamente lenta. 

No pain, no gain

Se você se interessa pelo gênero e está disposto a encarar Punch Club como um passatempo que exige pouco de sua atenção, pode divertir-se bastante com as historinhas bobas e a evolução do personagem. No início, o título da Lazy Bear Games é empolgante e viciante, com recompensas rápidas que motivam a seguir jogando. Mas o último terço do jogo se torna um exercício de paciência, muito arrastado e frustrante, visto que os adversários ficam cada vez mais difíceis e evoluir o herói fica cada vez mais demorado. Perde a graça correr contra o relógio e não ver resultados satisfatórios.

Tive muitas horas de diversão com Punch Club antes de começar a sofrer com seu sistema cruel de desgaste do personagem. O modo “Suuuperfácil” pode ser uma saída se o seu interesse é a trama e as dezenas de referências à cultura pop, mas tenha consciência de que o jogo fica realmente fácil – o herói não perde pontos com o passar dos dias – e todo o fator estratégico se desfaz. Agora, se você quer chegar no topo do ranking do jeito tradicional, vai precisar de muita paciência e repetição. Sem esforço não há recompensa. 

Prós

  • Referências divertidas à cultura pop dos anos 80 e 90;
  • Gráficos em pixel art no melhor estilo Super Nintendo;
  • Início cativante e viciante.

Contras

  • Último terço de jogo arrastado e frustrante;
  • Músicas repetitivas;
  • Não aproveita nenhuma funcionalidade exclusiva do Switch.
Punch Club – Switch/3DS/PS4/XBO/PC/Mobile – Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: André Carvalho
Análise produzida com cópia digital cedida pela tinyBuild


Comunicador e colecionador. Já foi Sega kid e Nintendo kid, agora é retro "kid". Está no Twitter em @carloscirne e faz vídeos no YouTube no canal CirneStuff.
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