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Análise: Wolfenstein II: The New Colossus (Switch) — uma jornada empolgante

O celebrado jogo de 2017 chega ao Switch em um port competente.


Wolfenstein II: The New Colossus é considerado um dos melhores shooters dos últimos tempos. Com foco na narrativa e campanha single player de respeito, o jogo desenvolvido pela MachineGames e publicado pela Bethesda foi portado para o Switch pelo estúdio Panic Button. Com todos os desafios técnicos envolvidos no processo deste port é compreensível que muita gente fique receosa com o resultado. Afinal, valeu a espera?

Um mundo devastado

Wolfenstein II: The New Colossus é a continuação direta do jogo de 2014, Wolfenstein: The New Order. Como não é possível saber se o jogador atual passou pela primeira aventura, a abertura do novo game é uma recapitulação dos eventos já ocorridos. Esse recurso narrativo é uma boa adição, principalmente no caso do Switch, em que o primeiro capítulo sequer está disponível. Além disso, como o processo é feito de forma rápida e direta, fica fácil se ambientar com os acontecimentos.

É bem provável que a maioria das pessoas que decidam jogar Wolfenstein já conheçam o contexto da história. Mas para quem chega de paraquedas na série, é importante entender que estamos diante de uma distopia, um mundo assustador em que os nazistas venceram a Segunda Guerra Mundial e estão no controle. E é nesse ambiente que jogamos com William Joseph Blazkowicz, também conhecido como Terror Billy, o líder da resistência que tenta libertar os Estados Unidos da nova ordem instaurada.


A imagem de um mundo desolado e destruído representa bem o estilo visual do game. Parte dele é jogado dentro de instalações, naves e prédios. Mas também nos movemos em meio a cidades destruídas e abaladas pela guerra, além de ambientes inusitados e curiosos que você vai descobrir durante a campanha.

No que se refere ao enredo, Wolfenstein II não oferece espaço para interpretações dúbias. Nós jogamos do lado do bem e devemos derrotar os vilões. Parece simplista demais, mas essa estrutura maniqueísta é bem construída durante todo o jogo. Essa dualidade é mostrada, por exemplo, na presença constante da General Engel, arqui-inimiga de Blazkowicz, e nas memórias de infância deste, em que os ideais e atitudes do pai do personagem nos mostram as provações pelas quais o herói passou para se tornar quem é.

Outro aspecto interessante é que, apesar de jogarmos com o mesmo personagem durante todo o jogo, muitas ações são resolvidas em equipe. Aliás, existe uma sinergia bem particular em torno do grupo que orbita Blazkowicz, com um humor bem pontuado e relações emocionais bem construídas. É difícil detalhar essas conexões sem entrar em spoilers, mas basta dizer que o processo narrativo entrega bem mais do que o que se costuma esperar de um shooter com a aparente premissa de que devemos apenas matar nazistas. Esse, aliás, é um argumento utilizado pelos próprios personagens. Em alguns momentos os vemos fazendo declarações como essas, em que eles parecem resumir o sentido de suas vidas a esse objetivo único (“kill nazis!”). No entanto, as complexas relações apresentadas mostram que existe bem mais do que isso, o que só engrandece o jogo e sua proposta.


Um desafio visual

Wolfenstein II: The New Colossus é um jogo muito bonito e bem acabado, certamente um dos melhores de 2017 nesse quesito. A versão do Switch ainda representa bem o trabalho da Machine Games. No entanto, muitos sacrifícios foram feitos para que este título rodasse em um console híbrido e isso é perceptível nas comparações com as versões para as outras plataformas. Quando jogado no modo portátil o visual funciona bem e os defeitos são quase imperceptíveis, algo que não se repete quando jogamos no modo docked. Na televisão, é possível notar os detalhes que faltam, a resolução menor das texturas e um jeito de imagem embaçada, recurso utilizado para disfarçar os problemas da transposição.

Importante, contudo, notar que esse tipo de crítica só faz sentido porque temos outras versões do game para comparação. Se fosse um jogo exclusivo do Switch, ele seria muito bem recebido pelos seus gráficos e teríamos muito o que elogiar. Mas como estamos diante de um port, é difícil não nos colocarmos nesse lugar de observação. Para não sermos injustos, é importante ressaltar que a Panic Button realizou um ótimo trabalho. Apesar das restrições mencionadas, o jogo em si se mantém o mesmo, carregando suas qualidades e defeitos.

O único problema — esse sim, significativo — é o fato de que existe, em alguns momentos mais frenéticos, uma queda razoável na taxa de quadros por segundo, trazendo uma sensação desconfortável para o jogador. Não senti isso em muitos momentos, mas todas as vezes que aconteceu eu estava jogando na televisão. No modo portátil, mais uma vez, o resultado era bem melhor. Mas antes de escolher jogar a campanha inteira com o console em suas mãos considere a questão dos controles, outro desafio gigante para a Panic Button.


Wolfenstein II: The New Colossus pode ser jogado com o Switch em modo portátil, com o Pro Controller ou com os Joy-Con. Mirar é o maior desafio, principalmente quando o jogo exige mais precisão. Nesses casos, o analógico torna a tarefa de atirar ainda mais desafiadora. Felizmente existe a opção de ativar os controles de movimento, o que já ameniza o problema no modo portátil e torna a experiência bem satisfatória no caso do uso do Pro Controller. Mesmo com o framerate instável e a queda na resolução, preferi jogar no modo docked na maior parte do tempo, principalmente por conta da fluidez dos controles. Dependendo do nível de dificuldade que você escolher, o game pode ficar muito desafiador, por isso acredito que sacrificar os gráficos por uma mira mais estável vale a pena. Ainda assim, a grande vantagem do Switch em relação às outras plataformas em que o jogo está disponível é o fato de termos opções distintas de usabilidade. É verdade que não temos a mesma experiência em cada uma delas, mas o resultado geral não deixa de ser agradável.

Quebrando tudo (com estilo)

Wolfenstein II oferece um número interessante de armas e modos de ação. Em muitos momentos, é possível passar por desafios em modo stealth, mas você vai logo perceber que a maneira mais simples e recompensadora é usar a força bruta. Durante o jogo, passamos por situações bem distintas, desde jogar controlando uma cadeira de rodas até utilizar habilidades especiais que possibilitam o acesso a ambientes e espaços distintos.

Essa mudança de jogabilidade tem relação direta com os muitos colecionáveis presentes. Esses itens podem ser Enigma Codes (que ao serem inseridos em máquinas específicas destravam a localização de comandantes de alta patente), cartas, peças para upgrades das armas etc. Voltar ao mundo já explorado para recuperar esses itens é parte do processo e tudo isso amplia ainda mais a já extensa campanha do jogo, tornando a experiência proporcionada muito satisfatória.

A ausência de um modo online, justamente pela quantidade de conteúdo, não faz falta aqui. Wolfenstein II: The New Colossus não economiza na história que quer contar e pode ser aproveitado com paciência, algo que estamos desaprendendo a fazer com a onipresença dos jogos com foco no multiplayer e a ausência de campanhas de peso.

Falando justamente sobre quantidade de conteúdo, uma ausência notável para nós é a falta de áudio ou legendas em português. Em muitos momentos, é cansativo ler as legendas no modo portátil, pois elas ficam muito pequenas. A dublagem, nesse caso, ajudaria muito. Outra coisa importante de mencionar é que o jogo possui um tamanho de arquivo bem grande para os padrões do Switch. A versão digital possui algo próximo de 23 GB e a versão física exige o download extra de mais 8 GB. Portanto, prepare o cartão SD.

Propaganda política

Durante o jogo inteiro somos submetidos a propagandas nazistas, presentes tanto nas telas de loading quanto em cartazes espalhados pelas cidades e instalações. Além do efeito estrutural dentro da história, isso parece ser, também, um mote para o posicionamento político dos criadores do game. Como afirmei anteriormente, Wolfenstein II: The New Colossus não tolera ambiguidades. O mal é o mal e deve ser combatido. No final, a mensagem humanitária parece tão importante quanto a experiência frenética e, em muitos momentos, empolgante, vivida por cada um de nós através de Blazkowicz.

Sem a construção de um discurso piegas sobre a liberdade ou os direitos humanos, Wolfenstein II levanta questões importantes para pensarmos nossa época e nossos problemas. É uma distopia de fato, e do tipo que serve de alerta para situações que podemos viver em nosso próprio mundo. No universo alternativo do jogo a tecnologia e a violência chegam perto do absurdo, mas é justamente aí que nos aproximamos de nossas questões sociais. Tirando o excesso o que restam são pessoas lutando pela sobrevivência e pela dignidade de cada ser vivo. Propaganda? Sim, e sem medo de desagradar.

Prós

  • Campanha empolgante;
  • Controles bem otimizados;
  • Muito conteúdo jogável.

Contras

  • Queda de desempenho gráfico em momentos de ação extrema;
  • Ausência de legendas e áudio em português.
Wolfenstein II: The New Colossus - Switch - Nota: 9.0
 Análise produzida com cópia digital cedida pela Bethesda

Pesquisador nas áreas de estética e cibercultura com Mestrado em Cultura e Sociedade (UFMA) e Doutorado em Comunicação (UnB). Além de escrever sobre jogos, produz o Podcast Ficções e tem um blog sobre literatura, filosofia e cotidiano.
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