Blast from the Past

Blast from the Past: Final Fantasy VI (SNES)

"Num único instante mirei e disparei contra seu coração, decidido a vingar nossos pais. O virote se enterrara profundamente atravess... (por Gustavo Assumpção em 21/03/2009, via Nintendo Blast)

Final Fantasy VI Abertura

"Num único instante mirei e disparei contra seu coração, decidido a vingar nossos pais. O virote se enterrara profundamente atravessando a couraça imperial colorida. No instante seguinte, Kefka ia ao chão, com a diminuta flecha cravada em seu peito. Antes de desaparecer no ar como um passe de mágica, meus olhos Terraforam testemunhas da dor e da ira expressas naquela face palidamente bizarra. As tropas debandavam apressadas com a queda de seu general. Em pouco tempo somente os corpos e o sangue derramado poderiam denunciar a batalha que houvera nas estepes geladas de Narche. A última linha de defesa saira vitoriosa. Eles tentavam se proteger do gélido ar noturno que desafiava as fogueiras acesas. Entretanto, em meio a este raro momento de calmaria, Terra parecia ao mesmo tempo distante e quieta... Não era necessária uma única palavra. Ela desejava ver aquilo pelo qual lutamos minutos atrás. Estava claro em seus profundos olhos que a ex-assassina imperial queria ver o Esper. Ponderando a atitude que acabara de tomar, caminhei em sua direção pousando levemente minha mão sobre seu ombro. Em tremor e um olhar, reações esperadas. Mas de alguma forma, ela parecia conhecer minhas decisões e compreender minhas atitudes. Todos haviam se recomposto. Descansavam em abrigos improvisados enquanto eu não. Sem pronunciar uma palavra, atravessamos o desfiladeiro, passando os guardas e chegamos à beira do grande abismo. E a criatura estava lá, inerte em seu esquife glacial. Terra se aproximou mas, como se quisesse sentir o misto de dragão com aves e peixes. De alguma forma inconsciente, sabia que não devia impedi-la. Uma brisa se iniciou, tornando-se mais e mais forte, acariciando minha pele como se não desejasse minha presença. Foi então que ouvi a voz de Locke, gritando pela jovem. Nesse instante, raios começaram a se desprender do esquife, chegando até a maga guerreira unindo-os em um elo destrutivo. O que antes era um lento deslocar dos ventos agora resultava em uma feroz ventania. Trovões cruzavam o ar bem diante de meus olhos, labaredas brotavam e lambiam as pequenas lâminas de gelo que infestavam o ar. Olhei para o aventureiro do meu lado, ameaçando alavancar na direção do Esper. Antes que pudesse concretizar meu objetivo, uma explosão de energia impulsionou a todo ali. Locke tombou desacordado, enquanto eu tateava por pedras que pudessem me sustentar e impedisse que eu caísse no abismo... Ouvi um grito e, em seguida, um intenso feixe, a cauda de massa de energia. Esforcei-me para erguer a cabeça e entender o que acontecia com Terra. Entretanto, tudo o que pude ver foi o Esper... Somente o Esper...” Revista Gamers Nº 39.    

 21 25 1019

  • Brincando com o desconhecido.

Final Fantasy VI foi talvez o episódio da série que mais conseguiu criar uma empatia com o público desde o primeiro momento. E essa vitoriosa sensação foi resultado da criação do mais belo enredo em um RPG. Não só a metafórica inspiração no mundo moderno, FF VI criou um universo extremamente particular, personagens ricamente humanos e carismáticos.

Final Fantasy VI começa 1000 anos após uma violenta guerra que assolou o planeta. Nela os humanos enfrentaram os Espers – seres com poderes mágicos que possuem papel importante na manutenção do planeta. Numa violenta batalha, os humanos – que eram maioria – saíram vitoriosos e decidiram manter os Espers restantes presos em uma dimensão paralela.

KefkaSem a magia para realizar ações simples, os humanos acabaram investindo em ciência e conseguiram fazer diversos avanços, evoluindo em muitos campos diferente. Mas nos dias atuais, mais precisamente há quase duas décadas, um imperador assumiu o poder. Seu nome: Gestahl.

Apesar de Gestahl não ser uma pessoa de coração ruim, ele se deixa levar pelas orientações de seu servo: Kefka. Com uma mente doentia, o estranho humano vê no uso da energia mágica uma oportunidade única para que eles consigam fazer a dominação do planeta.

É então que Gestahl e Kefka decidem abrir o portal que aprisiona os Espers e capturam esses seres mágicos para experimentos. Mas no momento em que estavam de partida, Kefka observa uma garotinha no chão, aparentemente recém-nascida e com um semblante calmo e tranquilo.

A garota é levada do mundo mágico e, claro, desperta grande curiosidade. É então que o Império decide criar a garota como uma verdadeira máquina de guerra. Ela recebe o nome de Terra Branford e treinamento especial para obedecer a todas as ordens dadas pelos comandantes. Foram só começar os primeiros testes para rapidamente ficar evidente o quão poderosa ela era, já que tinha força para destruir o que bem quisesse com grande facilidade. Com características humanas e mágicas, Terra era a arma que o Império precisava para dominar o mundo.

Mas numa noite, Vick, Wedge e Terra chegam a cidade mineradora de Narshe para realizarem uma missão de rotina. É então que nas cavernas, Terra se sente atraída pela força de um estranho ser congelado… Um ser que esconde a chave para o seu passado. Um ser que guarda todo o direcionamento para o seu futuro…

A partir desse ponto a história se desenrola. Prepare-se para momentos ora de emoções fortes, ora de bom humor. Você vai se surpreender com a história de cada um dos personagens como Celes, a garota híbrida artificialmente que desenvolveu poderes mágicos, Locke o ladrão de tesouros de bom coração que faz absolutamente tudo para ressucitar sua amada Rachel; Edgar e Sabin, os irmãos herdeiros do trono de Figaro, sendo o primeiro mulherengo e sem vergonha e o segundo politizado e sonhador.

Ainda existem Gau, o menino abandonado pelo pai que foi criado por animais nas pradarias; Setzer o jogador de Black Jack e dono de um Airship; Cyan que teve toda a sua família morta em uma atitude brutal de Kefka; Strago e Relm que escondem grandes segredos... Há ainda outros personagens, todos com uma importância ímpar no desenrolar do enredo. Aguarde momentos que vão arrancar emoções de você. Não vou contar nada aqui pra não estragar a surpresa (como se o nível de Spoilers acima já não tivesse superado o aceitável...)

  • Trilha sonora perfeita

Outro grande destaque de Final Fantasy VI é a fabulosa trilha sonora, a obra-prima definitiva de Nobuo Uematsu. Cada personagem possui uma canção tema inédita, que combina perfeitamente com sua personalidade. Em cada cidade, você também encontrará um canção que combina com a localidade: de um ar triste, quase fúnebre em Narshe a uma canção maluca e supreendente em Zozo, as melodias conseguem fazer com que você viaje pelos sons e não só pelo enredo.

Mas a melhor canção do jogo é a extremamente conhecida "Aria di Mezzo Carattere" que foi a primeira música cantada composta por Nobuo Uematsu para um Final Fantasy. É uma ária componente da opera "The Dream Oath: Maria and Draco". Na época o SNES não poderia recriar uma musica cantada fielmente, tão pouco uma Ária – ópera cantada por mulheres como protagonista - então as vozes da canção foram recriadas usando o formato de som SPC700. Apesar da baixa qualidade, ainda assim os eventos na Opera House se tornaram um dos mais marcantes de toda a história dos games.

2A Ária, cantada na história por Celes Chere, também é uma simbologia aos sonhos da personagem, que desejava intimamente não ser uma general, mas sim uma mulher com a oportunidade de amar e viver apenas como uma mulher normal. Na Ópera, Celes atua como Maria, uma mulher que vive o drama de ter seu amado desaparecido na guerra e jurava o esperar eternamente. Isso também é uma referência às escolhas de Celes que mais tarde, após quase morrer sem esperanças, vê uma prova que Locke está vivo e então (a exemplo de Maria) compreende que batalhas são duras, mas devem ser travadas em nome daqueles que amamos sem nunca perdermos as esperanças de rever nossos entes queridos mesmo após o caos. Draco, o amado de Maria, era o homem que lutava na guerra, mas Maria também tinha a sua batalha, a de viver sem nunca perder as esperanças, acreditando que Draco estaria vivo mesmo desaparecido... Ária é uma canção cantada por mulheres em operas, "Mezzo Cattere" significa "pessoa dividida" em italiano. Refere-se ao dilema de Maria entre esperar por Draco eternamente ou esquecê-lo para poder viver (Informações de http://finalfantasy.com.br/).

  • Visual imponente para a época, variedade lacinante


Naquele longínquo 1994, mais precisamente em 02 de abril, o visual dos games do Super Nintendo sofreram uma grande mudança com o lançamento de Final Fantasy VI. E isso não aconteceu devido aos belíssimos e grandiosos cenários, mas sim ao uso de efeitos 3D maravilhosos e de rotação nunca antes vistos. Mas apesar dessas inovações técnicas, não são elas que tornam o visual do game tão impactante.

019O grande trunfo do game se chama variedade: cada localidade possui uma construção particular de cenários e elementos de interação. FF VI possui mais de uma dezena de cidades diferentes, inúmeras localidades onde os eventos se desenrolam e animações fabulosas. O nível de interação dos personagens com o meio também é muito interessante. Para a época era mais do que qualquer outro RPG tinha feito até então. Claro que o visual dos personagens é engrandecido pelo design fabuloso de Yoshitaka Amano, que não economizou seu talento para fazer um trabalho de design incrível. Todos os personagens são ricos em detalhes e com elementos que remetem a sua personalidade. Para muitos, Final Fantasy VI foi o trabalho mais impressionante de Amano.

Final Fantasy VI, usa o ATB (Active Time Battle), criado em Final Fantasy IV por Hiroyuki Ito. Nele, cada personagem tem uma barra de tempo independente e realiza uma ação assim que ela se enche completamente. Esse é considerado o melhor sistema de batalhas em RPGs, já que é extremamente organizado, pois não prende o jogador, dando-lhe alguma liberdade.

Nessa sexta versão, a jogabilidade está completamente integrada ao enredo. Um de seus objetivos, por exemplo, é coletar os Espers e protegê-los para que Kefka não acumule mais poderes. Uma vez capturados, eles concedem habilidades especiais aos personagens. Além do aprendizado de magias, eles são responsáveis pela concessão de power ups quando há um ganho de nível. São mais de 20 Espers diferentes que possuem cada um uma invocação diferente.

Mas o ponto mais interessante da jogabilidade é que 13 dos 14 personagens jogáveis possuem uma habilidade particular. Em outras palavras, cada um dos personagens pode usar uma técnica diferente, única e exclusivamente sua. Terra por exemplo pode virar um Esper e com isso aumentar seu poder mágico, Locke pode roubar os personagens, Celes pode absorver o dano das magias dos oponentes, Sabin pode usar golpes de artes marciais e por aí vai. Sem dúvida alguma, é um dos esquemas mais interessantes já implementado nos RPGs em todos os tempos. Se juntarmos o esquema de Relics então…

  • Game grandioso... e perfeito!

129Esse sexto capítulo da série possui tantas particularidades que sinceramente não vejo nenhum defeito nele. Possui na minha opinião o mais grandioso universo criado em qualquer game já feito. O enredo, focado no conflito entre um império malígno e criaturas mágicas, as Espers, passado num mundo semi-vitoriano com tecnologia equivalente à época da Revolução Industrial, é uma metáfora da transformação que o mundo real sofre desde o século XVIII: o desenvolvimento tecnológico faz com que se criem dominadores e dominados e, o mais sério: faz os homens brincarem com aquilo que não conhecem. Explorar os recursos naturais (aqui representado pelos Espers), pode resultar no que nem sequer sonhamos. Repetir os erros do passado, também. A discussão de assuntos polêmicos como suicídio, abandono de menores e gravidez na adolescência, também foi feita pela primeira vez aqui. Se somarmos uma rica jogabilidade, uma trilha sonora perfeita e a leva de personagens mais bem criados da série, temos Final Fantasy VI que é pra mim o melhor game da história.


Estudante de Jornalismo, apreciador de rock britânico, pouco cuidadoso com as palavras, rico de espírito, triste com as relações nesse mundo e esperançoso com o futuro.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


  1. Mandou bem na escolha do game... obra de arte da Square...

    ResponderExcluir
  2. Mandou bem na escolha do game... obra de arte da Square...[2]
    Simplesmente maravilhoso. O melhor da série na minha opinião!!

    ResponderExcluir
  3. O melhor de todos os FFs! \o/

    ResponderExcluir
  4. Cara, ficou ótimo. Perfeito!
    Uma das melhores que já vi sobre FFVI.
    Parabéns

    ResponderExcluir
  5. A sequência final de quase meia hora é pra mim o melhor final de um jogo até hoje. Como adoro FF VI!

    ResponderExcluir
  6. O ápice de Final Fantasy. Nada se compara, nada se aproxima, nada o resgata. É único, é mágico, é simplesmente Final Fantasy.

    ResponderExcluir
  7. Esse game é realmente maravilhoso !

    ResponderExcluir
  8. Estou jogando FF II , lembro que o zerei na década de 90 na base do chute, pois o mesmo era em inglês e não entendia nada da língua. Essa semana achei a room em PT e estou jogando maravilhado =D no meu PSP ^^ vou acabar zerando 1 por 1 do II até o 13 ^^

    ResponderExcluir

Disqus
Facebook
Google