Jogamos

Análise: Phoenix Wright: Ace Attorney: Justice for All (DS)

Phoenix Wright: Ace Attorney foi o primeiro jogo da série Ace Attorney , que já era  sucesso desde 2001 no Japão, mas só em 2005 ganhou um... (por Paula Travancas em 16/02/2011, via Nintendo Blast)

Phoenix Wright: Ace Attorney foi o primeiro jogo da série Ace Attorney, que já era  sucesso desde 2001 no Japão, mas só em 2005 ganhou uma versão ocidental para DS (o original japonês rodava no Game Boy Advance). O game fez jus à sua fama nipônica, sendo calorosamente recebido por aqui e sua continuação direta, Phoenix Wright: Ace Attorney: Justice for All, também recebeu um port de GBA para Nintendo DS.


Casos novos, jogabilidade antiga


Justice for All mantém basicamente todas as características de seu antecessor: casos interessantes, jogabilidade point-and-click, personagens carismáticos, diálogos bem humorados e uma história geral que prende a atenção. No entanto, é só isso que o jogo oferece: o famoso “mais do mesmo”. Não há praticamente nenhuma inovação no gameplay, muitas animações e cenários são reaproveitados do jogo anterior e novamente não há nenhum voice acting, a não ser os famosos “Objection!”, “Hold it” e “Take that!”. A qualidade da trilha sonora e maior variedade de músicas, no entanto, ajudam bastante a criar o clima de suspense e tensão quando necessário.

A falta de novidades e de aplicação das possibilidades do Nintendo DS é especialmente sentida por quem jogou o último caso de Phoenix Wright: Ace Attorney, capítulo este que só está presente na versão ocidental. Tal extra, diferente dos outros quatro casos originais, mostrou o que Phoenix Wright realmente poderia ser no DS, com técnicas de investigação adicionais pensadas exclusivamente para o portátil. Mesmo assim, essas funcionalidades foram deixadas de lado e novamente nos foi oferecido apenas o que já existia para GBA.

Como já foi dito, a estrutura de Justice for All é exatamente a mesma do primeiro Ace Attorney. Você joga como Phoenix Wright, um advogado de defesa meio atrapalhado, mas com um forte senso de justiça. Para avançar com a história é preciso primeiro dar uma de detetive, examinando a cena do crime, recolhendo evidências e interrogando testemunhas. Depois acontece o julgamento em si, onde são travadas verdadeiras batalhas de inteligência (e de ego) entre Phoenix e os promotores, que farão de tudo para incriminar os clientes do nosso querido advogado.

Após alternar algumas vezes entre investigação e julgamento, o caso é resolvido e inicia-se um novo capítulo. Mas essa natureza episódica não significa que não haja uma narrativa que permeia todo o jogo, afinal a vida de Wright tem quase tantas intrigas e atribulações quanto os casos que ele resolve. Portanto, espere encontrar vários rostos conhecidos, inclusive de personagens secundários. Fãs de Miles Edgeworth, não se preocupem: apesar de Edgey não ser o promotor principal dessa vez, ele tem um importante papel na trama geral, ocasionando em muitas reviravoltas. Em Justice for All, o principal adversário de Wright é um antigo Karma que o segue desde o primeiro jogo, desta vez em uma embalagem visualmente um pouco mais agradável, mas igualmente cruel.

Barra de vida e cadeados psíquicos


Seria mentira dizer que não há nada de diferente nesse jogo, então a verdade seja dita para que não haja contradições. Em PW: AA, a única maneira de chegar a um “Game Over” era levar cinco punições por parte do juiz, representadas como exclamações no canto superior direito da tela ao tentar expor alguma evidência. As exclamações foram substituídas por uma “barra de vida”, em que o nível de punição e, consequentemente, a quantidade de “vida” retirada da barra varia de acordo com a gravidade da acusação. Agora também é possível mostrar, além de evidência, perfis das pessoas envolvidas no caso, utilizados tanto dentro quanto fora da corte.

A maior mudança em PW: AA: JFA é a introdução dos Psyche-Locks. Durante as  investigações, Phoenix Wright enxerga cadeados e correntes sobre as testemunhas quando elas estão mentindo. Esse poder sobrenatural foi dado a ele na forma de um objeto (a Magatama) por Pearl, a adorável priminha de Maya que, como ela, também é médium espiritual. Os Psyche-Locks funcionam como uma espécie de interrogatório fora do tribunal, ou seja, é necessário mostrar evidências que suportem suas teorias até que a pessoa não tenha outra escolha, senão contar a verdade. A dificuldade desses “destrancamentos psíquicos” é medida pela quantidade de cadeados que aparecem sobre a testemunha: quanto mais deles, mais evidências serão necessárias para fazer o personagem em questão abrir o bico. Também há uma barra de vida para isso (cujo esvaziamento não ocasiona em Game Over), portanto é necessário pensar bem e coletar material suficiente antes de sair acusando os outros de qualquer coisa.

O jogo todo (como seu antecessor) é extremamente linear, então não há becos sem saída. Para progredir na trama é necessário cumprir os pré-requisitos do jogo (por mais inúteis que às vezes pareçam), que já têm um resultado pré-determinado. A história se desenrola sempre da mesma forma, não importa o que o jogador faça. Essa é uma série que se apóia fortemente no texto, então é essencial ter um bom domínio do inglês e atenção aos detalhes (que normalmente estão destacados em outra cor no texto...) para aproveitar as absurdas porém bem elaboradas e interessantes tramas dos casos.

Não há dúvida que Justice for All é consideravelmente mais difícil que o primeiro jogo de Phoenix Wright. Também não é como se você fosse se deparar com quebra-cabeças no nível de Professor Layton, mas terá que se esforçar um pouco mais para livrar os seus clientes da cadeia. Mas essa dificuldade extra nem sempre é um ponto positivo, já que às vezes a relação entre a fala de uma testemunha e certa evidência é tão vaga que você vai se encontrar chutando o que apresentar e quando. Mesmo tendo entendido qual é a contradição, “explicar” isso ao jogo não é tão fácil: o que ele “quer” que você mostre e em que ocasião, em muitas situações, é bem menos que óbvio.

O esquema do jogo e os temas abordados podem se tornar bastante repetitivos... Talvez você se sinta revivendo algum caso do outro Ace Attorney. Mas JFA é tanto para novatos quanto para fãs da série, porque há alusões ao game anterior, porém elas sempre são explicadas, assim ninguém se  sente perdido. Phoenix até começa o jogo com amnésia para haver a desculpa de um tutorial in-game.

Em suma, Phoenix Wright: Ace Attorney: Justice for All é uma continuação no máximo digna, mas ainda assim deixa bastante a desejar. É apenas um port de GBA e, apesar das pequeníssimas mudanças na jogabilidade, usa claramente a mesma fórmula que rendeu sucesso ao seu antecessor. Justice for All provavelmente agradará aos fãs, mas, justiça seja feita, o primeiro jogo da série ainda é uma melhor pedida.
Phoenix Wright: Ace Attorney: Justice for All – Nintendo DS – Nota: 8,0
Gráficos: 7,0 | Som: 8,0 | Jogabilidade: 8,0 | Diversão 8,5

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


  1. Um dos meus favoritos. Bela análise.

    ResponderExcluir
  2. Por um evento do destino (e um erro muito idiota u.u), eu comecei a jogar as séries de Phoenix Wright pelo Justice for All...
    Devo dizer que seus casos são excelentes!
    Toda a contextualização, enredo e desfecho das histórias são muito bem bolados e idealizados, e fazem com que o jogador jogue até o fim para descobrir o mistério por trás de tudo.

    De fato, os Pasylochs são uma mudança grande, mas acho que isso acrescentou bastante dificuldade ao game.

    ResponderExcluir
  3. Esse jogo é excelente. Não acho que a dificuldade seja um ponto negativo nesse jogo, mas talvez a aflição, a ansiedade e o incômodo que ela, junto com a narrativa, podem gerar. Mas pra mim isso definitivamente não é negativo (acho que agora que já passei pela experiência =p).
    Trabalho na área jurídica e já fui advogado. Phoenix Wright, especialmente Justice for All, traz muitas reflexões e emoções para mim. E digo que elas são bem parecidas com as que enfrentamos na batalha diária.

    Esse jogo representa, de certa forma, a dimensão grandiosa que um jogo pode tomar, congregando narrativa, música, criatividade e emoção (dá pra colocar muitos adjetivos aqui) de uma forma magistral. Créditos ao Sr. Shu Takumi.

    É jogo e é arte. E que obra, meus amigos!

    ResponderExcluir
  4. Justice for All talvez seja o mais fraquinho da série principal, mas não deixa de ser um jogão. As possibilidades que a habilidade de apresentar pessoas como evidência proporcionou são imensas, e tornam o jogo muito mais vasto que o primeiro nas "batalhas" do tribunal e interrogatórios.
    Mesmo sendo o pior da série, Justice for All ainda é obrigatório. Afinal, a maioria das pessoas deve jogá-lo após terminar Ace Attorney, e depois de zerar o primeiro da série vai ser difícil não comprar o JfA.

    E mais uma vez, ótima análise. Parabéns :3

    ResponderExcluir
  5. Justice for All foi um dos melhores para mim.
    Se for assim, mal posso esperar pra ver vocês descendo a lenha no Trials and Tribulations, percebi que a dificuldade daquele é maior.

    Anyway, a coisa mais memorável desse jogo pra mim é sua música. Eu esqueci de onde era minha música favorita, acho que é do Cross-Examination, mas arrisco dizer que é a melhor música para aquele lugar da série.

    Também fiquei decepcionado por não ter um caso que use as funcionalidades do DS, mas o Apollo Justice remedia isso muito bem IMO.

    Ah, e pelo menos a amnésia citada é justificada de modo bem interessante (Spoiler ahead):
    O culpado do primeiro caso do jogo já estava quase sendo desmascarado pelo nosso amigo Phoenix, então ele tomou uma decisão rápida. Acertou PW na cabeça com um extintor enquanto ele estava em sua pausa e com ninguém olhando (curiosidade: nem os seguranças), fazendo ele perder partes da sua memória.
    Mas ele consegue dar a volta por cima, o que foi uma sacanagem para o culpado, já que foi desmascarado mesmo com ele em estado de amnésia xD

    Enfim, boa análise, exceto pelo fato de que vocês se prenderam demais no jogo ser "repetitivo". É apenas o jeito da série, se eles mudassem demais os aspectos vocês com certeza achariam alguma falha maior ainda.

    ResponderExcluir
  6. VilicoBRA, a história do jogo realmente é bem emocionante e apresenta ao jogador algumas indagações morais importantes. Imagino que na vida real a situação seja beeem mais complicada.

    E Ness, Não me entenda mal. Eu adoro o estilo da série, mas me achei na obrigação de explicar como isso funciona, afinal, é uma análise. Eu não posso só dizer "Adoro, acho muito legal!!".

    Enfim, quanto à amnésia, também achei bem justificada, mas não deixa de ser um artifício para incluir um tutorial.

    Eu gostei muito das músicas de Justice for All também, especialmente uma que toca quando aparece o Edgeworth. Mas algumas das mais alegrinhas me deixavam irritada de ouvir por muito tempo...

    ResponderExcluir
  7. Por ler essa análise, voltei a jogar Ace Attorney e já finalizei o jogo só com 3 dias de jogatina. Estou partindo agora para Justice for All e vamos que vamos!

    Bela análise Paula, meus parabéns novamente.

    ResponderExcluir

Disqus
Facebook
Google