Mario Bits

Mario Bits: Picross e o Egito

O Mario Bits preenche as lacunas na narrativa do puzzle Mario's Picross . O resultado? Teorias e curiosidades faraônicas! Um dos maiore... (por Eduardo Jardim em 27/10/2011, via Nintendo Blast)

O Mario Bits preenche as lacunas na narrativa do puzzle Mario's Picross. O resultado? Teorias e curiosidades faraônicas!
Um dos maiores exemplos de uma diversão pura, focada exclusivamente na jogabilidade nua e crua, acima de atração visual e narrativa, é o gênero puzzle. Afinal, como explicar uma série de blocos que devem ser eliminados, a não ser pelo bel-prazer de explodí-los com bombas e formações inteligentes? Puzzles não precisam ter justificações para acontecer — a menos, é claro, que pertençam a uma franquia que já tenha bastante história para contar; aí, sim, não só é gerada a possibilidade de bolar um roteiro por trás do quebra-cabeças como também a curiosidade dos fãs sobre o que poderia estar acontecendo naqueles quadros, blocos, sudokus e nonogramas por um ponto de vista narrativo. É o caso de Mario's Picross, relançado recentemente para o eShop do Nintendo 3DS, que traja o encanador como um arqueólogo e o coloca em algum lugar das pirâmides do Egito.

O Que é Picross?


Em Mario's Picross, o jogador é desafiado a resolver uma série de nonogramas, ou Paint by Numbers — figuras escondidas num painel a serem desvendadas de acordo com os números correspondentes nas laterais. Visto que toma as catacumbas egípcias como tema, nada melhor do que dar ao Mario um diploma de graduação em arqueologia (como se medicina já não fosse o suficiente!). Os nonogramas do game funcionam da seguinte forma: se os números de uma linha horizontal forem 1, 1 e 1, significa que, naquela fileira, deve-se lascar um quadrado e ter em mente que deve haver um determinado espaço até o próximo quadrado (caso contrário, seriam dois, e não um). Em seguida, deve-se lascar mais um quadrado, dar mais um determinado espaço, e lascar mais um quadrado. O segredo é lascar o número de quadrados requisitados nos números, alimentando a lógica do game com duas séries de números: uma para linhas horizontais, e outra, para linhas verticais. Qual é o objetivo? Revelar figuras escondidas. Nós nunca saberemos o porquê de haver desenhos do portátil Game Boy em meio aos hieróglifos do Antigo Egito. Talvez seja melhor assim.

Enquanto Mario's Picross objetiva a jogabilidade apenas posicionando os personagens de maneira adequada sem explicar seus motivos, a história em quadrinhos produzida pela revista alemã Club Nintendo em 1995, também intitulada Mario's Picross, coloca um pouco de sal ao caldo — tentando, de alguma forma, explicar os eventos por trás do puzzle. Feitos similares aconteceram com Dr. Mario, mas o ambiente polvoroso, morredouro e árido deste artigo não permite que abordemos saúde pública...

O Deserto que Atravessei


Nos quadrinhos, ao programar um fim de semana de aventuras no Egito, o encanador aspirante a Indiana Jones sobrevoa as desérticas dunas do Egito a bordo de um avião de turismo; o problema é que a tal linha aérea, a Koop-Air, era de um serviço de bordo discutível: repentinamente, Bowser aparece e arremessa Mario para fora do avião, selando sua queda inevitável em algum lugar do Egito. Os roteiristas não revelam, mas a região é o planalto de Gizé, à margem oeste do rio Nilo — nas cercanias do atual Cairo. Como o sabemos? Porque, ao cair, Mario se agarra num rochedo para se salvar; infortunadamente, com o peso e o impacto da investida, essa saliência rochosa despenca de sua formação maior, continuando a queda do encanador. Era o nariz da Esfinge de Gizé. Isso mesmo! Não foi a artilharia de Napoleão, das tropas britânicas ou dos mamelucos, quão menos do fanático sufi Muhammad Sa'im al-Da; e sim, o responsável pela proeza — ou seria desgraça? — de quebrar o nariz da Esfinge, segundo narra as lendas inspiradas por Miyamoto, foi o maior símbolo da história dos video games. Poxa, Mario!

Depois da desagradável aterrissagem, Mario passa a ser perseguido por um bando de egípcios locais que, com seus espadins, tentaram puní-lo por ter "mutilado" a porção mais frágil da Esfinge. Mesmo tentando fugir, Mario acaba caindo do cavalo — ou melhor, do dromedário — direto nas mãos dos egípcios, sendo preso em seguida como o vilão não intencional, que, queira ou não, tem culpa no cartório. Agora dentro de uma pirâmide, o intrépido encanador/arqueólogo passa a procurar pela saída do dédalo ao qual foi sentenciado. É aí que entram as maiores relações com o game que deu nome aos quadrinhos.

Se ver num beco sem saída no meio de um labirinto não é problema quando se carrega o martelo de Mario's Picross, aquele que o bigodudo sustenta durante sua jogatina. Na HQ, ele usa a ferramenta para derrubar uma parede e tentar ver a luz do sol novamente — mas o que acaba encontrando é uma múmia com fome de matar. Situações desesperadoras exigem medidas desesperadas: Mario se envolve em papel higiênico para se adaptar à espécime, que o confunde com um semelhante e acaba indo embora.

Na parede, é feita outra alusão às figuras que podem ser desvendadas no game: Mario encontra três botões em formato de periféricos da Nintendo — um Game Boy, um controle de SNES e um SNES Mouse, produzido para jogos como Mario Paint. Now you're playing with power! O pressionar dos botões, porém, acaba sendo uma experiência nada divertida — já que o mecanismo abre um precipício sob o herói. Lá embaixo, depois de se recuperar da queda, Mario se vê numa sala secreta repleta de tesouros. O maior e mais incrível de todos deles fica dentro de um baú, no topo de todos os demais. Foi só abrir a caixa que a maior referência ao filme Os Caçadores da Arca Perdida, o clássico de Indiana Jones nascido no mesmo ano que Mario, em 1981, foi desferida.

Uma porta é aberta automaticamente, liberando um gigantesco Chomp Rock — inimigo da série nascido em Super Mario World 2: Yoshi's Island (SNES, 1995) — que dá início a uma perseguição alucinada contra Mario nos trilhos. Impossível não lembrar do tema de John Williams ao vislumbrar a cena em quadrinhos. Mario dá aquele jeitinho de escapar numa vagoneta, mas acaba perdendo controle e sendo arremessado de cara e bigode através de uma parede. Mas Mario troca os burros pelos jumentos: mesmo saindo da enigmática pirâmide, o baixinho encontra-se, agora, perdido no deserto escaldante, pelo qual rasteja durante horas em busca de água.

A princípio, tudo o que o desidratado herói consegue encontrar em meio ao deserto é um mercador de gravatas chamado Ali Mustafa, que lhe tenta vender uma de suas peças de vestimenta social masculina; sem saber o porquê de alguém pensar em vender gravatas no meio do deserto, Mario, ainda são, se irrita e segue em outra direção. Depois de um tempo indeterminado vagando no deserto sem lenço nem documento, Mario finalmente se depara com um oásis que mais parece um bar de coquetéis; frequentar o estabelecimento, entretanto, exige o uso de nada mais, nada menos que gravatas sociais. Argh!

No fim, Mario acaba acordando em sua cama e percebendo que toda a sua viagem recente pelo Egito não passava de um sonho. Seria esse inusitado desfecho um alívio ou uma baita sacanagem com os leitores? De qualquer forma, mesmo desperto, o italiano foi com sede à geladeira em busca do copo de refrigerante mais gelado que havia na casa — enquanto seu irmão, Luigi, o observava com cara de espanto, confirmando a loucura de seu irmão... Ainda na mesma cena, vemos na casa dos Irmãos Mario o mesmo tesouro que o encanador havia pego na sala antes de libertar o Chomp Rock. Só para confundir, mesmo!

Verdade ou Mentira?


A história em quadrinhos Mario's Picross nos permite levantar uma série de teorias sobre o jogo homônimo e também nos mostra muitos fatos que indicam uma viável conexão entre ambas as mídias. Segundo o que aprendemos:
  • O game Mario's Picross, tal como Mario's Super Picross (SNES), pode ter sido um sonho. Eu não me surpreenderia se Wart, de Super Mario Bros. 2, estivesse orquestrando tudo!
  • Apesar disso, na HQ, o tesouro da pirâmide é visto na casa do Mario. Isso indica que os eventos podem ter acontecido de verdade, e que o ícone dos video games e aspirante a arqueólogo realmente decolou a bordo do Koop-Air e atravessou o deserto em algum ponto de sua vida — embora não naquela mesma noite, claro. E, se aconteceu, há ainda maior chance de Mario ter revivido suas experiências durante uma noite de sono.
  • Mas... de Picross, a HQ só tem o nome — em nenhum painel, Mario foi desafiado a solucionar um nonograma para revelar imagens. Toma-se, por isso, que o jogo não tem relação alguma com a narrativa da história.
  • Porém, a graphic novel trouxe elementos verdadeiramente fiéis ao game. O ambiente (Egito), a ferramenta de trabalho (martelo), o clima de arquelogia e algumas figuras ilustradas na parede — embora estas já estivessem devidamente lascadas, reveladas antes mesmo que Mario as encontrasse — foram fielmente adaptados aos quadrinhos. Também levamos em conta que jogos de puzzle transcritos para um livro exigem um nível imenso de liberdade criativa, e que os elementos acima já foram o bastante para o conteúdo da HQ.
  • Ou podemos abraçar a viabilidade da conexão game/gibi e assumir de vez que Mario participa dos eventos do game Mario's Picross porque destruiu o nariz da Esfinge de Gizé. De todas as possibilidades, essa é definitivamente a mais cômica!

De uma forma ou de outra, não importando o elo entre os games e os quadrinhos, ambas as formas de comunicação, mesmo não compartihando do mesmo nível de interatividade, são o bastante para nos divertir a cada painel — seja dos quadrados que devem ser lascados no game ou dos quadrinhos da graphic novel. No fim das contas, o que importa é a diversão — e a dica sobre jamais se esquecer de levar papel higiênico a uma necrópole egípcia...
É paisanos, o Mario Bits acabou, mas o Nintendo Blast prossegue cheio de novidades. Desvende os mistérios de sua mente com as notícias e destaques!
Revisão: Romero Araújo

Natural de São Paulo (SP), Eduardo "Pengor" Jardim é um criador de conteúdo, ilustrador e imaginauta. Criou o Reino do Cogumelo em 2007 e desde então administra e atualiza seu conteúdo, conquistando dois prêmios Top Blog e passagens pela saudosa Nintendo World.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


  1. Matéria bem legal, sempre mostrando os mínimos detalhes do jogo. Vlw.

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