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Análise: Salve o mundo (ou destrua-o) com o poder dos demônios em Shin Megami Tensei: Devil Survivor Overclocked (3DS)

Não vão imaginar o meu choque ao descobrir que este jogo ainda não havia recebido uma Análise aqui no Blast. Um dos primeiros títulos... (por Fellipe Camarossi em 14/04/2013, via Nintendo Blast)


Não vão imaginar o meu choque ao descobrir que este jogo ainda não havia recebido uma Análise aqui no Blast. Um dos primeiros títulos a serem liberados para Nintendo 3DS, Shin Megami Tensei: Devil Survivor Overclocked é uma versão do título original do Nintendo DS, com mais conteúdo e apresentando o melhor que o estilo RPG tático pode oferecer. Com uma história inovadora e por vezes polêmicas, embarcamos nessa aventura para entender que existe muito mais entre o céu e o inferno do que compreende nossa vã filosofia.

Os dias de paz morreram

Qualquer semelhança com o 3DS
 não  é mera coincidência.
É em Tóquio, território compreendido pela linha de metrô Yamanote (conhecido como “Círculo de Yamanote”), que encontramos nossos protagonistas que sequer sonhavam com o que estavam prestes a presenciar. O nosso herói (que chamarei de “Hero”, por não ter nenhum nome padrão) é primo de um grande programador e hacker chamado Naoya, e este o convida junto de dois de seus amigos, Atsuro e Yuzu, para que o encontrassem em Shibuya. O programador acaba não podendo comparecer, então manda através de Yuzu três aparelhos denominados Communication Player (ou COMP, para abreviar) e Atsuro os reconhece como computadores portáteis populares no Japão, feitos para acessar internet, conversar por e-mail, entre outras funções sociais. Entretanto, o sistema operacional do aparelho parece estar bloqueado e com uma interface diferente do padrão. Como aprendiz de Naoya, Atsuro dá um jeito de quebrar a trava e revelar o que os COMPs escondiam. Foi ali que suas vidas mudaram para sempre.

É uma reação perfeitamente
aceitável, Yuzu.
Dos aparelhos, saem três criaturas sinistras, demônios. Sem hesitar, as criaturas atacam o trio para uma morte certa, porém isso não ocorre. Devido a uma função dos COMPs, os jovens podem lutar de igual para igual com as criaturas e são capazes de vencê-las, as absorvendo de volta nos aparelhos. Ainda assustados, resolvem estudar melhor o aparelho e percebem que existe um programa instalado chamado “Programa de Invocação de Demônios”, e com isto é capaz de domesticar as feras. O problema é: o que fazer com esse poder? Será que estes três aparelhos são os únicos com essa capacidade? Como Naoya conseguiu fazer alguns dispositivos serem capazes de invocarem demônios diretamente do inferno? Deve-se usar este novo poder para salvar o mundo ou destruí-lo? Essas perguntas e muitas outras quem deve responder é você.

Vamos sobreviver

A tela é simples e torna a
navegação de fácil entendimento.
Essa breve apresentação da história nem se compara a toda a trama que se desenvolve. A princípio eu não coloquei muita fé nesta aventura, mas o desenrolar é intenso e com decisões que devem ser feitas pelo jogador que tornam tudo ainda mais complexo e imersivo. Hero é apenas um avatar para o jogador, todo e qualquer rumo deve ser decidido por aquele que pressiona os botões por trás das duas telas – seja para decidir se vai usar ou não um demônio para descer uma criança de uma árvore ou se vai atacar ou defender a polícia para o seu próprio bem.

O jogo em si conta com três telas principais: o menu do COMP, a tela de exploração e a tela de combate. O menu do COMP conta com diversos recursos do aparelho envolvendo o Programa de Invocação de Demônios, dentre eles a capacidade de editar sua equipe e os poderes dos líderes (Hero e seus amigos), poder fundir seus demônios para criar novos, comunicar-se com outros personagens pelo sistema de e-mail, acessar seus perfis pessoais (caso esqueça o nome de alguém ou seu papel na história), adquirir novas criaturas e, é claro, salvar o jogo.

O eBay demoníaco.
O interessante do sistema de aquisição de novos demônios – chamado Devil Auction – é que não é uma simples compra de contratos, e sim um leilão. Cada demônio oferece os seus serviços para aquele que oferecer mais num período de cinco segundos (ou pode comprá-lo diretamente por uma quantia alta o suficiente). Além disso, as criaturas são classificadas de uma a cinco estrelas, para que o comprador saiba antes do que o seu contratado é capaz. Realista, não? Exceto que estamos comprando demônios no Mercado Livre.

Fora do menu do COMP temos a tela de exploração, onde o jogador pode escolher qualquer território do Círculo de Yamanote para interagir com as pessoas dos locais – ou mesmo engajar em batalhas contra outros demônios. Suas decisões sobre onde explorar é o mais importante do jogo, pois as suas interações vão decidir o rumo que o seu personagem irá tomar no clímax da história. Isso é o que torna o jogo tão incrível, suas escolhas desde o primeiro capítulo podem influenciar o desfecho em mais de cinco finais distintos!

Mas é claro, não podemos ir a lugar algum antes de aprender como nos defender. Hora do combate.

Quebre os seus limites

Como um RPG tático, o jogo funciona num sistema de turnos e com o cenário se assemelhando a um tabuleiro quadriculado. Cada personagem é capaz de se mover certa quantidade de espaços por turno e o intervalo entre um turno e outro do mesmo personagem depende da quantidade de ações executadas em sua vez. Mesmo aparecendo sozinhos no cenário, cada um dos membros da sua equipe contam com dois parceiros demônios que vão para a batalha ao dar o comando de ataque.

Quando a batalha é engajada, a visão se torna em primeira pessoa, visualizando toda a equipe inimiga e não podendo ver o próprio time. Isso é algo que talvez incomode alguns jogadores pela simplicidade e a estática das animações, mas não torna o jogo pior por apenas este detalhe. As habilidades de suporte das criaturas e dos personagens podem ser usadas dentro e fora de combate, adicionando um pouco mais de tática para o embate.

Além disso, o jogo conta com um sistema chamado Skill Crack que permite o jogador aprender as magias e habilidades que os inimigos usam em combate ao derrotá-los. É através deste sistema que se customiza os personagens humanos, já que estes não possuem habilidades nativas, dando ao jogador total liberdade sobre como editar os poderes de suas equipes e trocar de estratégia a cada batalha – e acredite, você vai trocar diversas vezes para todas as situações do jogo.

Sem enfeites, o sistema é conciso e claro.

Em geral é sempre bom ter em mente que esse é um jogo que não se vence com pura força bruta e nem sempre avançar de maneira impensada é sensato. Muitas vezes os desafios estarão justamente no fato de que não basta vencer os inimigos, mas vencê-los da forma certa. Há missões em que deve-se proteger os civis inocentes enquanto enfrenta os oponentes, ou mesmo força o jogador a saber a hora de fugir para não ter o seu fim de jogo adiantado. A sensatez será sua melhor amiga e a tática, sua companheira de batalha.

A beleza de um mundo decadente

O maior charme do título está na forma em que a cultura humana é expressa. As muitas raças de demônios que aparecem não são simplesmente criaturas malévolas e sinistras, mas sim diversos seres de dezenas de mitologias diferentes. Parece que se enquadra como demônio toda e qualquer criatura sobrenatural, porém fica evidente que cada uma destas criaturas possui sua própria raça e com habilidades únicas e distintas.

Além disso, é incrível como a natureza humana vem à tona quando a pressão começa a se elevar. Conforme o medo e o caos se instauram devido a situação imposta pela história, as pessoas agem de forma cada vez mais vil, cedendo aos seus instintos mais primitivos e deixando a autopreservação falar mais alto que a racionalidade. É chegado a um ponto onde até mesmo a suposta magnitude da bondade e piedade de Deus é colocada em cheque, algo que marca a série Shin Megami Tensei como uma das mais polêmicas.

A humanidade nunca foi muito boa em lidar com catástrofes.

Artisticamente falando, o jogo recebeu uma repaginada ao sair do DS e migrar para o 3DS. A renderização deu ao título nova vida, os traços parecem ainda mais precisos e belos e as animações são mais naturais. O efeito 3D praticamente não foi explorado (aliás, mal foi utilizado) mas, para compensar, temos um jogo totalmente dublado em inglês – e com uma atuação excelente dos dubladores, diga-se de passagem.

O demônio sobrevivente

Apesar de ser um jogo relativamente antigo, ainda mais se levar em conta que foi migrado do DS para o seu sucessor, Shin Megami Tensei: Devil Survivor Overclocked se mostra um dos títulos de maior peso do portátil. Sua história envolvente, jogabilidade única e personagens carismáticos tornam-no uma experiência inestimável e vale a tentativa de qualquer um que goste de RPGs com dezenas de horas de história, jogos táticos ou simplesmente queira ter uma experiência que mude completamente sua visão em relação ao mundo a sua volta.

Agora basta decidir o quão longe você é capaz de ir para seguir o que acredita. Conquistem seus demônios, quebrem suas barreiras, pois os dias de paz já se foram. Vamos sobreviver!



Prós

  • História extremamente envolvente e bem escrita;
  • Múltiplos finais dependendo das escolhas do jogador;
  • Total imersão do jogador em relação à história;
  • Personagens carismáticos e divertidos;
  • Jogabilidade fluida e de fácil aprendizado;
  • Dublagem muito bem feita em todas as falas do jogo;
  • Alto valor de replay, com muito conteúdo a ser explorado. 

Contras

  • Pouco (quase nenhum) uso do efeito 3D;
  • Nenhum uso dos outros recursos oferecidos pelo 3DS. 

Shin Megami Tensei: Devil Survivor Overclocked – Nintendo 3DS – Nota: 9,5

Revisão: Ramon Oliveira de Souza
Capa: Wellington Fox

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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