Aos que acham que estou exagerando, acalmem-se nas cadeiras. O que destaca a Nintendo tanto no setor de games como na economia em geral é a sua incrível capacidade de criar e inovar. Ao longo de toda a história, a empresa sempre buscou novos caminhos para divertir os consumidores, evitando cair na vala comum dos produtos similares.

Essa é uma filosofia que a Nintendo construiu ao longo de seus 120 anos, faz parte de sua cultura corporativa e reflete-se em praticamente tudo que é desenvolvido e lançado.
E esse é um pensamento com o qual não só concordo, mas que também aprecio demais. Claro que podemos defender marcas por simples gosto mas cada detalhe sobre o passado dessa empresa reforça mais ainda minha admiração pela Nintendo.
Com tanto tempo de bagagem fica impossível (mas muito tentador) viajar por todos os fatos interessantes dessa história mágica. Entretanto, alguns bons exemplos mostram esse lado corajoso e criativo da Nintendo na prática.

Mais curioso, aos que não sabem, é que o estoque inicial de NES no Japão tinha um chip defeituoso. Isso causou um recall de milhões de consoles. O eterno e autoritário presidente Yamauchi ficou furioso, mas sabia que os consumidores precisavam de uma solução rápida. O resultado alguns anos depois foi o console mais vendido no mundo, o estabelecimento da Big N no mercado de games e a invasão permanente dos EUA.
Alguns olham o NES apenas como um console antigo simplesmente porque não conhecem o lado japonês. A Nintendo investiu pesado para que ele fosse um novo centro de diversão para a família, transmitindo isso no nome e na aparência. Hoje parece simples, mas estamos falando de 1983.

Ele chamou um jovem aprendiz que pouco entendia de design ou engenharia da computação e gostava muito de artes e música. Seu nome era Shigeru Miyamoto. Sua criação, Donkey Kong. O resto é história.


A Nintendo não só acredita nas próprias ideias como é capaz de mudar conceitos muito amplos no mundo dos games. Podemos observar isso com o GameBoy ou com a introdução do N64. O console tinha um ponto muito fraco na armazenagem, usando cartuchos em vez de CDs. Foi uma decisão errada e que prejudicou demais sua performance.
E quem acha que estou exagerando nesse ponto deve experimentar alguns games atuais de plataforma em 3D. Até hoje, quase 15 anos após seu lançamento, Mario 64 continua tendo um dos melhores e mais gostosos controles da história. Considerando que a Nintendo atrasou em 1 ano o lançamento do N64 porque o jogo ainda não estava como Miyamoto queria, sua importância torna-se ainda mais clara.

Louca por acreditar friamente em suas convicções e interpretações do que é divertido, prazeroso e atraente. Mas lúcida como nunca para perceber que o mercado de entretenimento mostrava sinais de mudança e uma nova demanda adormecida precisava de atenção. A Big N já sabia que os games podiam atingir mais do que simplesmente crianças; ela teve exemplos próprios com jogadores adultos que não largavam o GameBoy ou pais que ligavam frustrados na Hot-Line porque não conseguiam passar em fases de Zelda: A link to the past.
Acreditando nessa premissa, a Nintendo apostou tudo na acessibilidade. Com a briga tecnológica acirrada por Sony e Microsoft, a Big N já sabia que sua dependência exclusiva da receita com games a impedia de se aventurar em mais uma geração de máquinas de alta performance.

Não importa se controles com movimento serão o padrão ou apenas opcionais no futuro próximo, mas sim que outra marca profunda da Nintendo fica na história dos games. De novo a Big N muda, arrisca, inova e surpreende.
Aos que acham que estou sendo leviano ao não citar mais erros da empresa, só posso dizer que eles existem e talvez mereçam um artigo próprio. Mas lembrá-los aqui não faria muito sentido porque a maioria das bobagens que a Nintendo cometeu em sua história estão justamente relacionadas a ideias malucas, à teimosia e ao excesso de confiança. Em outras palavras, a Big N tropeça em suas próprias qualidades - e como defeito, esse é um dos melhores que poderiam existir.