Análise: Art Academy (DS)

Depois de lançados os capítulos da série Art Academy através da loja virtual DSiWare, a Nintendo unifica tudo num cartucho convencional de DS. Art Academy pode parecer algo casual e aquele típico jogo para quem nunca jogou video-game, mas, como um jogador que detonou jogos dificílimos e complexos, digo que, apesar de tudo, é um game interessante. Não há nenhum rastro de desafio ou qualquer outra coisa que te faça repetir uma mesma operação seguidas vezes até obter sucesso, a proposta do jogo é outra: ensinar técnicas básicas de desenho e pintura e permitir a criação de obras de arte. Repleto de tutoriais óbvios e dicas feitas para um recém-nascido, é aquele jogo feito para que até mesmo um leigo consiga caprichar de verdade! E o melhor: Art Academy realmente quebra o galho!

Stylus. Sua melhor amiga

Há um motivo para Art Academy ter aportado logo no Nintendo DS, e você já deve ter descoberto isso: a tela de toque do aparelho. O portátil consegue captar com exatidão os gestos do jogador através da caneta stylus (ou do dedão mesmo), o que inspirou diversos jogos a usarem a ferramenta de forma criativa. Art Academy consagra-se como mais um dos games deste grupo. O jogo consegue transformar magicamente a stylus em um lápis e um pincel, é só pôr a canetinha na mão e começar a jogar para perceber isso. Mas há algo que infelizmente foi deixado de fora: a captação de pressão. Talvez você não sabia, mas a touch screen do seu DS consegue diferenciar um toque sutil de um toque forte, mas raríssimos jogos utilizam esta funcionalidade, e Art Academy é um game que tem tudo para se apropriar da mecânica de pressão para diferir diferentes espessuras de tracejo, mas não aconteceu. Há diferentes tipos de lápis com diferentes formas de tracejo, o mesmo para a borracha e os pincéis e sua imensidão de cores, o que muitas vezes parece uma forma de contornar a ausência da captação de pressão. O leque de opções é grande, você logo percebe que não é tão fácil escolher entre um lápis 2B ou 2HB, e a diferença não é “apenas uma letra”.

Cada mínimo detalhe que você deseja pôr em suas obras é fruto de uma ferramenta de desenho diferente, logo, são muitas os efeitos que podem ser colocados nas obras de arte. A stylus raras vezes atrapalha as pinturas, vez o outra você precisa virar o DS de lado ou esfolar a mão para cobrir um pequeno detalhe (o que é um problema quando seus dedos ficam na frente do desenho). No mais, a stylus simula muito bem as ferramentas de um artista, e o game prestou atenção a uns pequenos detalhes que fazem toda a diferença como, por exemplo, quando você começa a pintar com o pincel e percebe que a tinta vai ficando fraca, sendo necessário tirar a stylus da tela e fazer outro tracejo, algo muito semelhante a um pincel de verdade. Quando o assunto é desenho, Art Academy tira de letra. Iniciantes podem começar desenhando frutas e árvores, mas aqueles que se comprometem conseguem tirar do jogo pinturas que parecem terem sido feitas com tinta mesmo – e não é exagero!

Casual? Sim!

Talvez você já tenha percebido, mas Art Academy é um game voltado para o público que não é gamer, aquele público que definimos como “casual”. Para aqueles que conseguem aprender sozinhos e rapidamente as ferramentas de jogo, Art Academy torna-se um ateliê de arte, literalmente. No entanto, sabemos que há pessoas que têm dificuldade em desenhar e pintar, logo, o game conta com uma série de tutoriais que ensinam você a tornar-se um verdadeiro pintor, ou pelo menos alguém que entende o mínimo de tipos de lápis, cores e sombreados. Na verdade, o foco do game é justamente estes ensinamentos, como diz o nome do jogo (academia de arte, traduzido). Com a ajuda do professor Vince, você aprende desde como desenhar uma maçã e colocar um sombreado simples nela até técnicas de luz avançadas, contraste, combinação de cores…Não é algo extremamente vasto, mas é tudo muito acessível. Cada mínima dica do professor é muito bem feita, o que ajuda os iniciantes e, às vezes, faz os veteranos se sentirem idiotas.

O interessante é que o game consegue criar uma atmosfera agradável durante os incessantes diálogos do mestre. Eles não são apenas uma pilha de texto, mas algo que vai capturando o interesse do jogador. Vince constantemente faz comparações e ilustra bem suas dicas e macetes a fim de realmente instruir os seus alunos a cerca dos princípios da arte. Tá certo que algumas ordens dele são meio que óbvias como “Selecione tal opção de lápis e prossiga para a próxima lição”, mas cada uma tem um objetivo e, ao fim de tudo, você realmente consegue absorver seus ensinamentos. Também notei uma certa “timidez” do jogo. É algo difícil de explicar, mas, jogando você percebe que Art Academy pergunta se você quer salvar o jogo a todo o instante e nunca te manda ordens realmente difíceis, como se temesse uma situação desagradável entre jogo e jogador. E todos nós aqui sabemos que, se jogos que fazem você ter vontade de lançar o controle na parede fossem ruins, Super Mario Bros. nunca existiria.

A pincelada final

Art Academy é um jogo bom. Poderia ter sido melhor? Lógico! Ele possui um conteúdo vasto, são muitas as opções que o jogo oferta e delas é possível tirar obras de arte espetaculares, mas seria ótimo poder disponibilizar as “pinturas” na internet de modo semelhante a Flipnote Studio (DSiWare) ou pelo menos transportar as imagens criadas para um cartão SD. Pintar ou desenhar algo em Art Academy dá trabalho, e o fato do jogo prender as obras dentro de si é uma baita desmotivação para continuar trabalhando em outras criações. Também poderiam ter mais lições avançadas para quem realmente procura se aprofundar nos jogos, como alguém familiarizado com pintura e desenho. Muitos dos ensinamentos são básicos demais e deveriam ir muito além! Mesmo assim, é um jogo essencialmente casual, mas que consegue agradar também jogadores veteranos. A interface do jogo é bonita e os gráficos conseguem reproduzir bem a tinta e o lápis, mesmo com as dificuldades técnicas do DS, mas nada que realmente mereça um grande destaque. A melodia é tocante e calma, o que permite toda a inspiração para começar a pintar, no entanto, também não chega a ser algo fenomenal ou muito acima da média.

A jogabilidade com a stylus é, como dito, quase sempre perfeita, algumas vezes você pode achar que os riscos estão fracos demais, mas é rápido que se acostuma, afinal, é algo feito para realmente simular um lápis ou um pincel. Arte Academy também não tem controle algum sobre o jogador, mesmo que você leia as lições (que chegam a cansar após horas e horas de texto) e pratique, o game não tem como saber como você está se saindo. E o DS mostrou-se muito bem em identificar desenhos, afinal, o recurso já foi usado em games como Brain Age (DS). O por quê de Art Academy não usar essa identificação é um mistério. O veredicto? A compilação dos jogos de DSiWare em um cartucho não difere muito de suas versões originais, logo, não vale a compra se você já os possui em um DSi, mas não deixa de ser um título criativo. Se você quer finalmente perder o bloqueio e o trauma que tem por desenho e pintura, este é o jogo certo, só não espere nada complexo demais!