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Análise: Tales of Monkey Island (WiiWare)

Depois de quase dez anos sem dar as caras, o pirata com o nome mais incomum do Caribe, Guybrush Threepwood, volta para mais um, ou melhor... (por Daniel Moisés em 16/12/2010, via Nintendo Blast)

Depois de quase dez anos sem dar as caras, o pirata com o nome mais incomum do Caribe, Guybrush Threepwood, volta para mais um, ou covermelhor,  cinco episódios da série Monkey Island. Disponibilizados também para download no WiiWare, as cinco partes que, juntas, constituem Tales of Monkey Island marcaram também a estréia de Guybrush, seus amigos, inimigos, macacos e insultos em um console da Nintendo. Como foi a ressurreição desta série, que por muitos anos permaneceu “esquecida”? Como se compara as versões dos episódios para WiiWare, em relação às das demais plataformas? Qual é o verdadeiro segredo de Monkey Island? Tudo isto e muito mais você encontra na análise deste jogo que, apesar de ter sido lançado a vários meses atrás, com certeza não deve ser ignorado.

Em algum lugar do caribe…secretmonkey

Ah, os bons tempos dos jogos de aventura no computador! Desvendar mistérios, resolver enigmas e puzzles, conversar com diversos personagens escolhendo entre diferentes opções de diálogo, colecionar itens de todos os tipos em um inventário de tamanho infinito, combiná-los e usá-los nos lugares certos para dar continuidade à história… e passar horas e horas quebrando a cabeça para descobrir o que fazer para prosseguir, ainda mais em uma época quando não existia Google para guiar as almas perdidas. Quem jogava screen10esses jogos sabe como eles eram divertidos, desde os mais sérios, como Gabriel Knight e Broken Sword aos simplesmente hilários como Goblins e Day of the Tentacle. Nenhum  outro jogo, entretanto, caracterizou tanto o gênero quanto os da série Monkey Island, criada pela LucasArts, nos quais o jogador controlava o simpático pirata Guybrush Threepwood em inusitadas aventuras contra o  terrível pirata LeChuck, repletas de personagens inesquecíveis, puzzles engenhosos e umlarge humor extremamente inteligente. Os dois primeiros jogos da série, The Secret of Monkey Island e Monkey Island 2: LeChuck’s Revenge foram lançados em um curto período de tempo, nos anos 1990 e 1991 respectivamente, durante o auge do gênero “aventura gráfica”. Depois disso, a ilha dos macacos permaneceu esquecida por cinco anos, até o lançamento de  The Curse of Monkey Island em 1997, que se destacou com os gráficos cartunescos extremamente bem feitos que davam a sensação de estar no controle de um desenho animado e também por ser o primeiro a dar voz aos personagens. Três anos depois, em 2000, os macacos 89033_fullentraram para o mundo 3D com Escape from  Monkey Island que pode ser considerado o jogo mais fraco da série, mas não por isso deixa de ser muito divertido. Quase uma década se passou, então, sem nenhuma nova aparição de Guybrush Threepwod e muitos passaram a acreditar que este já havia se aposentado, até que na E3 2009, Tales of Monkey Island foi anunciado.

 

O renascimento de um clássico

Está bastante claro que, nos dias de hoje, o gênero “aventura gráfica”, agora melhor definido como “point-and-click”, perdeu bastante da popularidade que uma vez teve, atualmente sobrevivendo, em grande parte, graças a jogos em Flash na internet. Entretanto, de vez em quando um ou outro lançamento importante dá fôlego ao gênero, adaptando-o aos tempos modernos (uma menção especial a Zack & Wiki: Quest for Barbaros’ Treasure, do Wii… e onde está a merecida continuação deste excelente jogo?!?!). E foi neste contexto que a série Monkey Island ressurgiu, com o seu quinto capítulo, Tales of Monkey Island, desenvolvido pela Telltale Games, uma empresa que, na verdade, é composta basicamente por ex-funcionários da LucasArts.

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A grande novidade foi a divisão do jogo em cinco “episódios”: Launch of the Screaming Narwhal, The Siege of Spinner Cay, Lair of the Leviathan, The Trial and Execution of Guybrush Threepwood e Rise of the Pirate God, disponibilizados via download, com um intervalo de aproximadamente 1 mês entre o lançamento de cada episódio. A Telltale Games já havia feito algo semelhante com a série Sam & Max, outro point-and-click clássico da LucasArts, mas enquanto neste os episódios são praticamente independentes entre si, as cinco partes de Tales of Monkey Island são contínuas, formando uma única história. E, para a alegria dos fãs da série e donos de Wii, os downloads foram também disponibilizados no WiiWare.

“Que apropriado, você luta como uma vaca!”tales-of-monkey-island-101-1

A história de Tales of Monkey Island se encaixa perfeitamente no que qualquer fã já aprendeu a esperar de um jogo da série. Logo na introdução, vemos Guybrush tentando resgatar sua esposa Elaine e derrotar o terrível LeChuck em uma emocionante batalha em alto-mar. Em um tentativa de por um fim no pirata-demônio, Guybrush faz os preparativos para criar uma espada mágica que poderia destruir seu inimigo de uma vez por todas. Contudo, devido a alguns típicos improvisos de última hora, o uso da espada acaba resultando em certos efeitos inesperados. Ao invés de ser destruído eternamente, o pirata LeChuck se transforma novamente em humano e a essência de seus poderes demoníacos é liberada, se espalhando por todo o Caribe e infectando muitos de seus  habitantes, tornando-os maus. O braço tales12de Guybrush também fica possuído com este espírito maligno, que passa a ser chamado de “Pox of LeChuck”. Com a ajuda de Elaine e até mesmo do LeChuck – que, desprovido de seus poderes demoníacos, começa a agir amigavelmente -, o herói deve então partir em uma jornada para encontrar um artefato chamado “La Esponja Grande”, a única coisa capaz de limpar o Caribe da terrível epidemia. Muitas surpresas e revira-voltas acontecem no decorrer da história que, envolvendo peixes-boi gigantes, julgamentos e vida após a morte, nunca deixa de ser interessante.talesofmi_voodoolady_screenshot

O jogo está repleto de personagens conhecidos da série como a Mulher Voodoo,  o vendedor Stan e Murrey, o crânio falante com planos malignos de dominação do mundo. Muitas referências aos jogos anteriores também estão presentes, com diálogos hilários que mencionam o macaco de três cabeças, a galinha de borracha com uma polia no meio, o tesouro de Big Whoop, os poodles-piranha e a aversão de Guybrush à  porcelana. Há também um momento que Guybrush deve travar um “duelo de eTalesMonkeyIsland002spadas com elogios”, uma inversão do famoso “duelo de espadas com insultos” dos jogos passados. Tudo isto garante material suficiente para divertir qualquer um que já tenha familiaridade com a série, mas aqueles tendo o primeiro contato com a ilha dos macacos certamente ficarão sem entender muitas piadas e diálogos. A história também introduz alguns personagens novos interessantes, como a caçadora de recompensas Morgan LeFlay.

Seguindo o estilo tradicional de point-and-click, a jogabilidade de Tales of Monkey Island não é nenhuma surpresa: aponte o cursor sobre algum item ou personagem e pressione o botão para interagir. Neste aspecto, o Wii se destaca pelos controles perfeitos para as necessidades do jogo. O direcional analógico Inventory do Nunchuck controla o movimento de Guybrush, enquanto o WiiMote é utilizado para apontar o cursor na tela. A qualquer momento, o inventário pode ser acessado e os itens podem ser analisados, combinados entre si ou usados em algum lugar ou pessoa. Como nos jogos anteriores, boa parte do jogo consiste em conversas entre os personagens, nas quais o jogador deve selecionar entre várias opções de diálogo, variando do sério ao engraçado e ao absurdo. Como também é típico de muitos jogos do gênero, é impossível morrer ou perder em Tales of Monkey Island, então há liberdade para experimentar opções claramente erradas, simplesmente para ver o que acontece.

Não perca, no próximo episódio de Tales of Monkey Island

Quem acompanhou os episódios a medida que foram lançados, sem dúvida passou por momentos angustiantes aguardando a continuação da história, já que cada episódio termina em um ponto crucial da trama. Certamente foi uma boa experiência, mas jogando-o por completo agora que todas as partes estão disponíveis, as desvantagens da divisão do jogo ficam em maior evidência. A primeira é que a área de exploração é bastante limitada, comparada às dos demais jogos da série. Nos outros, geralmente há muitas diferentes localidades que podem ser acessadas a qualquer momento, podendo também resolver MonkeyIsland102-2009-08-21-21-30-52-851 vários problemas sem uma ordem muito específica. Já em Tales, cada episódio tem uma área limitada à parte da história que corresponde, deixando a jogo bastante mais linear que de costume. Não que os cenários sejam pequenos, alguns são até bastante grandes, mas não há tanta liberdade como nos anteriores. Isto também acaba deixando o jogo consideravelmente fácil. Por não haver tantas opções de lugares aonde ir, as respostas de puzzles e enigmas  acabam se revelando sem muita dificuldade, principalmente nos primeiros episódios. O desafio vai aumentando gradativamente mas, mesmo assim, o jogo resulta sendo o mais fácil de todos na série e, no fim, fica uma ponta de vontade de ter quebrado um pouco mais a cabeça.

O maior de todos os problemas decorrentes da divisão do jogo em episódios, entretanto, são os gráficos, já que para  a distribuição via download, o tamanho de cada parte não poderia ficar grande demais. Isto fica evidente principalmente no uso repetitivo dos mesmos modelos, usados em diferentes personagens menos importantes. Os protagonistas estão bem caracterizados e possuem modelos próprios com vários detalhes, mas não é raro acontecer de ver um personagem secundário e pensar “eu já não vi esse cara antes?”, confundindo-o com outro personagem que utiliza o mesmo modelo, apenas levemente modificado. Outro detalhe é que as seqüências de animação são todas em tempo real, sem nada pré-renderizado. Mas, fora essas questões, o gráfico não é ruim, com muitos cenários variados e bem detalhados.

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Personagens diferentes, modelo igual

O som não deixa a desejar, com boas composições e vozes em todos os diálogos, com a participação de Dominic Armato e Earl Boen, os dubladores originais de Guybrush e LeChuck, respectivamente.

A ovelha negra

Analisando tudo o que já foi descrito sobre Tales of Monkey Island, poderíamos concluir que, apesar das desvantagens da divisão por episódios, o jogo é muito bom. Há, entretanto, um aspecto crucial que ainda deve ser considerado: a diferença entre a versão para WiiWare comparada às de outras plataformas, como a do PC e a do PlayStation Network. Infelizmente, os jogos disponibilizados para download no WiiWare têm um limite de 40 MB. Cada episódio da versão para computador tem uma tamanho de aproximadamente 200 MB. Portanto, para deixá-los compatível com o WiiWare, os jogos tiveram que ser mais compactados ainda e, se deixar o jogo com 200 MB já comprometia fortemente nos gráficos, na versão do Wii, a coisa fica pior ainda. Os modelos tridimensionais, as texturas, os efeitos de partícula e até o som tem uma qualidade bem inferior, além de acontecerem constantes quedas no framerate. Apesar de ter o controle que melhor se encaixa no sistema do jogo, a versão de Tales of Monkey Island para Wii com certeza é significantemente pior que as demais. Ironicamente, é também a mais cara. Enquanto cada episódio sai por 1000 Wii Points no WiiWare - somando um total de 50 dólares pelo jogo completo -, a coleção de todos os episódios para computador custa 35 dólares e apenas 20 dólares no PlayStation Network. Seria ótimo se fosse lançado a coleção completa para Wii em DVD, a fim de fugir do problema causado pelo limite de tamanho, mas nada foi dito a respeito dessa possibilidade, então provavelmente podemos descartar a idéia.

Considerações finaistales-of-monkey-island-episode-1-20090601004747939_640w

Apesar de alguns pontos fracos quanto aos gráficos e o fato de ser um pouco   fácil demais, Tales of Monkey Island sem dúvida é um excelente retorno da série depois de um longo intervalo e é recomendado principalmente aos fãs da série, que se sentirão completamente à vontade com o sistema do jogo e se divertirão com as piadas e referências espalhadas nos diálogos entre os personagens. Aos que não conhecem a série, o jogo pode ser divertido também, mas provavelmente seria mais aconselhável jogar os anteriores primeiro (aproveitando que The Secret of Monkey Island e LeChuck’s Revenge foram re-lançados em edições especiais e estão disponíveis para Windows, iPhone/iPod Touch, PlayStation 3 – via PS Network - e Xbox 360 – via Xbox Live Arcade). A limitação do WiiWare deixou o console da Nintendo com uma versão bastante inferior às demais mas, se o Wii é a sua única opção para jogar Tales of Monkey Island, vale a pena investir uns WiiPoints na última aventura de Guybrush Threepwood.

P.S.: Na introdução eu prometi revelar o verdadeiro segredo de Monkey Island mas, infelizmente, eu não sei qual é. Contudo, se você quer mesmo descobrir, consulte o oráculo no N-Blast Responde.

Tales of Monkey Island – Nintendo Wii (WiiWare) – Nota Final: 7,5
Gráficos: 7,0 | Som: 7,0 | Jogabilidade: 9,0 | Diversão: 9,0


Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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