Blast from the Past: Super Mario Bros.: The Lost Levels (NES)

em 03/01/2013

Eu tenho um desafio para você: imagine que a Nintendo lançou um jogo novo do Mario, mas resolveu que não valia a pena levá-lo para fora do... (por Thomas Schulze em 03/01/2013, via Nintendo Blast)

Eu tenho um desafio para você: imagine que a Nintendo lançou um jogo novo do Mario, mas resolveu que não valia a pena levá-lo para fora do Japão. Difícil conceber esse quadro hoje, não é mesmo? Mas foi isso que aconteceu em 1986, quando Super Mario Bros. 2 foi lançado exclusivamente para o Famicom Disk System. Depois de ficar um bom tempo no ostracismo e ter até mesmo seu título original usurpado, o jogo acabou sendo rebatizado como Super Mario Bros.: The Lost Levels. Agora que o título foi disponibilizado no eShop do 3DS, parece um bom momento para relembrar esta que possivelmente é a aventura mais obscura do maior personagem dos videogames. Então let’s-a-go!

A aventura perdida

Super Mario é minha franquia favorita de todos os tempos, como imagino que também seja o caso de boa parte dos leitores do Nintendo Blast. Tudo bem que The Legend of Zelda é uma aventura empolgante, Metroid tem toda aquela atmosfera sci-fi tão única, Donkey Kong é pura adrenalina (e nem vou começar a falar de Star Fox, Smash Bros., Kirby, Pikmin e tantas outras séries maravilhosas da Nintendo), mas o fato é que Mario se tornou o principal mascote da indústria dos videogames graças a seus jogos impecáveis. Ao longo de mais de duas décadas o rotundo encanador italiano protagonizou muitas aventuras memoráveis, e eu tive o prazer de terminar todas elas. Quer dizer, exceto por alguns níveis perdidos.

A primeira aparição de The Lost
Levels no ocidente.
Como uma boa criança dos anos 1980, cresci num mundo sem Internet, em que a informação era escassa e muitos jogos acabavam passando batidos. Só cheguei a conhecer Super Mario Bros.: The Lost Levels em sua versão atualizada, parte da coletânea Super Mario All-Stars, lá no Super Nintendo. Mas acabei não dando muita bola na época porque estava ocupado demais terminando Super Mario Bros. 3, meu jogo favorito de todos os tempos, pela milésima vez. Foi só muitos anos depois, num mundo já devidamente conectado pela Internet, que descobri a verdadeira razão pela qual The Lost Levels não marcou presença no meu Nintendinho, e foi quando finalmente resolvi dar uma chance de verdade ao jogo.

Um Mario para cada nação

A versão americana de
"Doki Doki Panic".
Super Mario Bros.: The Lost Levels é possivelmente a aventura menos conhecida de toda a série principal do mascote da Big N, e o motivo é muito simples: por muitos anos o título não apareceu no ocidente. Lançado originalmente para o Famicom Disk System, em 1986, os níveis perdidos do Mario só foram encontrados pelos americanos em 1993, quando o jogo apareceu em Super Mario All-Stars. Com um novo visual e som atualizado, o jogo chocou a todos com seu altíssimo grau de dificuldade, muito acima da média da série.

E foi justamente essa dificuldade que serviu de desculpa oficial para não lançar o jogo no ocidente. O então CEO da Nintendo na época, Howard Lincoln, achou que o jogo era traiçoeiro demais, contando com muitos truques baratos que acabavam constituindo mais apelação do que diversão para os jogadores. Howard acreditava que isso atrapalharia as vendas do título no ocidente, e então foi decidido que, nas Américas e na Europa, Super Mario Bros. 2 precisaria ser algo diferente.

Desse modo, a sequência direta de Super Mario Bros. varia dependendo da parte do globo em que você se encontra. Para os japoneses, Super Mario Bros. 2 é quase como um pacote de expansão do primeiro jogo, foi um produto feito para quem já havia explorado todos os recursos da aventura original poder testar suas habilidades, enquanto no resto do mundo Super Mario Bros. 2 é uma mera adaptação do jogo Doki Doki Panic. Toda a confusão de nomenclatura só foi sanada quando Super Mario All-Stars batizou o Super Mario Bros. 2 oriental como Super Mario Bros.: The Lost Levels.
À esquerda, o título original do jogo em sua versão oriental.
À direita, a nomenclatura oficial do ocidente, revelada em Super Mario All-Stars.

“New” Super Mario Bros.

Cogumelos simpáticos para um
jogo nada amigável.
Embora tecnicamente muito parecido com o primeiro Super Mario Bros., contando com o mesmo objetivo e a mesma premissa de jogabilidade em plataforma bidimensional, fazendo inclusive uso da mesma engine, há algumas diferenças e inovações significativas em The Lost Levels que um jogador menos atento poderia deixar passar batido.

Para começar, não existe mais um modo para dois jogadores alternados, mas sim a opção de jogar como Mario ou como Luigi. Por sinal, essa é a primeira vez em que Luigi aparece com habilidades diferentes de seu irmão, podendo pular mais alto, mas sofrendo com uma "tração" pior, que torna sua corrida mais desajeitada, uma característica que se manteve até mesmo em jogos mais recentes como Super Mario Galaxy.

A estreia das Piranha Plants
de cor vermelha.
Outra grande mudança, e que também acabou se tornando parte do cânone, é que os cogumelos de power-up passaram a contar com pequenos olhos, o que conferiu uma dose extra de carisma aos mesmos. Falando em cogumelos, pela primeira vez na série temos cogumelos venenosos. Eles são diferentes dos demais por serem da cor roxa e causarem basicamente o mesmo efeito de um contato com um inimigo comum. The Lost Levels marca também a estreia das Piranha Plants de cor vermelha, que acabaria se tornando a cor padrão desse inimigo tão querido. E como não dá para falar de Piranha Plants sem falar de canos, aqui é também a primeira vez que encontramos canos de cabeça para baixo, algo que também se mostraria constante na série dali para frente.

Por outro lado, algumas mudanças não fizeram tanto sucesso e acabaram sendo deixadas de lado no futuro, como Lakitus que conseguem respirar debaixo d’água, as fortes rajadas de vento que influenciam os pulos de Mario e Luigi, e as “warp zones” do mal, que levam o jogador a um mundo já visitado ao invés de uma fase mais adiantada.

Um desafio para Super Jogadores

Para chegar aos mundos secretos,
é preciso suar muito!
Só adulto, muitos anos depois do primeiro contato com o jogo, e a muito custo, consegui finalmente terminar o oitavo mundo de The Lost Levels e poder me gabar de ter fechado todas as histórias do encanador. Afinal, como todo bom jogador de Mario sabe, vencer Bowser no castelo 8-4 e resgatar a princesa Peach representa o fim da jornada, certo? Normalmente sim, mas aqui não! Na versão original para o Famicom, terminando o jogo oito (!) vezes consecutivas é possível acessar os mundos A a D, enquanto que terminando o jogo sem o auxílio de “warp zones” chegamos ao mundo 9, um território aquático insano que tem até um castelo submerso!

Quando Howard Lincoln falou da dificuldade extrema de Super Mario Bros.: The Lost Levels, ele não estava brincando. Esse é o único jogo da série Super Mario que exige memorização e muita tentativa e erro, no melhor estilo dos clássicos hardcore de plataforma 2D, como Megaman e Contra. Mas não acredito que todo esse desafio pudesse afastar os jogadores na época, afinal o título conta com os mesmos controles perfeitos de seu antecessor, a mesma trilha sonora cativante e a mesma magia que só os jogos do Mario conseguem ter. Tudo bem, talvez o Howard tenha um pouco de razão sobre a dificuldade exagerada, mas nada apaga o fato de que esse título é mais um jogo absolutamente obrigatório da Nintendo e parte importantíssima de sua história. Quem sabe daqui a alguns anos não tomo coragem e encaro os tais mundos A a D? Um dia, quando eu for um Super Jogador.
Revisão: Rafael Becker
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