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Análise: Unepic (Wii U) traz de volta o estilo clássico de Castlevania e Metroid

Diversão nostálgica com masmorras e easter eggs inacabáveis é o prato principal em Unepic (Wii U).

Em 2011, Francisco Tèllez de Meneses, em Barcelona, completou um projeto de quase dois anos no qual fazia o papel de programador, músico, artista e projetista. Esse projeto era de um jogo que, segundo ele, seria como ele gostaria que um RPG fosse. Assim, após uma parceria com a Ninagames Corp. e muito tempo de trabalho duro, Unepic foi lançado inicialmente para a Steam e, no inicio deste ano, para a eShop do Wii U.



O jogo é uma homenagem aos Action-RPGs clássicos como os primeiros títulos lançados das franquias Metroid e Castlevania para SNES e PS. Dessa forma, todo o traço do jogo foi estilizado para lembrar aquela época onde a internet era uma criança e alugar jogos em locadoras por um final de semana era o mais comum. Mas não é o uso da nostalgia que garante a qualidade desse RPG indie, e aqui veremos a análise completa do jogo!

De uma roda de amigos para uma masmorra interminável

A história do jogo começa de uma forma peculiar e cativante: quatro amigos em uma mesa, jogando um RPG daqueles clássicos que nasceram nos anos 70 com livros, dados e miniaturas (quem se lembrou de Dungeons & Dragons está correto). Após algumas piadinhas com vários easter eggs diferentes, um dos jogadores, Daniel, precisa ir ao banheiro e acreditem, é no banheiro que a nossa aventura começa.

A luz apaga repentinamente e obriga o protagonista da história, que está no escuro, a acender um isqueiro que ele levava no bolso. Nesse momento Daniel nota que não está mais no banheiro, mas sim em um quarto escuro com pedras, madeiras, teias de aranha e pouca iluminação. Sem saber o que está acontecendo e imaginando estar sofrendo influência de entorpecentes, o herói parte para uma exploração despreocupada, uma vez que pensa estar alucinando.
Só essa imagem já é nostálgica para várias pessoas!
O problema começa quando ele encontra um espírito, o qual, após uma hilária conversa, se apodera do seu corpo. Entretanto, por algum motivo desconhecido, o espírito não consegue nem controlar Daniel nem sair de seu corpo, transformando-se no companheiro indesejado do herói, mas que acaba sendo muito útil em diversos momentos da história, além de ser o responsável pelos tutoriais do game. Daniel batiza o espírito de Zera (uma referência ao personagem Zeratul da franquia Starcraft), mais um easter egg.

A partir daí Daniel e Zera passam a explorar o castelo do terrível e misterioso Harnakon, onde o herói descobre existirem diversos espíritos imortais aprisionados. Cada espírito dá uma determinada missão para ele em troca de algum dom mágico ou ajuda. Esse enredo, mesmo que simples, é cativante e remonta clássicos de RPG como o próprio desenho Caverna do Dragão que foi um sucesso no Brasil nos anos 80 e 90.

De Zelda a Star Trek, nada escapa de ser um easter egg!

Uma das motivações para jogar essa obra em português (mesmo que a opção não tenha dublagem) é a quantidade de easter eggs e piadinhas presentes nos diálogos do jogo. O protagonista possui um humor ácido e sínico que encaixa muito bem em piadas bem adaptadas ao contexto. Não faltam também easter eggs mencionando diversos jogos que fizeram, e ainda fazem, sucesso. Durante o jogo Daniel cita franquias como Senhor dos Anéis, Star Wars, Star Trek, Legend of Zelda, Starcraft, World of Warcraft, Chrono Trigger, Final Fantasy entre várias outras que escapam da memória agora.

Além dos diálogos, o jogo conta com um sistema de pontos para além das tradicionais moedas de ouro. São os “Un Points”, adquiridos através de quests específicas e usados para comprar itens raros e únicos. Esses itens praticamente todos são easter eggs, porém, não é possível utilizar os nomes verdadeiros de todos por motivos óbvios de direitos autorais. Isso não se transformou em um problema, ao contrário, abriu a possibilidade para o criador do jogo dar nomes criativos e engraçados para os itens, como “Space Cookie and Cigar” (algo como Biscoito e Cigarro Espaciais) que, nota-se, é uma mini Enterprise que serve como pet para o protagonista.
Armadura Stormtrooper e Enterprise com seus novos nomes

Matar, pilhar e explorar!

Outro ponto admirável de Unepic é a quantidade de áreas para se explorar no castelo. De minas quentes repletas de lava até jardins suspensos com aranhas venenosas, o Castelo de Harnakon é um imenso circo de horrores onde tudo tem potencial para matar o herói. Armadilhas estão muito bem posicionadas nas masmorras, onde é preciso observar bem para conseguir ver o botão sobre o chão que ativa bolas de fogo, espinhos ou dardos venenosos; esse é um dos desafios mais árduos do jogo. Além disso, a variedade de monstros é ótima para um jogo de RPG, contendo goblins, orcs, insetos gigantes, serpentes, sátiros, esqueletos, zumbis, morcegos e muitos outros desafios, sem contar, é claro, com os bosses ou chefões.

É preciso acender todas as tochas e lanternas pelo caminho para visualizar toda a masmorra.
Andar por tantos corredores, portais e escadas fica menos perigoso quando você começa a adquirir itens mais fortes. Nesse jogo, pegando todo o estilo de clássicos como Castlevania Symphony of the Night, temos centenas de itens para serem pilhados, comprados ou produzidos. Ao redor de todo o castelo, existem NPCs (personagens não jogáveis) que vendem armas, equipamentos, poções, ingredientes, itens mágicos e tudo mais que você precisar para sair por aí desbravando cada canto desse enorme lugar.

É importante observar que cada tipo de arma (de corte, perfuração, esmagamento e de dano à distância) possui uma utilidade diferente durante a exploração, obrigando o jogador a levar o seu melhor exemplar de cada arma consigo para a aventura. Nesse ponto, o controle GamePad do Wii U auxilia bastante uma vez que é possível utilizar hotkeys através da tela sensível ao toque para trocar mais rapidamente de equipamentos ou utilizar magias.

Fora isso, o GamePad pode funcionar também como tela no lugar da televisão (Off-TV Play). Utilizando esse recurso, a possibilidade de zoom do jogo aumenta deixando a jogatina mais confortável do que nas enormes televisões LCD, onde o seu personagem não fica tão bem visível.
Com o GamePad, o zoom fica maior e a jogabilidade bem mais confortável.

Muito do mesmo pode enjoar

Mesmo com diversos pontos positivos, algo que pode ser mortal para Unepic é a previsibilidade. Pelo fato de ser uma homenagem a clássicos, mesmo que traga algumas mecânicas novas, o jogo torna-se prevísivel a partir de um certo ponto, não necessariamente na história, mas na evolução do avatar. A diversão é garantida, mas pode ser encurtada pela falta de um fator replay significativo para garantir a longevidade do título.

Fora isso, o jogo é totalmente recomendado para jogadores old school e curiosos que não tiveram contato com os clássicos. Além disso, Unepic merece ser respeitado considerando que foi desenvolvido basicamente por uma única pessoa e o seu preço na eShop é bem camarada, o que só incentiva mais os donos do novo console da Nintendo.


Prós

  • Mapa extenso com boa variedade de cenários;
  • História bem estruturada com tons de humor e uso de easter eggs;
  • Bom uso do GamePad;
  • Traços e jogabilidade nostálgicos;
  • Necessidade de utilizar diversos itens diferentes.

Contras

  • Opção em português não possui dublagem;
  • Evolução do personagem pode se tornar repetitiva;
  • Personagem fica muito pequeno em televisões grandes.

Unepic — Wii U — Nota: 7.0

Revisão: Alberto Canen
Capa: Sybellyus Paiva

Gilson Peres é Psicólogo e Mestre em Comunicação pela UFJF. Está no Blast desde 2014 e começou sua vida gamer bem cedo no NES. Atualmente divide seu tempo entre games de sobrevivência e a realidade virtual.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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