Blast from Japan

Conheça 7th Dragon (DS), RPG que mesclou vários conceitos e nunca saiu do Japão

O JRPG da Sega e Image Epoch apresentava customização de personagens, alto desafio e visual que remete a títulos clássicos do gênero.


O Nintendo DS foi perfeito para os amantes de RPGs: o portátil recebeu inúmeros títulos de qualidade, além de grande variedade. Mesmo com o sucesso do console no mundo inteiro, muitos jogos ficaram restritos ao território japonês, como Sigma Harmonics e Blood of Bahamut. 7th Dragon é um destes RPGs que nunca foi lançado no Ocidente, para a infelicidade dos fãs do gênero.

Lançado no início de 2009, 7th Dragon foi uma colaboração entre vários talentos da indústria japonesa de jogos. Produzido pela Image Epoch — responsável por títulos como Sands of Destruction (DS) e Luminous Arc (DS) — e publicado pela Sega, o RPG teve a participação de Kazuya Ninou (diretor do primeiro Etrian Odyssey), Rieko Kodama (de Phantasy Star e Skies of Arcadia) e Yuzo Koshiro (compositor da música de Etrian Odyssey e Streets of Rage). O resultado foi uma aventura que combina características de vários outros JRPGs de uma ótima maneira.

Um mundo em calamidade

Eden é um planeta no qual as pessoas vivem escondidas e com medo. A paz e a tranquilidade desse local acabou no dia que sete grandes dragões apareceram. Acompanhados de um exército de criaturas menores, os monstros dominaram rapidamente Eden. O objetivo deles era simples: acabar com a humanidade e dominar a energia vital do planeta. Para isso, os dragões espalharam flores que sugam a força da natureza e da vida, que pouco a pouco destrói tudo.

Mesmo encurralados, os humanos não iriam simplesmente esperar o seu fim. Guerreiros e aventureiros se uniram e formaram grupos com o objetivo de derrotar os sete grandes dragões e seu exército. Muitos falharam, mas outros continuam saindo em jornadas para mudar o destino de Eden.

Montando seu grupo de heróis

Em 7th Dragon os protagonistas não são fixos. Antes mesmo de começar a aventura, é necessário montar uma guilda e contratar quatro heróis. Sete profissões estão disponíveis, como as clássicas cavaleiro, mago e samurai, e a inusitada classe princesa. Quatro aparências diferentes para cada classe estão disponíveis, o que possibilita um visual bem variado do grupo. Depois de definidos os heróis, é hora de aceitar missões e sair explorando o mundo.

Os gráficos de 7th Dragon lembram os remakes da série Dragon Quest lançados para DS. O visual mistura elementos poligonais com desenhos em duas dimensões, sendo o resultado bem agradável. Algo interessante é que os quatro personagens do grupo andam no mapa em fila, como em vários RPGs da era 16-bits. A tela de baixo do portátil exibe informações importantes, como o mapa da região.

Um mundo de flores

Em sua tentativa de obter a energia vital de Eden, os dragões espalharam flores por todo o mundo. Essas plantas têm um papel importante em 7th Dragon. Além de ter como missão derrotar todos os dragões do planeta, o grupo de heróis também tem que acabar com as flores. Elas estão em todos os lugares: no mapa, nos calabouços, nas cidades. Destruí-las é fácil: basta pisar nelas. Ao fazer isso a equipe perde um pouco de energia por conta da natureza tóxica das flores, mas esta é uma tarefa necessária, pois a quantidade de plantas no mundo influencia a economia das cidades — os preços de itens e equipamentos diminuem conforme as plantas são eliminadas. Uma vez destruída no mapa-múndi a planta não renascerá.

Já nos calabouços a situação é diferente. Ao contrário do que acontece nos mapas-múndi, as flores renascem quando o grupo deixa uma sala. Nesse caso, o melhor é evitar ao máximo o contato com as plantas, já que o dano acumulado se torna considerável rapidamente. A única maneira de remover definitivamente as flores de um calabouço é derrotando o chefe da área, logo essa deve ser a prioridade dos heróis nestes locais.

Caçando dragões

Como em boa parte dos RPGs japoneses, um grande período de 7th Dragon se passa nas batalhas. Os combates são por turnos e acontecem aleatoriamente. O visual dos confrontos é simples: a visão é em primeira pessoa, com os personagens aparecendo brevemente para atacar e desferir feitiços. Os combates são intensos e de dificuldade bem elevada, não prestar atenção pode resultar facilmente em derrota. Para deixar as coisas mais complicadas, boa parte dos calabouços tem poderosos dragões rondando as áreas. Eles são visíveis no mapa e caso um combate aconteça próximo deles, os monstros podem entrar na luta. Existem 666 dragões no mundo de Eden e derrotar todos eles é uma das missões dos heróis.

Mesmo sendo por turnos, o sistema de batalha de 7th Dragon é bem complexo. Além de comandos básicos como ataque, defesa e técnicas, é possível executar uma série de ações estratégicas, como movimentos em conjunto e habilidades que permitem receber turnos extras. A mais importante delas é o Exhaust (ou EX), que torna drasticamente mais poderosa a próxima ação do personagem: um ataque simples pode ter o triplo do dano ou uma magia de cura básica pode recuperar completamente a energia de um aliado. Cada personagem pode ativar o EX até três vezes, sendo necessário dormir em algum hotel para recuperar estes pontos. Por conta do alto desafio, saber usar essa habilidade é essencial para sobreviver.


A customização dos personagens é grande. Ao subir de nível, cada herói recebe pontos de habilidade que podem ser utilizados para melhorar características e aprender novas técnicas. É importante pensar com cuidado como desenvolver cada membro do grupo, pois as habilidades têm o tradicional formato de árvore. Experimentação também é necessária e as possibilidades permitem inúmeras estratégias. Não ficou satisfeito com alguma coisa? Alguns itens permitem realocar os pontos de habilidade, mas não é bom contar com eles pois são um pouco raros.
Inimigos poderosos nos mapas, dificuldade alta, personagens altamente customizáveis e combate em primeira pessoa são características também presentes em Etrian Odyssey, uma série de JRPGs com grande foco na exploração de labirintos. Não é por acaso que 7th Dragon também tem tudo isso: o título foi dirigido por Kazuya Ninou, que praticamente criou a série Etrian Odyssey na Atlus. O diretor aplicou vários desses conceitos neste título, mas tudo foi pensado de maneira que fosse mais acessível aos jogadores, principalmente na parte visual. Outra similaridade entre os dois títulos está na música, já que o compositor Yuzo Koshiro assinou a trilha sonora de ambos.

Dragões nipônicos

Por conta de sua parte técnica bem acabada e sistemas de jogo desafiadores (porém acessíveis), 7th Dragon tornou-se sucesso de público e crítica. As comparações com Etrian Odyssey foram inevitáveis, mas isso não atrapalhou as vendas do jogo e a produção de outros produtos, como um mangá e um álbum com a trilha sonora arranjada. Mais dois títulos alternativos da série foram produzidos para PSP e são bem diferentes: dragões atacam Tokyo e heróis se juntam para derrotar as criaturas em um mundo pós-apocalíptico.

Infelizmente a Sega, que é a detentora dos direitos de publicação do jogo no Japão, decidiu não lançá-lo no Ocidente. Não se sabe com certeza os motivos dessa decisão, mas tudo indica que o alto desafio do jogo afastaria supostos jogadores. E vocês, gostariam de jogar 7th Dragon?


Revisão: Alberto Canen
Capa: Felipe Araújo

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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