Análise: The Letter (eShop/Wii U) e os 3 minutos mais desperdiçados da minha vida

Com um dos gameplays mais curtos e toscos da história dos games, The Letter é definitivamente o pior jogo do Wii U até o momento.

em 15/09/2014

O sucesso de Slenderman fez com que o gênero “survival horror em primeira pessoa cujo objetivo é coletar itens” se difundisse de forma estrondosa. Há mais jogos desse tipo do que corintianos em Itaquera e até mais do que vazamentos e spoilers do novo Super Smash Bros.

E seguindo essa linha, a eShop do Wii U recebeu The Letter, um jogo de terror em primeira pessoa desenvolvido pelo estúdio indie TreeFall. Bem, na verdade ele é um horror de jogo! Você está realmente certo de que quer continuar lendo isso?

“Escrevo-te estas mal traçadas linhas…”

The Letter estava lá na eShop e eu com um pequeno trocado de pão como saldo. Então decidi comprar o jogo, que estava custando apenas $1.99. Enquanto o Wii U baixava os 412 MB do jogo, aproveitei para ler a sinopse que dizia que o jogador controlava Michael Kennedy. Após receber uma carta de seu pai dizendo que está à beira da morte e para não confiar em ninguém, Michael parte em busca do ser paterno. Interessante.
Quem nunca deu um pulo, alcançou os fios dos postes
e começou a andar sobre eles?
The Letter baixado e instalado, cliquei para iniciá-lo e logo estranhei algo. O som do jogo enquanto carregava me era familiar. Na verdade, esse som é... o mesmo da tela de carregamento do Netflix!? Sim, é! Meio assustado e pensando que meu Wii U estava com problemas, saí do jogo e o reiniciei. Tive apenas a confirmação: o áudio da tela de carregamento era o mesmo do aplicativo do Netflix.

Relevando esta “coincidência”, dei start no jogo. Uma tela preta explicando os controles apareceu. O botão A interage com objetos, B para pular, Y para acender e apagar a lanterna, analógico esquerdo controla Michael e o direito a visão. Então, você está preso em um quarto com as palavras  “Encontre a carta” escritas na parede.
E assim começa um dos piores jogos já vistos nas face da Terra
A primeira coisa que notei ao começar a jogar é que a visão pelo analógico direito é invertida, ou seja, se você quiser olhar para cima terá que mover o direcional para baixo e vice-versa. Então entrei no menu de pausa para trocar a opção e... adivinha? Não existe pause no jogo! Não tem pause, não tem inventário, não tem indicador de vida, não tem mapa, não tem menu pra dar restart, não tem save, não tem absolutamente nada! Apenas para informar: The Letter não faz uso algum do GamePad, nem mesmo do recurso Off-TV Play, já que a tela fica desligada durante o jogo.

“Nas frases desta carta que é uma prova de afeição”

Apesar de apenas começar a me surpreender negativamente com The Letter, iniciei a exploração pelo pequeno quarto e rapidamente encontrei uma Hidden Letter atrás de um vaso. Então a minha missão estava concluída, certo? Errado, pois o personagem simplesmente não pegava aquela carta. Pulei, apertei A, andei por cima, mirei a lanterna e a maldita carta continuava no chão. Revoltado com o jogo, apertei botão Home e saí. Entre pensamentos de que havia desperdiçado meu dinheiro com aquilo, comecei a imaginar que poderia haver outra carta naquele quarto. Decidi dar uma segunda e última chance para The Letter.

E não é que encontrei uma mini carta sobre a mesa do quarto? Então, saí pela porta do local e… a fase simplesmente acabou! Apareceu outra tela preta com letras brancas dizendo que Michael iria investigar o local de trabalho de seu pai. Após uma tela de loading que parecia retirada do Windows 98 meio avermelhada, o personagem aparece em um vale aberto e é preciso encontrar três itens. Sem muito esforço, encontrei os três objetos e lá veio outra tela preta com mais blá blá blá.
Tela preta com texto em alta definição número 15
Na terceira fase (se é que se pode chamar assim), estou em uma cidade. Quer dizer, em um quarteirão de uma cidade vazia. Eu me aproximo da porta de uma clínica médica e vejo as palavras na parede: “Está trancada. Encontre a chave”. E lá fui eu dar uma volta no quarteirão. Tentei subir a rua, mas uma misteriosa parede invisível bloqueava a minha passagem. Já fazia algum tempo que não via paredes invisíveis (!?) em um jogo, que saudades! Ou seja, a área que já era pequena, ficou menor do que eu imaginei.
Esta é a saída para fugir do terror que é The Letter, mas há uma parede invisível. Consegue ver? Pois é... Essa deveria ser a saída 666, isso sim!
Novamente sem muito esforço, encontrei a chave e entrei na clínica. Outra tela preta com texto e outra tela de loading. Dentro da clínica (cujo cômodo era do tamanho do quarto da primeira área do jogo), leio as palavras “Aguarde por ele” na parede. Ele quem? Será um monstro? Será o pai de Michael? Tensão e mistério e no ar! Então, após tediosos 45 segundos sem que nada acontecesse, veio de repente… Tcharam! Outra maldita tela preta com texto! De novo não…
"Mãe, olha que física linda! Fui pular dentro da caixa
e agora estou de pé na beirada dela!"
O texto dizia que a clínica estava vazia e que algo estranho havia acontecido com Michael. E, após outra tela de loading, eu estava em uma ilha deserta no meio do oceano! Será que acordei na ilha de Lost? Não, na verdade era uma pequena ilha com duas palmeiras, uma cabana e duas cadeiras. E sobre uma das cadeiras, uma carta. Peguei a carta. Outra tela preta com texto. O texto que dizia que Michael estava de férias na praia, dormindo, e que tudo o que aconteceu foi  somente um sonho. Fim. Sim, sério. Fim!
Ainda não sabemos se isso é uma cadeira de praia
ou um portão de grade caído

“Talvez tu não a leias, mas quem sabe até darás resposta imediata”

Querido leitor, nesse momento você deve estar se perguntando o que diabos acabou de ler. Foi exatamente assim que me senti jogando The Letter. “Mas hein? O que foi isso!?” Aliás, tenho que parabenizar você, caro leitor, por ter coragem de acompanhar este texto até aqui, por passar mais tempo lendo esta análise do que eu passei jogando The Letter e por, pela primeira vez na história do Nintendo Blast, ler uma análise e detonado ao mesmo tempo!

Ok, você pode dizer que o preço já indicava que eu não podia esperar muito de The Letter, mas o jogo não atingiu nem o mínimo do mínimo de minha expectativa. Se excluirmos o tempo que passei lendo as malditas telas pretas com textos e esperando as telas de loading, eu joguei pouco mais de três minutos para terminar essa bela porcaria.
The Letter quer que você jogue a 33 passos por hora. Ainda assim, a chance de terminá-lo em pouco mais de três minutos é 333% maior.
Pense bem, um jogo para um console de mesa. Deve-se esperar, no mínimo, algumas horas de jogatina e não três minutos sem conteúdo algum. Já paguei por jogos baratos de DSiWare que me entreteram por muito mais tempo. Basicamente eu desperdicei $1.99 jogando um título que parecia ser de celular. Pior, foi um jogo em flash pago! E, fazendo justiça, há muitos jogos para celular e flash gratuitos ou de preço similar que são infinitamente melhores do que The Letter.

Para piorar a situação, tomei coragem e fui jogar novamente para ver se, ao menos, os itens a serem encontrados nas quatro áreas do jogo mudavam de localização. Mais um desapontamento: os objetos estavam no mesmo local. E lá se foi a tentativa de fator replay…
O procurado é o próprio desenvolvedor do jogo. Na realidade ele está sendo procurado por todas as pessoas que desperdiçaram tempo e dinheiro com The Letter!
Mas isto é uma análise, então vamos focar nos pontos principais. The Letter deve fazer uso da Cry Engine 0,5 com seu visual tão tosco e vazio que até o GameCube conseguiria fazer muito melhor. Enquanto você anda, as gramas surgem do nada! O destaque gráfico fica com as telas pretas, que possuem letras na fonte Times New Roman, tamanho 30 e em alta definição. Uma pena que a formatação não segue as normas da ABNT.

O aúdio do jogo é realmente assustador. Assustadoramente ruim. Há três sons diferentes: aquele de carregamento similar ao aplicativo do Netflix, uma música para todas as áreas de exploração e uma para a área da praia. Já estou aguardando o lançamento do CD duplo da soundtrack de The Letter com as músicas em looping por duas horas e meia. Mas aqui vai um ponto positivo das músicas de The Letter: elas duram mais do que as fases do jogo. Aí sim!
The Letter é tão ruim que até o Thomas Schulze da nossa equipe faz participação como candidato a prefeito do local. Thomas, sai dessa vida, cara!
Para a surpresa de todos, os controles respondem bem, já que na hora que você aperta o botão, o personagem realiza a ação imediatamente. Uau! Entretanto, há alguns pontos que devemos levantar. Primeiro, o botão de pulo só é usado uma única vez para encontrar um item na segunda área, apesar que você pode saltar sobre os fios de postes também, algo que é desnecessariamente desnecessário. Já a lanterna é totalmente inútil. Qual o sentido de você ter uma lanterna, podendo apagá-la ou acendê-la, que possui duração infinita, sendo que o item não é usado para absolutamente nada no jogo? Alguém consegue explicar? Alguém consegue explicar The Letter?

“E para terminar, amor assinarei…”

Eu ainda estou tentando entender como The Letter é um jogo de terror. A descrição deveria ser alterada para “um horror de jogo”. A única coisa que realmente se aproxima de algo assustador, além da ruindade do jogo, são os ursinhos de pelúcia que, quando você se aproxima deles, emitem um sussurro de “help”. Como o controle de qualidade da Nintendo permitiu que The Letter fosse lançado na eShop do Wii U? Como The Letter conseguiu ser produzido? The Letter parece inacabado e termina antes de alguém que escreve uma carta. Seria melhor ter investido o dinheiro e tempo jogado comprando e fazendo miojo.
O ursinho que diz "help" é o momento mais próximo de assustador de The Letter. Mas ele não consegue ser mais assustador que o Fellipe Camarossi, o ursinho da Equipe GameBlast.
Meu Wii U não merece sofrer e carregar 412 MB tão inúteis como The Letter. Preciso mostrar carinho e respeito com meu console e deletar essa abominação do meu querido videogame. Quem jogar The Letter corre o risco de pegar trauma eterno de cartas, por isso passe bem longe! Também vou aproveitar para enviar uma cartinha para a Treefall pedindo para devolver os $1.99 que eu gastei, já que o tempo desperdiçado não volta mais.
Perigo! Jogar The Letter é contraindicado em casos de suspeita de dengue
ou de pessoas sadias que querem apenas jogar um título bom.

Prós

  • Custa apenas $1.99;
  • Pode ter duração maior que Metal Gear Solid V: Ground Zeroes;
  • Telas pretas com texto em alta definição;
  • Conseguiu a proeza de ter a nota mais baixa de uma análise aqui do Nintendo Blast (isso é um pró?);
  • Ainda estamos tentando encontrar algum pró real para listar aqui...

Contras

  • Você vai desperdiçar $1.99;
  • Pode durar bem menos do que Metal Gear Solid V: Ground Zeroes;
  • Textos das telas pretas não seguem as normas da ABNT;
  • Ter uma lanterna que apaga e acende, mas que não é útil em momento algum no jogo;
  • Todos os contras possíveis;
  • Seria melhor ter feito um miojo.
The Letter — eShop/Wii U — Nota: 1
Nota: Após relatar seu sofrimento ao jogar The Letter, o redator está com fobia de cartas. Ele foge desesperadamente ao ver um carteiro na rua. Ainda estamos tentando localizá-lo para fazê-lo voltar a escrever para o site.

Revisão: Alberto Canen
Capa: Douglas Fernandes


Desde que aprendeu a jogar videogames com Yoshi's Island e Donkey Kong Country 2, sempre é visto com um controle ou portátil da Nintendo na mão. Descobriu o amor por The Legend of Zelda com Ocarina of Time e sempre está querendo mais Zeldas. Gosta de escrever notícias, análises e bobagens aqui enquanto não está sonhando com um novo Silent Hill.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.