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Análise: Chronus Arc (3DS) tenta voltar à era de ouro dos RPGs 16-bit

Apesar do visual nostálgico, Chronus Arc peca ao apresentar personagens muito rasos quando comparados aos carismáticos protagonistas dos clássicos.


Pronto para embarcar em uma jornada que envolve mudanças no tempo em um RPG com visual de sprites 16 bits? Não, não estou falando do já eternizado Chrono Trigger, mas sim de Chronus Arc. Esse lançamento da Kemco é uma adaptação do jogo que a mesma empresa lançou para celulares e tablets em 2013, e foi adaptado para o portátil da Nintendo recentemente. A produtora tenta emular aqui um pouco das experiências que consagraram os RPGs japoneses durante os anos 1990, mas parece ter esquecido da premissa que fez parte de grandes jogos do período.

A tempo do festival

Está chegando a data do festival de retroceder o tempo no reino, e cabe aos cavaleiros-feiticeiros assegurarem que tudo ocorra conforme o esperado. Nesse festival, diversos objetos ao redor do mundo voltam a ser exatamente como eram há dez anos. Ou seja, se você quebrou um vaso ou uma casa que já existia, ambos voltarão a ser como antes. As pessoas veem isso como uma benção do deus Houra, já que não entendem muito bem como isso funciona. Portanto, cabe ao protagonista e aprendiz de cavaleiro-feiticeiro Loka ter certeza de que tudo irá terminar bem, já que depende da cerimônia para deixar de ser somente um aprendiz.

Seu mestre Teth o leva a uma caverna, onde ele precisa coletar um fragmento de Chronus, artefato responsável por retroceder o tempo durante o festival. O que nenhum dos dois esperava é que um estranho chamado Geppel  invade a caverna que hospedava o fragmento e resolve tomá-lo para si. Seu mestre resolve mandar Loka atrás de ajuda enquanto ele tenta atrasar o poderoso invasor. Porém, Loka não encontra ninguém ao retornar à caverna com diversos soldados. Onde estará seu mestre? E para que o estranho queria o fragmento? Essas as são duas perguntas que levam Loka a sua jornada, que ,posteriormente, recebe ajuda de sua amiga de infância, a princesa Sarna e uma cantora pop chamada Kuril.

Atividades atemporais

As mecânicas do jogo misturam puzzles com combates por turnos. Logo no começo da história, Loka recebe um anel mágico, que pode interagir de diversas maneiras com objetos no campo. Ative cristais, mova ou destrua objetos ao utilizá-los para poder resolver os quebra-cabeças e avançar nas masmorras, calabouços e cavernas. Porém, não espere algo no nível da franquia Legend of Zelda, já que aqui eles são bem mais simples.
Alguns dos puzzles vão requerer movimentação de objetos também.

Outro uso do anel mágico é paralizar inimigos que você encontra dentro das áreas. Eles se movimentam pelo mapa e cruzar com eles é o único meio de iniciar uma batalha como eles nessas áreas fechadas, excluindo os encontros randômicos. Todavia, encontros aleatórios podem acontecer quando você se movimenta pelo mapa-mundi. Os combates funcionam com todos os participantes atuando pelo menos uma vez por turno, ao invés de utilizar barras de prontidão, como nos jogos da franquia Final Fantasy nessa época.
Os combates seguem a fórmula clássica de batalha por turnos.
É possível navegar a pé pelo mundo do jogo para encontrar novas áreas ou buscar combates, ou se teleportar automaticamente para um lugar previamente visitado. Isso é bem útil para não perder tempo quando precisar retonar a algum lugar do outro lado do mundo ou quiser retornar a uma cidade para descansar e voltar rapidamente à ação. Parece que o jogo foi feito inteiramente com essas viagens em mente, pois é possível avançar rapidamente pela história lutando e acumulando o mínimo possível de itens e níveis. Então, não espere um grande desafio aqui.
Você pode se movimentar na tela superior ou teleportar para seu destino utilizando a tela sensível a toque

A jornada para o passado

Com um preço convidativo e uma dificuldade acessível para todos, Chronus Arc é uma boa opção caso você esteja procurando um RPG divertido para passar seu tempo; isso fica ainda mais fácil de se entender caso você também seja um fã de jogos lançados na metade da década de 1990 e início da década 2000, como eu. É fácil se encantar com as capturas de tela de Chronus Arc bem rapidamente. O jogo apresenta visuais característicos de títulos da época, eternizado em clássicos como Secret of Mana ou Breath of Fire II. Uma pena que se limite a isso.

O jogo permite uma boa customização dos personagens através de um sistema de mudanças de classe a partir da metade do jogo, mudando um pouco as mecânicas de cada um. Outro modo de customização é utilizando habilidades equipáveis, que alteram efeitos de magias de diversas maneiras. Isso é interessante para adaptar a jogabilidade ao seu estilo preferido. O problema é que esse é o máximo de interação que você vai querer ter com eles.
Mudar de classe vai retornar seu nível para 1. Porém, você mantém todas habilidades aprendidas anteriormente.
Cada personagem apresenta traços clichês, sem trazer nenhuma novidade ao gênero ou alguém que você vá se lembrar por um bom tempo. A história do jogo sofre do mesmo mal, já que é bem linear e óbvia. Chega ao ponto de ficar enjoativo por ser tão fácil de imaginar o rumo que a história vai tomar em alguns pontos. E nem a trilha sonora salva, já que também é bem simplória e fácil de se esquecer após fechar o portátil.

Chronus Arc está disponível somente na eShop do 3DS, e como disse antes, é uma boa opção caso você esteja procurando um RPG com visual old school com mecânicas divertidas por um preço razoável. Só não o compre esperando matar a saudade dos grandes RPGs lançados para o SNES, já que ele fica muitos degraus abaixo. Nesse caso, é mais fácil recomendar jogos para o Virtual Console do 3DS como o ótimo Lufia ou o divertido Shining Force. Ou até mesmo esperar um pouco mais até que a Big N lance mais alguns dos clássicos do gênero para seu portátil.

Prós
  • Gráficos retrô lembrando a era de ouro dos RPGs japoneses;
  • Customização de personagens;
  • Diversos puzzles lhe esperam durante a jornada.

Contras
  • História rasa, com personagens pouco envolventes;
  • Dificuldade simplificada.
Chronus Arc — 3DS — nota 5.5
Revisão: Jaime Ninice
Capa:
Daniel Serezane

é formado em Administração de Empresas pela USP, e mestre em cultura inútil pelas experiências de vida. Desde 1993 gosta de explorar o mundo dos games em seu tempo livre. Pode ser encontrado reclamando da vida no Facebook e Twitter.
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