Pronto. Você já sabe de tudo o que precisa saber para jogar Pokémon… A não ser que queira jogar competitivamente.
Quem joga Pokémon competitivamente tem outra história para contar. Essa aparente simplicidade é apenas a superfície. O ônus de conhecimento necessário para se jogar com outras pessoas é muito maior, com termos como Effort Values, Individual Values, breeding, abilities, STAB e tantos outros.
As duas realidades contrastantes, entretanto, não fazem com que a franquia se torne mais complexa. Pokémon continua, em todas as sua iterações, sendo um jogo simples, mas profundo.
Complexamente simples
Mas qual a diferença entre complexidade e profundidade? E o que são essas duas coisas, para início de conversa? Há inúmeras formas de definir os dois conceitos. Para os fins dessa discussão, usaremos as seguintes definições:- Complexidade: quantas regras ou partes que interagem entre si um sistema possui.
- Profundidade: de quantas formas essas regras ou partes podem interagir entre si.
Quando digo que Pokémon é simples, não quer dizer que ele não é dotado de complexidade, muito menos que é raso. O que quero dizer é que sua complexidade é ponderada por sua profundidade. Mesmo que ele possua várias mecânicas que garantem aos jogadores experientes uma miríade de estratégias e opções, o ônus de conhecimento necessário para se começar a jogar é pequeno.
Em muitos casos, a recíproca é verdadeira: a profundidade é negada pela alta complexidade. É o caso de games como EVE Online, Crusader Kings II ou Dwarf Fortress, todos para PC. Há (quase literalmente) milhões de coisas para se fazer nesses jogos. Entretanto, a maioria das pessoas nunca experimentará sequer parte delas pelo simples fato de não entender como jogar, desistindo antes mesmo de aprender o “básico”.
Três elementos garantem que a profundidade de Pokémon não seja negada pela complexidade, fazendo com que o jogo permaneça simples e fácil de entender:
Baixa complexidade irredutível
Um jogo com alta complexidade irredutível é aquele que exige que o jogador tenha o conhecimento de várias coisas antes de poder começar a jogar. Por exemplo, xadrez tem uma complexidade irredutível maior que Go, sendo necessário que os jogadores decorem várias regras de movimentação e posicionamento antes de se iniciar a partida.![]() |
Go: fácil de aprender, impossível de dominar. |
Pokémon, além de ter uma baixa complexidade irredutível, faz com que suas mecânicas “extra” girem em torno das mecânicas básicas, reforçando-as. EVs, IVs, breeding e tantas outras coisas têm um único propósito: deixar sua equipe mais apta para as batalhas.
Interface
Há, por trás da mecânica de captura de Pokémon, uma série de cálculos e condições para definir se o jogador será ou não bem sucedido. Basicamente, ela funciona de acordo com a seguinte fórmula:Dentro do game, essa relação é expressada de uma forma muito mais simples: quanto melhor sua Poké Ball e mais fraco o Pokémon inimigo (HP, nível, raridade), melhores são as chances de captura. Simples, não?
Várias outras mecânicas do jogo são governadas por expressões matemáticas tão ou mais complicadas do que essa. O jogo faz um ótimo trabalho abstraindo-as e as apresentando ao jogador de forma sucinta e significativa.
Ritmo
Imagine se Pokémon fosse um jogo em tempo real. Por mais que a ideia pareça cativante, pense em como o metagame competitivo seria afetado por isso. Em meros segundos você teria que planejar quais golpes usar, se aquela era a hora correta para trocar de Pokémon, prever as jogadas inimigas, bolar estratégias, pensar se seu monstrinho aguentará os ataques do outro lado…![]() |
Mas vamos admitir que Moonrise até que fez um bom trabalho imaginando justamente isso. |
Contraste com Ultra Street Fighter IV (Multi). Mesmo que as mecânicas básicas sejam poucas e a interface seja excelente, o fato de ser em tempo real acaba tornando-o frenético demais para alguns jogadores, principalmente no nível competitivo.
Simplesmente complexo
Jogos simples, mas profundos, são alguns dos mais populares da atualidade. Hearthstone, League of Legends, Rocket League, Counter Strike e muitos outros são apenas alguns exemplos de jogos fáceis de aprender e difíceis de dominar. Todos eles podem ser aprendidos em alguns minutos, são acessíveis e podem divertir qualquer um. Contudo, além de suas superfícies simples, escondem uma gama de opções e mecânicas que podem cativar os mais hardcore.Pokémon faz isso desde 1996 e continua a fazer mesmo hoje em dia, como poucos jogos fazem. Ele é tão complexo quanto o jogador quiser — restando a ele escolher o quanto quer se aprofundar.
Para saber mais sobre o assunto, recomendo o vídeo do Extra Credits sobre o assunto, que toca em muitos dos mesmos argumentos e exemplos usados no artigo.
Revisão: José Robson Júnior
Capa: Felipe Araújo