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Análise: Bridge Constructor Portal chega ao Switch em um port mal-otimizado

Uma espécie de crossover entre Portal e Bridge Constructor, o título chega ao mercado com um bug que impede o andamento do jogo.


Lançado pela Valve em 2007, Portal (Multi) foi um título de conceito inovador ao unir mecânicas de puzzle e plataforma em que o jogador precisava compreender a utilização de portais de teletransporte atrelados a um elaborado sistema de física para conseguir chegar ao final. Em 2011, a primeira versão de Bridge Constructor (Multi) chegou ao mercado e consistia em um simulador cuja ideia era criar pontes resistentes o suficiente para que veículos possam atravessá-la sem qualquer empecilho. A união dessas duas distintas propriedades intelectuais resultou em Bridge Constructor Portal (Multi). Disponível inicialmente para PC e mobile no fim de 2017, o jogo chegou aos consoles e ao Switch agora em 2018.


A quem estiver interessado nele principalmente pela série Portal, fica o aviso de que o título é muito mais relacionado a Bridge Constructor e só se utiliza de alguns elementos da franquia da Valve em vez de ser, de fato, um spin-off da mesma. Dentre tais influências, estão basicamente a atmosfera e a mecânica dos portais em si, implementados na jogabilidade do simulador de construtor de pontes.

Ou seja, o game consiste em uma série de fases (sessenta, para ser exato) em que, utilizando vigas de aço e cabos de sustentação, o jogador precisa criar pontes capazes de fazer com que os carrinhos de manutenção atravessem de um ponto do estágio até outro ponto indicado. À medida que o jogador vai avançando no título, novos mecanismos que precisam ser levados em consideração vão aparecendo, como botões que abrem portas ou um piso escorregadio responsável por fazer o carrinho ganhar velocidade.



Algo interessante em Bridge Constructor Portal é justamente a sua progressão. O jogo consegue apresentar as mecânicas de uma forma que não sufoca o jogador, dando tempo de se habituar a cada uma. É por isso que o título pode apresentar desafios, mas nada realmente absurdo, visto que a curva de dificuldade vai atingindo uma evolução equilibrada. Além disso, o fato de o jogo salvar o projeto original após um teste falho e permitir leves ajustes em vez de ter que começar de novo acaba tornando toda a experiência mais cômoda e envolvente.

Esse salvamento acaba sendo bem útil porque a física do jogo acaba sendo extremamente delicada, exigindo precisão. Um ângulo de cinco graus pode ser a diferença entre uma estrutura forte e um desabamento. Uma viga extra pode ser a diferença entre uma travessia segura e uma fase cumprida por muito pouco. De certa forma, há muita aplicação prática para a física de ensino médio referente àqueles exercícios que trabalham com a divisão de forças e plano inclinado. Como alguém formado em comunicação, acho que foi a primeira vez que precisei usar esse tipo de coisa na prática a um nível relativamente técnico depois que saí da escola.

É notável também o potencial observado que acabou sendo desperdiçado. Por exemplo, cada peça tem um custo em dinheiro e, ao fim de cada fase, há um relatório indicando quanto foi gasto na produção das pontes daquele nível. No entanto, nota-se que tal valor apresentado acaba servindo apenas a uma função ilustrativa, visto que ela nada altera a nível de jogabilidade. Faltaram desafios alternativos ao jogo que poderiam fazer uso de tal valor ou ainda um recorde pré-estabelecido que estimulasse o jogador a fazer uma ponte de custo menor do que o delimitado, por exemplo. Depois de completas, as fases não oferecem nenhum atrativo extra a não ser uma segunda versão dela em que um comboio atravessa a ponte em vez de um único veículo, exigindo que tais construções sejam fortes o suficiente para aguentar o peso extra exercido por uma quantidade variável de carros.

A versão do Switch também carrega um gameplay diferenciado que faz uso das características do console, mas nada que realmente se destaque. É mais prático e preciso construir as vigas com o controle do que com a tela de toque. Além disso, jogar na televisão de uma forma mais ampla não se mostrou tão agradável quanto trabalhar em um espaço reduzido com o console da Nintendo em sua forma portátil.

Considerando tudo o que foi apresentado, apesar de não ser uma obra brilhante, Bridge Constructor Portal seria um trabalho competente que envolve o jogador que se interessa por quebra-cabeças desse tipo e seria uma adição interessante ao Switch. No entanto, seria completamente injusto recomendar positivamente um jogo que carrega um bug que simplesmente impede o jogador de terminá-lo, que consiste em um crash por volta da fase cinquenta. Inicialmente, achei que era só algum arquivo corrompido. Desinstalei, reinstalei, recomecei o save e ele insistia em dar erro sempre no mesmo trecho.


Uma busca rápida na internet acabou mostrando que o problema não foi só comigo. A Headup Games, responsável pelo jogo, também demonstrou conhecimento do bug e prometeu tentar corrigi-lo. Até o momento da publicação dessa análise, nenhuma atualização foi disponibilizada. Chega a ser obsceno pensar que um jogo com esse tipo de defeito foi colocado à venda dessa forma e até o momento, quase um mês depois de seu lançamento, nada tenha sido feito a respeito disso. Seria desonesto aprová-lo quando há outros jogos da mesma qualidade e estilo no mercado e que não oferecem um problema assim. Talvez, em outras plataformas que não contam com tal bug, ele possa valer a pena, mas não é o caso aqui.

Prós

  • A ideia de deixar gameplay minimalista é acertada;
  • Curva de dificuldade equilibrada e distribuída por um bom número de fases;

Contras

  • Bug que impede que o jogo seja completado;
  • Pouco a se fazer além do conjunto principal das fases;
  • Jogabilidade levemente incômoda com o console no dock.
Bridge Constructor Portal — Switch —  Nota 3.5
Revisão: Luigi Santana
Análise produzida com cópia digital cedida pela Headup Games

É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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