Blast from the Past

Perfect Dark (N64): Excelência em sua mais bela forma

Mesmo que você ainda não tenha posto as mãos no título, as chances de que você já tenha experimentado algum outro que tenha sido influenciado por ele são gigantes.

Originado para ser um sucessor espiritual de GoldenEye 007, Perfect Dark não apenas tomou emprestado todas as características brilhantes que fizeram do seu anterior um sucesso atemporal, mas também introduziu diversas outras adições exclusivas que ajudaram a revolucionar para sempre o gênero First Person Shooter para consoles.

Lançado na metade do ano de 2000, ainda fruto da época de ouro da Rare, quando a mesma empilhava títulos de sucesso um atrás do outro, o game rapidamente se tornou sucesso de crítica e de público pela sua qualidade técnica muito acima da maioria dos seus concorrentes da época.

O game facilmente se destaca pelo seu gameplay fluído, gráficos exuberantes, trilha sonora excepcional, modos singleplayer e multiplayer extraordinários, entre muitas outras características que ajudaram a fazer com que o jogo continue sendo lembrado atualmente como um dos melhores a terem sido lançados para uma plataforma da Nintendo.

Não é exagero algum afirmar que Perfect Dark se tornou um dos pilares do gênero First Person Shooter para consoles, como também afirmar que a sua influência pode ser sentida até mesmo em jogos lançados para o universo dos computadores, a plataforma definitiva do gênero.

Outro ponto de destaque é o tratamento especial que a Rare deu ao modo multiplayer, criando o perfeito exemplo a ser seguido pelas outras produtoras em como criar opções realmente divertidas aos jogadores que apreciam tal modo. Tornando assim o título em um must have não somente para fãs do gênero FPS, como também para todos aqueles que apreciam multiplayer de sofá.

Uma história de outro mundo

Apesar de primeiramente demonstrar sinais de que o título apresentará um enredo comum para jogos do gênero, a história logo se desenvolve rapidamente de maneira surpreendente, prendendo a atenção do jogador através de suas várias reviravoltas e momentos completamente curiosos para dizer o mínimo.

Perfect Dark se passa em 2023, em meio a uma rivalidade entre duas grandes empresas. A Carrington Institute, instituição de pesquisa e desenvolvimento fundada por Daniel Carrington, e a dataDyne, responsável por armamentos de defesa nacional, liderada por Cassandra De Vries. 

Porém, por trás delas há um embate ainda maior entre duas raças alienígenas. Os Maians, que possuem semelhança com os Greys e recebem ajuda da Carrington Institute, e os Skedar, parecidos com os Pleiadianos pela peculiaridade de se transformarem em humanos, estes aliados à dataDyne. Ambas as empresas se beneficiam da aliança formada entre as duas espécies extraterrestres, mas cada uma possui interesses finais diferentes oriundos destes acordos.

Já a personagem protagonista da história se chama Joanna Dark, uma agente do Carrington Institute que recebeu a alcunha de “Perfect Dark” devido ao seu excelente desempenho em treinamentos de combate. Joanna irá invadir desde prédios comerciais até bases militares, irá resgatar prisioneiros, sejam eles humanos, alienígenas ou robôs, cruzará por tiroteios em meio às ruas de Chicago e até mesmo se envolverá em um acidente aéreo com o presidente dos Estados Unidos da América. Sempre cumprindo, a qualquer custo, com os objetivos propostos por Daniel Carrington, o seu chefe.

O roteiro do jogo apresenta alguns momentos completamente sem noção, especialmente aqueles que contam com a presença do personagem Elvis, o ET encantado com a cultura terreste. Apesar disso, a Rare acertou perfeitamente o equílibrio entre momentos cômicos e cenas com dialogos mais filosóficos. Definitivamente, um dos pontos altos do título é o seu fascinante storytelling, fazendo com que o jogador rapidamente se sinta no papel principal dessa história sci-fi.

Sem interrupções quanto à diversão

Cassandra De Vries e suas seguranças em uma cena digna de filme de ação.

Entre tantas qualidades, a principal característica de Perfect Dark, sem sombra de dúvidas, é o seu gameplay fascinante. Mesmo em momentos que o título apresenta lentidão devido à queda de framerate, algo completamente compreensível devido ao seu elevado nível técnico, beirando o limite do que o Nintendo 64 é capaz de proporcionar, o jogador ainda assim continuará preso à tela, como se até mesmo esses pequenos problemas não fossem o suficiente para atrapalhar a diversão.

É de se destacar a atenção minuciosa que a Rare teve com cada detalhe. Seja pela animação fluída dos oponentes, respondendo fielmente aos projéteis disparados pelo jogador, a presença de um arsenal repleto de armas únicas e muitas com funções secundárias, os cenários amplos, imersivos e cheios de vida, missões com objetivos variados, cutscenes muito bem elaboradas que contam com diálogos inteiramente dublados, além de uma soundtrack com diversas trilhas memoráveis, a impressão final, resultante de todas essas características, é que o jogador possui liberdade suficiente para realizar qualquer coisa que ele quiser, quantas vezes quiser.

Ensinando como criar o Multiplayer perfeito

Multiplayer entre 2 jogadores no modo Combat Simulator.

A Rare desempenhou um excelente trabalho ao criar o multiplayer do título. Mesmo que muitos acreditem que o mesmo precise ser secundário em comparação ao singleplayer, Perfect Dark entrega amplo conteúdo para ambos os modos, criando uma combinação perfeita entre diversão solo e entre amigos. Ou seja, é bem provável que você conheça alguém que já tenha passado a mesma quantidade de horas no game jogando sozinho como também na companhia de alguém, se é que você mesmo não tenha feito isso.

A primeira opção multiplayer é Co-Operative, onde é possível jogar toda a campanha do modo singleplayer dividindo tela com um amigo, ambos tentando completar os objetivos das missões. Já em Counter-Operative, o seu colega assumirá o papel de oponente, desta vez tentando atrapalhar o cumprimento dos objetivos.

Porém, sem sombra de dúvidas, será em Combat Simulator onde todos passarão a maior parte do tempo. Neste modo, é possível personalizar livremente diversos detalhes para criar a partida perfeita entre você e seus amigos.

Dentro do modo Combat Simulator, em Challenges, o jogador poderá completar diversos desafios solo ou na companhia de até quatro amigos. Cada desafio possui objetivos diferentes, como também uma série de peculiaridades únicas. Ao completar os diversos desafios, outros novos serão desbloqueados. Como recompensa, novos modos para o modo Scenarios, além de mapas e personagens para serem escolhidos no multiplayer também serão liberados.

Em Scenarios, ainda no modo Combat Simulator, você poderá escolher entre as diferentes opções de partida. Entre elas: Combat, uma partida tradicional de deathmatch; Hold the Briefcase, onde é necessário encontrar uma maleta escondida pelo mapa e segurá-la pelo maior período de tempo; Pop a Cap, onde um jogador aleatório é selecionado como a vítima do momento, tentando se manter vivo pela maior quantidade de tempo; King of the Hill, uma equipe de jogadores precisa defender uma determinada parte do mapa para somar pontos; Capture the Case, fazendo menção ao tradicional Capture the Flag, os jogadores de uma equipe precisam roubar uma maleta na base da outra equipe para somar pontos. Entre outras opções igualmente eletrizantes.

Para completar o pacote multiplayer, Perfect Dark inclui 16 mapas para serem jogados. Destes, três são recriações fiéis de mapas originalmente vistos em GoldenEye 007. É possível escolher entre todos os personagens que integram a história do jogo, com muitas opções de customização para que o seu personagem se torne único. Há também a inclusão de Bots, aqui chamados de Simulants, com diversas personalidades que se adequam as preferências dos jogadores, como por exemplo FistSims que preferem lutar desarmados e RocketSims que preferem armas que provocam explosões. Além também de apresentar prêmios após o final das partidas, exatamente como funcionam as conquistas e troféus dos consoles atuais e um ranking atualizado dos melhores jogadores do Combat Simulator somando todas as partidas jogadas com aquele cartucho.

Levando o Nintendo 64 ao máximo

Joanna Dark está lhe observando!
Perfect Dark atinge os limites de hardware do Nintendo 64 em todas as áreas possíveis. Como consequência, se torna necessário o uso do Expansion Pak para que todos os modos de jogo se tornem disponíveis. Apesar de não ser obrigatório, o único modo que continua disponível mesmo sem a utilização do acessório são os Challenges do Combat Simulator, com a pesada limitação de apenas poder realizar o multiplayer na presença de apenas um único amigo por vez. Ou seja, para desfrutar completamente do título, dê um jeito de arranjar um Expansion Pak.

O título apresenta som Dolby Surround, além de também contar com um curioso filtro de linguagem, que censura palavrões nos diálogos. Já na área visual, há opções para que o jogo seja exibido nos tamanhos de tela Full, Wide e Cinema. A proporção de tela também pode ser alterada para o padrão Wide Screen, 16:9, para aqueles que possuem televisões mais novas. Além disso, o título conta com a opção de Hi-Res, esticando a resolução do jogo para incríveis 640x218, melhorando consideravelmente os gráficos, mas aumentando a inconsistência de framerate para atingir tal feito.

A conclusão de uma obra-prima

Kit completo do game, incluindo caixa + cartucho + manual + guia da Nintendo Power.
Depois de anos em que GoldenEye 007 reinou absoluto como o melhor First Person Shooter para consoles, Perfect Dark surgiu como o próximo rei do gênero, elevando o seu patamar para um nível muito superior ao que muitos acreditavam ser possível para a época.

Seja pela combinação dos diversos elementos presentes nos modos singleplayer e multiplayer, o título passa a sensação de ser extremamente completo. Muito diferente dos muitos jogos atuais que parecem inacabados ou “vazios” após serem lançados.

Uma pena que o game tenha sido lançado tardiamente no ciclo de vida do Nintendo 64, pois por consequência disso, muitos jogadores deixaram de conhecê-lo, já que o foco naquele momento era pela iminente chegada da nova geração 128-bits. Ainda assim, Perfect Dark conseguiu a incrível marca de 3 milhões de unidades vendidas mundialmente, provando por A + B que para um jogo ser bem-sucedido, um gameplay inovador é muito mais do que o suficiente, independente se a sua plataforma de lançamento já esteja perdendo forças.

Em 2005, o título recebeu uma sequência intitulada Perfect Dark Zero, sendo um dos títulos disponíveis durante o lançamento do Xbox 360. Porém, a sua recepção foi muito abaixo do esperado, considerando o sucesso universal do seu antecessor. No ano de 2010, comemorando dez anos desde o seu lançamento, Perfect Dark recebeu um remaster para a Xbox Live, o serviço online do Xbox 360. Contando com texturas de melhor qualidade, framerate constante e suporte online para o seu multiplayer, este lançamento é recomendado tanto para aqueles que já conhecem o game original, como também para aqueles que desejam conhece-lo em uma roupagem mais atual.

Seja pelas imensas contribuições para o gênero FPS, ou para o mundo multiplayer no geral, seja pela riqueza de conteúdo que o título apresenta, ou apenas por toda a diversão proporcionada, Perfect Dark não é somente obrigatório na coleção daqueles que possuem um Nintendo 64, como também na coleção de todos aqueles que apreciam um bom jogo. E você, já colocou as mãos nessa obra-prima?

Revisão: André Carvalho

Velha e rancorosa. Levado pela música. Infelizmente, publicitário. Guitarrista, compositor de canções tristes e escritor de poemas vagabundos nas horas vagas. Redator do site/revista Nintendo Blast. Diretor geral do coletivo Bolomofo. Fotógrafo e estilista por conveniência. Sommelier de vodka e latão por destino. Trilíngue; português, inglês e várias bobagens. Eventualmente menor do que você.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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