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Análise: Legendary Eleven (Switch): lendas do passado, problemas do presente

Nem mesmo as influências lendárias salvam este futebol arcade muito pouco inspirado e repleto de problemas técnicos no Nintendo Switch.


Há muitos anos os jogos de esporte mudaram seus rumos. Deixaram de explorar as experiências arcade rápidas e surreais em troca do realismo e precisão dos simuladores atuais. Séries como Super Soccer Champ da Taito e Super Sidekicks da SNK saíram de cena, enquanto as franquias da Konami (Pro Evolution Soccer) e Electronic Arts (FIFA) foram abandonando as características mais simplistas de antigamente em troca de uma busca constante por mecânicas complexas, dando aos jogadores mais determinados uma variedade gigantesca de possibilidades.

“Que faaaaaase!”

É claro que os entusiastas do esporte adoraram essa constante evolução. Mas aqueles jogadores que só buscavam uma diversão leve e momentânea, sem ter que estudar tutoriais para aprender a jogar, foram ficando pelo caminho. A proposta da produtora italiana Eclipse Games com Legendary Eleven é resgatar esses jogadores perdidos buscando lá no fundo do baú aqueles jogos antigos que faziam o maior sucesso nos fliperamas e consoles da década de 90, injetando estas referências em seu projeto.
Calções curtos e cabeleiras: visual remete às Copas de antigamente
Como qualquer jogo de futebol daquela época, simplicidade é a lei. Os comandos não fogem à regra e resumem-se ao básico do esporte bretão: um botão para passe direto, outro para passe em infiltração, um terceiro para chute e um quarto para dribles que nem sempre funcionam. Os botões de ombro servem para correr (R) e para ações especiais (L). Na defesa, menos ainda: um botão para carrinho e outro para roubar a bola. Em poucos minutos aprende-se praticamente todas as mecânicas, sem esforço.

Para adicionar um pouco de tempero à jogabilidade, o título oferece uma barra de energia que carrega aos poucos conforme o jogador tem sucesso em lances de passes, dribles e lançamentos. Quando a barra está cheia, ao aproximar-se da meta do adversário uma opção de chute especial aparece na tela. É um movimento que, quando completo, torna-se praticamente indefensável para o goleiro rival. Porém, a animação que precede o chute é tão lenta que o mais difícil é conseguir completá-la antes de um oponente desarmá-lo.
Se conseguir usar o chute especial, é bola na rede

“Olho no lance!”

Dá pra notar que o coração do pessoal que desenvolveu Legendary Eleven estava no lugar certo quando o assunto é ambientação. Tematicamente o game é super empolgante e consegue suscitar aquele sentimento de que toda partida é “jogo de Copa do Mundo”, com muito papel picado e estádios lotados. Cada uma das 36 seleções de países de todo o globo remetem às de antigamente — mais precisamente dos anos 70, 80 e 90 —, com aquelas cabeleiras armadas e calções curtinhos que marcaram época. Para completar este cenário nostálgico, os times são recheados de lendas do futebol com nomes levemente alterados, como “Rumario”, “Pepeto” e “Edino” na Seleção Brasileira, só para citar alguns. Infelizmente o craque “Allejo” não foi convocado para esta Copa.

Mas por baixo dessa maquiagem toda encontra-se uma obra muito mal acabada. Apesar de esteticamente interessante, a parte técnica dos gráficos é limitadíssima, com texturas pobres e animações rígidas, por vezes lembrando um jogo mobile de anos atrás. Os sprites 2D dos games que foram inspiração para Legendary Eleven dão um “banho de bola” nos modelos 3D do título da Eclipse Games.

Para piorar a mistura, o som também não ajuda: não há música durante os confrontos, os efeitos sonoros são burocráticos e o narrador possui um leque limitadíssimo de palavras que repete o jogo inteiro, rapidamente se tornando repetitivo e chato. Tudo isso acaba por deixar as partidas sonolentas e sem qualquer emoção.
Poucos quadros de animação deixam o visual bem estranho

“Pode isso, Arnaldo?”

Se o visual já é duvidoso, quando o jogo começa não restam dúvidas. Legendary Eleven é cru, claramente precisava de mais alguns meses de lapidação. Por mais que a produtora siga prometendo que o título será constantemente atualizado com melhorias, o estado no qual ele chega à eShop do Nintendo Switch beira o inaceitável. São muitos problemas técnicos e bugs — o pior deles, que deixava o jogo impraticável, já foi corrigido. O sistema de colisão dos personagens é impreciso e por vezes os botões de ação não são responsivos como deveriam, transformando a jogatina num constante apertar de botões até que o resultado apareça na tela.

Mesmo se você ignorar as falhas técnicas e se só quiser chutar a bola pra lá e pra cá, sem compromisso, resta pouco para se divertir aqui. São apresentados apenas dois modos de jogo: Friendly Game (amistoso) e Championship Mode (campeonatos). Amistosos são auto-explicativos, você escolhe o seu time e joga contra a inteligência artificial ou, se tiver outro par de Joy-Con ou um Pro Controller, desafia um amigo. Isso mesmo, um título de futebol arcade que usa meia dúzia de botões não aceita multiplayer com Joy-Con compartilhados! Um defeito inadmissível em um game que prega a simplicidade e a diversão de antigamente.
A câmera só muda durante as cobranças de falta e pênalti

Ah, e não vamos esquecer que o título ainda não possui qualquer opção online. Então, se você não possui outro controle para jogar com um amigo, só resta mesmo desafiar a inteligência artificial limitada de Legendary Eleven nos campeonatos. O Championship Mode é dividido em cinco categorias, cada uma representando um dos torneios continentais de futebol mais a Copa do Mundo. Parece muito, mas o game é tão simples em suas mecânicas (com poucos botões e poucas opções de variação) que rapidamente se domina os atalhos para vencer as partidas. Soma-se a isso o fato de a IA não apresentar muitos desafios e pronto, o jogo se tornou repetitivo e frustrante em questão de minutos.

Para não dizer que nada se salva, o pessoal da Eclipse Games inseriu um “meta-jogo” bem interessante em Legendary Eleven. O sistema de figurinhas do game é como uma variação dos troféus dos consoles da Sony, mas apresentando recompensas tangíveis dentro do próprio jogo. Ao completar certas exigências — que variam desde coisas simples como fazer 24 substituições, até outras um pouco mais complexas como vencer determinado campeonato com a seleção “X” — novas figurinhas são desbloqueadas. Cada uma delas oferece uma vantagem para o jogador usar nas partidas, como chutes mais fortes dos atacantes ou um juiz mais permissivo em jogadas violentas. Lembra um pouco aquelas vantagens que escolhemos antes de cada partida no clássico da SNK, Super Sidekicks 3. Oferece um pouco mais de longevidade ao título se você tiver paciência para continuar jogando.
As figurinhas oferecem vantagens nas partidas e longevidade ao título

“Na rede pelo lado de fora!”

E por falar em Super Sidekicks 3, este também se encontra disponível na eShop do Nintendo Switch, o que torna a tarefa de indicar Legendary Eleven ainda mais difícil. Quando dei o start, estava empolgado com a ideia de voltar às origens, de me divertir com um game de futebol arcade como antigamente. Infelizmente a empolgação se transformou em frustração mais rápido do que eu poderia imaginar. Por mais que a simplicidade dos comandos e a ambientação nostálgica sejam atraentes para um público carente de jogos deste tipo, os problemas são tantos que a diversão não dura muito. Sem dúvidas vale mais a pena tirar o pó daquele cartucho antigo de Super Nintendo ou mesmo revisitar o já comentado clássico da SNK na eShop. Este chute aqui, passou longe do gol.

Prós

  • Temática das Copas antigas é interessante;
  • Sistema de figurinhas aumenta a longevidade do título.

Contras

  • Multiplayer muito limitado sem disputas online ou Joy-Con compartilhado;
  • Jogabilidade imprecisa e repetitiva;
  • Bugs e problemas técnicos;
  • Gráficos e animações antiquadas.
Legendary Eleven — Switch/PC — Nota: 4.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Ana Krishna Peixoto
Análise produzida com cópia digital cedida pela Eclipse Games

Comunicador e colecionador. Já foi Sega kid e Nintendo kid, agora é retro "kid". Está no Twitter em @carloscirne e faz vídeos no YouTube no canal CirneStuff.
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