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Análise: Pode (Switch) prova que altruísmo e cooperação têm poder

Guiado pela amizade entre uma pedra e uma estrela, o game oferece puzzles bem estruturados, mas também apresenta falhas.


Ninguém vive sozinho. Em algum momento de nossas vidas, precisamos de alguém para aprender, crescer e atingir algum objetivo. O oposto também acontece: as pessoas precisarão de nossa ajuda em determinadas ocasiões. Altruísmo e cooperação são características presentes em todos seres humanos. Pode, lançado recentemente na eShop do Nintendo Switch, prova que essas peculiaridades também podem estar presentes nos games.

Um é pouco, dois é perfeito

Em uma bela noite, inúmeras luzes cruzavam o céu, porém, uma delas cai em uma misteriosa e mágica montanha. Após recobrar a consciência, Glo, a estrela cadente, conhece uma pequena rocha chamada Bulder que, para tentar levar o seu novo amigo brilhante de volta para o seu trajeto, decide guiá-lo até o topo da montanha. Para isso, eles precisam trabalhar juntos e superar inúmeros puzzles.


Pode traz uma ambientação inspirada na cultura norueguesa e foca na cooperação entre Bulder e Glo, cada um possuindo características únicas e exigidas durante toda a jornada. Inicialmente a estrela utiliza seu brilho para trazer vida à natureza, criando vegetações que servem como plataformas e revelando pinturas rupestres escondidas. A pedra, por sua vez, atrai rochas, aproveita o seu peso para pressionar botões e sua forma cúbica para entrar em pequenos túneis. O game pode ser jogado em singleplayer, mas a exigência de explorar os cenários com os dois protagonistas obriga trocas constantes. O verdadeiro charme está em compartilhar um Joy-Con e jogar com outra pessoa.

Enquanto exploram os ambientes da montanha e emitem seus brilhos, Glo e Bulder restauram a vegetação e as rochas. É muito agradável ver os cenários ganhando vida, principalmente pelo visual colorido e cartunesco do game, acompanhado de uma trilha sonora que transmite tranquilidade. Pode é um jogo sereno que incentiva os jogadores a descobrirem os segredos e a solucionarem os enigmas por conta própria. Não há diálogos ou mensagens indicativas, apenas representações visuais que ensinam novas habilidades.

Essa é a principal característica de Pode, permitir aos jogadores descobrirem o que fazer e como fazer. Por exemplo, Glo é leve e não consegue atravessar cachoeiras ou rajadas de ventos, mas Bulder, com seu peso, afunda na água e não é afetado pela ventania. A estrela utiliza o seu brilho para brotar uma vitória-régia sobre a água, permitindo que seu companheiro de pedra suba nela para conseguir atravessar um lago fundo. Essas mecânicas são apenas descobertas durante a exploração, então a comunicação entre os jogadores acontece naturalmente no modo cooperativo.

Os protagonistas vão desenvolvendo habilidades que são apenas representadas em pinturas nas paredes, cabendo aos jogadores desvendarem como utilizá-las plenamente. Um exemplo é o poder de Glo para se teleportar pelo cenário. Ele pode deixar uma pequena luz em qualquer canto e basta pressionar um botão para voltá-lo ao local original. Entretanto, também é possível teleportar Bulder desde que esteja “engolindo” Glo, assim como é possível cancelar a ação pressionando ZR e A simultaneamente (ou SR e A caso esteja jogando com o Joy-Con na horizontal). Você descobre essas habilidades pela curiosidade, testando as possibilidades. Esse é o verdadeiro charme de Pode.
"Ô manhêê, pode jogar Pode?"
"Poder jogar não pode, mas Pode pode!"


A montanha mágica

A montanha de Pode é dividida em oito seções acessadas por portas em uma área central, cada uma trazendo de três a seis cenários exploráveis. Exceto pela última área de cada seção, os puzzles são muito bem elaborados e exigem o domínio das habilidades de Bulder e Glo. Não há tempo limite ou penalizações por erros ou quedas acidentais em abismos, basta você voltar e tentar novamente.

Entretanto, a última área de cada seção traz um verdadeiro desafio. Há sempre um puzzle único que, enquanto não for superado, o jogador fica impedido de progredir pela montanha. A única dica da área é uma arte na parede que precisa ser interpretada pelos jogadores. Além de ter que associá-la com o puzzle, muitas vezes elementos do cenários são exigidos para completá-lo.

Exemplificando, há uma área com quatro pilastras que podem ser elevadas em cinco níveis diferentes, cada um com um pequeno ícone desenhado. Sobre cada pilastra, há uma quantidade diferente de pedras. Entretanto, o segredo para solucionar o puzzle não está em associar a quantidade de pedras, mas sim elevar Glo para alcançar uma plataforma quase fora da visão da câmera para revelar uma pintura com a sequência correta. Em outra área, é preciso relacionar os caules de uma pintura para ativar uma sequência de jatos de vento. São desafios extremamente difíceis e para poucos; jogadores impacientes ou casuais certamente podem acabar desistindo devido à ausência de explicações mais claras. Você vai perder muitos minutos e ficará empacado tentando solucionar o puzzle, mas o sentimento de vitória ao completá-lo vale o esforço.


Outro problema presente no game são as constantes quedas de framerate. Infelizmente elas são mais evidentes em áreas maiores e abertas, inclusive quando jogado no modo TV. Além disso, há pequenos bugs nas fases que prendem os personagens fora da tela, inclusive Bulder dentro de passagens. Felizmente o jogo salva o progresso e permite reiniciar na mesma área. Houve até um momento em que foi possível avançar para a área seguinte sem superar um enigma, apenas atravessando uma parede!

Por outro lado, Pode traz colecionáveis opcionais específicos para cada personagem, sendo um grande atrativo para quem curte explorar cada cantinho do cenário. Glo pode encontrar pinturas ocultas, enquanto Bulder deve quebrar pequenas rochas acinzentadas. É possível verificar a quantidade presente e coletada em cada área ao pressionar o botão ‘ - ‘.


Pode é uma bela e serena jornada de descoberta e cooperação com ótimos desafios. Os problemas de framerate e pequenos bugs nos cenários não ofuscam o brilho do jogo e vale a pena aproveitá-lo com um amigo. Se pudéssemos fazer um pedido para uma estrela cadente, seria jogar games como Pode todos os dias no nosso Nintendo Switch.

Prós

  • Estilo visual cartunesco bastante carismático e brilhante;
  • Trilha sonora leve e serena combina com a proposta do game;
  • Puzzles bem elaborados.

Contras

  • Quedas constantes de framerate em cenários maiores;
  • Alguns cantos das fases prendem os personagens fora da tela, obrigando o jogador a reiniciar a área;
  • Por carecer de dicas, os puzzles finais de cada seção são difíceis e afastarão jogadores casuais.
Pode — Nintendo Switch — Nota: 8.0

Revisão: Vinícius Rutes
Análise produzida com cópia digital cedida pela Henchman & Goon


Desde que aprendeu a jogar videogames com Yoshi's Island e Donkey Kong Country 2, sempre é visto com um controle ou portátil da Nintendo na mão. Descobriu o amor por The Legend of Zelda com Ocarina of Time e sempre está querendo mais Zeldas. Gosta de escrever notícias, análises e bobagens aqui enquanto não está sonhando com um novo Silent Hill.
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