Arcade Archives: mantendo a história da Big N viva no Nintendo Switch

Série da distribuidora Hamster Co. preserva uma Nintendo muitas vezes esquecida: a Nintendo dos arcades.

Quando se fala sobre sistemas clássicos da Nintendo, as primeiras imagens que surgem à memória são do NES, do Super NES, do Nintendo 64… Para alguns, até o GameCube já entra nessa lista! São consoles que moldaram a indústria e a própria história da Big N, cada um a sua forma. O carinho por jogos desta época continua grande. Basta ver o desafio de se conseguir um NES Classic/Super NES Classic, ou o clamor dos jogadores pelo Virtual Console no Nintendo Switch.


Porém, antes de entrar nas salas de estar, a Nintendo iniciou sua história com games nas cabines de arcades. Em 1978, recém-chegada do mercado de brinquedos, a empresa tentou a sorte com esse tipo de entretenimento eletrônico. Depois de simples clones de títulos como Breakout e Space Invaders, desenvolveu Donkey Kong e Mario Bros., introduzindo personagens que se mantêm relevantes até hoje.

Tal legado deveria ser celebrado tanto quanto o dos consoles de mesa. No entanto, não o é. Claro, a maioria já jogou Donkey Kong e Mario Bros…. Isto é, as versões de NES, relançadas ad nauseam há, pelo menos, uma década. Onde estão as versões originais de arcade? Aliás, onde estão os jogos de arcade da Nintendo em geral? Até pouco tempo atrás, não havia relançamentos oficiais desses títulos em plataformas atuais. Sabendo como hardwares de quase 40 anos atrás podem facilmente se perder ou se danificar, era uma parte da história dos jogos que corria o risco de sumir.

Por isso, a série Arcade Archives no Nintendo Switch é tão reconfortante e importante. Além de trazer de volta clássicos de uma série de produtoras, como SNK e seu Neo Geo, os lançamentos da distribuidora Hamster Co. no console híbrido incluem uma série de jogos de fliperama da Big N que veem a luz pela primeira vez depois de anos. Com pouco alarde, as duas empresas estão facilitando o acesso do público a games que merecem ser lembrados.

Das moedas aos cartuchos

Em setembro do ano passado, seis meses depois do lançamento do Switch, um Nintendo Direct foi transmitido com novidades sobre a plataforma. Os destaques foram Super Mario Odyssey e Octopath Traveler, mas, entre as notícias, com menos de um minuto de duração, um anúncio: Arcade Archives Mario Bros. seria lançado dentro de duas semanas. Junto com ele, uma série de títulos foram divulgados, sobre os quais falaremos mais a frente.

Mario Bros. foi o primeiro jogo da produtora japonesa a ser lançado sob a marca Arcade Archives. Como dito acima, a versão arcade inspirou um port para NES. Na comparação, há poucos segredos: a mecânica de virar tartarugas e caranguejos é a mesma, assim como as fases. A diferença está nos detalhes. Gráficos e efeitos sonoros distintos, animações que explicam o game e rankings de pontuações podem ser vistos somente nos arcades.
No Switch, a cabine para dois jogadores é substituída pelos dois Joy-Con
À primeira vista, o mesmo ocorre com Donkey Kong. O jogo que apresentou ao mundo o gorila, o encanador Mario e a hoje prefeita Pauline é, aparentemente, igual tanto nos fliperamas quanto nos consoles. Porém, com um olhar mais atento, diferenças começam a surgir. A mais notável é um nível inteiro ausente na versão de “Nintendinho”. Além disso, controles, dificuldade, posicionamento de sprites e uso de itens são levemente diferentes entre versões.

O relançamento sob os Arcade Archives, durante a E3 2018, marca a primeira vez que o jogo é reeditado oficialmente fora das cabines. Porém, o mais interessante é que os jogadores podem escolher entre três edições: Early, que é o primeiro lançamento japonês do game, com os bugs intactos; Later, que corrigiu esses erros; e International, a versão disponível originalmente nas Américas, com níveis rearranjados. Preservação histórica no seu melhor.
A fase da fábrica de cimento é exclusiva para a versão de arcades

Outro título disponibilizado pela Hamster Co., o qual também entra na categoria “arcades adaptados para NES”, é Punch-Out!!. As duas versões não são nem um pouco semelhantes. Na verdade, são bem opostas. Quem está acostumado com o jogo no console 8-bit pode se surpreender com os gráficos melhores, o uso de vozes para os personagens, os lutadores exclusivos e a UI feita para duas telas ー que pode ser reproduzida ao colocar o Switch na vertical em modo portátil. Porém, a diferença mais gritante de todas está em Little Mac, seu cabelo verde e seu corpo vazado, que foram referenciados em uma skin alternativa do personagem em Super Smash Bros. for Nintendo 3DS/Wii U.
Little Mac contra Piston Hurricane. Preste atenção na plateia para achar um espectador especial
O arcade Punch-Out!! originou uma sequência, Super Punch-Out!!, e um spin-off chamado Arm Wrestling, no qual personagens da série disputam quedas de braço. Quando estes jogos estarão na eShop?

A série VS.

Nota-se que a Nintendo adaptou muitos de seus jogos originais de arcade para suas plataformas de mesa. Mas o caminho contrário também foi percorrido. Vários games de NES encontraram lugar nas casas de fliperama por meio de diversas máquinas. Algumas delas fizeram parte da série VS. System, que repaginou clássicos do console para as cabines. Muitas possuíam duas telas, permitindo partidas de múltiplos jogos ao mesmo tempo, ou games multiplayer com cada jogador em seu monitor individual.

No anúncio de Arcade Archives Mario Bros., foi divulgado que alguns títulos para esse sistema chegariam ao Switch, como VS. Ice Climber, VS. Balloon Fight, VS. Clu Clu Land e VS. Pinball. Até o momento, somente um deles foi lançado: VS. Super Mario Bros..
Inserir moeda para jogar Super Mario Bros. é algo com o qual não estamos acostumados

Esta edição usa como base o jogo de “Nintendinho” e acrescenta um nível de dificuldade maior. Aqui, ítens especiais ficam em lugares complicados de alcançar, warp zones são escassos e alguns níveis são substituídos por outros bem mais complexos. Essas fases mais difíceis vieram a ser utilizadas na versão japonesa de Super Mario Bros. 2, conhecida por aqui como Super Mario Bros.: The Lost Levels. Ou seja, pode-se considerar que esta versão de arcade é um Mario Bros. 1.5.

Curiosamente, VS. Super Mario Bros. ficou durante muitos meses na lista dos mais vendidos na eShop. Em um tempo em que qualquer suspiro que indicasse a chegada do Virtual Console no Switch já deixava todos na expectativa, esse lançamento supriu as necessidades dos fãs retrôs da Nintendo.

O jogo perdido

Como o próprio nome já indica, o trabalho mais incrível do Arcade Archives com a Big N é justamente arquivar games de arcades para a posterioridade. E foi durante a E3 2018, na transmissão Treehouse Live, que isso foi comprovado. Em um segmento sobre Arcade Archives Donkey Kong, foi anunciado que um jogo da Nintendo nunca antes publicado oficialmente nas Américas chegaria ao Switch: Sky Skipper.

Lançado em 1981 no Japão, Sky Skipper adota uma temática bastante semelhante a Donkey Kong. Afinal, o protagonista, Mr. You, também enfrenta gorilas malvados que raptaram algo. Nesse caso, animais. O objetivo é desviar de seus ataques, jogar bombas sobre eles e libertar os animais de dentro de gaiolas. Tudo isso enquanto pilota um avião em um cenário reminiscente de um jogo de Atari 2600. Se a ideia parece absurda é porque ela realmente é. O game é uma explosão de cores e gráficos que, admito, são bem mais feios do que a Nintendo costuma apresentar.
Os gráficos nonsense de Sky Skipper levam tempo para serem digeridos


Ao chegar a vez de ser disponibilizado em território norte-americano, o game foi mal recebido em testes realizados pela Nintendo of America. As cabines foram reprogramadas para rodarem o jogo Popeye, também produzido pela Big N para os arcades. A única máquina do título que sobrou no continente está guardada no acervo da filial da desenvolvedora japonesa, em Washington.

Por anos, jogadores e entusiastas buscaram um modo legítimo e apoiado pela empresa para jogar esse “game perdido”. Um projeto chamado Sky Skipper Project, foi o que havia chegado mais perto até então, obtendo autorização da Nintendo para analisar a cabine e escanear suas artes, que, segundo o vice-presidente de operações da Nintendo of America, Don James, foram desenhadas por Shigueru Miyamoto. O resultado foi uma reprodução fiel da máquina, permitindo a experiência de se estar jogando no hardware original.

Porém, a ROM da versão americana deste arcade nunca havia sido extraída e disponibilizada ao público ocidental. Mas, em julho, essa realidade será outra, pois Arcade Archives Sky Skipper chegará ao eShop do Switch. Lembra quando afirmei que Donkey Kong era “preservação histórica no seu melhor”? Menti. Esse é, sem dúvidas, o relançamento que merece esse título.

Pela história dos games

Todos os jogos da Nintendo disponíveis pelos Arcade Archives mostram a importância da parceria com a Hamster Co.. Mais do que se alimentar na nossa nostalgia, a série se dispõe a ser uma espécie de museu dos games, mantendo vivos softwares que têm sua importância na indústria e merecem reconhecimento.

Gostar de jogos clássicos da Nintendo não está sendo muito fácil. Os jogos de NES no Nintendo Switch Online causam desconfiança, a linha de miniconsoles Classic é ser difícil de achar, o Virtual Console nunca chegará ao Switch. Mas, pelo menos, quando o assunto é o (por tanto tempo negligenciado) arcade, estamos bem servidos.

Revisão: Vinícius Fernandes

Jornalista, analista de mídias, PcD e entusiasta de games desde que jogou Pokémon Azul no Game Boy Color nos anos 90. De lá para cá, tenta aproveitar ao máximo todos os consoles no pouco tempo que a vida adulta permite. Se não está escrevendo para o Blast ou demorando anos para zerar um jogo, está no Twitter (@DanielMorbi) e no Instagram (@danielmorbi_)
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