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Análise: Kero Blaster (Switch) traz todo o charme e desafio dos jogos de ação e plataforma da era 8-bits

Mesmo com seu visual rudimentar, o novo título do Studio Pixel se destaca pela variedade do arsenal, upgrades e chefes criativos.


Primeira criação comercial do designer japonês Daisuke “Pixel” Amaya — e de seu Studio Pixel — desde o lançamento do cultuado Cave Story, em 2004, Kero Blaster pode até não chamar a atenção por sua apresentação retrô rudimentar. Mas a partir do momento em que você pegar o controle e começa a pular e atirar com o sapinho verde do título, vai ser difícil querer parar! Este pequeno indie nipônico é uma aula de game design 2D, e se você é fã de jogos antigos de plataforma e tiro, como Mega Man e Contra, prepare-se para muita diversão.

Sapo trabalhador retrô

O sapo Kerotan é o zelador responsável pela limpeza da companhia Cat & Frog Inc., de teletransportadores. Em um péssimo dia de trabalho, o nosso herói é enviado por sua tirânica e mal-humorada chefe para se livrar de criaturas nojentas que estão se espalhando e bloqueando os equipamentos da empresa.


Parece uma clássica historinha de videogames de outrora, não é mesmo? Porém, lendo nas entrelinhas dos diálogos divertidos, dá para perceber que há uma certa crítica à cultura de trabalho estressante e recheada de horas extras exigidas pelas corporações  japonesas a seus funcionários. Mas não se preocupe, “Pixel” e sua equipe souberam lidar com esses temas sérios de uma maneira muito bem-humorada e sarcástica, deixando a aventura com um clima leve e descontraído o tempo todo.

Kero Blaster não conta com efeitos gráficos modernos, animações fluidas ou pixel art detalhado. Muito pelo contrário, se você não olhar de pertinho pode até achar que ele saiu direto do final dos anos 80, com todas aquelas limitações da época. Além da clara inspiração nos títulos 8-bits do NES, é possível perceber que também houve influência de jogos de PC do início da década de 90, como Duke Nukem, da Apogee Software, por exemplo.


Mesmo sem chamar a atenção tecnicamente, o visual do game é muito característico. Quando vemos os carismáticos sprites minimalistas surgindo na tela, e ouvimos a trilha sonora em chiptunes cativantes, é impossível não relacionar com a identidade única que o Studio Pixel sempre coloca em seus projetos.

Correndo, pulando e atirando

Exatamente como nos clássicos da era de ouro dos 8-bits, Kero Blaster é um jogo de ação e plataforma separado por fases temáticas bem particulares. No melhor estilo Mega Man, Kerotan avança pelos cenários 2D atirando em tudo que encontra pela frente, enquanto coleta as moedas que, posteriormente, podem ser usadas para evoluir o nosso herói anfíbio com mais corações de energia ou melhorando seus equipamentos.


Superficialmente, a jogabilidade lembra a de Cave Story, mas não demora para percebermos que Kero Blaster não possui o foco na exploração estilo Metroid do anterior. Pelo contrário, temos aqui um game muito menos sofisticado, mas muito mais pragmático em seu level design. Cada nível é desenhado de forma a incentivar uma progressão fluida e com dificuldade crescente, culminando no respectivo chefe ao final.

Ao derrotar os chefões, Kerotan recebe novas armas que possuem atributos consideravelmente diferentes de velocidade, potência, amplitude e profundidade. A cada nova adição, é possível notar novos elementos de gameplay entrando em jogo, e esse arsenal variado acaba deixando o combate sempre dinâmico e divertido. Nos estágios subsequentes, para adaptar-se às mais diversas situações impostas pelo game, trocas rápidas e constantes entre equipamentos viram uma necessidade.


A aventura não parece muito difícil a princípio, mas é bom estar preparado para muito desafio nas fases finais e no pós-jogo. Acredite, a jornada fica árdua depois de um tempo e aqueles upgrades tornam-se praticamente obrigatórios. E no meio dessa loucura toda, os comandos por vezes parecem um pouco leves demais, o que pode ocasionar algumas mortes bobas que seriam facilmente evitáveis se o controle sobre o personagem fosse mais preciso.

Kero Blaster é desafiador, sim, mas não é punitivo. Não há game over definitivo: quando as vidas acabam, o jogador volta para o início do nível e todas as moedas coletadas permanecem. Portanto, não tenha vergonha de fazer aquele “grind” de moedinhas quando achar um local com inimigos vulneráveis e risco baixo.

Não acaba quando termina

Kero Blaster apresenta uma aventura muito bem balanceada em suas sete fases de dificuldade crescente. Os chefes e subchefes dos estágios são um show à parte: geralmente gigantes, eles aparecem em cenários frenéticos e exigem estratégias criativas para você usar e abusar das armas e habilidades adquiridas.

É possível ver os créditos finais em cerca de três horas de jogatina — até um pouco menos, se você for muito bom em jogos do gênero. Mas se você curtiu o clima sarcástico e descontraído da história, vai querer recomeçar a partida instantaneamente após o final, quando é liberado o modo “Zangyou” — que em japonês significa “hora extra”.


A princípio, pode parecer apenas um “hard mode”, mas é muito mais do que isso. Além de deixar a campanha ainda mais difícil, a grande sacada fica por conta do enredo: Zangyou serve como uma continuação dentro do próprio jogo. Com uma nova linha de história, um estágio novo e outros modificados, é aqui que o desafio realmente começa, e onde o “final verdadeiro” de Kero Blaster se encontra.

Ao conseguir vencer o penoso modo Hora Extra, outra categoria é liberada no menu principal, adicionando mais um pouco de tempo à jogatina. Também há dez conquistas que podem ser desbloqueadas ao serem preenchidos certos pré-requisitos. Ou seja, apesar de parecer pequeno, fator replay é o que não falta em Kero Blaster. É uma pena que todo esse conteúdo só possa ser aproveitado sozinho, visto que não há qualquer modo multiplayer.

Um clássico fora de época

Kero Blaster é um título que não inventa moda, mas brilha pela simplicidade de suas mecânicas e pelo charme imediatamente reconhecível de seu estúdio criador. Mesmo com uma direção de arte excessivamente simplista, o game destaca-se pelas características que realmente importam em um side-scroller de ação: combate frenético, armas e upgrades bem variados, chefes enormes e que exigem estratégias criativas e um alto nível de dificuldade. Então, se você também é fã dos clássicos de ação e plataforma da era de ouro do NES, não deixe de conferir este belo indie japonês.

Prós

  • Histórias simples, mas que transmitem mensagens importantes e com muito bom humor;
  • Variedade de armas e upgrades deixam o gameplay adaptável e divertido;
  • Batalhas frenéticas com chefes enormes e criativos;
  • Dificuldade alta, mas muito bem balanceada;
  • Alto fator replay.

Contras

  • Estilo de arte que não deve agradar a todos;
  • Um modo para dois jogadores seria bem-vindo;
  • A jogabilidade retrô pode ser um pouco desajeitada em algumas partes.
Kero Blaster — Switch/iOS/PC — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Ana Krishna Peixoto
Análise produzida com cópia digital cedida pela PLAYISM

Comunicador e colecionador. Já foi Sega kid e Nintendo kid, agora é retro "kid". Está no Twitter em @carloscirne e faz vídeos no YouTube no canal CirneStuff.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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