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Análise: Semblance (Switch) é belo e desafiador, apesar de curto

O Nindie leva o jogador a um maleável mundo em colapso, exigindo do jogador criatividade para realizar os desafios.



Colorido e impiedoso, Semblance (Switch) traz um mundo maleável à beira da ruína, onde o jogador deve trazer a sua ordem natural de volta. Para isso, você terá de colocar sua bola 7 para funcionar se quiser livrar o bizarro, porém fofo, mundo de suas mazelas.



Quando tudo ainda era mato

O jogo se inicia em um mundo que está sendo cristalizado por uma estranha criatura, a vegetação e as criaturas ficam fadados à destruição graças às ações de uma pequena bola de cristal. Para salvar o dia, uma bolinha preta denominada Squish — só dá para saber disso ao entrar no menu do game —, tem o poder de encontrar uma forma de trazer a força e saúde das árvores de volta e restaurar a paz em sua terra.

Squish — não sabemos se essa é a espécie ou nome do personagem — pode usar sua velocidade para esticar as partes maleáveis do mundo a sua volta e assim alcançar as bolas flutuantes que trazem a força das árvores de volta.

As coisas neste jogo não são nomeadas; na verdade, não há diálogos, nem mesmo descrições ou narrações. E isso realmente não importa, pois essa característica traz uma sensação de natureza selvagem ao game, em um mundo livre de modificações externas até então. E é dessa forma que toda a aventura se molda.

O game busca se aproximar do que é instintivo: após aprender o que é básico para sobreviver neste mundo, não haverá qualquer tipo de ajuda externa (exceto ser revivido caso falhar). Mesmo nos quebra-cabeças mais complexos, depois de inúmeras tentativas falhas, não haverá a possibilidade de um botão de ajuda. Assim como a vida, o game funciona por tentativa e no erro.


Um mundo inexplorado

O mundo de Semblance é de uma beleza que mistura fofura e bizarrice, parece que tudo é um pântano retorcido e maleável, do qual o jogador deve se valer para garantir a sobrevivência, incluindo a própria capacidade de esticar ou encurtar. Pois Squish (assim como o nome diz, que vem do verbo espremer ou amassar, em inglês) pode ser achatado ou alongado para realizar manobras necessárias em certos desafios.

O jogador verá, também, que a simplicidade e a falta de ajuda irão atiçar a curiosidade a cada desafio realizado, pois as fases não buscam ser lineares — tanto que é possível realizar partes dos desafios e só retornar depois para terminar a fase por completo.

A ambientação do jogo é minimalista, a música de fundo se mistura com a paisagem e não irá  se sobressair em momento algum, provavelmente para manter a concentração do jogador, mas isso não tira sua beleza, pois, como já foi dito, seria o mesmo que ouvir os barulhos de uma floresta ao fazer uma trilha, por exemplo. Seria impossível parar e escutar o tempo inteiro, mas a experiência de fazê-lo, por menor que seja, já é recompensadora.


Para fazer pensar

O jogo possui quebra-cabeças com diversos níveis de complexidade, alguns exigem criatividade do jogador ao distorcer o mundo, há aqueles que exigirão timing e raciocínio lógico para serem concluídos e, claro, haverá desafios que combinam todas as mecânicas já apresentadas no game.
Semblance traz muita liberdade para o jogador buscar a solução, mas a maleabilidade da “terra” de Semblance é limitada e logo os desafios se tornam menos óbvios. E a bolinha preta não apenas empurra as coisas para que estas se mexam, mas ao apertar de um botão é possível fazer tudo voltar ao seu formato original.

O sistema de salvamento do game é automático pois os desenvolvedores estavam cientes que nem sempre o jogador estará nos melhores humores para realizar os desafios. Então, caso após a trigésima morte o jogador decidir esfriar a cabeça longe da aventura, ao voltar para o jogo verá Squish no lugar em que estava.

E se durante essas tentativas Squish acabar prensado em algum lugar sem saída, o menu do game possibilita sair dessas saias justas, levando o protagonista de volta à posição inicial do quebra-cabeça, sem alterar nas modificações já realizadas pelo jogador.

E pessoalmente também aconselho a não se apressar: como já foi dito, o game funciona na tentativa e no erro, não há ajuda em hipótese alguma, então, ao empacar em um quebra-cabeça, fique algumas horas ou espere pelo próximo momento que tiver para continuar o jogo, já que, por muitas vezes, a solução aparece no momento que menos esperarmos.


Parar e pensar

O enorme silêncio que envolve o game chega a ser inquietante ao passo que o jogador avança na jogatina, pois a história vai se desenvolver de uma forma também silenciosa. E esta vai mostrar que o que está acontecendo ao redor de Squish é uma situação ampla e o jogador poderá questionar as próprias atitudes enquanto joga.

Por exemplo, depois de uma ou duas fases concluídas, é possível ver que nem todos os inimigos, por exemplo, sequer matam o protagonista ou chegam a ser ofensivos ao meio ambiente, mas então porque são vistos como inimigos? Por possuírem a aparência do causador do desequilíbrio.

Apesar do andar da história não abrir espaço para escolhas, é possível ver que há profundidade e amplitude no que cerceia os acontecimentos de Semblance. Ao final da partida, o jogador verá que não se trata de um inimigo comum, mas, aparentemente, a natureza — ou o jogador — tem que se livrar dele.

Mesmo assim, ao final o jogador acabará com mais perguntas do que respostas. Um ponto negativo é que não há qualquer mudança na história ou modo adicional quando a campanha acabar, ou seja, fator replay praticamente zero.


Chega de pensar, hora de jogar!

Por fim, o game é um platformer simples e bastante desafiador. Uma aventura solitária. Apesar de inovar pouco, é cheio de charme e fofura em seu peculiar mundo 2D. Aconselho fortemente a jogá-lo na televisão, se possível, pois o jogador poderá desfrutar de sua beleza em uma tela maior.

Com a movimentação simples, a jogatina se encaixa bem em qualquer controle disponível para o Switch. É uma pena a Nyamakop, desenvolvedora do game, não ter se aventurado na tela tátil do console em modo tablet, pois a dinâmica do game cairia muito bem com esse tipo de mecânica como um charme exclusivo da versão para Switch, e seria possível adicioná-la sem excluir o modo tradicional com controles.

Apesar de ser praticamente exclusivo do Switch, pois o game não foi publicado para outro console de mesa, nem portátil, ainda assim é preciso otimizá-lo totalmente. Momentos em que o jogo paralisava e precisava de alguns segundos para retomar à jogatina não foram ocasionais o suficiente para passarem desapercebidos; mesmo não estragando a experiência, a sua frequência é preocupante em um jogo tão simples.

Enfim, o game é sim cativante e aqueles que buscam um game de plataforma desafiador não irão se desapontar, os sentidos devem estar a todo vapor para poderem captar o máximo da história silenciosa do game e, claro, conseguir decifrar os quebra-cabeças.


Prós

  • Arte e ambientação belas e bem-feitas;
  • Controles intuitivos e fáceis;
  • Quebra-cabeças desafiadores;
  • História com desenvolvimento despretensioso e aberto;
  • Game disponível em vários idiomas, incluindo português brasileiro.


Contras

  • Problemas na otimização do game para o console;
  • Fator replay praticamente inexistente.


Semblance – Nintendo Switch – Nota: 7.0

Revisão: Arthur Maia
Análise produzida com cópia digital cedida pela Good Shepherd


Estudante de Sistemas da Informação que gostaria de aprender todas as línguas existentes, mal sabendo lidar com as duas que já fala. Descobriu seu amor pela Nintendo ao conhecer Super Mario 64 e desde então nunca mais largou os cogumelos, karts e rúpias que encontrou em seu caminho.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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