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Análise: Unexplored: Unlocked Edition (Switch) é uma desafiante e complexa aventura roguelite

Não se deixe enganar pelo visual simplório, o título da Ludomotion é complexo, variado e extremamente desafiante como todo jogo estilo rogue deve ser.

Prepare-se: você vai morrer muito em Unexplored: Unlocked Edition. Como todo bom jogo no estilo “rogue”, o novo título da desenvolvedora Ludomotion para o Nintendo Switch apresenta níveis altíssimos de desafio. Mas a dificuldade não é a única característica importante do game, a experiência também é enriquecida por uma variedade enorme de possibilidades a cada nova corrida para as profundezas desta masmorra recheada de inimigos mortais, puzzles complexos, armadilhas traiçoeiras e tesouros nem sempre convenientes.

Um roguelike um pouco diferente

À primeira vista, Unexplored é um dungeon crawler de ação bastante simples: o protagonista de um olho só resolve entrar nas ruínas conhecidas como “Dungeons of Doom” (Masmorras da Perdição) à procura de uma relíquia que se encontra nas profundezas fétidas do local. Acima de tudo, é uma mistura de ação “top-down” (vista de cima) e elementos de RPG, num estilo de exploração que lembra bastante o primeiro Diablo: o jogador vasculha os cenários à procura de tesouros e da escada que leva para o andar inferior.


Mas por baixo desta roupagem comum, está um sistema consideravelmente complexo que gera andares sempre originais. É o que os desenvolvedores chamam de “cyclic level generator”, ou seja, as fases usam um tipo de “rotação de salas”. Diferentemente da maioria dos roguelikes, cujos cenários são todos criados de forma completamente procedural, em Unexplored os andares são montados parte a parte conforme o jogador avança, fazendo com que cada sala (todas desenhadas à mão pelos designers) se conecte com a próxima. Gerando, desta forma, uma nova dungeon a cada partida mas sem perder qualidade.

Se você tem calafrios só de ler a palavra roguelike, não se desespere! Na verdade Unexplored está mais para um roguelite, visto que o ouro coletado permanece, assim como os achievements (conquistas), que liberam novas classes para serem usadas e itens para serem comprados no início de uma nova corrida. Por outro lado, infelizmente, juntar dinheiro não é uma tarefa fácil. Ouro é um material escasso e os itens das lojas são excessivamente caros.


E se você gostou de sua última aventura, pode ativar o modo “seed”, que oferece um pouco mais de regularidade ao salvar para a próxima partida características dos cenários e itens de sua última tentativa nas masmorras. É uma opção bacana, mas no final das contas considero que o modo randômico oferece mais oportunidades de sucesso, mesmo que baseado em pura sorte.

Explorando as variáveis

Além da pluralidade que está intrínseca ao sistema de geração de salas e andares das dungeons, Unexplored: Unlocked Edition também despeja no colo do jogador um turbilhão de possibilidades em praticamente todos os outros quesitos. São dezenas de inimigos diferentes que vão desde frágeis morcegos e aranhas até golens e bruxos perigosos. Fora estes adversários comuns, o game ainda possui mais de 50 poderosos chefes que são apresentados em câmera lenta e com seus respectivos nomes surgindo na tela, para gerar tensão. Em minhas muitas horas de jogo vi cerca de uma dúzia destes chefes, o que demonstra a profundidade e longevidade do título.


Para combater todas estas ameaças, o jogador conta com uma vasta gama de armas, feitiços e poções, que variam entre os modos de batalha à distância (arcos, cetros mágicos, bombas explosivas, etc.) e corpo a corpo (espadas, machados, escudos, adagas, etc.). Tudo isso temperado com pitadas de mágica e furtividade, conforme o gosto do jogador.

O sistema de batalha utiliza os dois analógicos — um para mira e o outro para movimento — além dos dois gatilhos do controle que correspondem aos dois braços do personagem. Cada arma também tem sua estratégia e uma maneira mais eficaz de ser usada. Por exemplo, um machado faz um poderoso corte lateral que pode atingir inúmeros inimigos, porém demora um certo tempo para poder ser usado novamente. Já com uma adaga, o jogador pode simplesmente estocar os monstros ao encostá-los, em ataques muito mais rápidos e constantes.


E como se não bastasse o combate intricado, os cenários são repletos de armadilhas e puzzles enigmáticos, em mapas temáticos com características que afetam o gameplay, como gelo, lava, escuridão, água, floresta, etc. Acha pouco? A versão para Switch ainda traz todos os DLC’s lançados anteriormente, apresentando missões paralelas à campanha principal. Para um pequeno jogo indie, a quantidade de conteúdo e variáveis é realmente impressionante.

O desafio está nos mínimos detalhes

É importante deixar bem claro: a curva de aprendizagem é longa e lenta em Unexplored: Unlocked Edition. Dito isso, depois de superados os desafios iniciais, o esforço começa a valer a pena. Com muita prática — e muitas vidas perdidas depois — começa-se a perceber alguns padrões na inteligência artificial dos inimigos, tornando as ações mais estratégicas e elevando consideravelmente as chances de sobrevivência. Mas é melhor não se deixar levar pela empolgação, pois não demora até o game surpreender com uma legião de inimigos, um chefe ou uma armadilha traiçoeira onde menos se espera, para acabar com a sua alegria.


E não é apenas com os perigos do ambiente que o jogador precisa se preocupar: por vezes a ameaça se encontra dentro da própria mochila do nosso herói. Poções, equipamentos e pergaminhos mágicos — encontrados pelos corredores e baús da dungeon — são uma verdadeira loteria. Toda vez que um novo item é encontrado, não sabemos ao certo seu efeito, e as únicas maneiras de descobrir são utilizando um pergaminho de identificação ou arriscando usar o item “às cegas”. Mas fique atento, pois utilizar um com efeito mágico negativo pode arruinar uma jornada promissora em segundos.

Unexplored é, definitivamente, um jogo duro e punitivo. A dificuldade, por vezes, parece até alta demais, ou talvez as recompensas não sejam gratificantes e úteis o suficiente para que o jogador se sinta confiante e empoderado. Quando o caos toma conta do cenário, com muitos inimigos, gases, portas fechadas, etc., fica quase impossível recuperar-se, vencer ou mesmo fugir da situação “cabeluda”.


Apesar de parecer em alguns momentos que a missão dos designers de Unexplored é fazer o jogador sofrer e se descabelar tentando sobreviver nestes calabouços terríveis, a verdade é que o título oferece as ferramentas, restando ao aventureiro esmiuçar todas as possibilidades até encontrar seu estilo mais favorável, melhorando seu desempenho.

Um calabouço de problemas

O nível de dificuldade elevado não é a única coisa que pode afastar jogadores de Unexplored. Como pode ser visto nas imagens da nossa análise, os gráficos são básicos e discretos. O design dos personagens e inimigos também é pobre, assim como os cenários e efeitos visuais, que oferecem apenas o suficiente para representar em imagens as loucuras de códigos das diversas mecânicas presentes no game.


Mas a pior característica do título é, sem dúvidas, a sua interface de usuário muito mal otimizada para o Nintendo Switch. Gerenciar os diversos menus e o confuso inventário em meio aos combates brutais é uma tarefa que beira o impossível. Até mesmo a simples ação de acessar o inventário exige um certo esforço e nem sempre funciona de maneira apropriada, mesmo com a opção de pausar o combate ativada. É corriqueiro bater o desespero quando vários inimigos estão em pleno ataque e você não consegue manejar seus itens e equipamentos, o que geralmente termina em game over.

Outro defeito relevante é a quantidade desconfortável de problemas técnicos. No estado atual, os bugs e crashes deixam a experiência um pouco injusta. O jogo “quebrou” quatro vezes comigo, e em dois casos estava em uma ótima partida, aproximando-me dos últimos andares. Travamentos para que o computador gere os cenários também são comuns, o que pode ser inconveniente principalmente com inimigos por perto.


São pequenos problemas que tiram o brilho de um título excelente, mas que podem ser consertados em futuros patches e atualizações. Não fosse por estes detalhes, sem dúvidas seria possível acrescentar mais meio ponto na nota final de Unexplored: Unlocked Edition.

“Perfeito para o Switch”

Você já ouviu essa frase, não é mesmo? Unexplored: Unlocked Edition se encaixa perfeitamente nesta categoria: é perfeito para o Switch! Mesmo com os contratempos técnicos e os menus desajeitados, o ciclo de partidas curtas, mas com um toque de progressão bastante cadenciado, é excelente para se jogar no híbrido da Nintendo. Principalmente no modo portátil, a qualquer hora e em qualquer lugar.


No meio de toda a aleatoriedade do game, a dificuldade é uma constante. Porém, isso não significa que o jogo seja menos viciante, e o pensamento de “tentar só mais uma vez” logo após morrer se faz sempre presente.Talvez seja difícil e confuso demais para quem não é fã do gênero, mas de forma geral é uma experiência bastante rica e duradoura.

Prós

  • Uma infinidade de variáveis que deixam a experiência sempre fresca;
  • Fator replay elevado, a cada nova partida uma surpresa diferente;
  • Combate complexo e cheio de alternativas;
  • Curva de aprendizagem é longa, mas compensa no longo prazo;
  • Viciante e perfeito para se jogar em sessões breves no Switch.

Contras

  • Péssima otimização de menus e gerenciamento de inventário nos controles do Switch;
  • Problemas técnicos como bugs, crashes e slowdowns podem atrapalhar a diversão;
  • Alta dificuldade e recompensas que ajudam pouco podem assustar jogadores desavisados.
Unexplored: Unlocked Edition — Switch/PS4/PC — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: André Carvalho
Análise produzida com cópia digital cedida pela Degerati

Comunicador e colecionador. Já foi Sega kid e Nintendo kid, agora é retro "kid". Está no Twitter em @carloscirne e faz vídeos no YouTube no canal CirneStuff.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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