Jogamos

Análise: Mini Metro (Switch) e a desafiadora tarefa de gerenciar o trânsito das grandes cidades

O famoso gerenciador de linhas de metrô chega ao Switch em uma edição bem portada.


Qualquer pessoa que utilize transporte público já deve ter pensado algum dia: “eu conseguiria organizar isso de um jeito melhor”. Pois bem, Mini Metro, desenvolvido pela Dinossaur Polo Club e portado para o Switch pela Radial Games, tem justamente essa premissa. O jogo é um simulador em que se precisa gerenciar as linhas de metrô em grandes cidades do mundo. Desenvolvido originalmente em uma jam de programação em 2013, Mini Metro chega ao Switch em uma versão otimizada e com alguns extras exclusivos.

Deixe o trânsito fluir

Mini Metro é um jogo minimalista na medida certa. Logo no começo, a partir do tutorial, aprendemos a mecânica básica do game, que consiste em ligar estações de metrô umas às outras. Cada estação é representada por um símbolo, que pode ser um quadrado, um círculo ou um triângulo, dentre outros. Logo, começam a aparecer os passageiros, também representados por esses mesmos símbolos. O objetivo é levar os passageiros até a estação em que precisam ir, ou seja, aquela representada pelo mesmo símbolo que eles. Assim, um passageiro “quadrado” que está na estação “círculo”, precisa ser levado até a estação “quadrado”. É simples desse jeito, e no começo o jogo não oferece maiores dificuldades. No entanto, assim como no trânsito das grandes cidades, Mini Metro consegue imprimir uma dose de caos no que parece pura harmonia.

Assim que começamos uma partida, já temos escolhas a fazer. É possível utilizar linhas de metrô diferentes (e cada uma delas é representada por uma cor específica) ou conectar todas as estações pela mesma linha. Cada vez que criamos um novo caminho utilizamos um trem. No entanto, é possível abrir mão de novos trajetos para deixar mais de um trem fazendo o mesmo percurso. Tudo vai depender, portanto, do ritmo de fluidez que o jogador conseguir impor ao fluxo do trânsito.

O jogo trabalha em uma perspectiva de tempo em que passamos por uma semana inteira, indo de domingo a domingo. A cada semana vencida ganhamos mais uma locomotiva e podemos escolher algum bônus: uma nova linha, mais trens, mais vagões para as locomotivas existentes, túneis (que servem para fazer as estações atravessarem rios) ou estações de integração para comportar mais passageiros. E é necessário escolher bem, porque a continuidade da partida depende exatamente disso.


O tempo não para

Em Mini Metro existem três modos de jogo: normal, infinito e extremo. O modo normal acaba quando uma estação fica cheia de passageiros por mais tempo do que deveria. Existe um contador na tela informando quando ocorre algum problema e, mesmo que a situação pareça desesperadora, quase sempre é possível fazer algo para salvar aquela estação, deslocando uma linha para aquele trajeto ou mesmo uma locomotiva. No entanto, inevitavelmente, chegará um momento em que o mapa estará tão grande e com tantas linhas e estações para gerenciar que o fim será certo. Assim que a partida termina, você tem opção de seguir no mesmo mapa no modo infinito. A ideia aqui é apenas organizar os trajetos da melhor maneira possível e, como as estações não enchem, o jogo não acaba nunca. Situação perfeita para aqueles momentos em que você quiser apenas fazer uma tarefa repetitiva e relaxante sem ter que se esforçar muito. Aliás, o modo infinito não precisa ser jogado apenas após uma partida normal, é possível escolher essa opção já na tela de seleção.

Por fim, para aqueles que estiverem procurando uma experiência que seja o oposto de algo relaxante, existe o modo extremo. Aqui todos os desafios são ampliados e o nível de tensão é muito maior. Para acessar esse modo, é necessário fazer mais de mil pontos em um mapa do modo normal, utilizando apenas um túnel. Sim, você precisa mostrar que é digno de estar lá. Além desses modos, o jogo oferece um desafio diário. Ao terminá-lo, é possível ver sua pontuação em um ranking com outros jogadores ao redor do mundo, que competiram nesse mesmo mapa.

Falando sobre os mapas, existem 20 cidades que serviram de base para as linhas de metrô utilizadas. E cada uma delas tem características próprias. Enquanto Osaka, por exemplo, possui um trem de alta velocidade, Nova York e São Paulo apresentam estações que ficam lotadas rapidamente. Cada cidade oferece um desafio diferente e, ainda que você retorne a ela, o jogo seguirá um caminho distinto, pois os mapas de metrô são inspirados mas nunca serão idênticos aos das cidades referenciadas. Isso acontece porque quem decide como a organização se dará é quem está no controle. Além disso, cada partida sempre começa em um ponto diferente da cidade, evitando que você memorize uma estratégia que sabe que dará certo.

Criando em conjunto

Uma feature muito solicitada pelos fãs do jogo nas outras plataformas é o modo multiplayer, que foi lançado no Switch com exclusividade. Assim, se você já possui outra versão do game, esse é o maior atrativo para recomprá-lo. Infelizmente, apesar da ideia interessante, a implementação não é de todo satisfatória. O problema não é com o modo multiplayer em si, que permite que até quatro pessoas gerenciem o trânsito da cidade escolhida, mas com a utilização dos Joy-Con.

Mini Metro foi pensado originalmente para ser jogado com mouse ou tela de toque. Assim, a rapidez e precisão das ações é muito importante para que a partida flua corretamente. Jogando no modo portátil é possível utilizar a tela do console e o jogo funciona no ritmo necessário, mas com outros controles a mecânica fica travada. A Radial Games conseguiu fazer um bom trabalho de adaptação, mas ainda assim as ações perdem em fluidez. Utilizando o analógico você precisa ir de estação em estação, e não consegue ir direto ao ponto que precisa. Essa mecânica de movimento impede ações rápidas e amplia a chance de erros em momentos de muita pressa. É bem comum, jogando com os controles, ligar uma linha errada ou tirar uma locomotiva de um lugar que não era necessário. A utilização do Pro Controller é agradável, melhor que os Joy-Con, mas ainda inferior ao uso da tela do Switch. Por causa desse problema com os controles, o multiplayer acaba se aproximando mais de um party game do que de um modo de jogo cooperativo, sendo que essa última parecia ser a ideia original.

Mind the gap

Mini Metro encanta pelo visual minimalista e impactante. Inspirado na estética inventada por Harry Beck, o designer gráfico que criou o mapa de Londres na década de 1930, o jogo coloca em nossas mãos a possibilidade de gerenciar o trânsito de grandes cidades. A versão do Switch é bem otimizada e funciona de modo agradável, principalmente no modo portátil. Jogando com um Pro Controller na televisão a experiência é satisfatória, mas o multiplayer, principalmente se existir a dependência do uso dos Joy-Con, exige paciência e entrega uma dose razoável de frustração. Ainda que tenha um jeito de experiência casual moldada para smartphones, Mini Metro é uma boa adição para a biblioteca do Switch. Um game relaxante e ainda assim desafiador, que nos faz entender que o problema de trânsito das metrópoles é muito mais complexo do que costumamos imaginar.

Prós

  • Gráficos bonitos inspirados no mapa do metrô de Londres;
  • Bom fator de replay no modo singleplayer;
  • Experiência desafiadora.

Contras

  • Uso dos Joy-Con deixam o jogo travado;
  • Multiplayer pouco convidativo.
Mini Metro - Switch - Nota: 8.0
 Análise produzida com cópia digital cedida pela Radial Games

Pesquisador nas áreas de estética e cibercultura com Mestrado em Cultura e Sociedade (UFMA) e Doutorado em Comunicação (UnB). Além de escrever sobre jogos, produz o Podcast Ficções e tem um blog sobre literatura, filosofia e cotidiano.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google