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Análise: Joggernauts (Switch) — um jogo para testar a sua coordenação (e a sua paciência)

Com uma jogabilidade simples, mas exigente, Joggernauts é um bom desafio para os amantes dos jogos de ritmo.


Joggernauts, desenvolvido pela Space Mace e publicado pela Graffiti Games apresenta uma premissa simples e intuitiva. No jogo, controlamos uma linha de personagens que se movem sozinhos. Quando necessário, precisamos mudar a ordem deles na fila para passar pelos obstáculos que são apresentados. O game mistura a jogabilidade da plataforma com os runners e uma pitada dos jogos de ritmo. Parece complicado, mas Joggernauts encanta pela apresentação carismática e desafios consistentes. Só é preciso ter cuidado para não perder a cabeça depois de algumas vidas desperdiçadas. E, acredite, isso vai acontecer.

Run to the hills

Joggernauts traz um senso de urgência para o jogador. Como você não controla a movimentação dos personagens tudo é muito frenético desde o início. Nas primeiras fases os desafios são simples, cumprindo bem o papel de tutorial. No entanto, conforme avançamos, a jogabilidade vai se tornando cada vez mais exigente.

Jogando no modo singleplayer controlamos dois personagens, um azul e um vermelho. Os controles são bem simples, um botão para trocar o personagem que lidera a fila e outros dois botões para fazê-los pular. Os personagens, já disse antes, correm sozinhos e então obstáculos começam a surgir pelo caminho. Assim, quando aparecer um muro azul na tela, é necessário colocar o personagem azul na ponta da fila. Se aparecer uma barreira vermelha, devemos colocar o personagem vermelho na frente. E vamos avançando. Se você fizer a troca errada (ou não fizer a mudança quando devia), perde uma vida. O mesmo acontece se cair em um buraco.


Além dos obstáculos que devemos ultrapassar, existem pequenos elementos na tela que podemos coletar. Se pegarmos um número suficiente, é possível desbloquear um checkpoint em um momento específico da fase, o que ajuda muito, já que voltar ao início depois de ter percorrido um longo trajeto é bem frustrante. Talvez pensando nisso os desenvolvedores criaram opções mais amigáveis para facilitar a jogatina. É possível escolher começar com mais vidas e mais checkpoints espalhados pela tela. Além disso, podemos diminuir ou aumentar a velocidade dos personagens.

Jogando sozinho senti que, apesar da dificuldade ir crescendo ao longo das fases, o setup original ainda é o melhor. Voltar um nível de velocidade deixa tudo monótono e avançar um nível torna a tarefa exigida praticamente impossível. No entanto, a grande dificuldade, no sentido do avanço do próprio jogo, é que para desbloquear fases específicas é necessário coletar alguns troféus que aparecem durante o trajeto. E alguns destes exigem muita precisão, passando a impressão de que são impossíveis de conquistar a não ser que você deixe o jogo bem lento (o que é uma péssima experiência) ou esteja jogando no multiplayer. Falando no multiplayer, é justamente aqui que Joggernauts mais brilha.

Errando juntos

O modo multiplayer apresenta cada jogador (podem ser até quatro) controlando um dos personagens. Os controles ficam simplificados (um botão para pular e um para ir para a frente da fila) e algumas fases ficam bem mais fáceis de se passar. Contudo, o jogo exige um nível de trabalho em equipe que poucas vezes é demandado em videogames. Diferente de outros títulos em que um bom jogador consegue levar os outros até o fim da fase, nesse ou existe um comprometimento e total atenção de todos ou o avanço será praticamente nulo. Como o botão de ir pra frente da fila pode ser acionado sempre que você precisar, é importante que cada jogador utilize do recurso no momento exato, sob risco de bater em um obstáculo da cor errada ou fazer com que o companheiro de time caia em um buraco. Importante dizer que quando um personagem perde uma vida (e elas são compartilhadas) ele demora um pouco para voltar. Nesse caso, se um obstáculo da cor dele aparecer na tela, não será possível fazer nada além de recomeçar do último checkpoint.

Joggernauts consegue uma magia curiosa: ele nos leva da empolgação por conseguirmos coordenar ações, à frustração e irritação com cada erro cometido pelos nossos amigos ou por nós mesmos. É um jogo cooperativo na sua essência, nos colocando de frente com o desafio que é o trabalho em equipe. Infelizmente, os pontos fracos vem justamente daí, já que o game cansa os jogadores rapidamente. As fases são poucas e curtas e o fator replay acaba sendo diluído na dificuldade que existe em fazer o que é necessário de maneira precisa e eficiente.

Não faça com os outros...

Joggernauts é uma boa adição para o catálogo do Switch. Com uma premissa simples, o game entrega uma experiência desafiadora e empolgante, ainda que exija do jogador bem mais do que apenas um pouco de dedicação. Os gráficos são bonitos, carismáticos e os desenvolvedores conseguiram entregar uma jogabilidade eficiente e divertida. Ainda que a experiência do singleplayer seja satisfatória, o foco parece ser mesmo o multiplayer. No entanto, é importante frisar que esse modo pode ser encarado de duas formas: como um jogo caótico, em que cada um vai se divertir pelos erros constantes e inevitáveis, ou como um game cooperativo, que exige o melhor de cada um dos jogadores, em um esforço conjunto para atingir o objetivo final.

O filósofo chinês Confúcio utilizava como princípio da ética uma regra de ouro: não faça com os outros o que você não gostaria que fizessem com você. E o tom nesse título parece ser justamente esse. Ao mesmo tempo em que é possível sabotar o trabalho coletivo, fazendo a ação errada de propósito ou não se dedicando o suficiente, também podemos nos perguntar que tipo de tratamento gostaríamos de receber dos outros. Joggernauts é só um jogo de plataforma com elementos de games de ritmo, mas  também é sobre como cooperar e viver melhor em comunidade. E aprender mais sobre isso nunca é demais, não é mesmo?

Prós

  • Visual carismático;
  • Fases desafiadoras;
  • Multiplayer divertido.

Contras

  • Jogo curto e pouco fator de replay.
Joggernauts - Switch - Nota: 8.5
 Análise produzida com cópia digital cedida pela Graffiti Games

Pesquisador nas áreas de estética e cibercultura com Mestrado em Cultura e Sociedade (UFMA) e Doutorado em Comunicação (UnB). Além de escrever sobre jogos, produz o Podcast Ficções e tem um blog sobre literatura, filosofia e cotidiano.
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