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Análise: GRIS (Switch): uma singela jornada que mostra que é preciso seguir em frente

Com um estilo visual aquarelista, jogo transmite os sentimentos de encarar a dor da perda com puzzles simples e acessíveis.



Você certamente já deve ter lido ou ouvido que a vida é feita de ganhos e perdas. Mas perder algo ou alguém tem um impacto muito maior. Perdemos o chão, sentimos um vazio que dificilmente é preenchido com o tempo. Disponível na eShop do Nintendo Switch e desenvolvido pelo Nomada Studio, GRIS é um jogo que retrata a forma de encarar o mundo e lidar com a dor da perda.

“A vida continua e se entregar é uma bobagem”

Gris é uma garota com um canto delicado, entretanto, após perder sua voz, ela fica abalada. A sua insegurança se reflete no mundo ao seu redor, que se desmorona. Nos momentos iniciais, o jogo nos apresenta uma protagonista perdida e sozinha. Debilitada, ela mal consegue caminhar, mas, conforme vai ganhando forças, Gris se levanta e segue em frente. Inicialmente o mundo do jogo é monocromático, sem vida: ventos fortes sopram, tentando impedi-la de avançar, e a derrubam. Mas ela demonstra persistência, se levanta, decide encarar seus medos e os obstáculos.



Um dos principais destaques de GRIS é o seu estilo gráfico. Inspirado em aquarela, os cenários do título são pinturas vivas, é um verdadeiro deleite visual progredir pelo jogo e acompanhar os ambientes com traços simples e cores que parecem dissolvidas em água. A trilha sonora singela conduz muito a proposta serena do game e está sempre relacionada com o trecho em que Gris está. Quando ela desliza montanha abaixo, a música é executada rapidamente, enquanto que em passagens submersas o som fica comprimido.

A jornada de Gris começa em um deserto e somos introduzidos a algumas mecânicas como pular e coletar pequenas orbes brancas. Essas são essenciais para criar caminhos que fazem a protagonista avançar. De certa forma, é uma analogia que representa lições de vida, pois não se pode ignorar o passado e esquecer as memórias para seguir em frente.


Caso do vestido

A manifestação dos sentimentos de Gris é retratada através de seu vestido, é nele que o jogo constrói o foco de sua jogabilidade. A protagonista ganha novas habilidades para explorar o mundo de diferentes maneiras como, por exemplo, fazer o seu vestido se transformar em um cubo para quebrar rachaduras no chão, mas também é útil para impedir que seja levada pela ventania. Ela tem que ser forte e resistir para continuar avançando. O vestido também permite a Gris realizar um pulo duplo, caindo lentamente ao final do segundo, se disparar para o alto ao se aproximar de pequenos pássaros vermelhos e nadar rapidamente.

Uma característica interessante de GRIS é o fato de não haver abismos ou inimigos. De fato, há a presença de algumas criaturas que tentam atacá-la em momentos específicos, mas esse é um game que não possui telas de Game Over. Errou um salto ou a forma de solucionar um puzzle? Basta realizar outra tentativa, sem qualquer punição. GRIS é bastante acessível e, mesmo sem explicações ou indicações, os enigmas são fáceis de compreender. Até quando eles ficam mais elaborados, como com a presença da inversão de gravidade e trechos aquáticos, o jogador consegue entender o que deve fazer.


Ao final de cada cenário, Gris recupera uma cor diferente. São um verdadeiro espetáculo as cenas em que a nova cor se espalha pelo ambiente e libera um novo caminho. Por ser bastante linear, o jogador não tem preocupações de ficar preso em algum canto. Os únicos momentos em que GRIS permite uma liberdade ao jogador é durante a procura pelas orbes brancas, é possível coletá-las em qualquer ordem, mas, obrigatoriamente, é preciso reuni-las em um local específico para poder avançar.

Uma obra-prima imperfeita

A linearidade de GRIS evidencia uma de suas pequenas imperfeições. Apesar de ser um jogo razoavelmente curto, podendo ser finalizado em aproximadamente quatro horas, há muitos trechos vazios. É muito bonito atravessar os cenários e observar os traços aquarelistas, mas não há muito o que fazer. Possivelmente se GRIS fosse um jogo mais compacto ou com mais colecionáveis espalhados pelos cenários, justificaria mais a exploração.


E mesmo após terminar a jornada, GRIS não oferece motivos para ser jogado novamente. Não há adições aos cenários, o máximo que o jogador pode fazer é tentar encontrar as orbes que ficaram para trás. É possível até revisitar os capítulos já jogados após finalizá-lo, mas a ausência de novidades não traz incentivos para isso.

Sem nenhuma linha de diálogo, GRIS transmite muitos sentimentos. Não é um jogo para quem quer grandes desafios, é para aqueles que buscam uma jornada evocativa e serena. GRIS mostra que é possível superar medos e os desafios em nosso caminho e seguir sempre em frente.




Prós

  • Belíssimo estilo visual inspirado em aquarela;
  • Puzzles e jogabilidade bastante acessíveis;
  • Trilha sonora serena acompanha bem a proposta do game.

Contras

  • Longos trechos vazios poderiam ser melhor aproveitados;
  • Ausência de incentivo para replay;
GRIS — Switch/PC— Nota: 8.5
Versão utilizada para análise:Switch
Revisão: Vinícius Rutes
Análise produzida com cópia digital cedida pela Devolver Digital


Desde que aprendeu a jogar videogames com Yoshi's Island e Donkey Kong Country 2, sempre é visto com um controle ou portátil da Nintendo na mão. Descobriu o amor por The Legend of Zelda com Ocarina of Time e sempre está querendo mais Zeldas. Gosta de escrever notícias, análises e bobagens aqui enquanto não está sonhando com um novo Silent Hill.
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