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Análise: Ape Out (Switch) proporciona diversão visceral e instantânea

Recheada de estímulos visuais e sonoros estonteantes, a fuga frenética de um gorila é a deixa para um dos jogos mais brutalmente divertidos do Nintendo Switch.

Pense na jogabilidade precisa, na violência e na ação frenética de Hotline Miami. Agora esqueça toda aquela narrativa non-sense, com assassinos usando máscaras de animais, e adicione uma temática mais obtusa e simples, como um gorila querendo escapar de seus captores a todo o custo. Agora tempere essa mistura com estágios criados de forma procedural. Isso é Ape Out: violência brutal, ação frenética, controles perfeitos e fases sempre diferentes. E para melhorar, o visual é estimulante e a trilha sonora tem vida própria.

Um sonho de liberdade

Absolutamente tudo em Ape Out é minimalista. Sem tutoriais, o game coloca o jogador no controle de um gorila preso em uma gaiola, com alguns humanos armados do lado de fora. Ao apertar os botões dos Joy-Con, descobrimos que com R o símio esmurra o que estiver em sua frente (no caso, a porta da jaula), e com L seguramos os inimigos e puxamos portas trancadas.

A estrutura do jogo é apresentada como se fossem discos LP de jazz: cada um dos cenários é um álbum, contando com quatro fases (faixas) no lado A e mais quatro no lado B. No total, são quatro discos e mais um "álbum single" que é uma fase bônus dificílima disponível depois de completar todos os estágios do game.

Em todas as fases a missão é simples: você quer escapar, e para isso precisa sair do ponto A e chegar ao ponto B. A clareza da temática está em consoante com a simplicidade das mecânicas apresentadas, bastando ao jogador deslizar pelos corredores apertados dos cenários, usando a combinação dos dois botões para chegar são e salvo do outro lado do mapa.

Explosão visual e sonora

Não tenho vergonha em admitir: esmurrar os inimigos e ver o sangue espirrando por todos os lados é estranhamente divertido em Ape Out. É uma violência constrangedoramente satisfatória e difícil de explicar. Para tirar um pouco do peso da minha consciência, o visual do game do designer Gabe Cuzzillo é altamente estilizado, com foco nos contrastes e apostando em silhuetas e em cores borradas.

De uma visão sempre superior, vemos os golpes brutais do gorila fazerem os inimigos explodirem nas paredes. Mas mais do que isso, a violência cria música. A trilha sonora do game (assim como os estágios) é gerada de forma procedural durante a jogatina. Os criadores do título chamam esse processo de "reactive music system", o que em português significa sistema de música reativa.

Todo o jogo é ritmado por sons de percussão em um ritmo de jazz. E é o jogador quem conduz esse ritmo com as ações do gorila, fazendo os sons da bateria estourarem em tempo real. Essa trilha sonora reativa é o batimento cardíaco do título: se você acelerar, o som acelera junto; se você preferir ir com mais calma, a batida também se adapta. O resultado é uma experiência extremamente potente, coordenada pelo próprio jogador.

Gameplay instintivo

Como no jazz que o acompanha, Ape Out é um título de reação e não de estratégia. Cada novo início de partida reinventa o estágio, redistribuindo a estrutura dos labirínticos cenários e seus inimigos, obrigando o jogador a se adaptar. É uma jogabilidade sem as amarras dos designs fechados, o que combina completamente com o clima primitivo de uma fuga de um gorila violento.

A cada novo "álbum", novos elementos são adicionados à mistura, o que aumenta gradativamente a dificuldade dos estágios. Inicialmente, somos confrontados por soldados armados com simples pistolas ou espingardas. Na sequência, outros desafios mais cabeludos começam a surgir, como inimigos mais resistentes, granadeiros que explodem facilmente e são um risco constante, soldados com metralhadoras, lança-chamas, etc.

E isso tudo é gerado a cada nova tentativa, o que é a melhor e a pior coisa de Ape Out. Por um lado, a aleatoriedade dos reinícios de partida deixa o jogo sempre fresco e interessante. Por outro, alguns estágios mais difíceis ficam impossíveis por conta do "azar" na geração dos inimigos. No final, um pouco de tentativa e erro se torna inevitável.

Ao falhar, a vontade de tentar novamente é, infelizmente, atrasada pelo processamento lento no Switch, o que gera loadings bem demorados que quebram consideravelmente o ritmo das partidas. Apesar disso, a simplicidade dos comandos deixa tudo muito mais fácil e viciante em Ape Out. É diversão instantânea, logo nos primeiros segundos de jogatina até o último instante.

Uma experiência impactante

Ape Out é um game breve de ação e violência estilizada. Por um lado, terminei a jornada do gorilão em pouco menos de duas horas — e queria mais, muito mais. Por outro, foi uma experiência enxuta e catártica, com um final absolutamente sensacional que me fez erguer os braços em êxtase pela conquista. O jogo me proporcionou uma mistura de sentimentos que poucas obras conseguem entregar. Do gameplay instintivo à trilha sonora reativa, tudo favorece para fazer deste um título imperdível no Switch.

Prós

  • Título é muito estiloso visual e sonoramente;
  • Gameplay preciso e instintivo;
  • A simplicidade do sistema de jogo proporciona diversão instantânea.

Contras

  • O processo de tentativa e erro inerente ao sistema procedural é atrapalhado pelas longas telas de loading da versão Switch;
  • É uma experiência bem curta.
Ape Out — Switch/PC — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Luigi Santana 
Análise produzida com cópia digital cedida pela Devolver Digital

Comunicador e colecionador. Já foi Sega kid e Nintendo kid, agora é retro "kid". Está no Twitter em @carloscirne e faz vídeos no YouTube no canal CirneStuff.
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