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Análise: Final Fantasy VII — O RPG que marcou uma geração chega ao Switch

22 anos depois, o clássico do PSX finalmente é lançado para um console da Nintendo.



Após uma longa história de sucesso junto à Nintendo, o lançamento de Final Fantasy VII no Playstation original em 1997 marcou o fim de uma duradoura parceria que havia começado mais de dez anos antes no Famicom (mais conhecido por aqui como 'Nintendinho'). A tradicionalmente ambiciosa desenvolvedora, Square (atual Square Enix), querendo implementar cada vez mais elementos visuais em seus jogos (cenários pré-renderizados, combate totalmente em 3D…) e buscando construir uma narrativa fortemente auxiliada por cut-scenes em CGI, cortou laços com a BIG N após descobrir que a empresa não iria adotar o novo formato da indústria, o disco óptico, no seu mais novo console, o Nintendo 64. A decisão da Nintendo de continuar utilizando cartuchos em vez do cada vez mais popular CD-ROM — que permitia a inclusão de um número de dados consideravelmente maior, — teve um grande custo para a empresa. Final Fantasy VII foi o primeiro jogo da franquia a não ser lançado em um console da companhia e foi um sucesso absoluto com o público, com a crítica, e também de vendas, tornando-se o jogo mais vendido de todos os tempos para o Playstation original e influenciando toda uma geração de jogadores. 

Aventuras em um mundo deprimente

Colocando um pouco de lado o mundo fantasioso e colorido do lendário herói medieval, típico dos outros jogos da série, Final Fantasy VII certamente inovou na hora de construir o seu mundo. Aqui, não só a ideia de um local mágico, mas a própria força vital básica do planeta do jogo foi totalmente corrompida pela amedrontadora força da ganância humana — o que faz com que o tema central da trama continue bastante atual e relevante até os dias de hoje. Toda a parte inicial do jogo é focada no grupo ecoterrorista AVALANCHE e suas tentativas para derrubar uma grande organização privada conhecida como SHINRA, que possui total controle da energia mágica 'Mako' e, basicamente, força a maior parte da população a viver em favelas com péssimas condições e infraestrutura.

Cloud, um ex-agente do grupo SOLDIER, que trabalhava para própria SHINRA, agora atua como um mercenário e, meio que relutantemente, vem ajudando seus amigos Barret e Tifa (membros do grupo terrorista) em algumas missões, sempre focado apenas em receber o seu devido pagamento em dia. As coisas mudam quando ele conhece a jovem vendedora de flores Aerith e a trama começa a se desenrolar — o que eventualmente obriga nosso relutante protagonista a tomar uma posição e desafiar o status quo desse mundo tão sombrio e difícil de se viver. 



Logo na primeira área do jogo, Midgar, essa atmosfera bastante deprimente já fica bem clara e presente. Todos os personagens centrais passam por dificuldades e/ou possuem grandes traumas, que cada um carrega como uma cicatriz que nunca desaparece. Os ambientes são escuros, sujos e mal-cuidados e até mesmo a fantástica trilha sonora composta pela verdadeira lenda da indústria, Nobuo Uematsu, passa certo desespero e tristeza a cada nota. Final Fantasy VII é definitivamente um jogo denso e que se leva a sério na maioria das vezes, mas que também não deixa de fazer uma piadinha quando vê uma oportunidade — Cloud tem que entrar em uma banheira com dez homens bombados de sunga logo nas primeiras missões do jogo, por exemplo, e, sim, é só bem estranho.

Quanto ao combate e às partes mais técnicas do gameplay, o sétimo Final Fantasy até que simplifica um pouco as coisas. Em vez do tradicional sistema de jobs (ou trabalhos, como black mage, white mage… etc) tudo se resume ao uso de materias (as magias equipáveis) e aos limit breaks (os 'especiais'). Cada materia corresponde à uma magia (fire, bolt, ice, cure, entre várias outras) e pode ser equipada tanto na arma quanto no item de defesa de um personagem, além de poder ser 'combinada' com outras para criar novos efeitos (como o de atacar vários inimigos ao mesmo tempo, por exemplo). Esses itens equipáveis ficam mais fortes e ganham mais níveis de forma independente, mesmo se você trocá-los entre os personagens (o que até acontece com frequência). 



Já os limits funcionam assim: duas barrinhas representam o combate por turnos de Final Fantasy VII, o limit e o time. A primeira enche à medida que a batalha ocorre e os inimigos atacam, resultando em um ataque especial que pode causar dano ou auxiliar o seu time de outras formas; e a segunda representa o tempo que é preciso esperar para realizar a próxima ação (usar um ataque normal, magia ou um item, por exemplo). O padrão é que todo combate seja ativo — os inimigos não esperam você atacar — o que pode ser bastante frenético às vezes, no entanto, não se preocupe, essa opção pode ser desligada dentro do menu do jogo para uma experiência um pouco mais tranquila.

Algo que eu considero bem legal no game, principalmente para um título de 1997, é como a Square não teve medo de constantemente incluir pequenas opções alternativas, modos de jogo e mini-games ao longo do gameplay. Coisas que vão desde pequenas opções de diálogo que influenciam diretamente sua relação com os outros personagens — e constroem certa personalidade quase 'customizável' para o Cloud —, até minigames em veículos e flashbacks interativos. Final Fantasy VII, mesmo com suas limitações, sempre dá um jeito de surpreender de alguma forma, o que evidencia todo o carinho e a atenção presentes na sua criação e desenvolvimento. 


22 anos depois, mais um port

Agora vamos ao que interessa: afinal, como é jogar Final Fantasy VII no Nintendo Switch em 2019? Sinceramente, ouso dizer que talvez essa seja a melhor forma de apreciar o clássico RPG da Square. O jogo já foi relançado diversas vezes desde o lançamento original japonês para o PSX, até mesmo a primeira versão para o público ocidental teve várias revisões em relação à versão nipônica, como a diminuição dos random encounters de inimigos, loading times e a correção de diversos glitches. Ainda assim, o primeiro lançamento ocidental é famoso pela péssima tradução para o inglês, feita por apenas uma pessoa, que possui diversos erros e escolhas estranhas ("This guy are sick", entre outros do mesmo naipe). Então veio a polêmica versão para o PC, que decidiu colocar bocas em todos os personagens e um efeito de piscar que é, no mínimo, assustador, mas se salva pelas infinitas possibilidades habilitadas pelos vários mods produzidos pela comunidade — um cara passou cinco anos fazendo a sua própria tradução do jogo, por exemplo.

O último port produzido foi o do Playstation 4, lançado há três anos, que serviu como base para os lançamentos mais recentes para o Xbox One e o console híbrido da Nintendo. Essa versão conta com as seguintes alterações: backgrounds retrabalhados e com um aspecto de 'borrado', fontes retrabalhadas, shaders atualizados e controle analógico melhorado, além da resolução que atinge até 1080p. Infelizmente, um conhecido problema do port do PS4 ainda não foi corrigido: a música do world map recomeça toda vez que você entra e sai de uma batalha, o que fica bem chato depois de um tempo. 



Na versão do Switch, tirando a resolução que, ao contrário do Playstation 4, definitivamente não chega a 1080p — o que pelo menos não é um problema quando em modo portátil, o melhor jeito de se jogar o jogo — outras alterações muito bem-vindas foram trazidas do PS4. Quase como em um emulador, três botões ativam funções especiais especialmente úteis para quem quer acabar o jogo rápido ou simplesmente jogar pela história sem se preocupar com aquele eterno grind dos RPGs japoneses. Apertando o direcional da esquerda o jogo acelera permanentemente a velocidade em três vezes, o que vem a calhar principalmente para as batalhas, só que também pode atrapalhar um pouco. O "modo 3X" é uma faca de dois gumes: certos momentos da história parecem lentos demais até mesmo quando acelerados, já em certas batalhas mais complicadas, e considerando que os inimigos não esperam você decidir sua ação antes de atacá-lo, essa aceleração também acaba pedindo bem mais da sua atenção e concentração na batalha, deixando tudo mais difícil. Uma pena que a Square Enix não adicionou um meio termo, algo como um "modo de velocidade 2X".

Ao apertar o análogico da direita, é ativado um modo meio ''trapaça'' que recupera constantemente o seu HP, MP e até mesmo a barra de limit. Pois é, deixe essa opção ligada durante todo o jogo para se sentir um verdadeiro deus do mundo de Final Fantasy — o que pode até ser bastante útil para alguns, mas, em geral, é só meio sem graça. Por último, apertando os dois análogicos ao mesmo tempo você pode desligar os random encounters, ou melhor dizendo, as batalhas aleatórias com inimigos no mapa, uma das coisas mais chatas e irritantes em qualquer RPG japonês, mas que, de certa forma, também é parte integral da experiência. Desligue para sempre se quiser transformar o jogo em um visual novel e só curtir a história, ou simplesmente quando você se quiser explorar alguma área com mais calma, sem se preocupar em ser incomodado por monstros ou até morrer de repente e perder seu progresso. 



Por fim, saiba que a experiência ainda é, basicamente, a mesma de 1997. Toda parte gráfica do jogo envelheceu terrivelmente, o que faz com que Final Fantasy VII seja um jogo muito feio visualmente em 2019. Isso é algo que acontece com a maioria dos títulos de PSX hoje em dia, graças ao início da era poligonal 'pseudo-3D' dos anos 90. Os lindos jogos feitos em pixel art da geração 16-bit, inclusive da própria Square, como Chrono Trigger ou Final Fantasy VI (Final Fantasy III no ocidente), continuam charmosos e super agradáveis de se olhar, mesmo sendo títulos ainda mais antigos. Final Fantasy VII e seus modelos poligonais estilo 'popeye' (com aqueles braços e pernas gordas desproporcionais), cenários pré-renderizados 'sem vida' e cut-scenes que beiram ao ridículo pelo seu ritmo estranho e falta de emoção, sai perdendo até para os seus sucessores presentes no mesmo console — Final Fantasy VIII e IX possuem um apresentação visual infinitamente melhor e envelheceram com muito mais classe do que o sétimo jogo.

Em geral, mecanicamente muita coisa também deixa a desejar e o título parece lento (e esquisito) demais em vários momentos. Imagino que poucos novos jogadores terão paciência de encarar Final Fantasy VII hoje em dia, no entanto, a experiência do Switch provavelmente é a melhor pedida para os corajosos que decidirem ir em frente com essa aventura. O modo portátil, pela sua natureza mais simples e prática, acaba redimindo um pouco da estranheza do título e até torna o processo consideravelmente confortável em alguns momentos. E, é claro, para os nostálgicos de plantão que cresceram com esse verdadeiro tesouro da história dos videogames, a diversão — e a depressão, afinal, isso é Final Fantasy VII — é garantida. Prepare o coração ao rever Aerith inocentemente vendendo flores ou depois de ouvir aquele vocal de "One Winged Angel" que não dá pra esquecer.


Prós

  • Um clássico absoluto;
  • História interessante que rende várias horas de jogo;
  • Trilha sonora fantástica;
  • Ótimo para o modo portátil.

Contras

  • Os gráficos definitivamente não envelheceram bem;
  • O jogo pode ser bem lento (até com a velocidade aumentada);
  • Sem suporte a 1080p.
Final Fantasy VII - Switch/PS4/XBO - Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: André Carvalho
Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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