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Análise: Moero Chronicle Hyper (Switch): dungeons, garotas-monstro e erotismo

Com bastante humor e um gameplay sólido, o dungeon RPG se mostra uma boa pedida dentre os títulos focados em fanservice disponíveis no mercado.

Desenvolvido pela Compile Heart originalmente para PS Vita, Moero Chronicle é o segundo jogo da série Genkai Tokki (que também inclui Monster Monpiece). Ela consiste em RPGs focados em fanservice com garotas-monstro (um termo bastante genérico que inclui, principalmente, criaturas mitológicas de várias origens).

Em Moero Chronicle Hyper, o jogador encarna o papel do jovem Io, um rapaz cujos níveis de tensão sexual são tão elevados que ele não consegue conversar com garotas, exceto sua amiga de infância Lilia, com medo de ser tratado como um pervertido. No entanto, o jovem terá que enfrentar esse medo pois foi escolhido pelo chefe de Sekriend, a vila onde mora, para ir a Monstopia encontrar uma forma de parar os ataques das garotas-monstro que ameaçam a harmonia do mundo.

Dungeons & Perversões


Em se tratando de um dungeon RPG (estilo Wizardry, Etrian Odyssey), Monstopia é claramente dividida em áreas que o jogador precisa percorrer em primeira pessoa. Esses locais são recheados de encontros aleatórios com H Monsters, criaturas curiosas que representam várias coisas relacionadas a sexo e perversões sexuais. Eles são os inimigos mais comuns, mas também é possível enfrentar várias garotas-monstro, que podem ser vistas no mapa por um ícone de alma.

Ambos os tipos de inimigo podem se tornar aliados. Os H Monsters funcionam como uma espécie de pet equipável para as personagens da equipe, oferecendo habilidades especiais como aumentos de atributos, ataques extras em situações específicas, redução de dano, etc. Já as garotas-monstro se tornam membros de respeito que adicionam variedade estratégica ao time. Afinal, cada personagem tem combinações diferentes de status, habilidades e afinidades elementais.

Mas para recrutá-las, há uma etapa além de derrotá-las em batalha. Para curá-las da misteriosa marca chamada de Dark History, o jogador abre um minigame de toque em que é necessário, dentro de um limite de tempo, encontrar os pontos de sensibilidade do corpo das personagens e realizar um movimento específico (tocar, esfregar ou esticar). Apesar de muitas vezes isso funcionar bem, em vários momentos tive problemas na execução dos movimentos mais específicos. Mesmo escolhendo o local correto, era como se alternasse entre funcionar e não funcionar.

As batalhas especificamente são baseadas em turnos e a ordem é indicada no canto superior direito da tela, sendo possível utilizar esse elemento no planejamento dos movimentos dos personagens. A equipe contém até 5 garotas-monstro e o protagonista Io. Enquanto elas são as responsáveis pelos ataques (físicos e mágicos), o jovem possui uma mecânica bastante específica de guardar “desejo”. Quanto mais tensão o personagem tem estocada, mais forte é o buff que ele pode usar para fortalecer o ataque de suas aliadas.

No entanto, existe o risco de que a estocagem exploda, deixando-o incapaz de fazer qualquer coisa por um bom tempo. Além disso, é apenas no turno dele que é possível usar itens e escapar das batalhas. Essas especificidades fazem com que o jogador precise tomar bastante cuidado quando enfrenta adversários poderosos.

Um RPG que não se leva a sério


Com um tom muito forte de humor, Moero Chronicle claramente não leva a sério sua premissa. Os personagens são extremamente exagerados, os H Monsters são claras piadas de cunho sexual e mesmo momentos de maior seriedade do roteiro são invariavelmente desviadas para o humor. Esse tom cômico é fundamental para o que o jogo representa. Ele sabe muito bem que o seu conceito de sexualização é tosco e faz piada consigo mesmo ao invés de se esconder por trás de uma história mais séria.

Com isso, sente-se livre para brincar com desejos sexuais e fazer com que absolutamente todos os seus elementos girem em torno disso. Além do que já foi mencionado neste texto anteriormente, é importante destacar a forma como as classes das personagens funcionam. Além da sua forma original, cada garota-monstro tem a possibilidade de assumir três outras classes (que alteram os atributos e as habilidades dela, além da aparência). Para liberá-las, é necessário explorar as dungeons, lutar contra inimigos e vasculhar tesouros, tudo isso em busca das calcinhas de classe.


Se por um lado a sexualização excessiva das personagens é algo potencialmente incômodo, é interessante notar que as garotas-monstro também se destacam por suas personalidades. Cada uma entra na equipe por razões diferentes, apresenta uma visão de mundo distinta e suas personalidades exageradas são também bastante interessantes.

Infelizmente isso é um pouco minimizado na tradução, que faz algumas escolhas desagradáveis que enfraquecem as nuances de relacionamento entre as elas e o protagonista. Acompanhando pelo áudio japonês, é possível notar por exemplo que há duas garotas que tratam Io com os honoríficos “senpai” e “aniki” (respectivamente, veterano e “irmão”, um termo bastante utilizado para indicar um líder delinquente).

O uso desses termos indica uma certa hierarquia, mas ainda há mais horizontalidade se comparados com a versão traduzida em inglês em que ambas chamam o protagonista de “mestre”. Essa relação de poder mais acentuada aumenta a fantasia erótica envolvendo as personagens, mas não representa o real valor atribuído à relação entre eles. Há também uma grande frequência de erros de digitação, o que infelizmente acaba sendo bastante incômodo.

Um bom RPG sobre erotismo e desejo



Com suas altas doses de humor e um bom trabalho de adaptação de seus elementos para o âmbito dos desejos eróticos, Moero Chronicle Hyper é um RPG de alta qualidade dentre aqueles focados em fanservice. Ele não modifica nada substancialmente do funcionamento deste estilo de jogo, mas apresenta um gameplay sólido com boa variedade de elementos estratégicos.

Em termos da versão de Switch, especificamente, foram adicionadas: a capacidade de utilizar o mapa para deslocar o personagem automaticamente pela dungeon até locais já explorados e a presença de vibrações do HD Rumble durante o minigame de toque. Enquanto a primeira pode ser bastante útil para explorar novamente os ambientes, a segunda pouco acrescenta à experiência. Mas não há nenhuma outra mudança significativa da versão de PC e PS Vita para Moero Chronicle Hyper.

Prós

  • História recheada de humor;
  • Inimigos e mecânicas de jogo bem pensadas em torno do tema de desejos sexuais;
  • Gameplay possui boa variedade estratégica;
  • Personagens com personalidades bem definidas e bastante diferentes umas das outras.

Contras

  • Tradução tem muitos erros e escolhas ruins de termos;
  • Não apresenta nenhuma mudança significativa do funcionamento de um dungeon RPG;
  • Problemas no touch fazem o recrutamento de algumas personagens mais complicado do que deveria.
Moero Chronicle Hyper - Switch - Nota: 7.5
Revisão: André Carvalho
Análise produzida com cópia digital cedida pela Idea Factory International

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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