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Análise: Crystal Crisis (Switch) é uma empolgante combinação de puzzle e luta

O crossover da Nicalis usa regras simples e atmosfera divertida para criar um ótimo puzzle competitivo.


Em Crystal Crisis, personagens da produtora indie Nicalis (de Cave Story e Binding of Isaac) e alguns convidados, como Astro Boy, se enfrentam em empolgante batalhas de puzzle. Inspirado no clássico de arcades Super Puzzle Fighter II Turbo, o título apresenta conceito principal simples na forma de quebra-cabeças competitivo, no entanto ele se revela muito mais complexo do que aparenta com a presença de várias nuances interessantes. O resultado é uma experiência ágil e intensa que consegue trazer características tanto de jogos de luta quanto de puzzle.

Frenéticas batalhas de puzzle

Crystal Crisis funciona como um puzzle competitivo básico, ou seja o objetivo é juntar blocos coloridos e evitar que eles cheguem no topo da tela. Cada peça é composta de dois blocos coloridos e para eliminá-los da tela precisamos usar cristais da mesma cor. O curioso que as partidas aqui são sempre “lutas” e eliminar blocos funciona como ataque: as peças destruídas vão para a tela do oponente, bagunçando e atrapalhando o jogo do outro. Com um pouco de planejamento e estratégia, é possível montar combos, que multiplicam a quantidade de blocos enviados para o oponente.

As mecânicas centrais são idênticas às de Super Puzzle Fighter II Turbo, no entanto Crystal Crisis tem algumas características próprias. Além de contar com um comando para derrubar as peças de uma vez, como em outros puzzles competitivos modernos, é possível “dividir” a peça ao posicioná-la horizontalmente nos cantos da área de jogo, o que abre mais opções de estratégicas. O recurso mais importante é o Burst, técnicas especiais de ataque e defesa que podem ser ativadas ao consumir uma barra. Cada personagem conta com Bursts distintos e eles são capazes de mudar completamente o rumo da batalha. Todos esses recursos podem ser desligados para uma experiência mais clássica.


É impressionante como Crystal Crisis consegue trazer para um puzzle a sensação intensa dos jogos de luta. É importante encaixar as peças com cuidado, de preferência montando combos elaborados, no entanto a agilidade também é essencial: fazer movimentos rápidos é imprescindível para conseguir fazer pressão no oponente. Também é possível evitar ataques ao eliminar blocos no momento certo, o que adiciona mais uma camada de complexidade. O resultado são partidas aceleradas, com direito a várias reviravoltas e movimentos impressionantes.

Os personagens não são somente uma representação visual na tela, pelo contrário. Cada um dos lutadores conta com um padrão de blocos distinto ao atacar, o que permite montar estratégias para se recuperar de investidas. Além disso, os ataques especiais dos heróis são capazes de mudar completamente o rumo de uma partida ao adicionar uma camada estratégica tanto na ofensiva quanto na defesa, porém não são muito balanceados — alguns personagens têm ataques muito mais poderosos que outros. A habilidade defensiva de Quote, por exemplo, lança um míssil que destrói grande quantidade de blocos e é excelente para limpar uma tela problemática. Já a habilidade defensiva de Astro Boy permite reorganizar livremente alguns blocos, sua eficiência é bem limitada, pois depende muito do que já está na tela.


A combinação de Bursts e padrões de ataque oferece diversidade, fazendo com que cada lutador seja um pouco diferente de jogar. Mesmo assim, senti falta de uma maneira clara de ver a descrição dos especiais dos personagens: essa informação só pode ser vista no menu de pausa durante uma partida, preferia que estivesse explícito na tela de seleção de lutadores ou de alguma outra maneira. Além disso, alguns dos efeitos não têm explicação clara e exigem experimentação. Por sorte são detalhes que podem ser contornados ao testar os heróis.

Junção de universos e muitas maneiras de jogar

Crystal Crisis oferece muitos modos de jogo. O principal deles é o História, que explora os motivos do crossover. Um dia, um poderoso artefato mágico chamado de Red Crystal surgiu e distorceu a realidade: dimensões se juntaram e muitos heróis acabaram em lugares estranhos. Nessa confusão surge um grupo nefasto que quer usar o poder do cristal para seus objetivos, e os heróis vão fazer de tudo para impedi-los.

Na prática, a progressão do modo história é bem simples e consiste em batalhas intercaladas com alguns diálogos. Em algumas lutas podemos escolher que personagem controlar, o que cria ramificações na progressão. A trama em si é extremamente básica e mal desenvolvida, e não explora as personalidades dos heróis ou suas motivações. No fim, é só um pano de fundo para explicar como Astro Boy (do anime e mangá de mesmo nome), Quote (de Cave Story), Solange (de Code of Princess) e mais foram parar no mesmo universo.


Fora o modo história, Crystal Crisis tem vários outros modos para um único jogador na sessão Arcade. No Standard o objetivo é chegar no final de uma série de lutas de dois rounds. Já no Survival enfrentamos inimigos em sequência e tentamos não morrer, sendo que o estado da área de jogo se mantém entre os embates. No Tag Battle escolhemos dois personagens e podemos alternar entre eles durante as lutas. O Inline altera as regras e as peças somem quando três ou mais estão alinhadas. Já no Memory a cor das peças desaparece e precisamos memorizar as configurações. Gostei bastante da variedade das modalidades, pois elas exploram as mecânicas de maneiras distintas.

Crystal Crisis oferece modalidades multiplayer para até quatro jogadores, tanto para partidas locais ou pela internet. No modo local é possível customizar as regras e detalhes das lutas, com direito a usar mecânicas como duplas ou Inline. Há também a opção de montar torneios, o que é uma boa opção para montar chaves com vários participantes. Já o Online oferece competições casuais e ranqueadas, só é um pouco difícil encontrar partidas.


Muita cor e estilo, mas poucos extras

Um dos aspectos de destaque do crossover curioso da Nicalis é o visual, que conta com representações caricatas dos personagens no estilo chibi, escolha essa que faz com que heróis tão diferentes não destoem entre si. No combate, em especial, é muito legal ver os personagens lutando com movimentos estilosos e muitos efeitos visuais — por mais que seja algo difícil de observar a ação na maior parte do tempo, afinal estamos concentrados tentando montar combos. Representações tridimensionais dos mundos originais dos lutadores e remixes das músicas dos jogos complementam a ambientação do crossover.

Os gráficos 3D são bem trabalhados e dá pra ver o cuidado depreendido nos modelos dos heróis, principalmente nas cenas antes das batalhas. Um detalhe legal é a área de jogo, que é exibida em ângulo e traz profundidade às arenas. O preço dessa escolha é um campo de visão não tão preciso, mas felizmente essa representação pode ser alterada no menu. Um ponto que incomodou bastante foi o tempo de carregamento: o jogo leva por volta de 20 segundos para carregar uma batalha. Parece ser um problema de otimização, afinal o jogo não é visualmente complexo, espero que isso seja melhorado no futuro.


Fora isso, Crystal Crisis tem alguns poucos extras. O primeiro deles é um sistema interno de conquistas na forma de uma simples lista de objetivos. Já na galeria é possível ver várias ilustrações e artes promocionais do jogo. Senti falta de uma opção com informações sobre os personagens, afinal muitos deles são de origem obscura, como Johnny Turbo (mascote do console Turbo Duo) e Thompson (que veio de um jogo chamado The Tempura of the Dead).

Um crossover de respeito

Crystal Crisis consegue juntar a ação frenética dos jogos de luta e as mecânicas estratégicas de puzzles em partidas divertidas e intensas. As mecânicas básicas são simples de entender, e há também muitas nuances e ferramentas avançadas, o que permite agradar diferentes tipos de jogadores. Além disso, há muito o que ver em uma grande variedade de modos e é divertido ver tantos personagens diferentes em um mesmo universo. De problemas, temos alguns carregamentos longos e alguns aspectos desbalanceados, mas que, felizmente, não chegam a atrapalhar muito. No fim, Crystal Crisis é essencial para aqueles que gostam de puzzles competitivos.

Prós

  • Mecânicas de jogo simples de entender e com muitas camadas de estratégia;
  • Grande variedade de modos que exploram os conceitos de maneiras diferentes;
  • Visual e ambientação carismáticos.

Contras

  • Poderes de personagens desbalanceados, e alguns deles têm descrições confusas;
  • Alguns carregamentos são longos demais.
Crystal Crisis — Switch/PS4 — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nicalis

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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