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Análise: Sonic Team Racing (Switch) podia estar no pódio, mas desperdiçou toda a gasolina

O novo jogo de corrida do ouriço azul tem a cooperação entre equipes como o seu principal destaque.



Sonic Team Racing (Switch) é a mais nova aposta da Sega para rivalizar Mario Kart 8 Deluxe (Switch) e Crash Team Racing Nitro Fueled (Multi). Focado na cooperação entre equipes formadas por trios, o jogo do ouriço promete oferecer corridas de kart rápidas e dinâmicas. Tendo em vista a recepção negativa do último jogo do Sonic moderno, será que esse trabalho em equipe vai ser o bastante para capturar a esperança do público no mascote azul?

Correndo pelos amigos


Dotada de quase nenhuma personalidade, a história de Sonic Team Racing é uma mera justificativa para colocar a turma do ouriço azul em um grande campeonato de Kart. Basicamente, tudo começa quando Sonic, Tails e Knuckles são chamados para participar em um Grand Prix intergalático de Karts organizado pelo misterioso guaxinim alienígena, Dodon Pa. A trupe desconfia que esse convite repentino possa ser um plano maligno do Eggman, mas eles acabam aceitando a proposta do mesmo jeito.

No modo campanha, a história é contada antes de cada missão por pequenos diálogos entre os personagens. Todas essas conversas são dubladas em inglês e até conseguem ser divertidas para os fãs mais aficionados pela franquia, porém o conteúdo em si é só um conglomerado de piadinhas e tramas desnecessárias para encher linguiça.

A falta de conteúdo interessante também é um problema que assombra as missões do modo campanha. Além das usuais corridas de times, os objetivos apresentam poucas variedades e as pistas se repetem a todo momento. Até existem minigames divertidos, mas eles acabam enjoando uma hora ou outra. É um downgrade enorme no conteúdo, principalmente se compararmos com a diversidade dos modos extras de Sonic & Sega All-Star Racing Transformed (Multi), o último jogo da série de corrida da Sega.

Comparações com All-Star Racing Transformed são completamente inevitáveis na análise de Team Racing. Para a tristeza dos fãs, a elogiada mecânica de transformação de veículos e pistas no meio das corridas da última iteração foi retirada em Team Racing. No lugar dela, os desenvolvedores colocaram todo o seu foco nas inovadoras corridas em equipe que emprestam o seu nome ao título.



Além da divisão da pontuação final entre os membros da equipe, as corridas em trio funcionam de modo em que os pilotos precisam se ajudar constantemente para alcançar o topo do pódio. Com o Slingshot, o membro que está na frente deixa um rastro luminoso que dá mais velocidade para os pilotos que a seguirem. Graças ao Skimboost, é possível dar um empurrão na velocidade do companheiro ao encostar o seu carro no dele. Também é importante doar itens que você não vai usar para o amigo no meio de uma corrida. Todas essas ações contribuem para encher a barra de “Team Ultimate”, que oferece invencibilidade e um boost insano na velocidade por tempo limitado.

Assim como na maioria das competições da vida real, os jogos “casuais” de Kart costumam se focar inteiramente no desempenho individual de cada corredor. Sonic Team Racing quebra esse padrão de forma corajosa e, surpreendentemente, divertida. A mecânica de equipes oferece uma gama de possibilidades e interações criativas para que os jogadores sempre tenham algo para fazer em momentos “solitários” onde não há nenhum carro à vista. O foco no trabalho em equipe é uma mudança refrescante para um gênero que ficou anos “estagnado” sem muitas inovações relevantes para a jogabilidade.

Reciclagem barata

Como um jogo “cooperativo” que se preze, Sonic Team Racing necessariamente precisa preencher a sua equipe na falta de outros jogadores para completar. Não há nenhum problema nisso. O que atrapalha é a falta de consistência na inteligência artificial dos bots. Você depende muito deles para completar os desafios mais difíceis do modo campanha, mas eles não são nem um pouco confiáveis quando se fala em “resultados”. Portanto, se prepare para terminar em primeiro lugar e ser puxado para baixo da classificação pelos seus companheiros lanterninhas.

Os itens de Sonic Team Racing não fogem muito do padrão estabelecido pela franquia Mario Kart. Apesar de estarem “disfarçados” como Wisps, poderes similares aos das Bananas, Bullets Bills, Bloopers, Cogumelos, Cascos de tartaruga e etc. ainda são recorrentes nas competições do ouriço azul. Entre os 14 diferentes tipos de Wisps, existem alguns poucos poderes inéditos, porém nenhum deles é interessante a ponto de se destacar ou chamar a atenção.

Outro quesito desanimador do jogo é a falta de variedade na seleção de pistas e no próprio conteúdo delas em si. No total de 21 circuitos, 10 são reciclados dos jogos anteriores da franquia “All-Stars Racing”. Esse número é uma grande vergonha, principalmente se você considerar que há cerca de 20 anos atrás Mario Kart 64 (N64) e Crash Team Racing (PS1) já ofereciam mais pistas originais com temáticas únicas e criativas do que esse jogo.

Os cenários das pistas são competentes, mas todos acabam se repetindo inúmeras vezes e enjoando rapidamente. Muitos dos lugares presentes não são realmente icônicos para a franquia do Sonic. No lugar de 3 pistas de gelo semelhantes, poderiam existir, por exemplo, pelo menos uma Green Hill Zone para diversificar um pouco as temáticas. O limitado número de circuitos disponíveis só contribui ainda mais para o enjoo de quem joga.



A customização dos veículos não afeta em quase nada a jogabilidade. Uma mudança visual é sempre bem-vinda, mas para um jogo com o elenco de personagens tão pequeno quanto Sonic Team Racing, a adição de mais diferenças nos atributos dos karts é essencial para oferecer possibilidades únicas e criativas ao jogador. Sem falar que todas as peças são liberadas por meio da compra de “Loot Boxes” com o dinheiro interno do jogo. Não era muito mais fácil disponibilizar um shopping simples para que o jogador possa escolher o que ele quer comprar?

O cúmulo dessa falta de vontade em oferecer conteúdo é a ausência da abertura do jogo na versão de Switch. De acordo com a Sega, isso ocorreu porque a animação não cabe no cartucho do console. Será que eles não podiam simplesmente colocar ela em uma pequena atualização? Apesar de ser bonita, a abertura não é realmente necessária para curtir o jogo, porém continua sendo uma enorme falta de descaso da empresa em não disponibilizar ela para os donos do Switch.

Cooperação, mas não com o outro lado do mundo

Disputando lado a lado com a mecânica de equipes, a trilha sonora de Sonic Team Racing talvez seja a maior qualidade de todo o jogo. Cada uma das pistas conta com um remix marcante de alguma música clássica da franquia do ouriço. As faixas são empolgantes e combinam com o clima frenético das corridas que nem arroz com feijão. O título também marca a volta da lendária banda Crush 40 em um jogo do Sonic. A música de maior destaque fica justamente para a única composição deles: “Green Light Ride”.

Parando para pensar, realmente parece impossível que um título 3D do Sonic tenha uma trilha sonora ruim. Infelizmente, dá para falar o exato oposto sobre a qualidade da física de colisão dos jogos. Sonic Team Racing não é nenhuma exceção a essa regra, pois os famosos bugs e glitches icônicos da franquia ainda continuam assombrando o jogador a todo momento. Olhando pelo lado bom, sair voando pelo horizonte ou ser arremessado para debaixo do chão pelo menos ainda gera momentos engraçados.



O multiplayer online de Sonic Team Racing, por outro lado, não é nem um pouco engraçado. Sendo bem sincero, ele está mais para “irritante”. O lento matchmaking do jogo é organizado por meio de “Lobbies” que são limitados tanto em opções, quanto por limites de tempo. Na maioria das vezes você é obrigado a jogar com a desvantagem de ter bots passivos no seu time, só porque não é possível esperar pessoas o suficiente para completar o time. Sem falar na lerdeza entediante no tempo entre uma corrida e outra.

O que acontece durante as corridas online é um outro problema à parte. Tudo é extremamente lagado e mal otimizado. Os oponentes vivem “teleportando” de um lado para o outro. É, literalmente, pior do que acontecia no online de Mario Kart Wii, porém rodando em um console da oitava geração em 2019. A péssima física do jogo consegue piorar ainda mais com a instabilidade da conexão, proporcionando momentos dignos dos lendários bugs de Sonic the Hedgehog 2006 (PS3/X360). Não chega a ser exagero dizer que o online é um vexame.

Inovador, porém esquecível

Relevando todos as falhas críticas que permeiam Sonic Team Racing, as corridas do jogo ainda são bem divertidas em sua essência. Não é um jogo ruim, mas também está longe de ser bom. É uma experiência divertida, mas completamente esquecível. Se não fosse pela incrível mecânica de corridas em equipe, talvez ele até pudesse ser colocado no “hall de jogos ruins do Sonic”.

Prós:

  • Trilha sonora empolgante;
  • As corridas em equipe são divertidas e inovadoras.

Contras:

  • IA dos bots atrapalha;
  • Física cheia de bugs;
  • Online lagado e limitado;
  • Pouca variação nas pistas;
  • Modo campanha repetitivo;
  • Interface visual poluída dentro das corridas.
Sonic Team Racing - Switch/PS4/XBO/PC - Nota: 7,5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Vinícius Rutes
Análise produzida com cópia digital cedida pela Sega

Estudante de jornalismo que não vê a hora de achar um estágio. Apaixonado por videogames e esperando o fim de Hunter x Hunter e Berserk desde que me entendo por gente.
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