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Análise: Stranger Things 3 - The Game (Switch): uma estranha experiência que falha em unir cada um de seus aspectos

Na tentativa de aproveitar o lançamento de sucesso, a versão para videogames da temporada busca reviver a experiência num beat ’em up de pouca qualidade.




Atenção! Essa análise possui alguns spoilers a respeito da trama da série e do jogo Stranger Things.


Stranger Things 3: The Game (Switch) veio ao mundo com um único objetivo: reviver a experiência da série para aqueles que já a assistiram, mas permitindo que o jogador derrote os inimigos do mundo invertido com as próprias mãos. Se você já viu a terceira temporada desse sucesso da Netflix, sabe que a ameaça oriunda de um portal para esse mundo desconhecido está de volta não mais pelas mãos do governo americano, mas sim de russos infiltrados na cidade de Hawkings.

Como forma de aproveitar o entusiasmo do público pelo lançamento, a Netflix lançou um jogo do gênero beat ’em up como uma forma de vivenciar os mesmos acontecimentos da temporada em uma experiência 16-bit, levando os fãs para uma ambientação da época dos arcades. Resta saber se a integração entre o gênero e a evolução da trama é feita com sucesso.

Revivendo acontecimentos estranhos

Um ano após os acontecimentos da segunda temporada, os habitantes da cidade de Hawkings desfrutam de um novo shopping center: o Starcourt Mall. Mal sabem eles, porém, que o centro comercial é apenas um disfarce para um complexo subterrâneo da Rússia, que quer reabrir o portal para o mundo invertido e prejudicar os Estados Unidos no cenário da guerra fria.

A excelente proposta de recriar os eventos da série traz consigo um requisito: é necessário ter assistido a toda a terceira temporada para compreender o andamento do jogo. Desde o início, sem nenhum tipo de apresentação, eu caí de paraquedas em diálogos superficiais entre os personagens e percebi que estaria perdido se não soubesse o que aconteceu em cada episódio.

Os diálogos ficaram superficiais e relembram citações da própria série.
Para acompanhar os diálogos, alguns momentos da trama aparecem na forma de cutscenes. Infelizmente, a maioria dos eventos que exigiam animações de alta complexidade dos sprites não são incluídos. Em minha jogatina, o momento em que isso ficou mais nítido foi quando a personagem Heather é carregada ao Devorador de Mentes por Billy e, sem aviso, a tela fica escura e apenas os efeitos sonoros se encarregam de representar o que acontece na cena. Nos resta usar a imaginação

A integração com o gênero beat ’em up

Entre uns e outros diálogos, Stranger Things 3 - The Game propõe-se a entregar uma experiência do gênero beat ’em up com alguns elementos de RPG. Sempre com dois personagens em jogo e até doze para desbloquear, os controles são simples e a jogabilidade vai direto ao ponto. É possível atacar, bloquear e usar a habilidade especial de cada um dos personagens.

Cada lutador também pode executar ações específicas – Dustin, por exemplo, tem a habilidade de invadir travas eletrônicas –, por isso, é possível alterar livremente quais os membros do time durante o jogo. Como os acontecimentos da trama avançam em três diferentes núcleos, a imersão se quebra nos momentos em que os personagens em jogo não participam da história: num exemplo, quando você está jogando com Eleven no porão de Mike e as janelas de diálogo que surgem são sobre os meninos falando mal de suas namoradas.

Will pode usar sua habilidade de disparar fogos de artifício por todo o ambiente.

Ainda tentando se integrar com a história original, o jogo peca quando percebemos que os primeiros episódios possuem poucos combates. Por isso, muitas missões iniciais inserem o simples objetivo de buscar determinados itens em diversos lugares de Hawkings onde, por acaso, você esbarra com russos atirando coquetéis Molotov em você. Essa foi a forma encontrada pelos desenvolvedores de manter constantes os combates, e o padrão se mantém ao longo de todo o jogo, pecando em inserir variedades de inimigos e desafios.

A possibilidade de viver essa experiência de forma cooperativa com dois jogadores não altera em nada o decorrer da história. O que ocorre é que a inteligência artificial do seu personagem tem seu papel melhor desempenhado por um companheiro, o qual pode definir estratégias em conjunto com você. O único problema do modo cooperativo é o uso da tela dividida, mesmo que os jogadores quase sempre estejam no mesmo ambiente ao longo do jogo. A limitação de espaço visível torna mais difícil visualizar todos os inimigos e resolver os quebra-cabeças ao longo da jornada.

Recriações no melhor estilo retrô

Mesmo falhando em alguns aspectos da jogabilidade e em sua integração com o enredo, é necessário destacar a qualidade da ambientação 16-bit promovida pelo jogo. Cada uma das artes dos personagens é feita nos mínimos detalhes e o entusiasmo que surge é o mesmo de jogar um arcade antigo para poder explorar todos segredos.

O Starcourt Mall é uma das mais belas recriações presentes no título.

O mesmo capricho está presente nas batalhas contra os bosses que, apesar de poucas nas quase 7 horas de jogatina, apresentam uma bela reprodução dos eventos da série. Vale destacar que cada uma das lutas explora novas mecânicas e apresenta qualidade ímpar frente à mesmice dos combates do jogo. Precisei de algumas boas tentativas em cada chefe para conseguir entender seus padrões de movimento e derrotá-los.

Será que esse é o Billy verdadeiro?

Vale a pena?

Infelizmente, Stranger Things 3 - The Game não faz jus à qualidade da série e peca em inúmeros aspectos que poderiam ter sido melhor trabalhados e integrados. A história depende da lembrança do jogador dos acontecimentos da terceira temporada e o gênero beat ’em up não se insere de forma satisfatória no contexto da trama. De qualquer forma, o título é capaz de entregar uma bela recriação de Hawkings no estilo 16-bit e intensas batalhas contra os antagonistas da série.

Prós

  • Estilo gráfico em 16-bit recria com fidelidade os locais da série.
  • Batalhas contra os chefes apresentam mecânicas diversificadas.

Contras

  • Necessidade de imaginar os acontecimentos da série nas lacunas deixadas pelos diálogos superficiais.
  • Combate repetitivo e com pouca variedade de inimigos.
  • Multiplayer cooperativo em split-screen dificulta a exploração.
Stranger Things 3 - The Game — Switch/PS4/XBO/PC/Mobile — Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Ícaro Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela BonusXP

É diretor de redação do Nintendo Blast e fã de games desde pequeno, quando começou sua jornada com Mario e Zelda lá no SNES. É formado na área das engenharias e trabalha com desenvolvimento de software. Quando sobra um tempinho entre as jogatinas e o dia a dia, aparece lá no Twitter como @niccomch.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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