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Análise: Risk of Rain 2 (Switch) é chuva frenética de monstros, mas nublada no conteúdo antecipado

O título é uma belíssima adaptação do primeiro jogo para o mundo do 3D e certamente agradará aos entusiastas. Porém, lançamento do conteúdo completo será apenas em 2020.

Vamos juntos de volta ao ano de 2013 em nossa máquina do tempo, quando o console preferido dos indies ainda não existia, e o PC foi o local ideal para o lançamento do grande Risk of Rain. Esse era um novo título de plataforma 2D com pixel-art que inovou o gênero roguelike ao trazer o incremento da dificuldade conforme o tempo total avançava, não somente ao passar de nível, como em outros jogos parecidos. Sendo um sucesso, foi o suficiente para plantar na mente do time da Hoppo Games a semente da revolução.


Foram necessários alguns anos e, provavelmente, muito esforço da equipe para que surgisse Risk of Rain 2 (Switch), título com proposta de fazer exatamente a mesma coisa que seu antecessor, porém em 3D. De imediato, qualquer jogador irá reconhecer as fiéis reproduções dos personagens, inimigos, itens e mapas herdados da primeira entrada da série.

Hoje disponível em todas as plataformas por meio de acesso antecipado, o título promete muitas horas de experiências únicas entre vários jogadores. Porém, o conteúdo incompleto e alguns detalhes no port do PC para o console híbrido da Nintendo podem ter trazido alguns pequenos defeitos. Mesmo assim, vale a pena conferir o jogo de qualidade para a plataforma, que fica deixando um gostinho de “quero mais” pelas atualizações que estão por vir.

Chove, chuva... Chove sem parar

Você está perdido em um planeta desconhecido, repleto de besouros, lagartos e golems que buscam a sua destruição. Ao longo dos diferentes mapas em que você é inserido, vários itens estão espalhados e você pode comprá-los com o dinheiro obtido dos monstros, afinal, no espaço sideral temos todos uma moeda única. Seu objetivo é, ao longo de cada estágio, encontrar o teleporte para enfrentar o chefe e avançar.

O principal problema, porém, é o tempo avançando. Quanto mais ele passa, mais a dificuldade aumenta, e não raramente você se encontrará debaixo de uma chuva de projéteis e criaturas alienígenas. Por isso, a todo momento sua estratégia deve se basear no equilíbrio entre explorar o mapa para obter os mais diferenciados itens, ou procurar o teleporte e fugir antes que a dificuldade cresça demais.

Se você já jogou o primeiro Risk of Rain, sabe que a premissa desta nova entrada é a mesma, sendo um tradicional título do gênero roguelike com a inserção aleatória de itens, monstros e localizações ao longo do mapa. Por outro lado, algumas adaptações foram necessárias no salto para a terceira dimensão, como por exemplo nos mapas, que agora são sempre os mesmos.

Diferente do primeiro título, cada ambiente não é mais gerado proceduralmente, novidade que pode parecer ruim mas se mostra muito bem-vinda. Nas primeiras partidas o jogador pode facilmente se perder e sentir que anda em círculos, mesmo que os mapas sejam pequenos. Por isso, mantê-los fixos torna as inúmeras tentativas um processo de aprendizado de cada uma das localizações, tornando quem joga mais experiente geograficamente.

Mas não se engane, Risk of Rain 2 mantém as várias características que tornam este jogo digno do nome herdado: você encontrará o mesmo conjunto de criaturas, itens, chefes e até os mais tradicionais personagens, como o Commander, em sua aventura. Felizmente, a adaptação para o mundo tridimensional não é mais em pixel-art, e os gráficos em cel-shading se mostram belos e fiéis aos gráficos originais — ninguém falha em reconhecer cada um dos inimigos.

Previsão de tempo antecipada

A bela ideia de refazer um mesmo jogo tridimensionalmente pode parecer fácil, mas requer muito tempo e esforço dos desenvolvedores. Enquanto financiada por uma grande empresa, uma desenvolvedora pode facilmente trabalhar nesses aspectos com calma, mas essa não é a realidade de desenvolvedores independentes. Mesmo financiada pelo sucesso do primeiro Risk of Rain, a Hoppo Games optou por disponibilizar seu jogo na forma de acesso antecipado, permitindo que a compra de conteúdo ainda incompleto colabore para o avanço do desenvolvimento. Apesar de ser uma ótima forma de disponibilizar o conteúdo aos jogadores mais empolgados, é também um ponto negativo o fato do jogo se apresentar de forma incompleta, e quem deseja adquirir deve estar consciente disso.

Mesmo estando indicado como “Early Access” para o público de PC, o lançamento nos consoles não deixa essa informação clara. Assim, conforme progride, o jogador perceberá a falta de conteúdo no jogo: há pouca variedade de itens e inimigos, algumas mecânicas ainda estão incompletas e conteúdos adicionais são prometidos em atualizações futuras.

Na forma de um jogo roguelike, já se sabe que uma das virtudes requeridas do jogador é a persistência, e ele deverá desenvolver suas habilidades e contar com a sorte para a obtenção de um bom arsenal de itens. Mas não demora muito para que fique claro que as probabilidades estão um pouco desequilibradas: os itens raros aparecem com frequência muito menor àquela que seria recompensadora, e o jogador se vê sempre com os mesmos itens comuns, exigindo mais da insistência em inúmeras tentativas. Além disso, é pequena a variedade desses itens básicos disponíveis e o arsenal de quem joga fica sempre muito parecido nas diferentes partidas.

Da mesma forma, os poucos inimigos disponíveis tornam repetitivos os momentos de combate intensos: são sempre as mesmas hordas de besouros, lagartos e wisps, vez ou outra em variações do tipo gelo ou fogo. Para se ter noção, a variedade de inimigos comuns é similar à de bosses, a qual já é adequada, pois aparecem com menor frequência e exigem conhecimento prévio dos seus movimentos para derrotá-los. Essas incompletudes frustram o jogador ao chegar em níveis avançados, que em vez de novos desafios, encontra apenas os mesmos oponentes mais poderosos.

Toda essa sensação se repete em inúmeros aspectos do jogo, seja nos personagens ainda não disponibilizados ao público, na mecânica incompleta de Artefatos, que aparece na tela de seleção mas não pode ser utilizada, ou no Logbook, tela com descrições completas das criaturas, itens e chefes que apresenta textos incompletos.

Felizmente, o calendário de atualizações — que serão quatro — já está definido e promete uma versão final do jogo até o outono de 2020 no hemisfério Sul. Dessa forma, um ponto negativo torna-se apenas temporário e se espera que todo o conteúdo faltante seja inserido nas novas atualizações. Àqueles que gostam de revisitar suas compras a cada nova inserção de conteúdo, Risk of Rain 2 pode ser uma excelente pedida pois está também repleto de qualidades e alguns pequenos pontos a serem melhorados.

Um belo telhado, com algumas pequenas goteiras

Mesmo pecando na falta de conteúdo finalizado, Risk of Rain 2 está repleto de qualidade em sua execução e carrega consigo toda a experiência de uma desenvolvedora que já fez sucesso em seu primeiro título do gênero. Porém, há alguns pontos passíveis de melhora para a experiência geral e que puderam ser notados ao longo da jogatina.

Em primeiro lugar, a tão presente trilha sonora é um ponto que deve ser melhorado. E isso não se deve à sua qualidade, pois ela apresenta belas composições, traz boa ambientação espacial ao jogo e encaixa-se bem tanto nos momentos de combate como de exploração; o principal problema é a falta de variedade: as poucas músicas se repetem ao longo dos diferentes mapas. Não se sabe, porém, se a criação de novas faixas é uma promessa para os conteúdos futuros.

Além disso, a adaptação ao Switch trouxe muitas características de uma interface criada para o PC. Tanto no modo portátil como na TV, os elementos de texto na tela são pouco visíveis. Além disso, a seleção dos menus deve ser feita com a movimentação do cursor pela tela, aspecto que, mesmo solucionado no modo portátil com o uso da touchscreen, pode atrapalhar quando jogado na TV.

Agora, se você já gostou da primeira versão de Risk of Rain e é um entusiasta do financiamento de jogos ainda incompletos, saiba que o título é certamente feito para você. Entre belos gráficos e muita tentativa e erro, é certo que o jogo renderá muitas horas de diversão com seu contínuo replay, assim como qualquer roguelike. A ausência de conteúdo devido ao acesso antecipado será corrigida e tornará a experiência muito mais prazerosa em seu lançamento final no próximo ano.

Prós

  • Fiel ao jogo original, mas com as devidas adaptações para a transição ao 3D;
  • Estilo artístico cel-shading agradável, com ambientação em cores diferentes para cada nível;
  • Permite muitas horas de replay aos amantes de roguelike.

Contras

  • Conteúdo ainda incompleto, mas com calendário de atualizações definido;
  • Interface e jogabilidade mal adaptadas para os consoles;
  • Trilha sonora pouco diversificada.
Risk of Rain 2 — Switch/PC/PS4/XBO — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Vinicius Rutes
Risk of Rain 2 está disponível na Loja Nintendo
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo

É diretor de redação do Nintendo Blast e fã de games desde pequeno, quando começou sua jornada com Mario e Zelda lá no SNES. É formado na área das engenharias e trabalha com desenvolvimento de software. Quando sobra um tempinho entre as jogatinas e o dia a dia, aparece lá no Twitter como @niccomch.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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