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Análise: Fight’N Rage (Switch) moderniza o gênero beat ‘em up com pancadaria de primeira

Produzido por um único desenvolvedor, este título indie se destaca com um sistema de combate flexível e muito conteúdo.

Fight’N Rage parece um jogo da era 16 bits com seu visual em pixel art e mecânicas já conhecidas de beat ‘em ups, ou seja, descer a porrada em todos os inimigos que aparecerem pelo caminho. No entanto, o título vai além e moderniza vários conceitos do gênero na forma de um sistema de luta variado e ágil. Esses detalhes, em conjunto com uma quantidade extensa de conteúdo e parte técnica impecável, fazem com que Fight’N Rage seja uma experiência excepcional — o considero um dos melhores beat ‘em ups que joguei até hoje. O jogo fica ainda mais impressionante quando você descobre que ele foi produzido por um único desenvolvedor, afinal o título transborda qualidade e conteúdo.

Luta em um mundo perigoso

Fight’N Rage é um título de ação e pancadaria beat ‘em up de movimentação 2D inspirado em clássicos da década de 1990, como Final Fight, Streets of Rage e Captain Commando. Como é de praxe, o objetivo é derrotar inimigos com socos, chutes e agarrões, sendo que há também algumas armas espalhadas pelos estágios, como facas e canos de ferro. Até três jogadores podem aproveitar o título simultaneamente no multiplayer local.

No jogo, mutantes humanoides passaram a dominar a Terra após um evento que acabou com toda a tecnologia do planeta. Por causa de sua força física superior, os mutantes escravizaram os humanos sob o comando do mutante chamado The Boss. É nessa situação sombria que surgem três heróis (dois humanos e um mutante) que decidem se rebelar e acabar com o tirano. Para alcançar esse objetivo, só há uma alternativa: enfrentar um exército de capangas somente com a força dos punhos.


O conceito principal de Fight’N Rage é baseado nos clássicos beat ’em up, no entanto o jogo apresenta vários sistemas modernos que o tornam bem interessante. Além dos ataques básicos, cada personagem tem à disposição técnicas especiais ativadas por meio de um botão dedicado (que consomem um medidor de especial) ou por sequências de comandos. O legal é a flexibilidade: os movimentos podem ser combinados livremente em sequências impressionantes. Além disso, é possível lançar os inimigos no ar e continuar atacando — combos longos são capazes de explodir os oponentes, literalmente. Há também o parry, um movimento que permite aparar investidas de inimigos caso seja executado no momento correto. Além de anular o dano, essa habilidade preenche imediatamente a barra de especial.

Três diferentes heróis estão disponíveis em Fight’N Rage. Gal é uma garota muito ágil que consegue criar combos longos e complexos com movimentos de kickboxing, porém sua força e alcance não são das melhores. F. Norris é um ninja renegado que tem atributos equilibrados, mas sua velocidade mediana torna um pouco difícil enfrentar grandes grupos de inimigos ágeis. Já o minotauro Ricardo ataca com golpes poderosos e lentos, sendo que suas sequências são curtas e com pouca variedade. Cada um dos personagens oferece estilos de jogo distintos e há muito o que aprender no controle de cada um.


Descendo o sarrafo em uma aventura empolgante

A agilidade da ação é a minha característica favorita em Fight’N Rage. Durante os embates, é muito fácil criar estupendas sequências de ataques em que os inimigos são lançados no ar e mal tocam o chão. O sistema é muito versátil e os golpes podem ser combinados de inúmeras maneiras — é impressionante a variedade de movimentos oferecida por somente três botões. No multiplayer, em especial, a ação fica ainda mais divertida, pois os jogadores podem trabalhar em conjunto para fazer sequências devastadoras.


Dominar todas as técnicas e movimentos é essencial, pois Fight'N Rage não é nada fácil. Cada inimigo apresenta padrões de ataques únicos e exige estratégias distintas para ser vencido. Para piorar, em muitos momentos, a tela está repleta de monstros diferentes, deixando as coisas mais complicadas. Dependendo da situação, basta um único erro para ser sobrepujado pelos oponentes — os heróis também ficam presos nos combos dos inimigos, que são bem agressivos. Sendo assim, precisamos avaliar constantemente qual é a melhor ação: às vezes é melhor lançar os oponentes uns nos outros para dispersar grupos, em outro momento o ideal é atacar rapidamente os monstros mais perigosos. Há também trechos em que não há alternativa a não ser sacrificar um pouco da vida para executar um ataque especial.

O resultado é um jogo intenso e com combates focados em habilidade. No início é um pouco difícil ir muito longe, pois só sabemos o combo básico e ele não é suficiente para dar conta das situações mais complexas. Além disso, os itens de recuperação são escassos. No entanto, aos poucos dominamos as nuances dos sistemas e a ação flui melhor — é muito recompensador conseguir destruir inimigos com combos estilosos, que podem ser salvos com facilidade por meio da gravação de vídeos do Switch. Aqueles que gostam de um bom desafio vão curtir bastante o título, pois novos tipos de perigos e inimigos são introduzidos constantemente e existem incentivos para jogar bem. Para os menos habilidosos, há uma dificuldade mais baixa e a opção de colocar companheiros controlados pelo computador.

Um universo pixelizado repleto de conteúdo

Fight’N Rage usa visual em pixel art para representar o mundo dominado por mutantes. Os gráficos são bem elaborados e a direção de arte remete aos títulos da era 16 bits com sua paleta de cores limitada e proporção média de personagens. Um detalhe muito legal é a grande diversidade de inimigos: enfrentamos dobermanns boxeadores, pássaros versados em muay thai, tartarugas mutantes que lembram um certo quarteto ninja, moscas humanoides com luvas de boxe, gorilas com roupas amarelas claramente inspiradas em Kill Bill e muito mais. Para completar a ambientação retrô, há filtros visuais que simulam gabinetes de fliperamas e TVs de tubo. Já a trilha sonora dita o ritmo acelerado da ação com muitas composições energéticas com guitarras.


Um ponto que pode incomodar um pouco diz respeito aos cenários e alguns momentos de ação. As localidades do mundo são bem escuras, o que faz sentido dentro do universo do jogo, no entanto às vezes são muito parecidas entre si. Além disso, em alguns trechos há muitos inimigos na tela e fica difícil entender exatamente o que está acontecendo, principalmente quando há três jogadores na partida. Por sorte essas questões aparecem poucas vezes pela aventura.

Outro destaque do jogo é a extensa quantidade de conteúdo. O modo Arcade conta com vários caminhos alternativos e finais que mudam de acordo com as escolhas feitas pelo caminho. Algo legal é a presença de diferentes tipos de estágios: em um deles lutamos em cima de pranchas de surf, em outro dirigimos motos enquanto escapamos de inimigos, um terceiro se passa em uma jangada que limita as opções de ataque. Jogadores experientes podem terminar uma partida em menos de uma hora, mas a intenção é jogar o modo várias vezes.


Moedas obtidas no modo Arcade podem ser utilizadas para desbloquear mais conteúdo. Há muita coisa para liberar: novas aparências para os heróis, outros modos de jogo, modificadores de partidas e até mesmo a possibilidade de poder controlar os inimigos nas modalidades extras. Os modos, em especial, são bem interessantes: no Training aprendemos as mecânicas do jogo e há alguns desafios na forma de combos complicados; no Time Attack o objetivo é conseguir a melhor pontuação possível em um intervalo de tempo; o Survival nos desafia a sobreviver à infinitas ondas de inimigos; o Battle funciona como um jogo de luta simplificado. Conteúdo é o que não falta em Fight’N Rage.

Um beat ‘em up excepcional

Fight’N Rage empolga com sua jogabilidade acelerada, variada e muito divertida. É ótimo acabar com inúmeros oponentes por meio de combos elaborados no ar em um sistema de jogo repleto de nuances interessantes — é particularmente recompensador bater tanto em um monstro a ponto de ele explodir, literalmente. Situações complicadas e muitos inimigos agressivos tornam a dificuldade intensa, e a graça é justamente dominar as particularidades e sair vitorioso. Além disso, o jogo conta com muito conteúdo como  modos extras, personagens adicionais e vários finais. No fim, Fight’N Rage moderniza os beat ‘em ups de forma incrível e isso o torna indispensável.

Prós

  • Sistema de luta ágil e flexível com combos e lançamentos;
  • Dificuldade intensa que exige dominar as mecânicas de jogo, sendo que há opções para jogadores menos habilidosos;
  • Extensa quantidade de conteúdo, como diferentes finais, modos adicionais e personagens extras;
  • Visual impecável com gráficos em pixel art e ótima trilha sonora.

Contras

  • Confusão visual atrapalha em alguns momentos.
Fight’N Rage — Switch/PC/XBO — Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Ícaro Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Blitworks

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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