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Análise: Resident Evil 6 (Switch) é uma grande crise de identidade da franquia

Apesar de ter bastante conteúdo, o título da Capcom não se destaca em nenhum momento e oferece uma experiência confusa, além de ter alguns compromissos para rodar no híbrido da Nintendo.



A Capcom segue com seus planos de trazer os jogos antigos de Resident Evil ao Switch, incluindo alguns inéditos nas plataformas da Nintendo. É o caso de Resident Evil 6, lançado originalmente no PS3 e Xbox 360 em 2012 — posteriormente convertido para PS4 e Xbox One em 2016. O título tinha um objetivo ousado: oferecer campanhas com jogabilidades distintas e que se conectam em alguns momentos. Com uma reunião de personagens adorados pelos fãs e os clássicos zumbis de volta, este foi o Resident Evil mais ambicioso até então e tinha tudo para dar certo.


Infelizmente, a proposta de agradar tanto os fãs antigos quanto os novatos não foi tão bem executada, mais parecendo uma identidade na franquia. Por fim, o título não garantiu uma boa recepção na época. Com sete anos de diferença, o que se pode esperar ao revisitar Resident Evil 6 no console híbrido da Nintendo?

Muito conteúdo, mas pouca relevância

Resident Evil 6 segue o caminho trilhado pelos seus dois antecessores, com uma jogabilidade mais direcionada à ação. As mecânicas de Resident Evil 5 foram expandidas em vários pontos, incluindo ataques físicos mais elaborados e um sistema simples de cobertura. As duplas de personagens na história retornam e, no caso de partidas single player, não existe mais o compartilhamento de inventários. Há uma sensação de maior fluidez nos controles, e finalmente é possível andar e atirar ao mesmo tempo.



O agente viral da vez é o C-Virus, que dependendo da forma de contágio é capaz de transformar humanos nos velhos conhecidos zumbis ou em J’avos — um novo tipo de arma biológica, com maior inteligência e grandes capacidades de regeneração, além de serem capazes de utilizar armas. O tipo de inimigo enfrentado pelo jogador varia de acordo com a abordagem do gameplay adotada por cada campanha.

Após a franquia abandonar as origens de survival horror e abraçar um estilo focado na ação, Resident Evil 6 foi concebido com o objetivo de satisfazer tanto os fãs que desejavam um retorno às raízes quanto aos que aprovaram a dinâmica seguida após Resident Evil 4. A história do jogo é dividida entre quatro campanhas, todas disponíveis desde o início. Cada uma é jogável através de uma dupla e há diferenças significativas entre elas, e todas trazem de volta personagens icônicos da série — o que não foi suficiente para garantir uma coerência no jogo como um todo.



O agente Leon S. Kennedy, sobrevivente de Raccoon City, e sua nova companheira Helena Harper se vêem em meio a um ataque bioterrorista em uma universidade, que acaba infestada por mortos-vivos e o presidente dos Estados Unidos é morto. A ambientação e os desafios se aproximam das origens de terror até certo ponto, o que é um ponto positivo. Essa característica também existe na história da espiã Ada Wong. Ideal ser jogada por último, ela amarra algumas pontas soltas do enredo enquanto oferece desafios maiores e resolução de puzzles. Essas duas campanhas conseguem entregar uma dose satisfatória de diversão.



A trama introduz o mercenário Jake Muller (filho de Albert Wesker) que se junta à agente Sherry Birkin (filha de William Birkin) para escapar de uma experiência bioterrorista envolvendo J’avos. O maior destaque dessa campanha, que é cheia de adrenalina e combates físicos, é Ustanak — um monstro que persegue incansavelmente os protagonistas. Infelizmente, a maior parte desta história tem momentos desinteressantes, principalmente quando não envolvem a criatura. Como resultado, e aventura dos herdeiros de Raccoon City falha em empolgar.



Já a campanha de Chris Redfield e Piers Nivans é a mais problemática. A dupla enfrenta uma verdadeira guerra contra os J’avos, porém, Resident Evil 6 sustenta sua jogabilidade nesta abordagem. As mecânicas são muito limitadas para um gameplay tão focado no combate armado, e o que se vê são muitos tiroteios frenéticos, com uma progressão confusa e os controles não ajudam por não serem precisos como deveriam. Passar por todos os capítulos com Chris e Piers torna a experiência um verdadeiro martírio.



Por fim, a impressão que existe é que Resident Evil 6 tentou abraçar todos os estilos possíveis, não sendo capaz de brilhar de fato em nenhum deles. O máximo que o título alcança é um patamar mediano e somente em parte dele, sem uma identidade sólida o suficiente para haver algum destaque.

Alguns downgrades no Switch

O relançamento de Resident Evil 6 para o Switch contempla todos os conteúdos adicionais lançados posteriormente nem sua versão original. Portanto, já estão incluídos no pacote os cenários extras para o modo The Mercenaries, o modo Agent Hunt, a dificuldade mais alta No Hope, o modo No Mercy, um parceiro para a campanha de Ada Wong, roupas extras antes desbloqueáveis pela rede residentevil.net e os modos extras online: Predator, Survivor, Siege e Onslaught. Esses modos extras também podem ser rotacionados pelo jogo, a fim de facilitar o encontro de partidas entre os jogadores.



O recurso de crossover, que reúne na mesma partida jogadores em diferentes campanhas nos momentos em que os personagens se encontram, também existe aqui. Infelizmente, as chances de encontrar pessoas que estejam naquele momento exato do encontro em suas campanhas não é muito alta. Mas não deixa de ser um recurso interessante.

De maneira semelhante a Resident Evil 5, o sexto título numerado apresenta algumas ressalvas em seu port para o Switch. Diferente das versões para PS4 e Xbox One (que rodam a 60 FPS), a taxa de frames no híbrido da Nintendo é variável e oscila em torno de 30 FPS, mas se mantém acima disso na parte do tempo. Porém, quando existem muitos inimigos na tela ao mesmo tempo ou durante as animações de ataques físicos, o FPS tente a cair um pouco. Esse ponto é agravado ao se jogar em tela dividida. Não é algo que efetivamente compromete o gameplay — na verdade, não faz mais tanta diferença depois de um tempo.



Os efeitos de névoa, sombras e iluminação estão simplificados nesta versão e estão mais perceptíveis do que no port de Resident Evil 5. Em determinadas áreas, o downgrade nesses efeitos é bastante evidente — por exemplo, durante a campanha de Leon no subterrâneo, a baixa qualidade desses feitos é gritante. Também é comum o efeito pop-in, tanto com elementos ao fundo do cenário quanto com inimigos mais próximos. No modo portátil, o desempenho do jogo é bem razoável, não engasga e, de fato, os efeitos simplificados são menos perceptíveis do que ao jogar na TV.



Uma boa exclusividade na versão de Switch é o suporte aos sensores de movimento, implementado por meio de uma pequena atualização. Ao jogar com os Joy-Con separados e ativar a opção, é possível mirar nos inimigos apontando o controle direito. Os ataques físicos são executados balançando o controle na horizontal. Para recarregar as armas, na direção vertical. O recurso exige um pouco de prática para acertar os tiros com precisão, mas funciona muito bem quando dominado.



Em relação às partidas online, não há qualquer tipo de problema em Resident Evil 6. Tanto nas partidas da campanha quanto nos modos extras, o jogo não apresentou latências ou quedas de conexão. Os modos que comportam mais de dois jogadores também funcionam muito bem. Porém, algumas quedas mais acentuadas de FPS podem ocorrer — sobretudo com o modo No Mercy, que aumenta consideravelmente o número de inimigos na tela.


Uma confusa e esquecível obra

Resident Evil 6 é um dos títulos mais confusos da franquia — ao tentar abraçar vários estilos diferentes, acaba por não se destacar em nenhum deles. Até mesmo as campanhas de Leon e Ada, que apresentam os melhores gameplays do pacote, são no máximo medianas e não são suficientes para apagar o estrago das campanhas de Jake e Chris. A experiência mais sólida pode ser encontrada no modo Mercenaries, que é realmente divertido — principalmente jogando em dupla. Porém, dado o valor cobrado de $ 29.99 na eShop, você poderá considerar investir seu dinheiro em outras opções.


Prós

  • Todos os conteúdos adicionais incluídos;
  • Modos online estáveis;
  • Bom desempenho em modo portátil;
  • Suporte a sensores de movimento dos Joy-Con.

Contras

  • Falta de identidade no jogo devido à variação nos estilos de gameplay;
  • Campanhas de Chris/ Piers e Jake/ Sherry são pouco atraentes;
  • FPS com quedas mais acentuadas com muitos inimigos ou tela dividida;
  • Texturas e alguns efeitos bastante simplificados;
  • Preço elevado para um relançamento.

Resident Evil 6 - PS3/ PS4/ X360/ XBO/ Switch/ PC
Versão utilizada para análise: Switch
Nota: 5.5

Revisão: André Carvalho
Análise produzida com cópia digital cedida pela Capcom

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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