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Análise: Kotodama: The 7 Mysteries of Fujisawa (Switch) é um game de muitas camadas

Combine peças coloridas para despir a verdade sobre os mistérios de uma clássica academia escolar japonesa.


Quando assisti ao trailer de Kotodama: The 7 Mysteries of Fujisawa, fiquei curioso para saber do que se tratavam os tais mistérios. Por isso, escolhi analisá-lo e me forcei a ver todos os finais e possibilidades do jogo. Quando enfim terminei, percebi que a ideia inicial que eu tive nas primeiras horas de jogatina era muito diferente da reflexão sobre a natureza humana que o game me entregou no fim das contas. Isso me lembrou de um diálogo lá do filme Shrek (2001), que em resumo, mostra o protagonista comparando ogros a cebolas, já que a primeira visão que temos de ambos nos trazem sentimentos ruins, mas por dentro há diversas camadas a serem descobertas.


Sentimentos humanos e o próprio jogo Kotodama também são estruturas montadas em camadas. E falando sobre nós, podemos virar o exemplo anterior de ponta-cabeça, chegando a situação em que algo que parece bonito na verdade pode esconder uma mancha interna muito grande. Quanto à visual novel, vai de cada jogador explorar a fundo suas nuances, caso deseje, e refletir sobre a personalidade dos personagens e de como lidam com seus problemas, ou apenas ficar no “lado raso da piscina”, divertindo-se com um puzzle do tipo match-three erótico ou contentando-se com a parte mais simples de ser descoberta da história. Não há julgamentos aqui para isso, é simplesmente uma obra que pode ser aproveitada de diversas formas.

Aquele maldito sorriso

Você começa como um aluno novato da academia Fujisawa, que acaba envolvido com uma garota cheia de energia chamada Kagura Nanami. Ela está sempre sorrindo e correndo pelos corredores da escola. Enquanto te oferece um tour pelas localidades da academia a pedido da professora, você descobre que a garota é aficcionada pelos sete mistérios do colégio. Inclusive, ela faz parte de um clube de apenas dois membros, que tem como principal objetivo investigá-los: o ORC. Naturalmente, você também acaba ajudando nas investigações e tornando-se um membro, que é presidido por outra garota: Wakaba Asagiri.

Durante os sete capítulos do game, que representam a investigação dos sete mistérios, você terá que recolher informações, cooperar com os membros do ORC, ouvir rumores e visitar as diferentes áreas da escola para desvendar a verdade sobre o que acontece nos bastidores da academia. Além disso, conhecerá diversos outros personagens — na maioria garotas —, que possuem personalidades distintas, além de problemas que a princípio soam como coisas simples da vida, mas podem tomar proporções bem sérias quando você começa a revelar seus segredos. Momentos perturbadores fazem parte da receita.

Imaginação fértil

O que as garotas não sabem é que você também possui seu próprio segredo, que o torna a pessoa perfeita para o trabalho. No passado, você assinou um contrato com uma raposa demônio — que no game se mostra com uma aparência bem fofinha — conhecida apenas como Mon-chan. Esse contrato permite que você consiga forçar as pessoas a dizerem a verdade quando elas sentem-se pressionadas ou em situações desesperadoras.

Ao usar o seu poder, o game passa para uma tela em que o jogador precisa combinar três peças de Kotodama para removê-las do tabuleiro, preenchendo assim a barra de “felicidade” do alvo. A cada barra completa, é removida uma peça de roupa da pessoa atingida — o jogo não faz distinção de gênero, sendo assim, a maioria são garotas, mas você também é forçado a jogar com pelo menos um rapaz. Há também alguns itens que podem aparecer no tabuleiro para facilitar as coisas, como bombas que removem colunas inteiras. Cada personagem é fraco contra um elemento específico, e combiná-los fará sua barra se encher mais rápido. As Kotodamas também podem ser fortalecidas, coletando palavras de poder que estão espalhadas pelas diversas linhas de diálogo do game.


Para vencer esse desafio e extrair a verdade da pessoa, você deve preencher as quatro barras de felicidade em até 20 movimentos. Porém, há maneiras de se ganhar tentativas extras, provocando a pessoa com objetos que ficam dispostos em uma barra ao lado. Cada um desses objetos possui um risco maior de ser recusado pelo alvo, mas pode dar mais chances extras. Caso sua provocação não funcione, cada personagem do game possui uma maneira distinta de puní-lo. Em um exemplo, peças de Kotodama ficarão bloqueadas, precisando serem combinadas duas vezes para serem removidas do tabuleiro, enquanto em outro, peças serão transformadas na cor preta com um símbolo de caveira, já que essas não podem ser movidas diretamente. Isso tudo se passa na mente do protagonista, então, quando acorda, a pessoa só não entende porque falou o que não devia.

Pecando por excesso

Se por um lado o game acerta em alguns aspectos, como o recém citado puzzle, com desafio na medida certa e mecânicas interessantes, e na sua história, com muitas camadas a se explorar, finais para se descobrir, personagens interessantes e bem construídos para se conhecer, ele peca em algo que hoje é muito discutido na comunidade, que são fatores relacionados à qualidade de vida. Como já foi dito, o game funciona em sete capítulos, que precisam ser repetidos constantemente para que possamos descobrir novos caminhos na história e coletar todas as Key Words, para enfim, conseguir cumprir os desafios finais e encontrar o final verdadeiro.

É ótimo que suas escolhas sejam levadas em consideração de verdade em um jogo que tem isso como principal mecânica e é inegável que muitos visual novels, point ‘n’ clicks e RPG’s não fazem nem de perto o que este game consegue. O triste é que Kotodama realiza isso de uma maneira radical demais, tornando a experiência repetitiva além dos limites e até um pouco frustrante se você não procurar por tutoriais, for uma pessoa extremamente detalhista ou super experiente no gênero. Há detalhes demais que precisam levados em consideração para se alcançar o verdadeiro final: a ordem que você visitou lugares, as palavras coletadas e até a rede social Quacker, que os alunos utilizam na escola. Isso impede, por exemplo, que a função de passar rapidamente o texto — algo que está presente e geralmente seria a solução para o problema das inúmeras repetições  —  seja utilizada com eficiência, dependendo do seu objetivo naquela jogada.


Felicidade ou tristeza?

Por tudo isso, conclui-se que Kotodama: Kotodama: The 7 Mysteries of Fujisawa entrega muito mais do que promete, chegando a um incômodo nível de exagero. Repetindo, o game pode ser aproveitado de diversas maneiras, tanto por jogadores que desejam uma experiência rasa, quanto por aqueles que resolveram ignorar certas polêmicas e se aprofundar na parte mais filosófica da história e das características e escolhas dos demais personagens do game. Infelizmente, para esses, a experiência tende a se tornar frustrante, pelo número excessivo de detalhes requeridos e repetições necessárias, a fim de explorar as nuances dessa história. A todos que resolverem aceitar a missão de descascar as camadas dessa cebola, eu desejo muita paciência e boa sorte em suas escolhas.

Prós:

  • História bem desenvolvida;
  • Personagens interessantes;
  • Mecânicas bem trabalhadas;
  • Visual agradável;
  • Suas escolhas fazem a diferença.

Contras:

  • Repetitivo ao extremo;
  • Exagero na quantidade de requisitos para descobrir alguns segredos.
Kotodama: The 7 Mysteries of Fujisawa — PC/PS4/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: André Carvalho
Análise produzida com cópia digital cedida pela PQube

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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