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Análise: Roof Rage (Switch) e a arte de não cair

Lute pela sobrevivência em cenários belíssimos neste divertido (e caótico) jogo.


Roof Rage é uma tentativa de unir os jogos de luta mais tradicionais com as mecânicas inauguradas pela série Super Smash Bros. Dentro de certos limites, a proposta funciona muito bem. Ainda que alguns problemas de desempenho tirem parte do brilho do título desenvolvido e publicado pela Early Melon.

Briga de... telhado

Nem todo mundo gosta de chamar Super Smash Bros. de um jogo de luta. Diferentemente de títulos como Street Fighter ou Tekken, a franquia da Nintendo soa para muitos jogadores como um party game, mais focado em estratégias para lançar o adversário para fora da tela (ou para fugir das investidas do inimigo) do que no domínio dos golpes, combos e sistema de defesa. Por outro lado, quem aprecia Super Smash Bros. considera essa crítica banal e generalista, pois o game possui também grande complexidade no domínio das mecânicas e diferenças significativas entre as habilidades dos diversos personagens presentes.

Podemos dizer que, independentemente da validade desse tipo de crítica, Roof Rage tenta se posicionar no meio do caminho entre as duas propostas. Ou seja, procura ao mesmo tempo ser um jogo de luta em seus elementos mais tradicionais, enquanto incorpora características de plataforma semelhantes ao clássico da Big N. É verdade que querer agradar a todos nem sempre parece ser uma boa estratégia, mas Roof Rage consegue fazer bem o seu trabalho.



No game, que não possui uma narrativa que justifique a ação, você conta com 13 personagens (nem todos estão disponíveis desde o início) que devem batalhar por suas vidas no topo de telhados de diversos prédios e construções. O visual em pixel art funciona muito bem com a proposta, trazendo um ar de jovialidade e leveza. É curioso que esse recurso à nostalgia, tão explorado nos últimos anos, continue trazendo resultados tão bons. Assim, é importante frisar que, longe de ser mais do mesmo, o cuidado dos desenvolvedores na criação dos personagens, fluidez dos movimentos, animações e detalhes dos cenários é realmente empolgante. E o mesmo podemos dizer da trilha sonora e sons dos elementos de ação que, apesar de serem extremamente simples, funcionam muito bem para o contexto apresentado.

Vence quem continua de pé

No modo principal de Roof Rage a lógica é bem simples: para vencer você precisa atacar os inimigos zerando a energia deles com ataques ou lançando-os para fora dos edifícios ou espaços ocupados. Cada personagem possui uma barra de energia e três vidas (mas é possível customizar isso nas opções). Assim, basta que o adversário caia do prédio ou seja, de fato, lançado para fora da tela por três vezes para que a partida se encerre. Sempre que os dois competidores ficam com uma vida cada, vemos uma mensagem de Showdown. E as vidas dos dois ficam, visualmente, completas. Digo visualmente porque isso, na verdade, é apenas uma ilusão. Aquele que tinha menos energia antes do Showdown, ao levar um único golpe, passa a ter o quantitativo equivalente que já tinha antes. No começo não entendi o porquê dessa opção. Mas é interessante para o início desse último round a sensação, ainda que apenas psicológica, de que os dois lutadores estão em pé de igualdade.


Além disso, existem muito recursos, tanto na movimentação como em pontos específicos do cenário, que tornam o objetivo de lançar o oponente para fora do telhado realmente desafiador. Como não existe tempo nas partidas (pelo menos não nesse modo de jogo), é preciso ir para o ataque de qualquer maneira em busca da vitória. Para minimizar a possibilidade de jogadores evitarem o confronto (algo que é sempre possível), os cenários são realmente pequenos e não há muito espaço para se esconder, o que torna inevitavelmente as partidas um pouco mais dinâmicas.

Roof Rage oferece ainda um modo com contador de tempo em que a vitória é medida por pontos, um modo de luta entre times e partidas de treino, mas nenhum deles é tão interessante quanto o inicial.

Passe longe de oito jogadores

Até aqui me referi apenas a dois players pelo simples motivo de que Roof Rage funciona muito melhor no 1 vs 1. O game permite até oito lutadores na tela, mas ele não parece ter sido feito para isso. Pelo menos na versão do Switch, o lag é tão grande que é impossível concluir uma partida nesse modo. Na verdade, em qualquer partida a partir de quatro personagens já senti uma queda de desempenho considerável. Assim, se jogar com muita gente for algo que você considera relevante, pese os prós e contras aqui.



De qualquer forma, para além da dificuldade de desempenho, existe outro motivo para que as partidas com apenas dois jogadores funcionem melhor. Os cenários, como já disse, são relativamente pequenos e os personagens menores ainda. Com muitos inimigos, o caos é tão grande que é uma tarefa ingrata tentar identificar o que cada um está fazendo. Nesse tipo de jogo, não se enxergar na tela ou não perceber o adversário é realmente frustrante. Nas minhas tentativas contra muitos competidores, várias vezes perdi por cair sem nem perceber o que estava acontecendo.

Outro problema recorrente, e aqui não tinha relação com o número de pessoas, são travamentos com congelamento de cena. Eles aconteceram várias vezes, em modos diferentes. Nesses casos, a única forma de resolver o problema era reiniciando o jogo.

Combos, golpes precisos, estratégia

Uma coisa realmente encantadora em Roof Rage é a quantidade de golpes, combos e características de cada um dos personagens. Eles possuem movimentações únicas e, por isso, dominar o game é uma tarefa realmente desafiadora. Como é natural em jogos do gênero, aqui também é importante perceber os jogadores com os quais você mais se identifica, pois o balanceamento entre eles é muito bom e o entendimento das mecânicas de cada um ajuda muito nas partidas. Nos controles, temos golpes fracos, pulo, golpes especiais, botão de defesa e taunt. Os golpes especiais causam muito mais dano, mas são mais lentos e os diferentes competidores os executam de formas distintas. Além disso, todos eles possuem um dash que funciona como recover para você tentar voltar para o cenário em situações de desespero. Outro recurso que ajuda muito nesse sentido é o wall jump, que também pode ser utilizado por todos os lutadores.



Na tela de seleção de personagens é possível acessar a lista de golpes e treiná-los antes da partida iniciar. Existem desafiantes para todo estilo, desde um que se parece muito com o Ryu (inclusive nos golpes), passando por ninjas, lutadores com armas de fogo, martelos e tacos de beisebol. Todos eles são carismáticos e possuem um design muito interessante. No entanto, a falta de um modo história dificulta a sensação de proximidade.

Além do multiplayer local, Roof Rage oferece também um modo Arcade (extremamente difícil) e promete um multiplayer online que, até o momento da realização desta análise, ainda não está disponível.

Pancadaria a dois

Roof Rage é um ótimo jogo de luta nos moldes de Super Smash Bros. Com muita personalidade, visual agradável e lutadores balanceados, o título tem tudo para agradar fãs do gênero. No Switch, especificamente, infelizmente a proposta de até oito jogadores não está bem otimizada, o que talvez possa ser corrigido futuramente. O mesmo se pode dizer dos travamentos com congelamento da tela, que atrapalham a experiência geral. Ainda assim, quando os problemas técnicos não interferem, o game se mostra muito consistente, divertido e desafiador.

Prós

  • Gráficos muito bonitos;
  • Movimentação fluida dos personagens;
  • Sistema de golpes e combos bem completo.

Contras

  • Lag em partidas com muitos lutadores;
  • Travamentos em diferentes modos com congelamento da tela.
Roof Rage — Switch — Nota: 8.0
Análise produzida com cópia digital cedida pela Early Melon

Pesquisador nas áreas de estética e cibercultura com Mestrado em Cultura e Sociedade (UFMA) e Doutorado em Comunicação (UnB). Além de escrever sobre jogos, produz o Podcast Ficções e tem um blog sobre literatura, filosofia e cotidiano.
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