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Análise: Vampyr (Switch) trata das consequências de ser um vampiro durante a gripe espanhola

O médico Jonathan E. Reid deve escolher entre usar suas novas habilidades para curar os habitantes de Londres ou matá-los em busca de mais poder.


Após alguns adiamentos, Vampyr foi lançado no ano passado para várias plataformas. No Nintendo Switch, o título chegou às lojas em 29 de outubro com as opções de mídia física e digital. Desenvolvido pela Dontnod Entertainment e publicado pela Focus Home Interactive, o jogo utiliza elementos de RPG como a progressão de habilidades e a exploração em mundo aberto para narrar a história de um misterioso homem que quer encontrar o responsável pelo que aconteceu com seu corpo.

Um doutor amaldiçoado

Imagine acordar no meio da noite, enxergando apenas vultos e movido apenas pelo seu instinto. É exatamente isso que acontece com o Dr. Jonathan E. Reid no cenário de Londres durante a época da pandemia da gripe de 1918. Sem saber direito o que está acontecendo com seu corpo, o médico morde a primeira pessoa que encontra a fim de saciar sua incontrolável sede de sangue.



Instantes depois Reid recupera sua lucidez e percebe que havia matado sua própria irmã. Confuso com toda a situação, ele deve lidar com suas novas habilidades enquanto os habitantes da cidade lhe perseguem. Após encontrar um local seguro, o personagem reflete sobre o monstro que se tornou e quem seria o responsável por essa transformação. 

Esse primeiro momento do jogo é bem intenso, o que prende o jogador e o instiga a querer saber mais sobre a história. Além disso, essa parte funciona como um tutorial para a jogabilidade de Vampyr, no qual tanto o jogador quanto o próprio protagonista exploram seus novos poderes, como manipulação de sangue e teletransporte.

Vida de vampiro 

O sistema de combate não é nada inovador, e chega a decepcionar em alguns momentos. Semelhante a jogos como os da série Assassin’s Creed, o personagem geralmente enfrenta um pequeno grupo de inimigos travando a mira em um único alvo. A diferença aqui está nos movimentos: durante as lutas há uma sequência ideal de ataques a seguir. Basicamente, Reid deve atacar seus oponentes até atordoá-los, para então conseguir mordê-los e coletar sangue, recurso utilizado na conjuração de habilidades especiais.



O vampiro possui três barras, que ficam no canto superior esquerdo da tela: a de vida, a de vigor e a de sangue. A primeira mede quanto dano o jogador pode levar, e existem alguns fatores que diminuem “permanentemente” a quantidade máxima de saúde da barra, como o fogo. Para reverter essa situação, é necessário usar alguns itens medicinais que podem ser criados pelo doutor.

O medidor de vigor, tal como em Breath of the Wild (Wii U/Switch), limita as ações de esforço físico do personagem, como atacar e correr. Ele é recuperado automaticamente após um tempo. E por fim a barra de sangue, que seria a “mana” de Reid. Como já mencionado, esse recurso é obtido através de mordidas nos NPCs. O interessante é que as pessoas possuem um nível de qualidade do sangue, o que influencia diretamente no desenvolvimento dos poderes do protagonista.

Tal influência ocorre por meio do sistema de upgrades do jogo, que conta com a distribuição de pontos de sangue em habilidades passivas, ativas e supremas. Apesar de ter uma execução mediana, deve-se ao menos reconhecer que a variedade de opções na hora do combate é admirável. Isso faz com que a mecânica da importância das escolhas não se prenda exclusivamente ao enredo, e reflete tanto as decisões quanto o progresso do jogador enquanto vampiro.

A ambientação do jogo cumpre o conceito que promete: uma representação de uma Londres sombria e agonizante durante esse período trevoso. A questão é que não há muito além disso, já que os efeitos visuais são bem básicos e com uma polidez duvidosa. 



Porém isso não é nada perto da frustração dos momentos de carregamento, que ocorrem praticamente a qualquer hora, seja após as cutscenes ou até mesmo durante o combate. Esse obstáculo atrapalha bastante a fluidez do jogo, e há a impressão de que no Switch isso é ainda pior do que nas outras plataformas.

Contatos ou alvos?

Já que a jogabilidade aceitável e os gráficos razoáveis não são o destaque de Vampyr, cabe à narrativa o papel de tentar fazer com que essa longa experiência valha a pena. Por mais que haja uma diversidade admirável nos inventários e atributos de Reid, é no enorme leque de opções de interação social proporcionado pelo jogo que a verdadeira variedade está. 

Com direito até a um “menu de cidadão”, no qual as informações dos habitantes da cidade podem ser consultadas a qualquer momento, são várias as possibilidades de lidar com as pessoas ao redor. Mas cuidado: cada decisão importa e desencadeará (não tão diretamente) um dos quatro finais da aventura. 



Há apenas um problema: a quantidade nada amigável de texto para ler no jogo. Repleto de diálogos extremamente maçantes e longas páginas de registros sobre acontecimentos sobrenaturais em Londres, isso pode afastar jogadores que buscam uma experiência mais intensa. Apesar da dublagem em inglês, o jogo possui legendas em português.

Interagir com cada NPC para ouvir tudo o que eles têm a dizer leva bastante tempo, mas no final a escolha de tentar ajudar a população ou simplesmente assumir sua monstruosidade instintiva é o que determinará o estilo de jogo. 

Muitas opções, uma só escolha

Resumidamente, existem dois diferenciais em Vampyr: a diversidade de opções de gameplay e uma história rica que inclui relações sociais entre os personagens. Esse primeiro faz com que o jogador não se canse fácil, pois haverá momentos em que ele se perguntará se está aproveitando a experiência de um jogo de combate, exploração ou uma versão sombria e vampírica de Life is Strange (Multi)

Já o enredo é realmente admirável, mas pode não compensar os outros elementos como gráfico e jogabilidade, principalmente para aqueles que não possuem muita paciência em investigar e querem logo partir para a ação. Por ter quase o preço de um título AAA, fica difícil encontrar motivos que justifiquem sua aquisição com tantas outras opções de jogos de ação e RPG no console. Ainda assim, é válido dizer que para os admiradores de aventuras em que as escolhas importam, Vampyr é uma escolha interessantíssima. 

Pros

  • História rica e bem explorada;
  • Grande variedade na jogabilidade;
  • A rejogabilidade, a multiplicidade de finais e a importância das escolhas tomadas pelo jogador;
  • Campanha capaz de entreter por muitas horas;
  • Jogo com legendas em português.

Contras

  • Sistema de combate fraco;
  • Gráficos visuais medianos;
  • Grande quantidade de telas de carregamento, inclusive em momentos inadequados;
  • Diálogos densos e cansativos.
Vampyr - Switch/PC/PS4/XBO - Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Análise produzida com cópia digital cedida pela Focus Home Interactive
Revisão: Icaro Sousa

Estudante de publicidade que saiu do interior de Goiás para viver na cidade grande. Apaixonado por jogos, musicais e animações, passa bastante tempo no Twitter comentando sobre esses assuntos.
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