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Análise: Pokémon Mystery Dungeon: Rescue Team DX (Switch): um sopro de vida nova para um RPG clássico

Com um novo estilo artístico e a adição de elementos estratégicos que simplificam a experiência, o jogo é a porta de entrada perfeita para novatos de Mystery Dungeon.


Lançados originalmente em novembro de 2005 no Japão, Pokémon Mystery Dungeon: Red Rescue Team (GBA) e Pokémon Mystery Dungeon: Blue Rescue Team (DS) deram origem a uma série de RPGs roguelikes que foi lançada para vários sistemas da Nintendo. De volta às raízes, Rescue Team DX dá uma repaginada no clássico que começou a série. Além de gráficos em 3D estilizados que chamam a atenção, o remake de Switch se mostra um excelente título de entrada, oferecendo simplicidade para os novatos e bastante diversidade estratégica para os veteranos.

De volta ao mundo de Pokémon


Rescue Team DX começa com a transformação do jogador em um Pokémon. São 16 possibilidades, que incluem os iniciais das três primeiras gerações, Pikachu, Meowth, Psyduck, Machop, Cubone, Eevee e Skitty. A escolha é baseada em um quiz de personalidade, mas o jogador pode ignorar o resultado e trocá-lo pelo Pokémon que preferir, assim como em Super Mystery Dungeon (3DS).

Nesse novo mundo, ele logo se encontra com seu parceiro (também escolhido pelo jogador no início) e monta uma equipe de resgates. Trata-se de um grupo voltado para ajudar os Pokémon que estão em perigo, afinal, calamidades naturais têm se tornado cada vez mais frequentes. Eles exploram áreas variadas (as mystery dungeons) resolvendo quests que envolvem encontrar Pokémon desmaiados ou itens perdidos, por exemplo.

Além de ajudar as pobres criaturas, o jogador terá a oportunidade de descobrir mais sobre o mistério de sua transformação em Pokémon, enfrentar fortes oponentes e evitar a grande calamidade que ameaça o mundo. A história principal é exatamente a mesma dos jogos originais, mas é impressionante como ela consegue manter a qualidade tanto nos seus momentos mais engraçados quanto em seus pontos mais sérios.

Um ponto que ajuda a tornar as cenas até mesmo mais instigantes são as novas artes e animações. Com os gráficos agora em 3D, houve um esforço para estilizar a aventura e fortalecer a sua experiência. O primeiro detalhe que chama a atenção são os cenários. Claramente inspirados em livros infantis, eles conseguem dar um ar muito peculiar e charmoso ao jogo.


As animações também chamam a atenção, em especial, nas cutscenes de encontro com alguns chefes. Na maior parte do tempo, o jogo segue um estilo mais econômico, mas,  mesmo que isso aconteça em boa parte do jogo, a coreografia desses momentos específicos envolve um uso dinâmico da câmera e de efeitos sonoros que ficaram particularmente bonitos.

Hora de entrar na dungeon


Em termos de gameplay, vale destacar que a série Mystery Dungeon tende a ser repetitiva. Para quem nunca jogou, é bem recomendável aproveitar a demo do jogo, que está disponível, pois ela mostra muito bem o funcionamento básico do jogo. Simplificando, o jogador entra em uma dungeon gerada proceduralmente onde há itens, inimigos e armadilhas variadas.

Essas áreas são divididas em vários andares. Ao invés de seguir um estilo de ação em tempo real, o modelo Mystery Dungeon implica em inimigos e aliados que apenas se movimentam e atacam quando o jogador realiza o seu “turno” (movimenta, ataca, uso itens ou aperta um botão para ficar parado). Com esse sistema baseado em turnos, existem várias situações que exigem do jogador ter um controle rigoroso de como seu personagem age. No entanto, o novo título busca ser mais simplificado para facilitar a entrada de novatos.

Apertando L, o jogador pode ativar um modo automático que faz uma busca no cenário por itens, Pokémon e escadas para o próximo andar. Isso torna a exploração mais rápida muitas vezes, mas é bem perceptível que a programação dele traz consigo alguns problemas que o jogador precisa aprender a lidar. Mesmo com duas opções de preferência (focar em pegar todos os itens ou buscar as escadas mais rápido), o modo automático irá sempre priorizar enfrentar inimigos em caso de proximidade para evitar que o jogador seja pego desprevenido. Ele é inclusive cancelado quando há um inimigo há dois passos do jogador.


Também há um novo sistema de golpes automáticos, que substitui o ataque básico sem tipo que a série possuía nos jogos anteriores. Agora, ao apertar A, o jogo seleciona o melhor golpe de ataque do jogador para a situação. Apesar de útil, é importante ter cautela no seu uso, já que ele seleciona apenas golpes que causam dano (ou seja, habilidades de suporte nunca são usadas automaticamente) e pode escolher qualquer inimigo próximo (ignorando a direção do ataque, algo potencialmente problemático em confronto com vários inimigos ao mesmo tempo), e golpes tendem a ser usados à exaustão devido ao alinhamento das dungeons a tipos específicos (numa área de gelo, é provável que o melhor golpe de fogo do Charmander seja selecionado até esgotar).

Além do Pokémon protagonista, o jogador pode alternar o controle na dungeon para qualquer aliado na equipe em qualquer momento na dungeon. Essa funcionalidade é liberada bem cedo e aumenta as possibilidades estratégicas do jogador, que pode usar um Pokémon mais adequado para cada dungeon.

O recrutamento de aliados, característica fundamental da série, também traz algumas novidades. Quando o jogador entra em uma área, pode no máximo ter três personagens na equipe, mas ao derrotar outros Pokémon, alguns deles podem pedir para se juntar ao grupo. No total, é possível ter até 8 criaturas disponíveis por vez, a maior quantidade que a série já permitiu.


Esses aliados, no entanto, são apenas temporários. Se eles morrerem na dungeon, o jogador irá perdê-los. Além disso, as Friend Areas do jogo original estão de volta, revivendo uma limitação desnecessária e frustrante. Em suma, cada Pokémon só pode se tornar um aliado se o jogador tiver adquirido o terreno ao qual ele pertence. Com uma grande quantidade delas, é bem possível que o jogador não tenha aquela área específica ainda, e acabe não recrutando um aliado por causa disso, ganhando apenas um pouco de dinheiro por mantê-lo vivo. Mesmo com a adição de uma nova orbe, a Wigglytuff Orb, que permite ao jogador comprar as áreas enquanto ainda está na dungeon, trata-se apenas de um retrocesso.

Por falar em retrocesso, é uma pena que o jogo reduziu a quantidade de Pokémon disponíveis em comparação com o seu antecessor, Super Mystery Dungeon, trazendo uma leve expansão em relação ao Rescue Team original. Felizmente, isso é apenas um leve incômodo, já que o jogo tem uma quantidade considerável de criaturas. Além disso, há Pokémon mais fortes nas dungeons que podem vir shiny (uma coloração especial e rara), e existe muita coisa para o jogador investir seu tempo na coleção de aliados, especialmente no pós-game.

Outro elemento estratégico bem interessante que é novidade são as Rare Qualities. Com elas, a equipe inteira pode receber bônus, que vão desde o fortalecimento dos personagens quando eles tomam dano até o ganho de mais experiência ou o aumento da probabilidade de recrutamento de novos aliados. Algumas criaturas já vem com esses benefícios, enquanto outras podem recebê-los comendo Gummis (que também fortalecem os atributos do personagem).

Por fim, vale destacar também que o Makuhita Dojo também sofreu mudanças para aproveitar a adição do auto movimento e auto-golpe. Ele agora seleciona automaticamente a melhor dungeon para o tipo do Pokémon e o jogador tem um limite de tempo para a sua exploração. A melhor forma de explorá-lo é, então, fazer uso dos automáticos para alcançar a maior quantidade de inimigos no menor tempo possível.

De forma geral, Rescue Team DX oferece muitas possibilidades estratégicas e algumas comodidades que ajudam a fazer a ponte entre novatos e veteranos, além de oferecer mais qualidade de vida para lidar com a tradicional repetitividade da série, mesmo não lidando diretamente com o problema. Até a história envelheceu bem e as escolhas estilísticas de arte contribuem muito para dar vida nova ao jogo.


Quem tem costume com a série, pode achá-lo inicialmente muito mais fácil do que o usual, mas francamente isso está longe de ser um defeito. Trata-se apenas de uma modernização do jogo, que se tornou sem sombra de dúvidas a melhor obra para se mergulhar no mundo de Mystery Dungeon pela primeira vez.

Prós

  • Cenas de animação bem coreografadas que dão vida aos eventos da história;
  • Cenários estilizados que lembram um belo livro infantil;
  • Roteiro continua tendo um excelente timing cômico e dramático;
  • Possibilidade de alternar entre aliados na dungeon e ter até oito criaturas na equipe durante a exploração oferece muitas opções estratégicas ao jogador;
  • Novo sistema de Rare Qualities oferece efeitos bem úteis à equipe.

Contras

  • O retorno da limitação das Friend Areas apenas atrapalha no recrutamento de novos Pokémon;
  • Lista de Pokémon disponíveis reduzida em comparação com jogos anteriores da série;
  • Assim como os outros jogos da série, a exploração pode ser bem repetitiva.
Pokémon Mystery Dungeon: Rescue Team DX — Switch — Nota: 9.5

Revisão: Felipe Fina Franco
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo
Pokémon Mystery Dungeon: Rescue Team DX está disponível na Loja Nintendo

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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