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Análise: SeaBed (Switch): mergulhando em um mistério psicológico surpreendente

Com um roteiro envolvente marcado por várias reviravoltas, SeaBed é uma kinetic novel muito bem-vinda à biblioteca de jogos do Switch.


Desenvolvido pela paleontology e publicado no Ocidente pela Fruitbat Factory, SeaBed é uma visual novel de mistério. Centrada em um mistério sobre um casal de mulheres lésbicas, a história brinca com perspectiva para surpreender o jogador com suas reviravoltas.

Uma kinetic novel

A coisa mais importante a se saber sobre SeaBed é que o jogo pertence ao gênero kinetic novel, um tipo de visual novel em que não há seleção de escolhas nem outros elementos de gameplay que permitam ao jogador alterar os eventos da história. Ou seja, o jogador tem apenas que seguir um fio de história sem a capacidade de fazer nada para mudá-lo. Outros exemplares desse estilo incluem a série When They Cry (Higurashi, Umineko), Planetarian e Narcissu.

São títulos que usualmente apostam na sua atmosfera e em histórias bem contadas para envolver o jogador, mas que estão na linha mais tênue possível entre o que é jogo e o que poderia ser considerado talvez um livro digital com som e ilustrações. Por conta disso, é um tipo de obra fácil de pegar e acompanhar, mas que, ao mesmo tempo, acaba sendo difícil de recomendar para quem ainda não tem contato com visual novels e gostaria de usar o jogo como ponto de entrada.

Com isso em mente, SeaBed é focado especialmente no relacionamento entre duas mulheres: Sachiko e Takako. As duas se conheceram ainda na infância e se tornaram um casal ao longo do tempo. No entanto, após vários anos, Sachiko está sozinha, mas não consegue saber o que levou a isso. Ela começa a desvendar o que aconteceu após encontrar com sua amiga de infância Narasaki, que agora é uma psicóloga cuja especialidade está na área da memória.


Entender o que aconteceu é o centro da história, que oferece várias reviravoltas interessantes e se mostra muito mais complexa do que pode parecer inicialmente. A questão da perspectiva é muito bem explorada, complicando as coisas e deixando o jogador intencionalmente perdido entre o que é real, o que é memória e o que é ficção. Tudo que é mostrado existe por um motivo, mas as pistas reveladas nem sempre irão se encaixar de forma clara e direta em um primeiro momento.

As personagens, que incluem também algumas NPCs, são bem interessantes, e suas personalidades ajudam a tornar as interações mais divertidas. Boa parte da história envolve momentos cotidianos com diálogos mundanos que ajudam a dar vida ao contexto. Existem alguns momentos mais verborrágicos de discussões filosóficas e psicológicas que ajudam a discussão proposta.


Tudo isso contribui para formar uma história muito instigante, mas que falharia completamente se não tivesse uma excelente tradução do japonês para o inglês. Esse aspecto é uma das maiores forças do jogo, tornando a experiência de leitura fluida e dando vida às personagens e ao contexto.

Indo além da história


Se por um lado a história é envolvente, por outro há outros elementos que precisam ser levados em consideração. Ao contrário de muitas obras no mercado atualmente, SeaBed não conta com voice acting. É compreensível, considerando que a desenvolvedora, paleontology, é um grupo pequeno, mas isso acaba pesando um pouco contra a experiência. Especialmente para diferenciar quem está falando quando tudo é apresentado como texto corrido sobre a tela ao invés de balões de fala.

Vale destacar que SeaBed conta com textos em inglês e japonês, e o jogador pode alternar entre eles a qualquer momento. Apesar disso ser uma boa possibilidade, o jogo acaba apagando o log de textos e avançando para o próximo ponto da história quando essa opção é selecionada, fazendo com que seja difícil para o jogador comparar o original e a tradução caso tenha interesse e conheça ambas as línguas. Não é algo que afetaria muitos jogadores, mas acaba desvalorizando a opção.

 Ainda em termos de produção, há dois aspectos em particular que chamam a atenção. O primeiro é a trilha sonora, que é maravilhosa e conta com músicas que se adequam perfeitamente ao tom da história. O outro são as CGs, um termo usual para cenas mais detalhadas de visual novels. Há uma boa quantidade delas, todas muito bem feitas. É perceptível o investimento no aspecto visual, até porque o jogo também conta com vários cenários para as cenas de diálogo mais comuns.

Conforme o jogador vai avançando na história, ele também libera Tips, um sistema que também existe, por exemplo, na série When They Cry. A ideia é que eles são eventos extras de diálogo, que oferecem pistas adicionais para que o jogador possa desvendar por conta própria o que está acontecendo antes da história revelar. Eles não são essenciais, mas ajudam a deixar o jogador ainda mais imerso na trama. De fato, várias ocasiões em que eu estava xingando o jogo por suas boas reviravoltas foram graças a esses momentos.

A versão de Switch também conta com papéis de parede com imagens promocionais do jogo. O jogador pode escolher qualquer um deles a qualquer momento ou simplesmente deixar o fundo preto se preferir. Opções de skip, passar automaticamente o texto e ajuste de volume também estão presentes. Vale destacar que é possível jogar tanto pelo Joy-Con quanto tocando diretamente na tela no modo portátil.

De forma geral, SeaBed é uma obra de mistério impressionante e envolvente. Brincando com a perspectiva do jogador, qualquer fã de visual novels certamente deveria dar uma chance para a obra. Infelizmente, para quem ainda não teve muito contato com o gênero, pode não ser tão indicado apenas por se tratar de uma novel kinética, mas se a pessoa for preparada para muita leitura e nenhum outro tipo de interação, ela dificilmente irá se arrepender de mergulhar nesse mistério.

Prós

  • Mistério brinca com perspectiva e traz reviravoltas bem escritas;
  • Discussão psicológica e filosófica instigante;
  • Tradução para o inglês escrita com bastante fluidez;
  • Variedade de cenários e cenas bem desenhadas;
  • Trilha sonora adequada ao tom da história;
  • Possibilidade de usar o Joy-Con ou a tela de toque.

Contras

  • A falta de interação de uma obra kinética não é recomendável para jogadores que não têm costume com visual novel;
  • Não há nenhum voice acting.
SeaBed — Switch/PC — Nota: 8.0
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Fruitbat Factory

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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