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Análise: Blind Men (Switch): um supervilão gay e seus namorados espiões

Visual novel BL oferece uma experiência curta, porém divertida.


Desenvolvido pela Man-Eater Games, Blind Men é uma visual novel BL, um gênero em que são desenvolvidos relacionamentos românticos entre rapazes. Com uma história inspirada em obras sobre espiões e boas doses de comédia, o jogo traz uma experiência divertida, porém curta.

Um dia de supervilão


Blind Men conta a história de Keegan, um jovem rapaz que sonha em seguir a carreira de seu tio, ou seja, tornar-se um exímio supervilão. Como um bom vilão precisa ter recursos, ele decide se tornar um membro da “Liga”. Para se candidatar, no entanto, ele precisa causar um grande incidente e mostrar a sua capacidade.

Aproveitando um evento científico onde um diamante especialmente puro seria mostrado, Keegan decide realizar lá a sua entrada triunfal no mundo do crime. No entanto, o que ele não podia imaginar é que outras organizações também estavam de olho na exposição e haviam enviado agentes de espionagem para recuperar o objeto.

O roteiro, porém, é uma grande galhofa. Apesar de haver alguns elementos sérios na trama, a história tende a se desenvolver de forma bem humorada, sendo uma grande paródia de obras de espionagem. Não que isso seja negativo, pelo contrário, esse aspecto é parte do que torna a história divertida.


Como se trata de um BL, uma das primeiras decisões do jogo envolve escolher entre o agente dos Estados Unidos e o da União Soviética. O norteamericano é um grande fanfarrão que adora flertar com o protagonista, já o espião da KGB é usualmente mais frio e contido. Dependendo das escolhas do jogador, é possível conhecê-los melhor e desenvolver uma relação mais íntima com os personagens.

 No entanto, a narrativa é bem curta e o relacionamento entre eles acaba não se desenvolvendo plenamente. Mesmo em termos da história como um todo, há certos lapsos temporais com descrições puramente textuais. Por conta disso, certos eventos, que deveriam ter mais exposição, parecem acontecer muito rapidamente e de forma forçada. Alguns deles são melhor explicados em outras rotas, mas outros não.


Por outro lado, o pequeno tamanho das rotas também faz com que seja fácil explorar as várias possibilidades da trama. Afinal, cada decisão tomada tem impactos para o desenrolar e também para o final, sendo possível mudá-lo completamente às vezes só com uma pequena escolha. Um detalhe importante é que nenhum final é tratado de forma clara como o “verdadeiro” ou “melhor”, mas alguns oferecem imagens extras, usualmente envolvendo o protagonista e um dos espiões.

Ainda no aspecto escrita, vale destacar que o texto em inglês tem uma variedade de pequenos errinhos. Apesar de não serem graves, a frequência deles é incômoda. É possível também jogá-lo em espanhol ou alemão. Infelizmente não há uma opção de português, o que seria bem vindo por se tratar de uma obra focada em texto, mas o vocabulário não é complicado.

O mundo de espiões e vilões

Como a obra é pequena, poucos personagens aparecem na história. Além de Keegan e dos dois espiões, temos o tio “Sphinx”, um lacaio sem nome e a Srta. Mantis (outra supervilã, amiga de longa data de Sphinx). Nem mesmo o doutor que ia apresentar o diamante tem uma arte.


O visual dos personagens é bastante genérico, o que, apesar de combinar com a proposta de paródia, também faz com que eles não chamem muita atenção. Particularmente, Sphinx é o que mais me incomoda nesse aspecto, pois ele só parece um tio careca dono de loja e tenho dificuldade de levá-lo a sério nas cenas em que deveria.

Apesar de ser fácil se acostumar ao longo do jogo, nas imagens especiais de evento esse problema é ainda mais claro. Uma parte muito importante de uma visual novel são as artes, chamadas tradicionalmente de “CGs de evento”, usadas para representar momentos notáveis da narrativa. Infelizmente, boa parte das que estão presentes em Blind Men são simples demais, com fundos chapados e sem vida. Os personagens genéricos corroboram com a sensação de que não há nada de interessante na cena.


A trilha sonora também segue clichês de espionagem e funciona de forma aceitável. Novamente, não chama muito a atenção, mas pelo menos não chega a ser um problema. O jogo usa vozes em espanhol, mas apenas em trechos curtos espalhados pelo jogo, o que acaba sendo estranho. É tão pouco que é até difícil julgar se a dublagem é boa.

De modo geral, é uma experiência sólida. Seria interessante que os desenvolvedores tentassem fazer algo mais único em um próximo jogo, mas a paródia de obras de espionagem com um contexto de relacionamento romântico entre homens é interessante. Ri bastante e me senti instigado a ler mais ao longo do jogo todo.

Prós

  • Roteiro recheado de humor faz uma paródia instigante de histórias de espião;
  • Rotas curtas facilitam rejogar em busca de outros eventos e finais.

Contras

  • Alguns desenvolvimentos da história são mal explicados;
  • Artes dos personagens e CGs de eventos têm um forte tom genérico;
  • Texto em inglês possui vários errinhos.
Blind Men — Switch/PC/PS4/XBO — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ratalaika Games
Revisão: Kiefer Kawakami

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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