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Análise: Dream Daddy: Dadrector's Cut (Switch) é tanto um simulador de encontros quanto uma aula de paternidade

Crie seu personagem, conheça outros homens na vizinhança e escolha um deles para tentar a sorte no amor.


Nada melhor para aproveitar o clima no Mês do Orgulho LGBT do que jogar um dating sim (simulador de encontros) com um diverso elenco de pais em uma cidade costeira. E Dream Daddy: Dadrector's Cut oferece exatamente essa experiência, com direito a flertes entre homens de meia idade, dramas familiares e até alguns mini games bem divertidos.


Desenvolvida e publicada pela Game Grumps, a visual novel conta com uma grande variedade de finais que dependem das escolhas do jogador. Uma direção de arte encantadora e uma trilha sonora que consegue colocar qualquer pessoa no clima romântico, mas descontraído, do jogo. Isso sem mencionar as piadas de pai, que estão presentes em grande maioria dos diálogos e encaixam perfeitamente na proposta de Dream Daddy.

A terra dos pais solteiros

A sentimental jornada do protagonista inicia assim que ele e sua filha adolescente, Amanda, chegam de mudança em Maple Bay. Conforme exploram a vizinhança, os dois conhecem vários homens adultos que geralmente estão acompanhados de seus filhos, incluindo um velho colega de quarto do protagonista e o dono da cafeteria local. Em pouco tempo de diálogo já é possível adquirir uma impressão da personalidade de cada “pai” disponível na área, mas honestamente todos eles possuem seu charme.
Robert, Damien, Hugo, Joseph, Craig, Mat e Brian, da esquerda para a direita.


A ambientação dos locais também é bem agradável, com ilustrações de cenários coloridos e tão descontraídos quanto as brincadeiras entre os personagens. Neste caso, a qualidade da arte compensa a falta de muitos ambientes na cidade. Mas isso de certa forma acaba dando um pouco mais de destaque para o visual dos NPCs, que são extremamente bem construídos ao representar os pais com um pouco de sex appeal, mas jamais fugindo do family-friendly

Tal caracterização se dá por conta do papel importantíssimo da família no jogo, tornando-o muito mais do que um simples simulador de romance, mas também uma verdadeira aula de paternidade. Ao considerar o fato de que a maioria dos núcleos familiares de Dream Daddy não são tradicionais, esse papel de conscientização é ainda mais impactante por conta da representatividade envolvida.

Amor de pai

No geral, a jogabilidade não foge muito do padrão de outras visual novels, com longas cenas de diálogos e eventuais oportunidades de escolher a fala do seu personagem. Ainda assim, o jogo passa longe de ser uma experiência cansativa, visto que os cenários e as interações entre os personagens mudam constantemente. Um fator que contribui bastante para dar mais vida à gameplay são os diálogos e ações que envolvem a filha do protagonista, Amanda, devido ao seu carisma encantador e um humor bem leve e divertido.



Em questões de romance, é possível flertar com outros pais, convidá-los (ou ser convidado) para encontros e até mesmo passar a noite com alguns deles, basta selecionar as opções ideais nas conversas. O jogo possui um sistema de rede social chamado DadBook, que serve tanto para apresentar a personalidade dos personagens quanto para iniciar um bate-papo com os interesses românticos do protagonista. 

Em algumas campanhas a parte romântica não é explorada em primeiro plano pelos pais, o que dificulta um pouco (e até impossibilita em alguns casos) conquistar um relacionamento amoroso com os outros homens. Após o final de cada encontro uma tela de resultados aparece para apresentar um feedback da situação por meio de gráficos, da contagem dos dad/daddy points (pontos de pai/papai) e de uma nota geral. Além disso, cada pai escolhido possui mais de um final, e alcançá-los resulta no desbloqueio de fotografias que aparecem no final dos créditos do jogo.

Brincadeira de adulto

Apesar de grande parte do jogo ser composta pelos diálogos, que por sinal são geniais, mini games e sidequests marcam presença para agregar mais dinamismo à narrativa. Por exemplo, logo em um dos primeiros encontros o protagonista e Brian, um dos pais disponíveis no jogo, podem entrar em uma espécie de batalha Pokémon entre suas filhas, na qual os ataques são feitos a partir da vanglória de cada pai em relação às conquistas das garotas. 



Outros mini games envolvem atividades do dia a dia dos pais com quem o protagonista se relaciona, como minigolfe, tocar instrumentos musicais e até enfrentar multidões em baladas. Estes jogos possuem objetivos bem simples, alguns até podem ser considerados um pouco entediantes de tão fáceis, mas no fim das contas eles são uma adição positiva ao game. 

Mesmo com uma excelente caracterização dos NPCs, a customização do protagonista deixa muito a desejar. E quem acha que é por conta de uma quantidade limitada de recursos visuais na criação do personagem está bastante enganado; o problema aqui ocorre no excesso de cartunização das opções disponíveis, o que causa um contraste desconfortável na aparência do pai controlável, que fica relativamente mais infantil do que a dos outros homens.



A intenção de disponibilizar roupas e penteados mais cômicos (como uma camisa social com estampa de gatinhos ou o corte de cabelo do Goku) parece interessante em um primeiro momento, mas logo após alguns minutos de jogo já é possível perceber o quanto os outros personagens tem caracterizações mais realistas e criativas. Isso pode frustrar um pouco a experiência, mas nada muito significativo.

Outro problema enfrentado é que apesar do jogo possuir um altíssimo fator de rejogabilidade por conta de sua diversidade de finais (que incluem também um desfecho secreto bastante sinistro), ter que repetir todos os passos do começo pode ser algo cansativo. Para tentar solucionar esse obstáculo é possível salvar manualmente o progresso, mas isso compromete um pouco a imersão do jogador nos diálogos.



A portabilidade do Switch cai como uma luva na jogabilidade simples e prática de Dream Daddy, sendo possível completar uma campanha inteira antes mesmo da bateria do console acabar (no modo portátil com carga completa). Por fim, vale mencionar que o jogo está disponível unicamente em inglês, e como seu destaque são os diálogos, é bastante complicado desfrutar de sua experiência sem possuir um nível intermediário da língua. Dessa forma, pode-se dizer que Dream Daddy é uma visual novel cheia de representatividade e praticidade, mas infelizmente peca em ser inacessível para todos os jogadores.

Pros

  • Narrativa muito bem construída com múltiplos desfechos;
  • Personagens bastante carismáticos e encantadores;
  • Ambientação simples, porém agradável;
  • Diálogos excelentes, que oscilam entre o emocionante e o cômico;
  • Dinamismo na jogabilidade a partir de sidequests e mini games; 
  • Representatividade e praticidade destacam-se entre outros jogos do gênero.

Contras

  • Qualidade da customização do protagonista deixa a desejar;
  • Revisitar o jogo múltiplas vezes pode ser bastante cansativo;
  • Inacessível para jogadores que não dominam razoavelmente a língua inglesa.
Dream Daddy: Dadrector's Cut - Switch/PS4/XBO/PC - Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Felipe Fina Franco
Análise produzida com cópia digital adquirida pelo próprio redator

Estudante de publicidade que saiu do interior de Goiás para viver na cidade grande. Apaixonado por jogos, musicais e animações, passa bastante tempo no Twitter comentando sobre esses assuntos.
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