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Análise: Blair Witch (Switch) — terror psicológico que desperdiça um grande potencial

Com foco na exploração, o título que poderia ser um clássico será enterrado pelo tempo.


Quem teve a oportunidade de viver nos anos 1990, deve ter tido o privilégio de assistir (ou pelo menos ouvir falar na época) o filme original “A Bruxa de Blair”. Afinal, o longa de terror foi um sucesso de bilheteria e por muito tempo recorde de faturamento. O enredo era sobre três jovens cineastas que se perderam em uma floresta amaldiçoada. Por muito tempo a franquia original se manteve no esquecimento, com uma sequência não muito bem sucedida e um reboot em 2016 que ninguém soube que aconteceu.



Entretanto, a Bloober Team assumiu a responsabilidade de reviver (ou não) a série clássica do cinema por meio dos videogames. Blair Witch é a sequência direta do filme original. O enredo se passa em 1996, dois anos após os eventos do filme, e conta a história do ex-policial Ellis quando ele se junta à busca por um garoto desaparecido na floresta Black Hills.

À primeira vista, o jogo parece um promissor título de terror (e poderia muito bem ser), até o jogador completar a primeira hora de jogatina. Embora o clima e a atmosfera sejam convincentes, a maior parte do tempo o objetivo geralmente é procurar coletáveis em uma área fechada e escura. A floresta Black Hills é enorme e cheia de mistérios, mas durante o gameplay, fica claro que tudo não passa de uma maquiagem que esconde um jogo raso, com pouco conteúdo explorável e bastante linear.

Mas nem tudo é problemático em Blair Witch: o game conta com mecânicas muito originais e a Bloober Team teve capricho em alguns detalhes inimagináveis, como fazer um celular dos anos noventa e ainda por jogos clássicos da época no aparelho (como Snake, o jogo da cobrinha). Vale também elogiar a mecânica da filmadora para resolver alguns enigmas e o ponto mais alto da aventura: Bullet, o cão policial que ajuda Ellis durante a sua busca.


Procurando agulha no palheiro

Terror psicológico com visão em primeira pessoa, Blair Witch foca na exploração do cenário para poder progredir na trama. Ellis conta com itens fundamentais desde o começo até o final da história, que são: lanterna, filmadora, celular e um walk-talk da polícia. Os quatro objetos podem ser rapidamente acessados por meio do direcional em cruz do controle, são peças chave para resolver os quebra-cabeças e até mesmo enfrentar os inimigos que irão aparecer em certas partes da história.

Como citei anteriormente, a exploração do cenário é a maior parte da experiência com o game (e o maior problema). Principalmente nos capítulos que rolam durante a noite, devido à escuridão extrema, que em parte é um problema técnico da versão de Switch. Perambular dezenas de vezes em uma parte da floresta em busca de uma fita ou objeto específico para poder progredir na história não é divertido (e muito menos assustador) já que durante a exploração nada de relevante acontece. Absolutamente nada, nem mesmo um jump scare, tornando a experiência frustrante demais.

A progressão da trama está atrelada a pistas que devem ser encontradas, como por exemplo, o boné do garoto desaparecido para Bullet farejar, ou uma gravação em fita K7 para poder ter noção do que aconteceu e para onde ir. Mas enquanto o jogador não encontra esses objetos, a floresta (que visualmente é um labirinto enorme), entra em um loop infinito de entradas e saídas. Em outras palavras, funciona como o jogo Pac-Man, quando você chega a uma saída, acaba voltando para o outro lado do cenário novamente. E isso é assim durante o jogo inteiro, tornando a experiência maçante, porque nada acontece até que a agulha seja encontrada nesse enorme palheiro.


Apesar desse problema, é uma grande satisfação avançar na história após achar as pistas necessárias. Principalmente quando é preciso usar uma das coisas mais legais, que é a mecânica de retroceder fitas K7 durante os quebra-cabeças . Em determinados pontos do jogo, será necessário acessar áreas que já foram destruídas ou estão bloqueadas. Quando você tem em mãos a gravação que mostra o local sendo destruído, ou bloqueado, é possível retroceder o filme e ver tudo sendo reconstruído novamente.

Falando na história, a mesma possui três finais diferentes. O final pode mudar dependendo da forma que o jogador interage com o cachorro e também outros personagens. A interação com outros humanos é feita através do telefone celular de Ellis, que pode ligar para qualquer contato da sua lista telefônica ou receber mensagens SMS de seus conhecidos. A trama gira em torno do passado do protagonista, que está sempre sendo trazido à tona por meio de flashbacks criados pela floresta amaldiçoada.

O melhor amigo do homem

Não há dúvidas que o melhor personagem do jogo é o cachorro de Ellis, Bullet, que é fundamental para ajudar a encontrar pistas, objetos coletáveis e durante os combates. O animal foi muito bem programado pela Bloober Team, tendo sensações como medo, alegria e raiva em diversas partes da trama. É importante estabelecer um bom relacionamento com o mascote para ter acesso a um dos finais alternativos.

Para se tornar mais amigo de Bullet é importante observar a linguagem corporal do cão, sempre elogiá-lo quando ele fizer algo certo e até mesmo repreendê-lo quando ele se distrai durante uma busca. E claro, sempre recompensar o seu amigo com um biscoito.

Além de auxiliar na sua busca, Bullet também é imprescindível durante as batalhas contra demônios da floresta. Invisíveis aos olhos humanos, essas criaturas só podem ser percebidas pelo cão, que indica a direção de onde estão vindo para que possam ser eliminados com a luz da lanterna.


Tecnicamente problemático

Quando Blair Witch foi lançado para outras plataformas, um dos maiores elogios que ele recebeu foi o seu visual bem feito. Infelizmente, a versão de Nintendo Switch ficou devendo, e muito, nesse quesito. É sofrível fazer qualquer coisa durante o jogo inteiro. Já não basta as pistas estarem escondidas em locais totalmente aleatórios (devido à uma péssima direção de level design), tudo é extremamente escuro. Além dos problemas de iluminação, o cenário demora para renderizar, fazendo objetos pipocarem na tela do nada.

Não podemos deixar passar batido a baixa resolução, que fica pior ainda no modo portátil. É inaceitável que em 2020, uma empresa lance um jogo nesse estado para ser vendido. Ao fazer um comparativo com as versões de outros consoles e PC, a diferença é tão gritante que nem parece ser o mesmo jogo.

É de conhecimento geral que as especificações do Switch não sejam equivalentes aos outros hardwares, mas sabemos muito bem que o híbrido tem sim um grande potencial gráfico. Ou seja, houve falta de capricho da Bloober Team ao fazer o port para o console da Nintendo.


Potencial desperdiçado

Blair Witch não é um jogo totalmente horrível, mas está longe de ser bom o suficiente para ser fortemente recomendado. O que é uma pena, porque existem sim pontos fortes no título, que no fim acabaram sendo enterrados por longas e repetitivas sessões de procurar coletáveis e quebra-cabeças com pouco sentido lógico.

Os poucos momentos de terror não assustam. Boa parte da experiência se compara aos antigos trens-fantasmas que existem em parques de diversão. Tudo ali dentro é feito para te assustar, mas no fim, não consegue. O terror psicológico prometido está mais presente na ansiedade para que o jogo termine o quanto antes, do que nos sussurros forçados, e francamente, vergonhosos para um jogo adulto.

Em resumo, Blair Witch pode ser uma experiência maçante, que talvez por falta de tempo suficiente, não se tornou uma obra prima do terror.


Prós

  • Mecânicas criativas;
  • Utilização inteligente da câmera filmadora;
  • O cachorro é um ponto de destaque na jogabilidade;
  • História bem elaborada.

Contras

  • Repetitivo;
  • Dificuldade arcaica para encontrar coletáveis;
  • Visualmente feio no Switch;
  • Problemas de performance;
  • Glitches visuais.
Blair Witch — Bloober Team - Switch/PC/PS4/XBO - Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: Switch 
Revisão: André Carvalho
Análise produzida com cópia digital cedida pela Bloober Team

Em constante mudança, escrevo sobre o que gosto e às vezes sobre o que não gosto também.
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