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Análise: Catherine Full Body (Switch) é a versão mais encorpada de um clássico cult

Pela primeira vez em uma plataforma da Nintendo, o jogo melhora tudo o que existia na versão clássica e democratiza a dificuldade dos quebra-cabeças.

A Atlus traz ao Switch a versão definitiva de uma das aposta mais arriscadas (e ousadas) da empresa. Catherine: Full Body é mais do que uma remasterização do clássico Catherine (PS3/360) A versão traz novos personagens à trama, mais modos de jogo e também possui novos finais, se tornando a experiência definitiva para o título. O jogo é uma visual novel intercalado com um compilado de quebra-cabeças, regidos por uma maravilhosa trilha sonora e lindíssimos gráficos no estilo das animações japonesas.


Antes de tudo, é preciso deixar algumas coisas bem claras: diferente do que o marketing do título sugere, Catherine não é uma experiência com apelo sexual, mas sim uma trama adulta. Isso também significa que o game poderá não agradar a todos os públicos, principalmente os mais jovens, porque não irão conseguir se identificar com certas situações que somente quem já viveu sabe como é – conflitos pessoais, relacionamentos e o futuro são apenas alguns dos temas abordados.

A base da história continua igual à versão clássica: gira em torno de Vincent, um homem que já está na casa dos trinta anos e ainda não conseguiu decidir o rumo de sua vida. Vincent namora Katherine (é importante notar que o nome começa com a letra K), uma mulher culta, centrada e focada nos seus objetivos. Os dois se paqueram desde o ensino médio e se mantiveram confortáveis assim por anos, entretanto, devido a pressão que ela vem sofrendo de seus pais, Katherine pressiona o protagonista para que se casem e formem uma família.



Com esse cheque-mate de sua namorada, Vincent começa a ser assombrado pelos seus próprios pensamentos, pois, para ele, casar implicaria perder a sua liberdade. Esse questionamento é um dos pilares principais de toda a história do jogo. À noite, Vincent frequenta o bar The Stray Sheep com os seus amigos Jonny, Orlando e Toby. Ali eles conversaram sobre a pressão que Katherine está impondo, como isso pode ser ruim e que ele deveria apenas curtir a vida como eles já fazem.

Após uma noite de bebedeira, com várias dúvidas sobre sobre o seu futuro, Vincent se vê sozinho naquele local, até que uma linda e provocante mulher entra no bar. Mesmo todas as mesas estando vazias, essa jovem, que se chama Catherine (com a letra C), decide se sentar ao lado de Vincent. Após conversarem, os dois acabam dormindo juntos.

A partir desse momento, o protagonista começa a ter pesadelos todas as noites. São nesses pesadelos em que a verdadeira jogabilidade do game aparece. O jogador assume o papel de Vincent, com chifres de ovelha. O objetivo é subir até o final de uma escada de blocos, que estão caindo pouco a pouco. A forma que esses blocos estão empilhados não permite que se escale com facilidade, obrigando o jogador a manusear e organizá-los de forma que seja possível chegar ao topo e sair com vida do pesadelo, caso o personagem chegue a cair no abismo, o mesmo morrerá também no mundo real.



O mistério fica ainda mais intrigante após vários homens que relataram ter esse tipo de sonho serem encontrados mortos em suas camas durante as manhãs, chegando a se tornar um assunto muito comentado entre as pessoas do jogo. No meio desse grande mistério, Vincent agora se encontra dividido entre dar um passo no seu relacionamento com Katherine ou deixar tudo para trás e viver com Catherine. O desenrolar da história pode ocasionar vários finais, tudo dependerá das escolhas que o jogador fizer durante a história. Até a maneira de responder (ou ignorar) as mensagens recebidas no celular pode influenciar nos acontecimentos seguintes.

Porém, em Full Body é adicionado um terceiro caminho: Rin, uma garota misteriosa de cabelo rosado, que sofreu amnésia e trabalha no bar que Vincent frequenta todas as noites com os amigos. A nova personagem é salva por Vincent logo no começo do jogo e se torna vizinha do protagonista, morando exatamente no apartamento do lado.

A imersão de todo o conjunto é excelente, porque todos os personagens secundários contam as suas próprias histórias – que se intercalam com trama principal. Aconselho a falar com todos eles para aproveitar ao máximo tudo o que o jogo oferece. A direção de som é perfeita e deve ser citada: Shoji Meguro fez outro álbum magnífico para esse título e a dublagem está excelente, como de costume nos jogos da Atlus.


Um mundo de pesadelos

O mundo dos pesadelos é um lugar caótico que é habitado apenas por homens, que são representados em forma de ovelha. O objetivo é subir uma escadaria de blocos que está lentamente desmoronando, mas é necessário mover os blocos aos lugares certos para conseguir progredir na escalada. É necessário um pensamento muito rápido e cautela para passar esses desafios. No intervalo de uma fase para outra existe uma área segura, onde é possível conhecer as histórias de outros homens em forma de ovelhas, lembre- se que é importante falar com todos eles, apesar de ser algo opcional.

Todo o clima do pesadelo lembra a ideia de igreja católica da idade média, com estátuas e símbolos que fazem alusão aos homens que são como uma ovelha perdida que vivem uma vida de pecado. Após concluir uma fase, é preciso entrar em um confessionário, e conversar com uma voz misteriosa que fará perguntas e dará sempre duas opções de resposta ao jogador. Essas respostas são a chave para decidir o destino de Vincent e consequentemente, o final do jogo.



Um dos maiores problemas apontado pelos jogadores da versão clássica era a dificuldade para passar dos quebra-cabeças presentes no game. Isso foi corrigido em Full Body, agora se você deseja apenas acompanhar a história ou quer resolver os puzzles uma outra hora, é possível deixar o jogo em modo automático. Nesse modo, Vincent escala até o final da fase sozinho e é uma verdadeira mão na roda para quem não consegue acompanhar o ritmo frenético do pesadelo. Também é possível alterar a dificuldade do game a qualquer hora.

Ainda existem mais modos de jogo, que permitem revisitar as fases já concluídas para serem jogadas novamente na dificuldade desejada e um multiplayer local ou online, tanto em modo versus como também em cooperativo com algum amigo.Outra novidade legal é o modo Remix: neste, as fases apresentam blocos maiores, que se parecem com as peças de Tetris, e mudam completamente a dinâmica dos quebra-cabeças, sendo ideal para aqueles que já experimentaram o Catherine clássico.

Apesar da dificuldade ser complicada no modo normal, e até mesmo brutal nos últimos estágios, tudo é compensado pelo enredo. Se tornando viciante, a ponto de te fazer jogar por muitas horas seguidas somente para saber o desfecho da trama.


O lugar das ovelhas perdidas

O bar The Stray Sheep é o local onde a maior parte do jogo se passa. Neste estabelecimento, Vincent pode conversar com todos os personagens secundários para saber mais sobre as suas vidas. Algumas conversas desbloqueiam novos acontecimentos, como mensagens no celular e ligações de Catherine ou Katherine. Apesar de ser opcional, é importante falar com todos eles para desbloquear um final bom para o jogo.

Além disso, o bar conta com uma máquina de fliperama, que possui um minigame parecido com o mundo do pesadelo. Além de uma jukebox, que é um baita fan service para quem já jogou outros títulos da Atlus, trazendo várias músicas da série Persona e Shin Megami Tensei. Não deixe de conferir as novas músicas que irão sendo adicionadas após os novos estágios serem concluídos. 

Eventualmente aconteceram algumas quedas de quadros por segundo no bar, principalmente quando acessei o Menu Home do Switch por um tempo e retornei ao jogo. Alguns glitchs visuais, como distorção de cores, também aconteceram. Esses pequenos problemas não estragaram nem um pouco a experiência, mas é importante ressaltar para que futuramente seja corrigido por meio de um patch.

Não pretendo dar spoilers da história, por isso só posso dizer que é importante entrar no banheiro do bar todas as noites.


Decida o seu destino

Trazendo belos visuais e uma jogabilidade renovada, a remasterização poderá agradar tanto os que já experimentaram o título original como os que irão conhecê-lo pela primeira vez. A adição de uma nova personagens e finais justificam uma segunda compra, mesmo com o preço cheio. Porém, como citei logo no começo do texto, os mais jovens poderão não se identificar com o enredo – o que pode gerar falta de interesse por parte desse público.

Vincent ganhou o maior desenvolvimento na história para que o jogador sinta empatia pelo protagonista, os demais personagens funcionam como as peças de um trilho – que leva a uma conclusão subjetiva e individual sobre os acontecimentos do game. Todas as perguntas feitas pela voz misteriosa terão profundo impacto no destino do protagonista. Para ter a melhor experiência, recomendo para quem for jogar pela primeira vez que responda com sinceridade a todas elas.

Catherine: Full Body é sobre os dois extremos da vida adulta: compromisso ou liberdade. A história pode parecer ter alguns furos ou personagens mal desenvolvidos, mas isso não chega a ser uma falha, porque a intenção do game é se tornar uma metáfora usando justamente esse contexto de indecisão e questionamentos que o protagonista vive.


Prós

  • Lindo estilo de arte;
  • Trilha sonora maravilhosa;
  • Narrativa convincente;
  • Personagens Interessantes;
  • Quebra-cabeças desafiantes e bem elaborados.

Contras

  • Raras quedas de quadros por segundo no bar.
Catherine: Full Body — Switch/PS4 - Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: Switch 
Revisão: João Gabriel Haddad
Análise produzida com cópia digital cedida pela Atlus

Em constante mudança, escrevo sobre o que gosto e às vezes sobre o que não gosto também.
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